sexta-feira, 8 de junho de 2012

O JEITINHO BRASILEIRO

Jeito sempre tem, inclusive para o Euro, a Espanha e mesmo para a Grécia. 

Querem uma prova? O Brasil. Isso mesmo, o governo FHC implementou várias políticas que hoje são sugeridas como solução na Europa. A negociação da dívida dos Estados brasileiros é um exemplo citado na imprensa internacional. Resumindo: os governos estaduais brasileiros estavam tão quebrados quanto a Grécia, Irlanda e Portugal. Emitiam seus próprios títulos de dívida (as carioquinhas, as paulistinhas) que o mercado só aceitava cobrando juros altíssimos. Assim, os governos ou se endividavam ainda mais, pelo efeito dos juros, ou empurravam seus títulos para os bancos estaduais (Banerj, Banespa etc). Resultado, quebraram os governos e os bancos. Solução: o governo federal "comprou" os títulos estaduais e refinanciou outras dívidas, pagando com títulos do Tesouro nacional, de credibilidade maior e, pois, juros menores. Como seria na Zona do Euro? A criação dos tais "eurobônus", ou títulos da dívida européia, garantidos pela União Européia e negociados no Banco Central Europeu. Assim, em vez de vender títulos gregos, espanhóis, italianos, etc, pagando taxas proibitivas, os respectivos governos seriam financiados com os papéis "federais", que, sendo da UE, teriam, no fundo, a garantia alemã. Mas a solução brasileira incluiu poderosas contrapartidas. Os governos estaduais, desde então, são obrigados a pagar uma prestação mensal a Brasília (se falharem, não recebem participação nos impostos federais), não podem mais emitir títulos, têm despesas limitadas e controladas e outros endividamentos são restritos a uma porcentagem das receitas. E o governo federal não pode mais financiar os Estados, tudo previsto na Lei de Responsabilidade Fiscal. Por isso, a solução dos eurobônus ainda não foi aceita pela Alemanha. Angela Merckel exige, antes, regras parecidas à brasileira, que restrinjam a capacidade dos Estados na administração de suas contas e suas dívidas. Mais difícil lá, pois não são governos regionais e sim Estados nacionais que deveriam abrir mão de parte da soberania. É o que François Hollande não aceita, por exemplo. Ele quer bônus com a garantia européia/alemã, mas sem as restrições de soberania fiscal. Não esquecer: outra parte importante da solução brasileira foi a intervenção, fechamento e/ou oprivatização dos bancos estaduais. Tem banco estatal na Europa que pode ser fechado. Mas a dificuldade maior está em bancos privados, atolados com créditos podres. Sem problemas: estudem o Proer brasileiro, do final dos anos 90, quando vários bancos locais quebraram com o fim da inflação. Ainda na semana passada, em editorial sobre a Espanha, a revista Economist sugeriu: o governo intervém nos bancos quebrados, separa os ativos podres, colocando-os no "banco ruim", que é simplesmente liquidado. O que sobra, se sobra, o banco bom, é vendido. Ora, foi exatamente o que se fez aqui com Nacional, o Bamerindus e o Econômico - para citar apenas os maiores. Calcula-se que o custo disso na Espanha chegue a 10% do Produto Interno Bruto (PIB). No Brasil, ficou mais barato. Na época, houve muita oposição, inclusive e especialmente do PT. Hoje, todos, inclusive Lula e Dilma são os primeiros a falar da solidez do sistema bancário brasileiro. Outro ponto importante: Banco do Brasil e Caixa estavam literalmente quebrados, por causa de empréstimos fartamente concedidos com critérios políticos e má administração. O governo federal colocou uns R$ 15 bilhões para reaprumar esses dois bancos e estabeleceu novas regras de gestão, mas propriamente "bancárias". Por isso, aliás, é preciso ficar de olho nessas manobras do governo Dilma para forçar os bancos a reduzirem juros e ampliarem o crédito. Existe, sim, o risco de que estejam abrindo novos buracos. Mas, voltando à Europa, o problema para um Proer deles está, de novo, na falta de uma verdadeira federação européia, que submeta os Estados nacionais a uma disciplina comum. Ou seja, jeito sempre tem, mas nunca é fácil. Precisa combinar com muita gente, a começar pelos eleitores. No Brasil, FHC tinha um sólido mandato nacional para tocar essas e outras reformas. Na Zona do Euro, é obviamente mais difícil obter esse mandato. Os eleitores franceses, por exemplo, votaram contra a austeridade. Os irlandeses, a favor. Os gregos votam agora de novo. Os alemães, de seu lado, não manifestam entusiasmo pelos "eurobônus". Temem que os gastadores torrem ainda mais com a garantia alemã. A única coisa que ajuda, digamos assim, é a emergência, a situação de vai ou racha. E o que pode rachar é simplesmente a mais bela construção política e econômica do século passado. Não nos esqueçamos: a Europa unida gerou crescimento, ganho de renda elevado (especialmente para os que eram mais pobres, como Espanha, Portugal e Grécia) e regimes democráticos. Eles vão lutar para salvar isso.Por: Carlos Alberto Sardemberg O Globo

