quarta-feira, 15 de maio de 2013

RIQUEZA É FELICIDADE

Ah, o reino do Butão. Toda a gente conhece: é o país mais feliz do mundo, dizem os sábios. Tudo porque o tiranete local, em 1972, decidiu renunciar ao "Produto Interno Bruto" (que era, digamos, típico de brutos) e passou a calcular a riqueza com a "Felicidade Interna Bruta". Mais importante que a riqueza criada era a sensação de bem-estar dos respectivos súditos.


E esse bem-estar não está dependente de coisas filistinas como o consumo e o vil metal. Riqueza não traz felicidade. Nem sequer paga o que ela gasta, como dizia o saudoso Millôr Fernandes.

A fantasia ficou. E, na mesma década de 1970, o economista Richard Easterlin deu tratamento científico (e empírico) ao fenômeno.

Dizia Easterlin que a riqueza de um país não garante necessariamente felicidade ao seu povo. Isso porque o bem-estar é determinado pelo rendimento relativo, não absoluto. Tradução: sempre que o meu vizinho enriquece, eu gemo um bocadinho.

O país pode ficar cada vez mais rico. Mas isso só irá trazer frustração cada vez maior também. Em termos absolutos (e comparativos), um norueguês não é mais feliz que um etíope.

Nunca comprei o "paradoxo de Easterlin". Muito menos a "Felicidade Interna Bruta" do reino do Butão. Não por motivos "científicos". A minha desconfiança era meramente intuitiva: entre a Etiópia ou a Noruega, eu não hesitaria na escolha.

Pois bem: parece que a ciência vem ao encontro das minhas intuições. O analista financeiro Allister Heath revela no "Telegraph" dois estudos recentes que apontam no mesmo sentido: o "paradoxo de Easterlin" está errado. Riqueza, afinal, é felicidade.

Fui ler os dois estudos. Recomendo.

O primeiro, da Universidade da Pennsylvania, analisou dados de 140 países e chegou a três conclusões.

Primeira: os mais ricos de um país têm maiores níveis de satisfação do que os mais pobres.

Segunda: países com maior PIB per capita apresentam níveis de satisfação maiores do que países com riqueza mais modesta.

Terceira: o nível de satisfação de um povo cresce na exata proporção do seu processo de enriquecimento. E uma subida de 20% no rendimento de um indivíduo que recebe US$ 500 tem o mesmo impacto hedônico que uma subida similar naquele que recebe US$ 5.000. Podemos gemer de inveja com a Mercedes do vizinho. Gememos menos se tivermos uma Volkswagen.

Ruut Veenhoven e Floris Vergunst, por sua vez, introduzem uma observação adicional --e qualitativa: sim, o bem-estar aumenta com a riqueza de um país. Mas esse bem-estar aumenta consideravelmente nos países em que a riqueza aumenta também consideravelmente.

Moral da história?

Chega de paternalismo autoritário e romântico: da próxima vez que alguém disser que riqueza não traz felicidade, o melhor é convidar esse sábio a ir morar para o reino do Butão. E sem Volkswagen. João Pereira Coutinho  Folha de SP

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