sábado, 25 de julho de 2015

EM DEFESA DA LINGUAGEM


“Eu e meu público nos entendemos perfeitamente. Eles não ouvem o que digo, e eu não digo o que eles desejam ouvir”.
Karl Kraus


Há tanta coisa acontecendo bem agora, com um possível terremoto financeiro na Europa, que estamos todos sujeitos a focar os efeitos ao invés das causas. Por muitos anos tenho me perguntado porque tantas pessoas inteligentes e aparentemente responsáveis são de algum modo incapazes de entender nossa falência coletiva. Suspeito que se deva a uma indecente preferência por atalhos intelectuais.

Em Reflexões Autobiográficas, de Eric Voegelin, encontramos um tributo a Karl Kraus (foto). Escreveu Voegelin: “Seu trabalho... deve ser entendido no contexto da fantástica destruição da linguagem alemã durante o período Imperial da Alemanha após 1870”. Hoje tendemos a associar nosso presente declínio às inovações da década de 1960, ou aos efeitos malignos dos totalitarismos de 1920 e 1930. Mas não, a degeneração real iniciou-se muito antes. Os males dos dias modernos não emergiram do nada. A Era Dourada do capitalismo liberal foi a verdadeira origem de nossa atual decadência – o terreno de nossos empreendimentos mais malignos. Aqui está o início da corrupção de toda linguagem, todo pensamento, todo espírito. “Quem recusa todo compromisso de linguagem”, disse Kraus, “recusa todo compromisso de causa”.

Devemos aprender com o fato de que a sociedade burguesa deu nascimento ao socialismo a partir das concepções de seus próprios filhos e estudantes, que sempre o nutriram. Mas isto é apenas meia verdade. Os filhos alienados da burguesia, educados em grau perigosamente alto, descobriram um profundo antagonismo entre a respeitabilidade da vida burguesa e o escândalo do pensamento independente. “O pensamento é uma criança mimada”, escreveu Kraus. “Na vida de classe média alguém encontra-se apenas com a opinião”. Entretanto, o garoto supereducado despreza seu pai empresário. O filho educado do homem trabalhador torna-se um revolucionário chamado “Stalin”. A educação torna-se um veneno para muitas pessoas; pois todos que são educados são, na verdade, educados pela metade. E o que poderia ser mais perigoso?

Este envenenamento da mente, como fruto da prosperidade e educação da classe média, tem conduzido a civilização ao fiasco do intelectual. Seres humanos, geralmente, não são pensadores competentes. Tendemos em direção à incompetência, e a excelência intelectual amplamente consiste em momentaneamente superar esta incompetência. Neste contexto, entretanto, permita-nos considerar a seguinte trajetória: a saber, que os intelectuais enamoraram-se pelo darwinismo, pelo marxismo e abraçaram a psicanálise. E como observou Karl Kraus, “a psicanálise é a doença mental da qual ela pretende ser a cura”. Podemos dizer também que o marxismo é a opressão política da qual pretende ser a salvação? E não falhou o homem em evoluir em dignidade desde A Origem da Espécies de Charles Darwin?

A degeneração de nossa linguagem moderna origina-se em nossa preferência por ideologias e ciências fraudulentas. Aqui são encontrados os fundamentos de nossa falsa consciência. Voegelin diz-nos que Karl Kraus resistiu à ideologia devido a ela ser a destruidora da linguagem, “quando o pensador ideológico perde o contato com a realidade e desenvolve símbolos para expressar não a realidade, mas seu estado de alienação dela”. Para combater isto precisamos restaurar a linguagem evitando o modismo do atalho intelectual. Mas isto não é fácil, pois as pessoas desejam uma fórmula. Elas desejam ouvir as cadências de Adolf Hitler: “Um povo, um império, um líder”. Elas preferem as nítidas linhas divisórias do conflito de classes, de pobres contra ricos, de nós contra eles. Julien Benda chamou a isto de “a traição dos intelectuais” na qual tudo é focado na organização do ódio político.

Estamos tornando-nos insanos e o politicamente correto está na raiz de nossa insanidade. Esta é uma verdade simples que parecemos incapazes de confrontar. A sociedade está gradualmente perdendo contato com a realidade, e o indivíduo está perdendo contato com a realidade, porque nossos líderes estão abusando da linguagem a fim de inverter a realidade. As coisas devem, mais uma vez, ser chamadas por seus nomes adequados. A progressiva desintegração de nossa sociedade não pode ser entendida sem primeiro compreendermos as consequências de nossa degeneração (ou violação) da linguagem. “O fenômeno de Hitler não se esgota em sua pessoa”, escreveu Voegelin. “Seu sucesso deve ser entendido no contexto de uma sociedade intelectualmente e moralmente arruinada na qual personalidades que de outro modo seriam grotescas figuras marginais, podem alcançar o poder público porque soberbamente representam as pessoas que as admiram. Esta destruição interna da sociedade não terminou com a vitória aliada sobre os exércitos alemães na Segunda Guerra Mundial, mas ainda continua”.

Não houve vitória real para a civilização em 1945. E a Alemanha não foi unicamente a culpada prévia a 1945. Toda a espécie humana civilizada está implicada num desastre que ainda continua. A destruição de nossa vida intelectual e espiritual continua ainda hoje, apenas falhamos em reconhecer os sintomas. Como Voegelin explicou mais de um quarto de século atrás, “não há ainda fim à vista na medida em que diz respeito à desintegração da sociedade, e consequências que podem surpreender são possíveis.

Simplesmente olhe a sua volta. Nosso mundo é um mundo em que homens são mulheres e mulheres são homens, no qual jovens sabem melhor que idosos, no qual princípios ancestrais são solapados por novos princípios mal madurecidos. O que era anteriormente vergonhoso agora é enobrecido. O que era anteriormente imoral, é agora moral. Nietzsche certa vez descreveu o desenlace da antiguidade como “Nero no trono e Deus na cruz”. Parece que o final de nossa civilização está tendendo na mesma direção.
Por: Jefrey Nyquist http://jrnyquist.com
Tradução: Flávio Ghetti




sexta-feira, 24 de julho de 2015

O QUE É UM VINHO RESERVA E UM VINHO RESERVADO?

Termos como Reservado, Reserva, Gran Reserva são comuns no mundo do vinho e podem facilmente confundir aos menos familiarizados com a linguagem e o significado adotado neste ambiente.

O que é um vinho Reserva? Em cada país ou região pode ou não existir legislação normatizando tais temas. Na Europa a existência de legislação normatizando este tema é comum, ainda que tenha diferenças entre países. No caso da Espanha, por exemplo, o termo Reserva refere-se a vinhos que têm como regra amadurecer 36 meses, sendo pelo menos 12 destes em barricas de carvalho e outros 24 meses na própria garrafa, até que possam ser liberadas para venda e consumo. 



Já os vinhos Gran Reserva ficam cinco anos na vinícola, sendo dois anos em barricas de carvalho e os outros três anos envelhecendo na garrafa.



Na Itália, outro grande produtor e consumidor de vinhos, existe o termo Riserva, que também é controlado por legislação, onde a regra determina maturação por pelo menos 36 meses antes da liberação para o comércio e consumo.


No Chile, Argentina, Estados Unidos, Austrália, África do Sul e Nova Zelândia e outros países chamados “Novo Mundo” não existe uma legislação bem definida sobre isso. Cada vinícola usa os termos como melhor entender.

O termo Reservado é utilizado principalmente pelas vinícolas Chilenas como uma jogada de marketing para dar um ar de superioridade aos vinhos, que eles não tem. São produtos de entrada, mais frutados, sem que passem pelo processo de amadurecimento, muito menos pela barrica de carvalho.Muito embora possa ser um vinho agradável, não é um grande vinho, daqueles inesquecíveis. Essa estratégia pretende atingir o consumidor menos experiente, que pode imaginar que esses vinhos sejam melhores que outros que não tragam essa mesma designação. Alguns produtores sequer mencionam esses vinhos Reservado em seus sites. 

O termo Reserva, no Chile e na Argentina, refere-se a um vinho que foi produzido com maiores cuidados, desde a seleção das uvas ao processo de vinificação. Grande parte dos exemplares que trazem essa classificação passam por barricas de carvalho, mas isto não é uma regra. Portanto, podemos ter produtos que passaram ou não por barricas, mas, de qualquer forma, indica qualidade superior se comparados aos vinhos Reservados.

Seguindo uma ordem de classificação de qualidade nesses países, podemos dizer que se inicia pelo vinho de entrada que, para a maioria dos produtores, começa pelo Reservado, depois vem o Varietal (vinho produzido com apenas um tipo de uva), o Reserva, Reserva Especial, Gran Reserva, Edição Limitada, dentre outros.