quarta-feira, 6 de junho de 2012

O LIVRE MERCADO É O MELHOR AMIGO DA MULHER

Com frequência, vemos o capitalismo ser culpado por muitas coisas sobre as quais não tem responsabilidade alguma. Essa é uma realidade a qual nós, defensores do livre mercado, devemos nos acostumar. Uma dessas acusações diz que o capitalismo é ruim para as mulheres. Há alguns anos, eu debati a diferença salarial entre os gêneros, que costuma ser utilizada como um exemplo de como o capitalismo gera discriminação contra as mulheres. Nós também ouvimos argumentos de como o capitalismo apoia o “patriarcado” e leva mulheres a serem tratadas como cidadãs de segunda classe. Na realidade, o capitalismo fez muito mais bem do que mal às mulheres. Um dos melhores exemplos é a forma como o capitalismo possibilitou melhoras econômicas para as mulheres, particularmente o aumento da sua presença na força de trabalho. O constante aumento da participação feminina na força de trabalho talvez seja o fator demográfico mais importante dos últimos 100 anos. Ao dar às mulheres uma fonte própria de renda, o capitalismo as fortaleceu de muitas maneiras; por exemplo, a mudança na dinâmica do casamento deu às mulheres a possibilidade de saírem de relacionamentos dos quais não poderiam sair anteriormente. A independência econômica feminina também transformou a família de outras maneiras. Nós podemos olhar para o aumento da participação das mulheres na força de trabalho por dois pontos, como costumamos fazer nas ciências econômicas. O capitalismo demandou mais trabalho feminino e ofertou as condições que facilitaram a realização desses trabalhos. O Aumento da Demanda Talvez o aumento da demanda seja o lado mais óbvio. O crescimento econômico gerado pelo capitalismo após a Revolução Industrial e no início do século XX teve duas consequências. Primeiro, aumentou a demanda por trabalho em geral. à medida que os salários aumentavam e os trabalhadores (homens, em sua maioria) enriqueciam, eles começaram a comprar mais do que compravam antes. O aumento da demanda por produtos finais aumentou a demanda por tudo que fazia parte de sua produção. E claro que uma dessas partes é o trabalho. Esse aumento da demanda por trabalho significou que as empresas deveriam procurar por trabalhadores em outros locais. Uma opção era entrar em leilões por trabalhadores de outras empresas, mas o único meio de fazer isso era pagar salários maiores. A outra opção era empregar mulheres para os trabalhos que anteriormente eram restritos aos homens. Na verdade, foi isso que muitas empresas começaram a fazer no início do século passado. O resultado foi que muitas mulheres que nunca tinham trabalhado fora de casa começaram a encontrar empregos. E foi o crescimento impulsionado pelo capitalismo e pela industrialização que fez isso ser possível. O crescimento teve um segundo efeito sobre a demanda por trabalho feminino. Na medida em que a industrialização progredia e a escala das operações crescia, o número de empregos como secretárias e auxiliares também cresceu. Além disso, parte do aumento da demanda do consumo foi por serviços e não por produtos. Ao invés de comprar um frango e abatê-lo, as pessoas preferiam pagar um pouco mais por partes do frango abatido. Comer fora passou a ser mais comum e a demanda por serviços pessoais como barbeiros e cabeleireiros cresceu. As mulheres podiam competir com mais sucesso com homens nesses empregos nos trabalhos mais pesados fisicamente. O resultado foi mais oportunidades de emprego para as mulheres. Em 1940, a demanda por trabalho feminino era grande o suficiente para que as empresas começassem a oferecer a opção de empregos em meio período, para se adequarem à necessidade de flexibilidade das mulheres casadas. Aparelhos Domésticos que Economizam Tempo O capitalismo também foi responsável pelas condições que tornaram possível o trabalho feminino. O maior problema que as mulheres casadas enfrentavam, principalmente as que tinham filhos, era tomar conta da casa. Com a tecnologia disponível na virada do século passado, manter a casa limpa era um trabalho de tempo integral. Entretanto, no período entre guerras, foram desenvolvidos todos os tipos de aparelhos domésticos que reduziram significativamente o tempo necessário para cozinhar e limpar. Lavar roupas deixou de ser um trabalho que requeria três dias e algumas pessoas, para ser um trabalho de algumas horas. Essas invenções libertaram as mulheres do trabalho doméstico e fez o trabalho fora de casa passar a ser ao menos imaginável. (Esse ponto é apresentado nesse vídeo de Hans Rosling) As mulheres também estão se tornando cada vez mais instruídas, tanto em nível médio, quanto em nível superior. Também nesse caso, a riqueza criada pelo capitalismo possibilitou às famílias educarem os seus filhos por mais tempo, inclusive as suas filhas. Essa riqueza também foi suficiente para fazer o salário das crianças desnecessário para a sobrevivência. Uma força de trabalho feminina mais instruída e mais produtiva significou um aumento nas possibilidades de uma mulher ser empregada. Embora raramente receba crédito, o capitalismo libertou as mulheres de séculos de cidadania de segunda classe. Por: Steven G. Horwitz é economista da St. Lawrence University.

A ECONOMIA VAI MAL

 A questão central no país é a precária situação econômica. Como de hábito não é o foco principal do debate político. Vale a pena listar algumas questões: 


1. a situação difícil dos pequenos bancos. O caso do Cruzeiro do Sul é somente mais um e não é o único; 

2. o setor da construção civil mostra sinais de esgotamento; 

 3. o endividamento das famílias não para de crescer; 

 4. problemas estruturais da economia não se resolvem com medidas tributárias (aumentando ou baixando impostos temporariamente); 

 5. a tal "classe C" como instrumento de puxar o consumo para cima não passa de ficção; 

 6. a falta de uma política industrial é evidente; 

 7. os velhos gargalos da infra-estrutura se mantem apesar de dez anos de consulado petista; 

 8. a baixa produtividade dos trabalhadores; 

 9. a poupança interna é irrelevante; 

 10. o governo não consegue planejar nada (apesar dos dois ministérios dedicados à esta função); 

11. o "modelo" de desenvolvimento criado nos anos 90 está fazendo água - e não é de hoje; 

12. governo trata a economia com descaso, acha que a palavra substitui a ação. 

