quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

CAINDO PELAS TABELAS

O Brasil também não tem tido boas notícias em relação às suas universidades. Recentemente, deixou de ter representante entre as 200 melhores do mundo no Ranking Mundial de Universidades 2013-2014, divulgado pela consultoria britânica Times Higher Education (THE). Em 2012, a USP figurava como a única brasileira, na 158ª posição, mas este ano caiu para a 226ª colocação.

Além disso, há apenas quatro universidades brasileiras entre as cem melhores dos principais países emergentes, classificação feita pela primeira vez pela mesma THE. As quatro brasileiras citadas são a USP, que ficou em 11 lugar, Unicamp em 24º lugar, a UFRJ em 60º e a Unesp em 87º. A China lidera a classificação com 23 universidades na lista --quatro delas entre as dez melhores.

Para o sociólogo Simon Schwartzman, presidente do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (IETS), a política de ensino superior do governo federal tem se concentrado no acesso, sem se preocupar com a qualidade, e sem admitir que diferentes instituições podem ter papéis distintos - umas dando cursos de qualidade adequada para grandes números, outras trabalhando na ponta da excelência. 

Segundo ele, a China, mas também a Índia e Coréia, da mesma maneira que a Alemanha e outros países europeus, decidiram identificar suas melhores instituições e investir nelas para transformá-las em instituições de padrão internacional. “Isto é feito não somente colocando mais recursos, mas exigindo que elas mostrem padrões elevados de desempenho em ensino e pesquisa”.

Para tal, precisam ter autonomia e flexibilidade para administrar recursos e, sobretudo, para ter políticas de gestão de talento, o que significa buscar ativamente, em todo o mundo, pessoas de alta competência e pagar o que se paga a estas pessoas no mercado internacional, ou pelo menos acima do que pagaria o mercado privado em seu país.

Schwartzman lembra que no Brasil, essa flexibilidade tem sido impossível, “porque nossas universidades são repartições públicas geridas burocraticamente e submetidas a políticas de salários isonômicos”. Além disso, as universidades “estão submetidas a pressões populistas como as de eleições diretas, etc., que são incompatíveis como uma gestão mais forte e voltada para o desempenho e a excelência”, ressalva. 

Como o setor público não conseguiu crescer neste modelo, o setor privado ocupou o espaço, e hoje atende a mais de 70% da matrícula, “dando uma educação de qualidade precária”, lamenta Schwartzman.

Para Arnaldo Niskier, ex-secretário de educação no Rio, não há muito o que comemorar no ensino superior: “Já deveríamos estar com 10 milhões de alunos,, mas não chegamos ainda a 7, mesmo contando com o 1 milhão de inscritos na promissora educação à distância”. Para ele, “é mais que evidente o envelhecimento do nosso modelo educacional. Currículos ultrapassados, professores despreparados, recursos insuficientes, falta de vontade política nesse setor estrategicamente fundamental para o crescimento do país”.

Mozart Ramos Neves, do Instituto Ayrton Senna, acha que uma das razões da queda de nossas universidades é “o baixo nível de internacionalização”, que teria que ser ampliada aumentando a dupla titulação no seu cotidiano e a mobilidade acadêmica de professores e alunos. “Nossos currículos são muito verticalizados e burocratizados, o que impede muitas vezes a dupla titulação e o reconhecimento de estudos fora do país. Nossos alunos e professores têm uma baixa capacidade para se comunicar em inglês, seria necessário oferecer disciplinas bilíngües”.

Ele acha que o programa Ciência sem Fronteiras é uma importante iniciativa no campo da internacionalização, “mas é preciso ter um planejamento na volta de nossos alunos, ou seja, de como vamos aproveitá-los estrategicamente para o desenvolvimento do país”. Mozart Ramos Neves lembra que atualmente, nos Estados Unidos há 100 mil chineses estudando nas melhores universidades e já sabem o que vão fazer no retorno ao país. Nós temos apenas 9 mil brasileiros.

“Seria estratégico para nossas universidades abrirem escritórios em locais de desenvolvimento em C&T e Inovação, como nas regiões de Harvard e Stanford”, o que ele chama de “ter antenas para o futuro”. As universidades precisariam também se submeter às avaliações internacionais.

Ele lembra que a Universidade Federal de Pernambuco fez isso há quinze anos, ao ser avaliada pela Associação de Reitores da Europa e pela Middle States Association – USA, e assim conseguiu chegar entre as dez melhores universidades do Brasil – a única do Norte e Nordeste. (Amanhã, mais sugestões) Por: Merval Pereira

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