No mundo do vinho não existe certo ou errado, o importante é que cada um escolha o seu vinho de acordo com sua preferência.

- Os homens são como os vinhos: a idade azeda os maus e apura os bons. Cícero

- Toma conselhos com o vinho, mas toma decisões com a água. Benjamin Franklin

- O pobre prefere um copo de vinho a um pão, porque o estômago da miséria necessita mais de ilusões que de alimento. Georges Bernanos

- Do sabor das coisas

Por mais raro que seja,
Ou mais antigo,
Só um vinho é deveras excelente:
Aquele que tu bebes calmamente
Com o teu mais velho
E silencioso amigo...
Mario Quintana

- Tanto quero o pão e o vinho, a realidade e a fantasia, é isso que nos mantém vivos. Cazuza

- Se o vosso médico não acha bom que durmais, que useis vinho ou tal carne, não vos preocupeis: encontrar-vos-ei outro que não será da opinião dele. Michel de Montaigne

- "Os homens se assemelham aos vinhos: a idade estraga os maus e melhora os bons.” Marie Von Ebner-Eschenbach

- Nós aprendemos a reclamar!

A vida nunca está boa o sucifiente.
A escola acabou.
O vinho está quente.
A namorada não é mais a alma gêmea.
A comida podia ser melhor.
O filme de terror não assustou tanto.
O café está amargo.
A paixão se foi.
O serviço não paga bem.
O ônibus está sempre lotado.
A piada não teve graça.
A felicidade sempre bate na porta ao lado, nunca na sua.
A roupa do fulano é mais cara.
O calor só aumenta.
O frio é cada dia mais insuportável.
O carro não é uma mercedes.
A responsabilidade chegou.
O final de semana não foi o que esperava.
A confiança foi embora.
O medo vive na porta ao lado.
A vida nunca está boa o suficiente.
A felicidade esta desproporcional.
A virgula nunca chega ao ponto final.
A vida nunca está boa o sucifiente.

E o que nós fazemos para torná-la diferente? Marco de Carli

Saúde!

Aloysio Tiscoski

FGTS, INSS E AVISO PRÉVIO - UM ASSALTO AO TRABALHADOR, DISFARÇADO DE DIREITO


Todo político adora falar que defenderá "os direitos" dos trabalhadores custe o que custar, que jamais cederá, e que manterá os "benefícios conquistados".

A questão é: há realmente algum ganho para o trabalhador? Ou há apenas ônus?

Na prática, ao impor encargos sociais e trabalhistas — todos eles custeados pelo próprio trabalhador, como será mostrado mais abaixo —, o governo está dizendo que sabe administrar melhor o dinheiro do que o próprio trabalhador. 

Mais ainda: se o trabalhador é obrigado a pagar por seus "direitos", então ele não tem um direito, mas sim um dever.

Os tais "direitos trabalhistas" nada mais são do que deveres impostos pelo governo ao trabalhador. E, para arcar com esses deveres, a maior parte do salário do trabalhador é confiscada já na hora do pagamento.

Somente para bancar os benefícios básicos — férias, FGTS, INSS, encargos sobre aviso prévio — são confiscados R$ 927 mensais de um trabalhador que recebe em suas mãos salário mensal de R$ 1.200.

Um funcionário trabalhando em regime CLT, com um salário contratado de R$ 1.200, custará efetivamente ao seu empregador 80% a mais do que o seu salário. 

Confira a tabela abaixo:



Fonte:http://www.campesi.com.br/custofunc.htm

Ou seja, por causa dos encargos sociais e trabalhistas impostos pelo governo, o patrão tem um gasto de R$ 2.127 com o trabalhador, mas o trabalhador recebe apenas R$ 1.200. Toda a diferença vai para o governo (exceto o item férias, o qual, por sua vez, será disponibilizado apenas uma vez por ano, e que seria mais bem aproveitado pelo trabalhador caso tal quantia fosse aplicada).

E há quem acredite que isso configura uma "conquista trabalhista" e um "direito inalienável do trabalhador".

Mais ainda: esses não são os únicos custos para o patrão. Em primeiro lugar, os custos podem variar ainda mais conforme o sindicato de classe, o regime de apuração da empresa e o ramo de atividade. Há ocasiões em que os encargos sociais e trabalhistas podem chegar a quase 102% do salário. Adicionalmente, a empresa também tem de ter uma reserva para gastar em tribunais, pois sempre há funcionários saindo e acionando a empresa na Justiça do Trabalho. Há também os custos de recrutamento de funcionários, os quais aumentaram muito em decorrência da política de seguro-desemprego e bolsa- família. E quem paga todos esses custos são os trabalhadores.

Eu mesmo, na condição de empresário, preferiria pagar R$ 2.200 por mês para um funcionário em um país sem encargos e leis trabalhistas do que R$ 1.200 no Brasil. Com esse salário mais alto eu teria, no mínimo, funcionários mais motivados. Mas, como não sou uma fábrica de dinheiro, não tenho condições de fazer isso.

Mas a espoliação do trabalhador é ainda pior do que parece. Veja, por exemplo, o que acontece com o FGTS. Essa quantia, que poderia ser incorporada ao salário do trabalhador, é desviada para o governo e só pode ser reavida em casos específicos (ou após a aposentadoria). 

Na prática, o governo "pega emprestado" esse dinheiro do trabalhador e lhe paga juros anuais de míseros 3%. Dado que a caderneta de poupança rende 7% ao ano, e a inflação de preços está em 7,2% ao ano, o trabalhador não apenas deixa de auferir rendimentos maiores, como ainda perde poder de compra real com a medida. 

E para onde vai o dinheiro do FGTS? Uma parte vai para subsidiar o BNDES e a outra vai para financiar a aquisição de imóveis — algo completamente sem sentido, pois a aplicação desse dinheiro na caderneta de poupança já permitiria ao trabalhar obter o dobro do rendimento e, com isso, ter mais dinheiro para comprar imóveis.

E vamos aqui dar de barato e desconsiderar as cada vez mais frequentes notícias de uso indevido desse dinheiro. (R$ 28 bilhões de reais do FGTS foram investidos pelo BNDES em várias empresas, mas não há nenhuma informação sobre quais empresas receberam o dinheiro, quanto receberam, e quais as condições de pagamento).

No caso do INSS, R$ 398,46 são confiscados mensalmente com a promessa de que o trabalhador irá receber saúde (SUS), seguro de vida e previdência. Não irei aqui comentar sobre a qualidade e a confiabilidade destes três. Irei apenas dizer que, caso o trabalhador tivesse a opção de ficar com este dinheiro, ele poderia recorrer ao mercado privado e voluntariamente contratar um plano de saúde, um seguro de vida e previdência por R$ 300 e ainda receber um serviço melhor do que o do SUS.

(E, se o governo eliminasse os impostos sobre esses setores, bem como abolisse toda a regulamentação, o valor poderia baixar para R$ 200, e o trabalhador poderia obter um serviço de maior qualidade.)

Por fim, o aviso prévio faz com que muitas empresas demitam os funcionários sem necessidade. Por exemplo, se uma empresa está passando por uma fase difícil e não tem certeza de que poderá manter o funcionário por mais de um mês, será mais racional demitir para não correr o risco de mantê-lo por mais tempo e, consequentemente, não poder honrar suas obrigações trabalhistas depois. 

O aviso prévio também trava as empresas, que podem se ver obrigadas a demitir um funcionário produtivo, mas que ainda está no período de experiência, e ao mesmo tempo manter um funcionário improdutivo, mas que já cumpriu o período de carência. Tudo isso só para não pagar o aviso prévio.

Esse custo da improdutividade será descontado de todos os funcionários.

E tudo isso para não mencionar os outros impostos que incidem sobre as empresas e que afetam sobremaneira sua capacidade de investir, de contratar e de aumentar salários. No Brasil, a alíquota máxima do IRPJ é de 15%, mas há uma sobretaxa de 10% sobre o lucro que ultrapassa determinado valor. Adicionalmente, há também aCSLL (Contribuição Social Sobre o Lucro Líquido), cuja alíquota pode chegar a 32%, o PIS, cuja alíquota chega a 1,65% e a COFINS, cuja alíquota chega a 7,6%. PIS e COFINS incidem sobre a receita bruta. Há também o ICMS, que varia de estado para estado, mas cuja média nacional beira os 20%, e o ISS municipal. Não tente fazer a conta, pois você irá se apavorar.

O custo de todo esse sistema para o trabalhador é muito maior do que as eventuais vantagens que ele possa oferecer (se é que há alguma). 