13. a situação econômica internacional deve se manter neste patamar (ruim) por um bom tempo (especialmente a Europa e os EUA); 

14. temerosa de alguma medida impopular (mas necessária) para reequilibrar a economia a médio prazo, Dilma opta pela fraseologia vazia (com tinturas do velho populismo) e com medo de algum reflexo negativo nos índices de popularidade. 

15, a taxa de investimento é ridícula. O mais terrível é que o Congresso Nacional sequer passa perto de qualquer destas questões.
Por: Marco Antonio Villa

terça-feira, 5 de junho de 2012

BUROCRATAS

"O primeiro objetivo do burocrata é a preservação de seu trabalho, fornecido pelo Estado inchado, às custas dos contribuintes. Se os problemas reais do mundo são resolvidos ou não, é de importância secundária. Não é preciso muito cinismo para ver que os burocratas não têm interesse em ter os problemas resolvidos. Se os problemas não existe não há razão para o burocrata ter um emprego" William Simon, ex-secretário do Tesouro dos EUA

A ESCOLHA DE BRASILIA


Por que a produção de remédios, por exemplo, não está na primeira fila da isenção de impostos? Faz algum tempo que a indústria farmacêutica brasileira espera uma redução de impostos na produção de medicamentos essenciais para câncer, hipertensão, diabetes, colesterol, entre outras doenças. No início do ano, o pessoal do setor recebeu a informação de que o decreto estava quase pronto. Mas nada. A farmacêutica não foi considerada prioritária pelo governo – ao contrário, por exemplo, da automobilística, especialmente beneficiada, e de diversas outras que foram desoneradas dos 20% de contribuição previdenciária sobre a folha de salários. E, entretanto, é difícil imaginar algum setor mais importante para a população do que a produção de remédios. Na verdade, como ocorre em outros países, esse setor deveria estar na primeira fila da isenção/redução de impostos. Por que não está? Talvez porque não tenha pátios cheios para mostrar ou um bom lobby empresarial e sindical. E por que o governo precisa de dinheiro. A despesa pública continua aumentando, e pesadamente, de modo que o governo precisa arrecadar cada vez mais para pagar essas contas. Assim, nem todos podem pagar menos impostos e sempre é preciso compensar as reduções concedidas aos amigos do rei. O resultado: caem os impostos para alguns e aumenta a carga para o conjunto da economia. Isso é um grave entrave ao crescimento. Sem contar a arbitrariedade política na escolha dos que ganharão benefícios. Essa prática distorce a atividade econômica e derruba a competitividade, pois o sucesso não depende da eficiência, mas das pontes com Brasília. Investimentos atrasados. E parece que vem mais arbitrariedade por aí. Os investimentos da Petrobrás, sobretudo no pré-sal, estão atrasados por que a estatal encontra problemas na aquisição de sondas, plataformas e navios. O governo impõe uma exigência de pelo menos 55% de conteúdo nacional nesses equipamentos. Os fabricantes nacionais não dão conta. Não conseguem entregar; quando entregam, o fazem com atraso e sempre com preços maiores do que o inicialmente contratado e muito maiores do que o importado. Como isso prejudica investimentos essenciais, informa o jornal “Valor Econômico” de sexta-feira, o governo pretende relaxar a exigência de nacionalização. Mas não para todos. Será de formas eletiva. Já viu. Inaceitável para quem? O presidente da França, François Hollande, considera “inaceitável” que um país possa se financiar pagando juro zero e outro tenha de morrer com 6,5%. Aquele “um” é a Alemanha, cujo governo outro dia mesmo vendeu títulos da dívida, na verdade, a juros negativos. A taxa foi zero – ou seja, o investidor aplicou mil euros e, ao final de um ano, receberá mil euros. Descontando uma inflação de 2% ao ano, o aplicador perdeu dinheiro para ficar com os papéis alemães. Mais inaceitável ainda, diria Hollande. Mas inaceitável para quem? Para os alemães está tudo muito bem, não é mesmo? O “outro” país é a Espanha, cujo governo só vende títulos quando paga os tais juros acima de 6% ao ano. Inaceitável? Como retórica, pode ser. Na prática, os espanhóis têm sido obrigados a aceitar essa taxa pela simples razão de que precisam do dinheiro para continuar financiando sua dívida. O problema, diria Hollande, é a desigualdade: uns pagando nada, outros tendo de pagar muito. Ele usou a Espanha como exemplo para não cair no pessoal. Lá no fundo, o presidente francês também considera inaceitável que seu governo tenha de pagar mais do que os alemães. Neste momento em que toda a zona do euro cresce nada ou já está no negativo, é a Alemanha que salva algum crescimento Na sexta-feira, o mercado aceitava títulos de dez anos do Tesouro alemão para receber juros anuais de 1,17%. Do Tesouro francês, cobrava 2,23%. O dobro! Julgamento moral à parte, por que funciona daquele jeito? É simples. Quanto maior a segurança do investimento, menor a rentabilidade. Qual o risco de não receber o dinheiro emprestado para os alemães? Zero. Já para a Espanha… Na verdade, quem compra títulos espanhóis não acha que o país vai quebrar ou, pelo menos, não acha que isso vai acontecer daqui a pouco. Se achasse, não compraria, não é mesmo? Mas sabe que há risco real de acontecer alguma coisa – a dívida do governo é muito elevada, há dificuldades para reduzi-la e os bancos espanhóis carregam créditos de difícil recebimento. Assim, o investidor quer um prêmio para correr esse risco. Do mesmo modo, ninguém acha que a França vai quebrar, mas todo mundo sabe que a sua situação é pior do que a da Alemanha. O país de Angela Merkel tem as contas arrumadas, é poupador e tem superávit no comércio externo. É austero, portanto. Mas austeridade não é nada, diria Hollande, é preciso crescer. Perfeitamente, responderia, Merkel. E exibiria os números: a Alemanha cresceu mais de 3% nos últimos dois anos, simplesmente o ritmo mais forte entre os países ricos. A França nem chegou a 2%. Neste momento em que toda a zona do euro cresce nada ou já está no negativo, é a Alemanha que salva algum crescimento. Ou seja, ao usar o argumento moral econsiderar injusto que alguns paguem mais, Hollande quer ser tratado como alemão ao vender seus títulos, mas continuar sendo francês ali no dia a dia: trabalhando menos horas, ganhando mais e se aposentando mais cedo. Aí fica inaceitável para os investidores. Abutres, diria, Hollande. Até pode ser, mas a saída é fácil para o presidente francês. Basta não ir a mercado, não vender títulos do Tesouro. Só que aí precisaria fazer um baita corte de gastos públicos para viver exclusivamente da arrecadação de impostos. Resumindo: Hollande quer o dinheiro dos investidores, mas nas condições – e nos juros – que ele considera aceitáveis. Não vai colar.Poe: Carlos Alberto Sardemberg Fonte: O Estado de S. Paulo, 04/06/2012

