sábado, 4 de maio de 2013

TACHADO DE LOUCO, AGRICULTOR DE SC 'REVOLUCIONOU' PLANTIO NO BRASIL


Nasci em Rio do Sul (SC), em 1937. Sou filho de alemães. Minha mãe era enfermeira, enviada ao país pela Cruz Vermelha. Meu pai, um imigrante que fugiu da crise de 1929.

Quando tinha um ano, fomos morar na Alemanha para minha mãe tratar uma doença no coração. A ideia era logo voltar ao Brasil. Mas, quando acabou o tratamento, a Segunda Guerra Mundial havia começado. Fomos impedidos de deixar o país.


Em 1945, meu pai foi convocado pelo exército alemão e enviado à Rússia. Foi capturado e feito prisioneiro. Com minha mãe e quatro irmãos, fomos morar em Dresden, com meus avós maternos.

Na noite de 13 de fevereiro houve um grande bombardeio aéreo dos aliados a Dresden. A cidade inteira foi incendiada. Ficamos no porão de uma casa. Éramos 15. O calor chegava a 80ºC por causa do fogo na parte externa. Sobrevivemos porque senhoras jogavam água sobre a gente.

Quando saí, vi esqueletos queimados sobre o asfalto.

Meu pai foi libertado da Rússia em 1948, pesando 44 quilos. Minha mãe morreu em 1958 e meu pai decidiu que era o momento de buscar prosperidade no Brasil. Abandonei a faculdade de engenharia hidráulica no primeiro ano e chegamos em 1960.

Em Rolândia (PR), comprou um sítio, que chamou de Rhenânia, região da Alemanha onde vivíamos.
Sergio Ranalli/Folhapress 
O agricultor Herbert Bartz em solo com palha, característica do sistema de plantio direto


O café era o produto principal do norte paranaense. O sítio tinha 5.000 pés. Colhemos e erradicamos os cafezais. Percebemos que não nos adaptaríamos ao trabalho braçal que o café exigia.

Passamos a criar porcos e a plantar milho, arroz e trigo. Em 1964, comprei o primeiro saco de semente de soja.

Mas a prosperidade não chegava. Havia geadas e doenças como a febre aftosa.

Meu pai desanimou. Insisti em viver da terra. Em 1966 ele arrendou o sítio para mim. Investi em máquinas, arrendei terras dos vizinhos e passei a trabalhar mais ainda.

Porém as grandes perdas com a erosão me aborreciam muito. A prática era preparar o solo, deixando-o nu para fazer o plantio, e a cada chuva a terra era levada para os rios.

Numa noite de outubro de 1971, constatei que ou essa situação mudava ou não daria mais. Uma grande chuva estava se formando. Sempre que isso acontecia eu não conseguia dormir. Levantei e fui olhar a lavoura.

Foi uma tromba-d'água. Vi a água levando a terra e sementes recém-plantadas.

No Brasil, não havia solução para a erosão. Tinha que ver fora do país.

Na Alemanha não encontrei nada. Na Inglaterra vi agricultores que colhiam trigo e deixavam a palha no chão, mas a queimavam para plantar a safra seguinte, por causa dos maquinários que tinham. Não gostei.

Nos EUA, visitei o produtor Harry Young, que já plantava no sistema de plantio direto havia dez anos.

Vizinhos dele plantavam no chão coberto com palha. Fiquei eufórico, convencido de que ali estava a solução para o meu problema.

Encomendei uma semeadora própria para plantio direto. A máquina chegou ao Brasil em outubro de 1972.

LOUCO

Quando me viram plantando soja sobre a palha do trigo, os vizinhos me chamaram de louco. Até agrônomos e institutos de pesquisa se posicionaram contra mim. Chegaram a atear fogo à palha que deixei sobre o solo.

Surpreendentemente fui bem, com quase 30 sacas por hectare. Parte da safra chegou a ser embargada pela PF, pois um agrônomo denunciou que a soja era ilegal.

Em 1973, o preço do diesel disparou com a crise do petróleo. Passaram a se interessar pelo que fazia, porque o plantio direto economiza combustível, pois não é preciso fazer o preparo do solo.

Foram aparecendo herbicidas que matavam só as invasoras e máquinas mais eficientes para cortar a palha e fazer o plantio. Em 1977, já colhia 50 sacas por hectare. E o solo ficava mais fértil.

Aos poucos, colegas foram aderindo ao sistema.

Tenho certeza de que é possível, com o plantio direto, recuperar áreas degradadas. Não destruímos mais a terra, conseguimos construi-la.

Vão me homenagear com título de doutor. Eu que nem tenho diploma universitário. Sinto-me honrado e feliz. Por: WILHAN SANTIN


COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM LONDRINA Folha de SP

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