Dado o atual arranjo, seria muito mais proveitoso tanto para o trabalhador quanto para as empresas dobrar o salário-mínimo e eliminar os encargos sociais e trabalhistas. Haveria mais dinheiro nas mãos de cada trabalhador, haveria uma mão-de-obra mais motivada, e ainda atrairíamos muito mais empresas para o país, o que naturalmente forçaria ainda mais o aumento natural dos salários. Isso, por si só, tornaria obsoleta a lei do salário-mínimo, levando à sua extinção.

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Leandro Roque contribuiu para este artigo.

Renato Furtado é cristão, empresário do setor madeireiro, e líder do Movimento Revolucione-SE. Do site: http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=2042

quinta-feira, 23 de julho de 2015

ABAIXO O POVO BRASILEIRO

O cúmulo da demência aparece quando o grito de “respeitar as instituições” vem das mesmas bocas que acabam de dizer: “As instituições estão todas aparelhadas”. É um lindo raciocínio: As instituições não são confiáveis, portanto confiemos nelas.


Nas discussões públicas, com milhões de assuntos entrecruzados e novos fatos sucedendo-se a cada instante, o número de indivíduos com capacidade e tempo para averiguar pessoalmente a veracidade ou falsidade últimas do que se diz é ínfimo ou nulo. Para a massa dos observadores, a noção de “verdade” está indissoluvelmente fundida com a de “confiabilidade”, portanto com a de “autoridade”: o argumentum auctoritatis – o mais fraco dos argumentos, segundo Sto. Tomás de Aquino – acaba sendo não apenas o mais usado, mas o único pelo qual a população se deixa guiar.

Portanto, para saber quais idéias serão aceitas pela população, basta averiguar o que dizem as “autoridades”. Em geral, as fontes de autoridade são duas e apenas duas:

(1)O Estado.

(2)O beautiful people: As pessoas famosas e a mídia que lhes dá a fama. Inclui-se aí a classe acadêmica.

Uma certa margem para a discussão objetiva só aparece quando essas duas fontes entram em conflito. Quando elas estão de acordo, a opinião divergente, por mais fundamentada que seja, desaparece no oceano da indiferença ou é francamente estigmatizada como sintoma de doença mental.

No Brasil, onde a mídia e a classe acadêmica dependem quase que inteiramente do Estado, este se torna a fonte única da autoridade, sua palavra o fundamento inabalável de todas as crenças. Quando a opinião pública se volta contra o governo existente, é porque este, por inabilidade ou por qualquer outra razão, relaxou o controle sobre a fonte secundária. Isso aconteceu no regime militar, na gestão Collor de Mello e agora neste final melancólico do império comunopetista.

Mesmo na vigência do conflito, no entanto, a mídia, o show business e a classe acadêmica sabem que, a longo prazo, continuam dependentes do Estado. Por isso, quando se opõem a um governo, lutam apenas por mudanças superficiais que preservam intactas as estruturas fundamentais do poder. A classe governante absorve todos os impactos e sempre encontra um modo de revertê-los em seu benefício.

Por isso é que, mesmo não sendo tão grande em termos absolutos – imaginem, somente, uma comparação com a burocracia chinesa ou cubana --, o Estado brasileiro tem um poder avassalador face à sociedade civil inerme, incapaz de organizar-se, a qual, mesmo sabendo-se roubada, ludibriada e humilhada só consegue mobilizar-se quando chamada a isso pelo beautiful people, que invariavelmente tira vantagem da situação e acaba recompondo suas boas relações com o Estado na primeira oportunidade.

Com toda a evidência, o problema do Brasil não é o tamanho do Estado, mas a fraqueza da sociedade civil, isto é, da massa que trabalha e produz. Querem maior prova disso do que o fenômeno escandaloso de um partido governante que, rejeitado e abominado por noventa e dois por cento da população, continua inabalável no seu posto e ainda se permite falar em tom ameaçador e arrogante?

É uma triste ironia que, nessa hora, mesmo os que odeiam esse partido com todas as suas forças tomem a precaução de não combatê-lo senão “pelas vias institucionais e normais”, como se as instituições, uma vez consagradas no papel, tivessem o direito de revogar a vontade popular que um dia as criou e legitimou e agora se vê esmagada sob a máquina infernal da cleptoburocracia.

O cúmulo da demência aparece quando o grito de “respeitar as instituições” vem das mesmas bocas que acabam de dizer: “As instituições estão todas aparelhadas”. É um lindo raciocínio: As instituições não são confiáveis, portanto confiemos nelas.

Fortalecer e organizar a sociedade, apelar à desobediência civil, incentivar a iniciativa extra-oficial, “ignorar o Estado” como recomendava Herbert Spencer, são idéias ante as quais essas pessoas recuam horrorizadas, preferindo antes suportar o descalabro petista por mais não sei quantas décadas do que admitir que a autoridade legítima não está em Brasília, e sim nas ruas e nas praças de todo o país.

O sistema comunolarápio não ruirá enquanto o beautiful people – no qual nós, jornalistas, nos incluímos -- não aceitar que, acima dele e acima do Estado, existe uma terceira e mais legítima fonte de autoridade: a opinião de todos, a vox populi.

Enquanto isso não acontece, o povo continua sendo sacrificado no altar do oficialismo, onde sacerdotes da infâmia repetem dia e noite o mantra sinistro: “Viva a normalidade institucional! Abaixo o povo brasileiro!”
Por: Olavo de carvalho Publicado no Diário do Comércio.


AS VACAS NÃO VOAM

Era com pequenos atos de desobediência que os dissidentes do comunismo combatiam os governos que os oprimiam. Se o regime inventava uma lei estapafúrdia que mandasse afixar uma foto do presidente nas lojas ou hastear uma bandeira na porta de casa numa data qualquer, os dissidentes ignoravam, agiam como se não houvesse lei, como se nada acontecesse. Faziam-no pondo em risco a vida e a liberdade, como no caso do poeta cubano Armando Valladares, jogado numa prisão por duas décadas porque se negou a colocar a plaquinha “Estoy con Fidel” na mesa de trabalho.


Os dissidentes não eram minoria entre um povo de entusiastas do regime; pelo contrário, eram a face corajosa da maioria cansada de ser oprimida pela elite comunista de bandoleiros, psicopatas, nulidades e ladrões que lhes impunha seus caprichos ao custo da destruição econômica e moral dos países.

Soa familiar, não é?

Todas as leis precisam ser aplicáveis. De nada vale legislar para que vacas voem ou para que Lula se torne um homem culto e elegante. Um mandato parlamentar não confere a ninguém o poder para dobrar a estrutura da realidade. Leis absurdas, sem sentido ou de impossível aplicação, que contrariam o bom senso e a sanidade, são leis obscenas e, na última instância – a divina –, inválidas. Nenhum povo, por mais submisso que seja, pode aguentar indefinidamente governantes que o humilham com a imposição da loucura na forma de lei. Ainda mais quando esses governantes escarnecem desse povo e enchem o bolso com o seu dinheiro.

Um mandato parlamentar não confere a ninguém o poder para dobrar a estrutura da realidade

Num caso assim, entrar no mérito da questão é até errado: não dá para legitimar o debate sobre uma lei maluca que não passa de prelúdio para a estatização do setor. Hoje o Estado determina o preço; amanhã, o lucro; depois de amanhã, o conteúdo. Discutir é bobagem; este PLS deveria ser rejeitado em bloco e qualquer um que o propusesse a sério, recebido com o tilintar de um panelaço. Ninguém suporta mais os políticos de Brasília. Qualquer coisa que venha desse partido que nos governa tem de ser descartado de imediato, atirado fora sem pestanejar. Depois do estrago que os petistas fizeram, eles não têm moral para ditar regras sobre nada, para querer mandar em ninguém. Deveriam apenas juntar suas coisas e ir embora; parar de atrapalhar quem trabalha seriamente.Digo tudo isso porque a senadora potiguar Fátima Bezerra (petista, é claro) inventou o PLS 49/2015, que proíbe os varejistas de concederem descontos maiores que 10% na venda de livros durante um ano. Em outras palavras: num momento de recessão brutal, a mulher arroga-se autoridade para limitar as condições de venda de todos os livros novos comercializados nesta nação continental de 200 milhões de habitantes.