O OUTRO LADO

Militares, também choramos nossa centena de mortos, sem as generosas bolsas ditadura. Fora outros crimes. Estão bem vivos alguns sequestradores Com a instauração da Comissão da Verdade, o ciclo de beligerância e de turbulência política do passado recente voltou a ser um tema discutido em nosso país. É um tema preocupante, que estará presente em debates e artigos nos próximos dois anos, tempo de vigência dos trabalhos da comissão. No período, os principais fraseados das esquerdas brasileiras estarão em evidência, sempre acompanhados de justificativas emocionais. Agora é possível acrescentar no debate a Lei da Anistia, já chamada de lei injusta, primeiro passo para a sua revogação. Esquecem os críticos que foi essa lei que permitiu quase 33 anos de relativa paz no processo de crescimento democrático do país. Sem ela, o período seria controverso e perturbador. Na comissão, as Forças Armadas serão o foco principal. Disciplinadas como são, estarão em silêncio obsequioso e sem poder político para interferir nos processos que serão abertos. O seu desgaste será evidente, um objetivo permanente de segmentos minoritários e radicais da esquerda brasileira. Surge, agora, em artigo publicado neste jornal, de autoria do frade dominicano Libânio, o Frei Betto ("Os dois lados da Comissão da Verdade", em 20 de maio), uma nova designação para a Comissão da Verdade. O novo nome seria Comissão da Vaidade, uma alusão à posição adotada por um dos juristas que integra a comissão, considerada vaidosa pelo frade. O jurista teria se posicionado, em corte internacional, contra interesses de familiares de vítimas na guerrilha do Araguaia. Em seu artigo, o autor questiona se o jurista teria condições de atuar com imparcialidade. É surpreendente a posição do frade. Ele considera o jurista parcial por ele ter sido contrário ao posicionamento dos citados familiares. Então sejamos claros: os sete indicados serão imparciais quando analisarem um só lado, de preferência o do frade Libânio. Se analisarem o "outro lado", serão parciais. Como deverão se sentir os juristas da comissão, indicados com base no seu "notável saber", diante desse claro patrulhamento? Como serão suas "imparcialidades" ao analisarem só um lado, ferindo o contraditório, princípio básico do direito? Meu professor de história geral, um saudoso frei franciscano, ensinava que a "história tem sempre dois lados". O "outro lado" também tem inúmeras perguntas não respondidas nem esclarecidas. Também choramos nossa centena de mortos e o mesmo tanto de feridos, muitos inocentes e que nada tinham com os confrontos. Assassinatos a sangue frio, a pauladas, a coronhadas -até esquartejamento houve. Atentados e sequestros com mortes. Sequestro é tortura infame, e alguns sequestradores estão bem vivos. Há famílias enlutadas que, em sua totalidade, não receberam qualquer apoio indenizatório. Não existia naquela época nenhuma benesse como a atual e generosa "bolsa ditadura". Enumerar outros fatos a esclarecer ultrapassaria nosso espaço jornalístico. Entretanto seria bom se uma pergunta, talvez a mais importante, fosse respondida: que democracia eles lutavam para resgatar? O ideário das organizações terroristas e os depoimentos insuspeitos de seus ex-integrantes permitem inferir que o objetivo maior, caso vencessem, seria a implantação de uma "ditadura do proletariado" e não uma democracia, como assegura o citado articulista. Dependendo da organização, seria uma ditadura soviética, maoísta, albanesa ou cubana. Para mim, sem receio de errar, seria a cubana e o seu famigerado "paredón". Por sinal, os covardes justiçamentos em nosso país, por ordens de tribunais relâmpagos, comprovam a escolha. Caso vingassem tais doutrinas, não poderíamos, hoje, escrever livremente neste ou em outro jornal. Ao menos eu. Já o frade Libânio escreveria no jornal do partido único. À semelhança de Cuba, no Brasil haveria um só lado. Não existiria o "outro lado". Não tenho profundos conhecimentos da mitologia grega nem das literaturas portuguesa e espanhola para citações brilhantes como as do eclesiástico. Todavia, fruto da formação franciscana que recebi, encerro com uma citação bíblica, que creio ser válida para o momento sensível pelo qual passa a nação brasileira: "Não julgueis para não serdes julgados, pois com o julgamento com que julgais sereis julgados e com a medida com que medis sereis medidos." (Mt 7,1-2). (*) ROMULO BINI PEREIRA, 72, é general do Exército da reserva. Foi chefe do Estado-Maior do Ministério da Defesa

A EUFORIA COM O BRASIL ACABOU

A euforia com o Brasil acabou, afirma Henrique Meirelles. 

"As intervenções do governo em empresas incomodam." "Medidas picotadas podem inibir investimento", diz Armando Castela, economista entrevistado pela Valor, confirmando a tese de Meirelles. 
O que aconteceu com o governo Dilma? 
Investidores americanos e europeus, com problemas enormes internamente, preferiram tirar o dinheiro do Brasil e aplicar nos seus países. Por quê? 
Dilma está fazendo o que nós administradores chamamos de "micro-managing". 
Micro-managing é muito comum em empresas familiares e médias empresas, onde o dono palpita em tudo, administra o detalhe, quando seu talento está na visão do todo. 
São os bilhetinhos, são as discussões de coisas pequenas, que desmotivam e só atrapalham. 
Quem trabalha numa empresa média, familiar, administrada por amadores, e até por administradores "micro-managers", sabe o que estou falando. 
Administrar é ver o todo, a visão estratégica, o horizonte, não o dia a dia. 
O que os "desenvolvimentistas" chamam de "intervenções pontuais", nós chamamos de "micro managing", e normalmente dá errado. 
Pode até dar certo em pequenas empresas, deu certo na empresa de alfinetes de Adam Smith com 16 funcionários, mas não dá certo em empresas grandes e países. 


O Brasil perdeu o barco da história novamente, com os seguintes fatos. 


1. Prisão de forma bem noticiada de dois administradores da Chevron. Enquanto muita gente, e você sabe quem, está solta. 
2. Arrastões de restaurantes famosos de São Paulo, onde invariavelmente se encontram três ou quatro administradores estrangeiros pensando em investir no Brasil. 
3. Micro Managing governamental do Banco do Brasil, Petrobras, Caixa Econômica, Vale do Rio Doce, Eletrobras, que perderam em um ano 50% do seu valor, uma das maiores destruições de Patrimônio Público na história do Brasil. Perderam R$ 400 bilhões de reais de valor em menos de três anos. Dinheiro do Povo Brasileiro e alguns investidores estrangeiros que já se retiraram. 
4. Redução de Imposto para Automóveis e não para remédios, que aumentaria a força de trabalho em 1 milhão, e livrarias, que aumentaria o conhecimento do brasileiro em 1%. Nem terminaram a greve dos Professores das Federais, que faria outro tanto. Preferiram defender os sindicatos dos Metalúrgicos e não o sindicado dos Livreiros. Isto se chama Micro Managing. 
5. A criação do Super Cade, onde agora toda empresa que fatura R$ 70 milhões, uma mosca no ranking mundial, tem que se apreciada pelo Cade que, com suas equações de demanda e oferta irá dizer se tem risco para o consumidor ou não de uma fusão para torná-las competitivas ou monopolistas. 
Infelizmente Dilma, através de dois assessores que ficam nos bastidores, está "micro managing" a economia brasileira. 
Mexer em time que está ganhando, dá zebra. 
O ódio contra os administradores fica tão claro na entrevista de Meirelles, que gostaria que vocês lessem. Perguntam a certa altura se ele estava se tornando um "Conselheiro Profissional". 
A velha noção que nós administradores somos mercenários, e que vivemos destes nossos espíritos animais. 
Por isto, fecharam todas as escolas de administração neste país em 1945, último mês da ditadura Vargas. 
Meirelles irá entrar na história como o único Presidente do Banco Central a não trabalhar num Banco Comercial, e isto não é sequer mencionado na entrevista. 
Isto eu chamo de ética profissional, e não ganância profissional. 
Meirelles não é motivado pelos seus espíritos animais, e prefiro que ele seja um conselheiro de muitas empresas, do que funcionário de um banco que ele deveria ter supervisionado. Infelizmente, sem Meirelles o Brasil não será tudo aquilo que eu sonhei. 
Vamos ter que esperar 2045 e então abrir as Escolas de Administração, independentes das Escolas de Economia e Contabilidade, com um currículo Socialmente Responsável e começar com 100 anos de atraso para competir com India e China, até lá 75 anos na nossa frente. Por: Stephen Kanitz