Não vou combater o PLS 49/2015. Que o aprovem! Há tempos o Senado não faz senão inventar leis contrárias ao interesse da maioria dos brasileiros. Uma a mais ou a menos fará pouca diferença. O que eu vou fazer, tal qual os dissidentes do Leste Europeu, é ignorar essa lei cretina e impossível de ser cumprida; continuarei vendendo livros normalmente, conforme as leis econômicas e a livre flutuação dos preços. Quem sabe assim terei de contar aos netos: “Um dia o governo comunista me perseguiu. Por vender livros”.
Por: Diogo Fontana é editor, livreiro e escritor.  Do site:http://www.gazetadopovo.com.br

terça-feira, 21 de julho de 2015

POR QUE A CHINA VAI IMPLODIR


O segredo para se entender a China é que o país não é apenas mais uma economia emergente que vivenciou um forte crescimento e que, agora, está momentaneamente se esforçando para conter seus excessos. Também não se trata de mais uma economia que incorreu em uma farra de investimentos errôneos em ativos fixos, como imóveis, e que agora quer fazer uma transição para algum tipo mais "normal" de economia, como uma baseada no consumo. 

Não.

A China é uma grotesca aberração econômica, cujo modelo econômico simplesmente não tem semelhança a nenhum outro modelo econômico já adotado por algum outro país em algum momento da história — nem mesmo ao modelo mercantilista de estímulo às exportações originalmente criado pelo Japão, e que já se comprovou insustentável. 

O governo chinês está nas mãos de um grupo de velhos comunistas que foram criados sob o regime de Mao. Eles acreditam em planejamento central, ainda que de uma maneira mais diluída. Eles enviaram seus jovens mais inteligentes para estudar economia nas universidades americanas. Esses jovens retornaram para a China keynesianos.

A economia chinesa é hoje uma mistura maluca de empreendedorismo de livre mercado, de investimentos subsidiados e dirigidos pelo Banco Central, de mercantilismo keynesiano, e de planejamento central comunista. Trata-se de um acidente monumental que está na iminência de acontecer.

A China é uma nação que, em decorrência de uma monumental bolha de crédito, incorreu em uma insana mania especulativa direcionada majoritariamente para a construção civil. As implicações desse endividamento (todo crédito é um endividamento) e dessa especulação imobiliária estão sendo resolutamente ignoradas por analistas que ainda estão iludidos pela noção de que a China criou um modelo econômico singular chamado "capitalismo vermelho".

Quando a dívida total (pública e privada) de um país explode de US$1 trilhão para US$25 trilhões em apenas 14 anos, isso não é capitalismo, nem mesmo vermelho. Trata-se de insanidade monetária conduzida pelo estado.

Há ocasiões em que uma imagem vale mais que mil palavras. Eis a seguir um gráfico que apareceu em umamatéria do Financial Times que falava sobre a rápida deterioração do mercado imobiliário chinês. Ao que parece, de acordo com dados da US Geological Survey e do Comitê Nacional de Estatísticas da China, durante um período de apenas dois anos, 2011 e 2012, o qual representou o ápice da tão aclamada "agressiva política de estímulos" do governo chinês em resposta à recessão do mundo desenvolvido, a China consumiu mais cimento do que os EUA consumiram durante todo o século XX!



Consumo de cimento per capita (eixo Y) versus PIB per capita (eixo X)

Esse fato insano tem de ser corretamente digerido. Eis uma maneira de colocar as coisas em suas devidas proporções.

Pense em todo o processo de urbanização ocorrido nos EUA ao longo dos últimos 100 anos. Pense na construção de todos os edifícios comerciais, de todos os prédios residenciais, de todas as casas, de todos os arranha-céus, e de todos os shoppings que adornam as milhares de cidades americanas da costa leste à oeste. Pense também na construção de toda a infraestrutura do país, desde as simples ruas e avenidas das cidades até as grandiosas represas Hoover, TVA e Grande Coulee, passando por toda a malha de rodovias, aeroportos, portos, rodoviárias, estações de trem, de metrô. Pense em todos os estádios de futebol americano, de beisebol, de basquete, de hóquei; em todos os auditórios e estacionamentos que já foram construídos no país. 

Todo o volume de cimento gasto nesse processo de 100 anos foi o mesmo que a China gastou em dois anos.

O resultado? Cidades completamente vazias.

Eis o busílis. É impossível olhar apenas para os frios números do PIB chinês e ter qualquer compreensão sobre o estrondoso colapso que irá ocorrer quando todo esse frenesi de obras acabar. A noção de que o governo, de maneira indolor, será capaz de reduzir os investimentos em ativos fixos de seu atual valor de 50% do PIB para "apenas" 25% — o que ainda seria consideravelmente alto — ignora o que realmente é a economia chinesa: um projeto de construção civil de dimensões continentais, na qual tudo está relacionado a transportar, fabricar, erigir e vender infraestrutura — públicas e privadas, varejista e industrial.

Portanto, quando as construções pararem — seja porque os preços inflados dos imóveis estão caindo ou porque a expansão creditícia não mais será capaz de continuar sustentando a bolha —, a implosão será trovejante. A produção de cimento pode cair dos atuais 2 bilhões de toneladas por ano para meros 500 milhões; o consumo de aço irá despencar proporcionalmente; frotas industriais de caminhões de cimento e de transporte de aço ficarão ociosas; a demanda por pneus, por componentes de motores, e por combustível para caminhão irá evaporar; empreendedores que fornecem os serviços que suprem este gigantesco fluxo de cimento e aço irão à bancarrota; os apartamentos vazios — ainda chamados de "investimentos" — em posse de seus proprietários serão inúteis.

E quando essa implosão ocorrer, mais de um bilhão de pessoas irá vivenciar em primeira mão como planejamento central, expansão do crédito e inflação monetária produzida por um Banco Central são eficientes em destruir recursos escassos.

Esse será o maior desafio dos oligarcas comunistas. Os chineses conhecem apenas dois sistemas econômicos: o sistema comunista sob Mao e o atual sistema, que é baseado na inflação monetária gerenciada pelo Banco Central e na alocação keynesiana de capital. As massas depositaram sua fé nesse sistema econômico. Quando ele entrar em colapso, as consequências serão interessantes.

Atualmente, há aproximadamente 90.000 manifestações populares por ano na China. O governo é relativamente eficaz em escondê-las do mundo. Quantas mais ocorrerão quando houver a implosão?



David Stockman é ex-congressista americano e ex-membro do governo Reagan.  Escreveu o livro The Great Deformation(resenhado aqui), que cita detalhes desconhecidos sobre os favorecimentos do governo americano aos grandes bancos do país.  Atualmente, Stockman é o editor do site David Stockman's Contra Corner.

PIOR QUE O COMPLEXO É O ESFORÇO PARA SER VIRA-LATA

O Brasil continua na contramão da economia mundial, pouco preparado para aproveitar a recuperação dos países mais avançados e mais exposto que muitos outros a qualquer dificuldade mais séria na China, o maior mercado para suas exportações de produtos básicos. Uma das façanhas da diplomacia inaugurada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003, foi isolar o País das grandes oportunidades de integração comercial, torná-lo dependente em excesso do Mercosul e da vizinhança e condená-lo a uma relação semicolonial com a China. Na segunda maior economia do mundo, governada por um partido comunista, mas empenhada em jogar na primeira divisão do capitalismo, os líderes devem gargalhar quando comentam o tosco e requentado terceiro-mundismo ainda seguido, embora com alguns sinais de divergência, nos gabinetes oficiais de Brasília.


Os brasileiros têm motivos especiais para se assustar com o tombo das bolsas chinesas. É muito difícil de dizer, neste momento, se se trata apenas de um forte ajuste no mercado de ações ou se a turbulência indica problemas econômicos mais graves e perigosos para todo o mundo. O susto espalhou-se pelo sistema financeiro internacional, já afetado pela crise grega, e chegou também às bolsas brasileiras. Ainda será preciso algum tempo para uma avaliação mais segura.

Na melhor hipótese, no entanto, pelo menos a perda de impulso da economia chinesa é apontada como certa por muitos analistas. Mesmo sem grandes consequências do estouro de uma bolha, o ritmo de atividade continuará influenciado pela reorientação da política econômica. Até aqui a acomodação foi suave.

Há algum tempo o crescimento do produto interno bruto (PIB) saiu da faixa de 9% a 10% ao ano. Ficou em 7,7% em 2013, passou a 7,4% no ano passado, deve chegar a 6,8% em 2015 e a 6,3% no próximo ano, segundo as novas projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI), divulgadas na quinta-feira. Ainda são números muito altos, pelos padrões internacionais, mas preocupantes para quem se acostumou a atender ao enorme apetite chinês por matérias-primas.

No ano passado as vendas brasileiras à China ficaram em US$ 40,62 bilhões, o menor valor em quatro anos. As exportações de industrializados somaram US$ 6,29 bilhões (US$ 1,62 bilhão de manufaturados e US$ 4,67 bilhões de semimanufaturados). No mesmo ano o País exportou para os Estados Unidos US$ 27,03 bilhões. A maior parte desse valor correspondeu a industrializados, US$ 19,03 bilhões. A receita obtida com manufaturados chegou a US$ 13,67 bilhões. Os semimanufaturados renderam US$ 5,36 bilhões. Também a União Europeia compra muito mais da indústria brasileira do que a China. Para o bloco europeu foram US$ 19,97 bilhões de industrializados. A parcela dos manufaturados chegou a US$ 14,12 bilhões. No comércio exterior brasileiro, quem representa, hoje, o papel de potência colonial, compradora de matérias-primas em troca de produtos da indústria?