segunda-feira, 4 de junho de 2012

O DESARRANJO MUNDIAL NÃO VAI DEIXAR O BRASIL DE FORA


"O mundo marcha no seu habitual estado de desarranjo." Hum! Modéstia à parte, a frase não é minha. Gay Talese, no seu magnífico livro sobre o The New York Times, conta que o editor de assuntos internacionais do jornal começava a reunião de pauta diária quase sempre com essa frase. A história é totalmente verdadeira? Talese, como todo grande jornalista, gosta de procurar um "enfeite" para agarrar o leitor no início dos seus relatos. Mas é uma boa frase. E descreve bem a atualidade. Se dermos uma olhada geral no mundo a partir de um satélite - esse que uma empresa privada lançou para levar não sei o quê até a estação espacial orbital -, o que vemos são desarranjos em todos os terrenos: diplomático (Síria x ONU; Israel x palestinos; Irã x AIEA-EUA; citando só os mais visíveis); militar (Iraque, Paquistão, Afeganistão, Iêmen, etc.); político (Egito, Europa dos 27, Rússia, etc.); ecológico (Rio+20, que ameaça dar em nada); e, é claro, econômico-financeiro (Grécia, Alemanha, França, China se retraindo, bancos se afundando, etc.). Não sou historiador, de modo que não sei se o desarranjo mundial é um estado passageiro ou permanente nem se este que enxergamos hoje do satélite é pior, mais complicado ou menos complicado do que os desarranjos dos tempos em que não havia satélites. De qualquer forma, pelo menos na área que me toca - naquilo em que minha ignorância costuma ser apenas um pouquinho menor do que em todo o resto da cultura humana -, ou seja, na economia, a coisa realmente está parecendo mais séria do que até há pouco se dizia e pior do que em outras ocasiões. Já se disse, com ominosa insinuação, que a crise atual é como a de 1929, e seria tão terrível e demorada quanto. Não é verdade. É uma crise muito diferente, na sua natureza, no seu conteúdo. Mas poderá ser mais terrível e prolongada. Em primeiro lugar, pois não me parece que seja uma crise gerada pelas frustrações e desconfianças em relação à economia real, como foi a de 1929, quando o crack da bolsa de Nova York funcionou como epicentro, derrubando os valores não só dos seus papéis, mas dos ativos reais que eles representavam. A economia, então, entrou em colapso porque as coisas não valiam mais nada. A de hoje não tem um epicentro, generalizou-se em todos os principais mercados, não nasce da atividade econômica nem dos mercados de ações, nasce de uma crença de que as dívidas não serão pagas - nem as dos bancos nem as dos governos e, é claro, nem mesmo as das pessoas físicas. Com muita gente perdendo empregos na Europa, por exemplo, quem pagará as prestações das casas, carros e outros bens que esses trabalhadores compraram com prazos dilatados? A crise é de expectativa. E a expectativa é de inadimplência monstro e generalizada, fiscal e privada, isto é, dos governos, dos bancos e das pessoas - nesse clima, quem se propõe a investir para revigorar a economia? E, pior, quem se propõe a financiar investimentos? Hoje em dia nem os botecos de esquina conseguem se instalar apenas com o capitalzinho do botequineiro. Foi-se o tempo. Foi-se o tempo, inclusive, do velho bordão "vintém poupado é vintém ganho". Não é. Vintém poupado, o mais provável é que se torne vintém perdido. O melhor mesmo é vintém movimentado, pois aí, sim, pode dar algum rendimento. Só que, no ambiente de desconfiança que se instalou no mundo, e por tabela começa a se instalar no Brasil, os vinténs não estão se movimentando, estão se entesourando. É só acompanhar um pouco as cotações do ouro - na sexta-feira, era de US$ 1.623 a onça, com alta de US$ 67 - e também da prata, platina, paládio, etc., em períodos como os atuais para constatar que, em vez de se movimentar, os vinténs estão se lastreando, ancorando-se... aos borbotões. E não parece haver dúvida de que essa "aversão ao risco" mundial, que se traduziria melhor como aversão ao investimento e, mais ainda, aversão a emprestar, já bateu no Brasil. Não é por acaso que no governo brasileiro, a presidente Dilma-Quixote e o seu fiel escudeiro Sancho-Mantega pularam em seus cavalos e dispararam em todas as direções. Para o quê? Para nada? Ah, sim, para "estimular a economia". Pelo menos por enquanto, essa cavalgada heroica não parece estar conseguindo convencer algum investidor desavisado - nacional ou estrangeiro - a abrir a burra e derramar seus dobrões na economia. A publicação das contas nacionais para o primeiro trimestre do ano mostrou forte queda na Formação Bruta de Capital Fixo. E, ao que tudo indica, o governo tem a maior parcela de responsabilidade nessa queda, não propriamente por falta de recursos, mas por causa da sua notória incapacidade de gerir investimentos. Investimento público sempre foi a resposta para crises. O governo proclama a vontade de investir (o PAC está aí) e amealha um superávit primário de R$ 60,2 bilhões no primeiro trimestre do ano. Mas essa vontade e esse dinheiro só se transformam em empregos e geração de riquezas se houver bons e ágeis projetos executivos e competente engenharia de obras. É nesses desvios que o trem do Brasil Maior empaca. Sem falar na cooptação inepta e suspeita de empreiteiras "padrão Delta" para os trabalhos.Por: Marco Antonio Rocha O Estado de S. Paulo - 04/06/2012

DESATAR O NÓ

O que têm em comum o mensalão e a CPI do Cachoeira, implicando a construtora Delta e governadores supostamente envolvidos com uns e outros? Aparentemente, esses fatos podem ser tratados isoladamente, como se não tivessem conexão entre eles, cada um obedecendo a uma lógica específica. Poderiam, também, cair sob uma rubrica mais geral de completa ausência de moralidade púbica, o que já seria bastante revelador do momento que vivemos. Caberia, no entanto, perguntar se não há aí uma questão de ordem estrutural que se faz presente em cada um desses fatos, que sempre ressurgem sob a forma de “escândalos”. Mas é tal a sucessão de escândalos que alguns não parecem mais escandalizar, como se vivêssemos segundo uma rotina do escandaloso. Os últimos anos têm sido a ocasião de desenvolvimento de uma espécie de capitalismo de Estado com tinturas socialistas, alicerçado numa aliança entre sindicatos de trabalhadores e grandes grupos empresariais. Mais particularmente no governo Lula, esse processo foi intensificado, criando toda uma rede de privilégios e favorecimentos que terminou por distorcer as relações de mercado propriamente ditas. De um lado, o discurso contra o “mercado”; de outro, o favorecimento explícito de alguns agentes de mercado, encobertos sob o manto da intervenção “pública”, quando de pública tem muito pouco. Lula criou para si a imagem do vencedor que tudo pode, atendendo uns e outros segundo as circunstâncias, sem nenhuma preocupação com seu efeito sobre as instituições republicanas. De parte de grandes grupos empresariais e bancários, foi criada uma teia de relações pessoais que lhes concedeu e continua a conceder os mais diferentes tipos de benefícios. A justificativa, como sempre, é a da redução do crescimento do PIB, como se os problemas estruturais fossem assim abordados. Outras medidas estruturais nem são aventadas, como redução uniforme de impostos para todos os setores ou aumento dos investimentos públicos via redução do custo da máquina estatal. Acontece que tal tipo de intervenção não é política nem moralmente neutra, expondo problemas estruturais do Estado. Por exemplo, politicamente, benefícios são criados para grupos empresariais que, depois, acabam contribuindo financeiramente para os partidos governamentais que dão sustentação a essa forma de favorecimento. Moralmente, o ambiente torna-se insalubre. Salta aos olhos que uma consequência é o aumento da corrupção e o pagamento de propinas, que terminam entrando no modo mesmo de funcionamento da economia e do Estado. Uma relação capitalista, de mercado no sentido estrito do termo, funciona tendo como base a impessoalidade dos agentes econômicos, pautados por leis e formas tributárias que valem igualmente para todos. Ou seja, essas leis e regras não favorecem ninguém, os benefícios de cada agente econômico dependendo de seu desempenho, conhecimento e competitividade. Relações de mercado caracterizam-se por ser impessoais. O capitalismo de Estado, contudo, retorna a formas mercantilistas de condução da economia, personalizando politicamente as relações econômicas. Lula criou para si a imagem do vencedor que tudo pode, atendendo uns e outros segundo as circunstâncias, sem nenhuma preocupação com seu efeito sobre as instituições republicanas Cachoeira, nesse sentido, não é um acidente de percurso, mas um efeito desse capitalismo de Estado. Sua posição é particularmente significativa, pois ele se insere na interseção de parlamentares, poder público, favorecimentos particulares, contravenção e relações com grandes empresas – no caso, a Delta. De repente, os tentáculos dessa rede da contravenção se estendem para vários Estados e para a União, tecendo uma teia de corrupção, privilégios e esfacelamento dos laços institucionais e morais. Um indivíduo desse quilate se torna personagem nacional. A perversidade parece não conhecer, aqui, nenhum limite. Convém assinalar, neste ponto, que o governo Dilma tem procurado mexer com esses efeitos, enquanto no governo Lula nem combatidos eles eram. O novo governo procura se dissociar deles, o anterior com eles compactuava. Há, portanto, uma sinalização de mudança envolvida, que poderá, talvez, no futuro traduzir-se por uma transformação maior. Embora o combate aos efeitos seja altamente meritório, a abordagem das causas é mais do que nunca necessária. O caso dos governadores supostamente envolvidos seja com o grupo de Cachoeira, seja com a Delta, seja ainda com ambos, mostra bem as relações de tipo pessoal usadas para favorecimentos de alguns, em que a fronteira entre o lícito e o ilícito começa a desaparecer. O atendimento de demandas particulares não resistiria a um teste de universalização, isto é, a sua contribuição para o bem coletivo. Nessa perspectiva, é imprescindível que tais fatos continuem a aparecer publicamente, produzindo na opinião pública uma situação tal de descontentamento que se possa concretizar eleitoralmente. O descalabro moral pode ter repercussões políticas. Bom signo disso é que a ética na política se está tornando novamente uma questão nacional. E a liberdade de imprensa e dos meios de comunicação é uma condição para que essa transformação se possa operar. A questão maior, porém, consiste em desatar um nó de tipo estrutural, pois se isso não for feito o combate aos efeitos pode tornar-se um trabalho de Sísifo, sempre repetindo o mesmo esforço, jamais chegando ao fim. De um lado, o fortalecimento das intervenções governamentais na economia, favorecendo determinados setores e grupos econômicos, a expensas dos demais, cria “regras” particulares que não só distorcem as relações de mercado, como enfraquecem as relações institucionais e a moralidade pública. De outro, o combate às práticas que são consequência dessas relações se confronta com seu incessante ressurgimento, mudando apenas os personagens. Só desatando esse nó poderá o País descortinar um novo horizonte.Por:Denis Rosenfield - Convidado Fonte: O Estado de S. Paulo, 04/06/2012

MENDIGO RICO

O governo que anexou os pobres à classe média acaba de inventar o mendigo rico.