Não há nada errado em exportar matérias-primas e bens semielaborados. As potências mais desenvolvidas são grandes vendedoras desses produtos e atuam nesse mercado com subsídios e protecionismo. Os brasileiros devem aproveitar suas vantagens comparativas, o potencial produtivo de seu agronegócio e seus enormes recursos naturais, sem cometer a tolice de classificar os produtos do campo como bens primários ou de baixo valor agregado. Há muita tecnologia embutida em cada tonelada de alimentos exportada. Também isso compõe o poder de competição do agronegócio. Mas é preciso cuidar das vendas de produtos industriais, amplamente negligenciadas há muitos anos.

Essas vendas têm sido prejudicadas pelo baixo poder de competição da maior parte da indústria. Essa deficiência resulta de problemas estruturais – logística deficiente, energia cara, tributação irracional, mão de obra mal formada, etc. – e de uma coleção de erros estratégicos. Desprezando os acordos com as potências desenvolvidas, amarrando o Brasil a um Mercosul emperrado, mantendo o País fora dos grandes circuitos de formação de valor, apostando no protecionismo e reeditando políticas anacrônicas, o governo condenou o Brasil a jogar nas divisões inferiores do comércio global. Ter complexo de vira-lata é muito ruim. Condenar-se a viver como vira-lata no mercado global é uma estupidez olímpica.

Na Rússia a presidente Dilma Rousseff defendeu a cooperação entre os Brics – Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul – como reação à crise. Presa ao cacoete, mais uma vez uma autoridade brasileira insiste na fantasia do clubinho alternativo como forma de sobreviver no mundo malvado.

Sim, o Brasil deve comerciar, e de forma bem mais ampla, com os outros membros do grupo e também com todos os demais mercados. Para isso precisará de melhor política, maior eficiência e maior poder de competição. Além disso, é tolice ou mistificação continuar atribuindo os males do País a problemas externos. Apesar de tudo, o mundo rico avança. O ritmo dos países desenvolvidos deve passar de 1,8% no ano passado para 2,1% em 2015 e 2,4% em 2016, segundo as projeções do FMI.

Há incertezas e riscos, por causa da Grécia, da China e também da esperada elevação de juros americanos. Mas o mundo se mexe e até a desaceleração chinesa tem um lado positivo, porque resultou, pelo menos até agora, de um rearranjo planejado pelo governo. Enquanto isso, a economia brasileira está condenada a encolher 1,5% neste ano, também segundo as contas do FMI, e a crescer apenas 0,7% em 2016. O desemprego bate em 8,1%, a inflação avança para 9% e o desajuste externo só diminui porque as importações caem mais que as exportações. Enquanto isso, o País expia, num imenso escândalo, as lambanças da grande farra populista. 

Sairemos dessa apelando para a união dos Brics?
Por: Rolf Kuntz Jornalista Publicado no Estado de SP

segunda-feira, 20 de julho de 2015

O FIM DE LULA, POR ELE PRÓPRIO

Lula foi construído por todo um conjunto de seres humanos mais narcisistas ainda


Lula está em pânico e em depressão.

Ele já foi tratado por depressão quando perdeu pela terceira vez a presidência, mas agora vai ser pior.

Finalmente percebeu que no fundo ele foi usado todo este tempo por pessoas que o assediavam, e agora está sendo abandonado pelos mesmos que o usaram.

Nunca teve o preparo e condições objetivas de ser presidente de uma empresa, muito menos de uma nação, verdade seja dita.

Lula foi conduzido à líder do movimento socialista deste país por vários grupos distintos.

Pelos militares, em especial o estrategista General Golbery que analisou corretamente que a ditadura acabou fortalecendo o movimento marxista e não o contrário como queriam.

Temendo um crescimento de partidos comunistas controlados por intelectuais gramscistas e marxistas, Golbery viu em Lula, um sindicalista, a possibilidade de um partido de esquerda pró-grande empresa, pró-capitalismo de capital pulverizado e antimercados cativos e monopolistas como do comunismo.

Pelos intelectuais da USP que perceberam que o povo brasileiro jamais aceitaria um intelectual marxista como Presidente da República, tipo Lenin, e viram em Lula um fantoche controlável.

Marilena Chauí, Paul e André Singer, José Dirceu, Bresser Pereira, Ruth Cardoso, Marta Suplicy, Eduardo Suplicy, viram no Lula alguém que poderiam colocar na frente da batalha, mas suficientemente inculto para depender deles para governar, o que de fato ocorreu.

Nenhum administrador, contador, orçamentista, controlador de custos, projetista foi chamado para governar o país, a ideia era se locupletar nos cargos públicos que criaram para si.

Pelos intelectuais, empresários e funcionários públicos mais medíocres da sociedade, que viram no PT uma forma de ascensão social que jamais teriam fora de uma sociedade estatizada.

Neste aspecto, Lula insuflado por jornalistas como Mino Carta e publicitários como Duda Mendonça, empresários como Antoninho Trevisan, acabou acreditando num falso futuro grandioso e criou um círculo de assessores mais inteligentes, mas no mucho, do que ele.

Nisto Lula teve seu mérito. FHC fazia questão de escolher assessores menos inteligentes do que ele, para reinar sozinho.

Sem nenhuma educação formal, não foi capaz de perceber que seus assessores eram medíocres, embora mais capazes do que ele, mas mesmo assim medíocres.

Henrique Meirelles foi a grande exceção, que prova a regra, pois foi o único que fez algo construtivo no governo Lula.

Lula nunca percebeu que o PT atrai pessoas medíocres, os losers, pessoas sem a menor competência executora e administrativa, e que tinham uma agenda oculta de benefício próprio e não idealista.

“Eu fui usado, petista só quer cargo público. A gente só pensa em cargo, só pensa em emprego, só pensa em ser eleito, ninguém trabalha mais de graça.”, disse Lula agora numa palestra.

Culpá-lo por tudo isto é injusto.

Culpar seu narcisismo e sua megalomania é desconsiderar como ele foi enganado, criado, forjado a ser esta figura humana patética em que ele se tornou.

Bebe copiosamente, não à toa. A vida dele, nunca foi sua. 

Foi construído por todo um conjunto de seres humanos mais narcisistas ainda, mais medíocres ainda, mais patéticos ainda, e que continuam no poder, nas agências publicitárias, nas editorias dos jornais, nas cátedras da USP, nas repartições públicas, na blogosfera.

E é bom lembrar, eles estarão rapidamente forjando outro Lula, uma Luciana Genro ou um Lindberg, para serem usados da mesma forma no futuro, não por idealismo, mas por interesse próprio da classe dominante deste país.

A classe dominante dos medíocres que escrevem bem.

Por: Stephen Kanitz Do site: http://blog.kanitz.com.br

Extraído de Administração Responsável das Nações.

UM DESAFIO MAIOR QUE A CONQUISTA DA MANDIOCA

Buscar emprego será o esporte de inverno para centenas de milhares de pessoas postas na rua pela recessão, no Brasil, e ainda sujeitas a preços em disparada. Foram fechadas 452.835 vagas formais nos 12 meses terminados em maio. Nos primeiros cinco meses do ano foram 243.948 postos encerrados e há sinais de piora. O semestre finda com desemprego na vizinhança de 8%, inflação no rumo de 9%, atividade em queda e Tesouro em crise, enquanto a presidente Dilma Rousseff saúda a mandioca e o PT defende as empreiteiras investigadas na Operação Lava Jato.


Não há mistério na preocupação do PT e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com as empreiteiras. Mas o entusiasmo presidencial com a mandioca, apontada como “uma das maiores conquistas do Brasil”, intriga por um detalhe: por que “conquista”? Embora o assunto seja fascinante, o Brasil poderá sobreviver sem resposta a essa pergunta. Difícil, mesmo, será sair do atoleiro com uma governante frágil, confrontada no Congresso, condenada e esnobada por seu eleitor mais importante, acuada pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e em risco permanente de ser contaminada pelo escândalo da Petrobrás.

Em breve a presidente deverá explicar ao TCU as pedaladas fiscais do ano passado. Não há como negar os atrasos de repasses, tentativas evidentes de maquiar as contas da administração federal. Restará discutir se os adiantamentos feitos por bancos oficiais, com recursos próprios, caracterizam financiamento ao governo e, portanto, violação da Lei de Responsabilidade Fiscal. A resposta dependerá mais de sutilezas legais do que de uma simples e límpida verificação financeira. Não há, enfim, como excluir a hipótese de um arranjo para poupar a presidente e evitar uma crise política muito mais grave.

Contornado esse risco, sobrarão todos os grandes desafios – técnicos e políticos – do programa de governo. Com uma Presidência quase vaga e muita resistência no Congresso, a equipe econômica terá de avançar, de qualquer forma, no conserto das contas públicas, no ataque à inflação e na busca do retorno ao crescimento. Nessa altura, já se terá decidido, quase certamente, se a meta inicial para as finanças públicas será mantida ou se o governo buscará um resultado menos ambicioso. A meta original, um superávit primário de R$ 66,3 bilhões para pagamento de juros, parece hoje quase inalcançável.

O governo central – Tesouro, Previdência e Banco Central (BC) – deve, em princípio, alcançar um resultado primário de R$ 55,2 bilhões, ficando o resto para os demais níveis da administração e para as estatais. O poder central fechou o mês passado com um déficit primário de R$ 8 bilhões e acumulou em cinco meses um superávit de apenas R$ 6,63 bilhões, 67,5% menor que o de um ano antes, descontada a inflação. Para cumprir a sua parte de acordo com o plano original terá de obter um resultado primário de R$ 48,6 bilhões em sete meses, quase um milagre. É preciso um enorme otimismo para apostar nisso. Com a economia atolada, a receita em cinco meses, R$ 529,57 bilhões, foi 3,5% menor que a de janeiro a maio de 2014.

Nada permite prever um quadro muito melhor no segundo semestre. O novo cenário apresentado pelos economistas do Banco Central em seu relatório trimestral de inflação é bem pior que o anterior. A inflação prevista para ao ano subiu de 7,9% para 9%, enquanto a contração estimada para o produto interno bruto (PIB) passou de 0,5% para 1,1%. No mercado financeiro, a mediana das projeções na semana anterior já era de um PIB 1,46% menor que o do ano passado. Para a produção industrial estava prevista uma redução de 3,65%. Um mês antes ainda se estimava uma diminuição de 2,8%.

Antes de sair o balanço do governo central, o pessoal da Receita já havia apontado os efeitos da recessão na coleta de impostos e contribuições. As quedas da produção industrial, do emprego, do consumo e das importações puxaram para baixo a arrecadação dos principais tributos. Se a atividade continuar deprimida, o aumento de alíquotas dificilmente reforçará de forma significativa a posição do Tesouro.

Além do aumento da tonelagem de grãos e oleaginosas, têm aparecido, no País, poucos indicadores positivos. O BC reduziu de US$ 84 bilhões para US$ 81 bilhões o déficit previsto para a conta corrente do balanço de pagamentos. Se a projeção for confirmada, haverá uma inegável melhora contábil, especialmente se for levado em conta o resultado de 2014, um buraco de US$ 104,84 bilhões. Mas a explicação principal será a piora da economia. Pela estimativa do BC, a exportação de mercadorias será 10,95% menor que a de um ano antes. O encolhimento da importação será bem maior, 14,68%. Com o desemprego elevado, a renda corroída, o consumo retraído e mais uma redução do valor investido em máquinas e equipamentos, a diminuição das importações será, como tem sido até agora, inevitável.

Com a depreciação do real os produtos brasileiros deveriam ficar mais baratos no exterior, mas nem por isso as exportações deixaram de cair. O dólar mais caro pode ter pesado em algumas importações e certamente afetou a disposição de viajar e de gastar fora do Brasil. Mas o desequilíbrio menor das contas externas tem sido até agora, e com certeza será até o fim do ano, explicável principalmente pelo mau estado da economia.

Se o ajuste avançar e a inflação diminuir, retomar o crescimento será mais fácil. Mas ainda falta implantar medidas para o aumento da produtividade, uma condição indispensável. O programa de infraestrutura e o recém-anunciado plano de exportações indicam o caminho. Mas ainda são uma lista de bons propósitos. Sua execução depende, em parte, de recursos orçamentários muito escassos. A conquista do crescimento parece bem mais difícil, por enquanto, que a conquista da mandioca.
Por: Rolf Kuntz Publicado no jornal O Estado de S Paulo

domingo, 19 de julho de 2015

O AVANÇO DA NOVA DIREITA

O avanço da nova direita: quem são e como pensam jovens líderes que influenciam multidões pelo país
Articulados como nunca, eles se dividem entre liberais e conservadores, mas se unem para fustigar a esquerda e criar um novo movimento político
Por: Paulo Germano
Foto: Rafael Ocaña / Arte ZH


O megafone está na prateleira de cima, exposto como um troféu no gabinete da Assembleia Legislativa. Foi com o aparelho a pilha que Marcel van Hattem, 29 anos, hoje deputado estadual do PP, acossou aos berros a petista Maria do Rosário no ano passado – os dois faziam campanha no Parque da Redenção, em Porto Alegre, quando o candidato levou o megafone à boca.

– Gostaria de dizer que a senhora nos envergonha! Porque a senhora defende bandido, e nós queremos a defesa da família! – gritava ele, enquanto um assessor gravava o inflamado discurso em vídeo, um bate-boca entre militantes começava, e Maria do Rosário preferia se afastar.

Não faltou quem achasse aquilo uma grosseria. O presidente do PP gaúcho, Celso Bernardi, telefonou para Van Hattem e classificou a provocação como irresponsável, um incentivo ao tumulto. A colegas mais próximos, disse que o episódio foi "uma oportunidade para o PT nos chamar de ditadores".

Só que em poucos dias o vídeo beirava 100 mil visualizações, passava de 5 mil compartilhamentos e recebia dezenas de comentários na linha "ganhou meu voto" no Facebook. É inegável que a estratégia deu certo: líderes do PT e do PP, além do próprio Van Hattem (foto abaixo), concordam que o embate com Rosário foi fundamental para sua boa votação: 35.345 votos.

De lá para cá, o deputado mais jovem da Assembleia repete a tática quase que diariamente: seus vídeos provocando parlamentares petistas – há sempre um assessor com celular por perto –, são um sucesso nas redes sociais. Essa receita de fustigar a esquerda em tom de fúria, conclamando cidadãos indignados com Dilma Rousseff, com o Foro de São Paulo, com o excesso de impostos ou com "a roubalheira do PT", é a face mais evidente de uma nova direita que cresce em ritmo galopante, com poder de articulação sem precedentes desde a redemocratização do Brasil.

– Antes, só a esquerda falava alto. Chegou o momento de confrontá-la. Havia muita gente órfã de um posicionamento mais firme em relação ao estado das coisas a que chegamos – afirma Van Hattem, filho de um engenheiro holandês e de uma arquiteta paulista que, após se conhecerem em um congresso luterano, casaram-se em Dois Irmãos, onde o menino cresceu e se elegeu vereador aos 18 anos.


Quase a mesma idade do paulista Kim Kataguiri, que tem apenas 19 e desponta como principal líder do Movimento Brasil Livre (MBL) – em oito meses de existência, o grupo fundou diretórios em 173 cidades brasileiras e convocou manifestações que levaram às ruas centenas de milhares de pessoas pedindo o impeachment da presidente.

Com o crescimento do MBL, Kim abandonou a faculdade de Economia na Universidade Federal do ABC. Decidiu dedicar-se com mais afinco ao movimento e às palestras que ministra país afora, ensinando formas de levar ideias liberais a jovens pouco engajados na política. No fim deste mês, a convite da respaldada organização Cato Institute, vai expor suas visões em quatro painéis em Washington, nos Estados Unidos. Para o Natal, está previsto o lançamento de seu primeiro livro, ainda sem nome, pela editora Record, uma das maiores do país.

– Continuo lendo sem parar. Só parei de estudar formalmente porque as faculdades de Economia no Brasil são muito atrasadas, ainda dominadas por uma visão de esquerda. Dificilmente você encontrará uma cadeira sobre a Escola Austríaca, por exemplo – avalia Kim, mencionando os maiores ídolos do pensamento econômico dessa jovem direita: Ludwig von Mises (1881-1973) e Friedrich Hayek (1899-1992), dois entusiastas do livre mercado e do Estado minúsculo.

Mas a fonte de renda fixa de Kim Kataguiri (foto acima), o canal Inimigos Públicos, no YouTube, passa menos pela menção aos teóricos e mais pela surra no PT. Ou em qualquer arauto da esquerda. O mês que rendeu mais dinheiro ao líder do MBL foi abril, quando seu vídeo chamando de "figura patética" o deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ) – que dias antes o havia classificado como "analfabeto político" – atingiu 650 mil acessos. Sua participação nos lucros com os anúncios publicitários veiculados pelo YouTube neste vídeo passou de R$ 5 mil.

Ao contrário do que se poderia pensar, Kim é a favor do casamento gay, bandeira medular de Jean Wyllys. E esta é uma das principais divisões entre os novos direitistas: o chamado liberalismo de costumes. Boa parte é a favor dos princípios liberais apenas na economia, pregando uma radical reforma tributária, o fim da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), a privatização de estatais e até a redução da pobreza – mas por meio de empregos, de um mercado superaquecido, de impostos menores sobre alimentos e remédios, e nunca por meio de transferência de renda. Agora, quando o assunto é família, nem sempre a tal liberdade prevalece.

– Só que outra boa parte, na qual me incluo, entende que o liberal contrário ao casamento gay está em absoluta contradição – diz Hélio Beltrão, 48 anos, presidente do Instituto von Mises, uma das cerca de 30 organizações liberais que pipocam no Brasil desde o fim da década passada (informação importante: eram apenas três em 2005), promovendo cursos e debates sobre liberalismo. – O liberal de verdade defende trocas voluntárias e, se você quer trocar afeto com quem quer que seja, se busca um acordo comum entre seus bens e de outra pessoa, não há como um liberal ser contra.

No mês passado, Marcel van Hattem vociferou na tribuna da Assembleia contra a proposta do governo federal de discutir "identidade de gênero" em salas de aula – a ideia, em linhas gerais, era conscientizar estudantes sobre as diversas orientações afetivas e proteger do bullying alunos gays ou transexuais. Van Hattem subiu o tom ao dizer que "é dever da família educar seus filhos":

– Querer, dentro da escola, dizer que homem não é necessariamente homem, querer incutir isso na cabeça das crianças, é um crime, é uma afronta!

Por isso Hélio Beltrão, presidente do Mises, salienta que ficaria "muito brabo" se este texto o identificasse como um homem de direita. Ele afirma ser "um liberal e ponto".

– Sou a favor do casamento gay, a favor da legalização das drogas, discuto a propriedade intelectual, odeio aquela conversa de "bandido bom é morto" e detesto autoritarismo. Como é que vou ser de direita? – questiona ele, um privatista inveterado que defende até a gestão do Bolsa Família por empresas privadas.

Embora Kim Kataguiri e Van Hattem jamais se oponham ao termo "direita" para etiquetá-los, no Brasil a definição tem, de fato, certa conotação pejorativa: regimes autoritários como a ditadura militar, além do antigo coronelismo, sempre foram identificados com valores direitistas.

Não surpreende que o Partido Novo, idealizado pelo engenheiro e ex-executivo de bancos João Dionísio Amoedo, também fuja do incômodo rótulo. Com as 492 mil assinaturas necessárias já colhidas, aguardando homologação do Tribunal Superior Eleitoral, o coordenador da legenda em Porto Alegre, Carlos Alberto Molinari, 33 anos, prefere que os interessados pela ideologia do Novo entrem no site e tirem suas conclusões:

– Você acha correto que os Correios tenham o monopólio sobre a entrega de correspondências? Acha correto que apenas meia dúzia de empresas possam prestar serviço de transporte público em uma capital? A livre concorrência diminuiria os preços, e só o cidadão seria beneficiado – prega Molinari.

Em tempo: até o início da campanha presidencial, quando PT e PSDB reforçaram suas atuações nas redes sociais, nenhuma sigla tinha mais curtidas no Facebook do que o ainda inexistente Partido Novo. Hoje, são mais de 800 mil, contra pouco mais de 900 mil do PT. O que está havendo com o partido que tradicionalmente mais mobilizava militantes?

– O PT está velho. Eu, que sou a figura proeminente do PT, tenho 69 anos, estou cansado, já estou falando as mesmas coisas que falava em 1980 – disse o presidente Lula em discurso um mês atrás.

– Quando um vácuo se abre, quando há uma insatisfação geral com o sistema político, alguém tem que ocupar o espaço – conclui o cientista político Fernando Filgueiras, da Universidade Federal de Minas Gerais.

A nova direita – ou os novos liberais, como queiram – correm para ser a bola da vez.

CADA UM NO SEU QUADRADO

Direita: liberdade

Em geral, entende que os indivíduos são diferentes uns dos outros. Portanto, todos devem ter liberdade para alcançar suas metas da forma como acharem melhor, podendo alguns se destacarem mais do que outros de acordo com os méritos próprios.

Esquerda: igualdade

Tem como princípio a visão de que o ser humano só consegue se destacar com a ajuda do coletivo, da colaboração de todos. Portanto, não é justo que alguns tenham destaque ou posição social muito superior a outros. Deve-se buscar certa igualdade.

O liberal

Prega que o Estado interfira o mínimo possível na vida das pessoas. Só uma economia sem regulação estatal pode garantir que o indivíduo exerça de fato sua liberdade e suas plenas capacidades. No campo pessoal ou afetivo, cada um faz o que acha melhor.

O liberal-conservador

É liberal no plano econômico, mas, no âmbito familiar e pessoal, mantém ideias conservadoras. Ou seja, entende que a sociedade tem tradições que envolvem idioma, religião, costumes e convenções que precisam ser respeitados e protegidos.

Publicado no Jornal Zero Hora de Porto Alegre RS


O TRÁGICO LEGADO DA "NOVA MATRIZ ECONÔMICA" - UM RESUMO CRONOLÓGICO


"O Brasil está conseguindo o raro feito de extrair opiniões quase unânimes mundo afora. São poucos, pouquíssimos, os economistas que ousam discordar de que o país entrou em um ciclo de desenvolvimento sustentado. E mais: são ainda mais raros aqueles que duvidam da capacidade de o Brasil se tornar uma das maiores potências econômicas do planeta em um par de dezenas de anos."

O trecho acima foi extraído de uma reportagem da edição de 29 de dezembro de 2010 da revista IstoÉ, a mesma que, em outra edição daquele mesmo ano, afirmou que já éramos uma potência.

Dentre os "poucos, pouquíssimos, economistas que ousam discordar de que o país entrou em um ciclo de desenvolvimento sustentado" certamente estavam os economistas deste site, que ainda em 2010 alertavam que tudo era infundado.

E onde estamos hoje?

Eis uma amostra de notícias colhidas apenas nos últimos dois meses:
















Como viemos parar nesta situação?

O pano de fundo

No primeiro semestre de 2008, a economia brasileira estava relativamente arrumada. As prudentes políticas fiscal e monetária adotadas no primeiro mandato do governo Lula pela dupla Palocci-Meirelles haviam gerado um nível de confiança e uma estabilidade econômica poucas vezes vivenciados no país pós-democratização. 

A renda da população crescia. O poder de compra do salário mínimo chegaria ao segundo maior valor da história do real (o maior havia sido alcançado em agosto de 1998). A pobreza e a miséria haviam caído 50% entre 2003 e 2008, e os investimentos aumentaram 25% (de 15,3% para 19,1% do PIB) também nesse período. 

A inflação de preços, embora jamais invejável para um suíço, manteve-se relativamente comportada (pelo menos em termos de Brasil): após o IPCA acumulado em 12 meses ter chegado a 17% em maio de 2003, o índice despencou para saudosos 2,9% em março de 2007.

Tudo isso foi possibilitado por uma política monetária previsível e austera (para os padrões brasileiros), conduzida por uma equipe que jamais havia se deixado seduzir pelo conto de que "um pouco mais de inflação gera mais crescimento". 

Em decorrência dessa política monetária decente — atestada pelo comportamento do real em relação ao ouro —, o real se apreciou continuamente perante o dólar e perante todas as principais moedas do mundo, o que garantiu um crescente padrão de vida para os brasileiros.

Para coroar, em abril de 2008, o país viria a ganhar o grau de investimento (investment grade) conferido pela agência de classificação de risco pela Standard & Poor's.

Essa foi uma época em que era difícil para a oposição atacar o governo em termos econômicos, pois a condução pragmática da economia — principalmente em termos de política monetária — não oferecia grandes brechas para um ataque.

E então veio a crise financeira mundial, em setembro de 2008. E, com ela, veio uma guinada na condução da política econômica.

Eis, a seguir, um breve resumo cronológico de tudo o que o governo fez com a economia brasileira desde o segundo semestre de 2008.

O roteiro da lambança

1) A economia brasileira chega ao primeiro trimestre de 2008 relativamente arrumada, com uma política monetária prudente, com o real se valorizando em relação às principais moedas do mundo, e com a renda e osinvestimentos crescendo.

2) No segundo semestre de 2008, ocorre a crise financeira mundial.

3) Para combater os efeitos da crise, o governo brasileiro dá uma guinada na política econômica e passa a utilizar os bancos estatais — principalmente o BNDES — como a principal ferramenta de expansão do crédito.

4) Como a economia até então estava arrumada, essa política de expansão do crédito estatal aparenta funcionar no curto prazo. A economia cresce e a inflação de preços permanece sob controle (para os níveis brasileiros, é claro). O Brasil chama a atenção do resto do mundo.

5) Dilma Rousseff toma posse em janeiro de 2011 e sua equipe econômica não apenas decide manter a vigente política de crédito dos bancos estatais, como ainda decide intensificá-la, adicionando outros elementos heterodoxos.

6) A Nova Matriz Econômica é oficializada. Essa "nova matriz" — na realidade, incrivelmente velha — se baseia em cinco pilares: política fiscal expansionista, juros baixos, crédito barato fornecido por bancos estatais, câmbiodesvalorizado e aumento das tarifas de importação para "estimular" a indústria nacional. A crença do governo passa a ser a de que "um pouco mais de inflação gera mais crescimento econômico".

7) No início de 2012, o governo declara guerra aos bancos privados que não baixarem os juros, e utiliza os bancos estatais para fornecer empréstimos a juros baixos, ampliando dessa forma a expansão do crédito. O consumismo e o endividamento passam a ser explicitamente estimulados pelo governo, com a crença de que ambos é que são os motores do crescimento econômico. A expansão do crédito em conjunto com o aumento das tarifas de importação faz com que a inflação de preços comece a incomodar.

8) Também em 2012, o governo unilateralmente decide revogar os contratos de concessão das empresas de geração e transmissão de energia (os quais terminariam entre 2014 e 2018) com o intuito de fazer novos contratos e impor tarifas menores.

9) Com o ataque às geradoras e transmissoras, as distribuidoras ficam sem alternativa e têm de recorrer ao mercado de energia de curto prazo, no qual os preços negociados são muito superiores em relação aos ofertados pelas geradoras que ficaram sob intervenção. As distribuidoras ficam desabastecidas e endividadas.

10) O Tesouro — ou seja, nós, os pagadores de impostos — começa a repassar dinheiro para as distribuidoras, garantindo artificialmente a política de tarifas baratas. O endividamento do governo aumenta.

11) O governo faz concessões de aeroportos e poços de petróleo, mas tabela o lucro permitido e impõe regulamentações esdrúxulas. Os grandes investidores não se interessam.

12) Em paralelo a tudo isso, um mastodôntico esquema de corrupção já operava na Petrobras, que destroça o capital da empresa. Ao mesmo tempo, o governo obriga a Petrobras a vender às distribuidoras gasolina abaixo do preço pelo qual ela foi importada. E a obriga também a produzir utilizando uma determinada porcentagem de insumos fabricados no Brasil. O capital da Petrobras, portanto, sofre um triplo ataque. A Petrobras se torna a empresa mais endividada do mundo.

13) O uso do BNDES para a escolha de campeãs nacionais é intensificado. O Tesouro se endivida emitindo títulos que pagam o valor da SELIC e repassa esse dinheiro para o BNDES, o qual irá então emprestá-lo a grandes empresas a juros abaixo de 5%, e em prazos que chegam a 30 anos. Tal política não apenas é inflacionária como ainda afeta substantivamente a situação das contas públicas. A dívida bruta do governo começa a subir acentuadamente.

14) Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal intensificam o uso do crédito direcionado, que consiste em empréstimos para pessoas físicas e jurídicas a juros muito abaixo da SELIC. O intuito é estimular tanto o consumismo quanto os investimentos. Essa medida, além de pressionar a inflação de preços, levou oendividamento das famílias a níveis recordes.

15) Em decorrência dos repasses do Tesouro ao BNDES e às distribuidoras de energia, as contas públicas entram em desordem. Para mantê-las artificialmente equilibradas, o governo recorre a truques contábeis que consistem em atrasar repasses tanto para bancos estatais quanto para autarquias, como o INSS. Esses truques contábeis se tornam popularmente conhecidos como "pedaladas fiscais", as quais constituem um crime de responsabilidade fiscal.

16) A inflação de preços em nenhum momento fica perto da meta de 4,50% estabelecida pelo próprio Banco Central. Em vários momentos ela ultrapassa o teto da meta, de 6,50%. No setor de serviços, a inflação de preços fica continuamente entre 8 e 9%.

17) O descontrole das contas públicas, a inflação de preços persistentemente alta, o tabelamento dos lucros nos serviços de concessão e as seguidas demonstrações de desrespeito aos contratos do governo (como a Medida Provisória 579, a qual alterou totalmente o sistema elétrico) afetam o humor dos empresários, que reduzem os investimentos (os quais estão em queda há nada menos que sete trimestres seguidos).

18) O número de miseráveis volta a crescer.

19) Os investidores estrangeiros finalmente percebem os truques contábeis do governo e entendem que a dívida bruta está alcançando padrões perigosos. A agência de classificação de risco Standard & Poor's ameaça acabar com o grau de investimento do país.

20) Como consequência, a taxa de câmbio dispara. O dólar, que estava em R$ 1,65 no início do governo Dilma, chega a R$ 3,25 em meados de março de 2015 (estando hoje entre R$ 3,10 e R$ 3,15). A moeda brasileira derrete.

21) Em simultâneo à disparada do dólar, os repasses do Tesouro às distribuidoras de energia são abolidos. As tarifas encarecem, em média, 58%. (Em Porto Alegre e São Paulo, os reajustes ficam acima de 70%; em Vitória e Curitiba, passam dos 80%). Paralelamente, a Petrobras decide que é hora de recompor seu caixa (dizimado tanto pela corrupção quanto pela política de vender gasolina a preços menores que os custos de importação), e opreço da gasolina dispara nas bombas.

22) Em decorrência de tudo isso, a taxa de inflação de preços passa a subir a um ritmo não vivenciado desde 2003. O IPCA acumulado em 12 meses chega a 8,47% em maio de 2015.

23) O aumento dos combustíveis e da conta de luz obriga empresas, estabelecimentos comerciais e ofertantes de serviços a repassar esses custos aos seus preços. Como consequência, vendem menos e a receita cai.

24) O Banco Central, que havia se mantido totalmente submisso ao governo no primeiro mandato de Dilma, tenta recuperar a credibilidade perdida e volta a tentar controlar a carestia aumentando seguidas vezes a taxa básica de juros. Isso restringe uma parte do crédito e, consequentemente, afeta o crescimento da renda nominal

25) No entanto, dado que a carestia é majoritariamente decorrente da desvalorização cambial e do reajuste de preços administrados pelo governo, os aumentos da SELIC são inócuos nesse combate. Logo, cria-se uma situação de renda estagnada e preços em ascensão, o que gera uma queda da renda real da população.

26) Os seguidos aumentos dos juros, em vez de combaterem a carestia, afetam severamente os investimentos e oconsumo.

27) Com a carestia em alta, a renda real em queda e o endividamento recorde da população, as vendas no varejodespencam, as vendas de automóveis desabam, a indústria encolhe (e já vem encolhendo há 4 anos, não obstante todo o protecionismo) e o desemprego aumenta. As famílias endividadas — consequência inevitável de uma política de estímulo ao consumo — têm dificuldade para quitar as parcelas de suas dívidas. A inadimplência bate recorde.

28) Com renda em queda e custo de vida em alta, a classe média vai atrás de bicos para tentar fechar as contas. E pode encolher este ano.

29) Empresários se dizem pessimistas e sem intenção de investir. A confiança do consumidor é a pior em 13 anos

30) Com previsões de que a economia encolherá quase 1,5% e a inflação de preços fechará o ano em 8,79%, o cenário econômico é de estagflação. As perspectivas futuras não são nada alvissareiras.

Conclusão

A obra acima descrita não é resultante de uma única política ruim. Ela é o resultado de meticulosas e desastrosas intervenções governamentais na economia. Não se chega à situação atual de um mês para o outro ou mesmo de um ano para o outro; é necessária toda uma soma de erros. É necessária toda uma série de intervenções que, ao darem errado, exigem novas intervenções apenas para "corrigir" os efeitos inesperados das intervenções anteriores.

E esta sequência de intervenções adquiriu um ritmo espantoso no Brasil dos últimos 4 anos. 

Poucos países minimamente sérios vivenciam, de forma tão explícita e tão rotineira quanto o Brasil, as consequências das intervenções estatais em suas economias.

Exatamente por isso não deixa de ser curioso que, justamente o país em que os resultados nefastos das intervenções do governo na economia são os mais visíveis, é também aquele que possui uma das populações que mais adoram o estado.



Leandro Roque é o editor e tradutor do site do Instituto Ludwig von Mises Brasil.