Com a entrada em cena de Wellington Moreira Franco, o interminável espetáculo do cinismo descambou para o terreno da galhofa. Único integrante do primeiro escalão que jamais conseguiu uma conversa a dois com Dilma Rousseff, o (segundo o cartão de visitas) Ministro-Chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República resolveu chamar a atenção da chefe com uma vigarice estatística de deixar ruborizado até dono de instituto de pesquisa. Graças ao ministro do Nada, foram extintos os pobres que restavam no Brasil Maravilha. Neste 29 de maio, Moreira Franco revelou que, a partir de agora, pertencem à classe média todos os brasileiros cujos rendimentos individuais alcancem de R$ 250 a R$ 850. São 48% ─ quase metade ─ da população. Como explicar a proeza assombrosa? O ministro se dispôs a decifrar o enigma em dilmês castiço: “A classe média foi delimitada ainda de acordo com o grau de vulnerabilidade, ou seja, a probabilidade de retorno à condição de pobreza, definido como o percentual de pessoas que vivem em locais cuja renda per capita caiu abaixo da linha de pobreza em algum momento em cinco anos”, complicou Moreira Franco. Em 2007, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada pareceu ter alcançado o limite da audácia malandra ao descobrir como se faz para mudar de categoria sócio-econômica sem sair do lugar. De um dia para outro, as famílias cuja renda mensal superava a marca dos R$1.063 souberam que haviam sido transferidas para a classe média. Como registra o post reproduzido na seção Vale Reprise, o governo Lula inventou o pobre que sobe na vida sem deixar a pobreza. Ainda mais ousado que os alquimistas do IPEA, Moreira Franco também prometeu criar um “instrumento de pesquisa” chamado Vozes da Classe Média. “Queremos saber quais são as aspirações e os desejos desse novo universo”, explicou o milagreiro de araque. A pesquisa é dispensável: 100% dos entrevistados dirão que tudo o que querem é viver como vive gente da classe média de verdade. Estudos recentes atestam que os mendigos que esmolam nas esquinas de São Paulo ganham, em oito horas de expediente, entre R$35 e R$40 . Em 25 dias, embolsam de R$875 a R$1.000. Os pedintes das ruas, portanto, não têm nada a pedir ao governo Dilma Rousseff. Ganham mais que a classe média do Brasil Maravilha. São mendigos ricos.Por: Augusto Nunes

domingo, 3 de junho de 2012

É UM CIRCO OU NÃO É?

Ultimamente, faço um esforço enorme para não perder a esperança em nosso país, em nossa capacidade de nos comportarmos com um mínimo de respeito pelo interesse público, pelos valores éticos, enfim, por construirmos uma nação digna deste nome. É que, a cada dia, como você, fico sabendo de coisas que me desanimam. Parece que a corrupção tomou conta do Estado brasileiro, que não há mais em quem confiar. O que desanima não são apenas as falcatruas praticadas por parlamentares, ministros, governadores, prefeitos, juízes... O pior é que esses dados refletem uma espécie de norma generalizada que dita o comportamento das pessoas e o próprio funcionamento da máquina pública. Um pequeno exemplo: o precatório. Se ganhas na Justiça uma ação que obriga o governo a te indenizar, ele está obrigado a te pagar, não? Só que ele não paga, não cumpre a decisão judicial, e fica por isso mesmo. A Justiça sabe que sua decisão não foi obedecida e nada faz. Pior, às vezes esse dinheiro é apropriado por altos funcionários da própria Justiça. Enquanto isso, as pessoas que deveriam ser indenizadas esperam 20, 30 anos, sem nada receber. É como um assalto em via pública. Este é um fato corriqueiro num país dominado por uma casta corrupta. E eu, burro velho, embora sabendo disso tudo, não paro de me surpreender. Acontece de tudo, até CPI criada pelo governo. Nunca se viu isto, já que CPI é um recurso da oposição; quer dizer, era, porque a de Cachoeira foi invenção do Lula e seu partido, e conta com o apoio da presidente Dilma. Isso porque, no primeiro momento, os implicados pareciam ser apenas adversários deles, a turma do mensalão. Eis, porém, que novas revelações envolveram gente do PT e aliados do governo, sem falar numa empresa corrupta que é responsável por grande parte das obras do PAC, o Plano de Aceleração do Crescimento do governo federal. Mas o que fazer, agora, se a CPI já estava criada? Voltar atrás seria impossível, e nem era preciso, uma vez que, dos 30 membros da CPI, apenas sete são da oposição, quer dizer, não decidirão nada. Mas essas revelações punham em risco um dos principais objetivos de Lula, que era usar a CPI para desqualificar o processo do mensalão, prestes a ser julgado pelo STF. Essa intenção foi favorecida por um fato que envolve o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, a quem caberá fazer a denúncia da quadrilha chefiada por José Dirceu. O PT tentou desqualificá-lo, apresentando-o como ligado a Demóstenes Torres e, portanto, a Cachoeira. A jogada não deu certo e, além do mais, está aí a maldita imprensa, que insiste em criar problemas, por levar à opinião pública informações inconvenientes. De qualquer modo, a CPI teria que ouvir Carlinhos Cachoeira, e só Deus sabe o que ele poderia revelar. Deus e nós também: nada, como se viu. É que ele se valeu do direito, que a Constituição lhe concede, de permanecer calado para não produzir provas contra si mesmo. Quem quer que tenha inventado isso -sempre em defesa dos inocentes, claro- com frequência favorece aos culpados, uma vez que o inocente, por nada temer, faz questão de contar toda a verdade. Calar, portanto, é confissão de culpa. De qualquer modo, Carlos Cachoeira, a conselho de seu advogado, não respondeu a nenhuma das perguntas que lhe foram feitas, deixando os parlamentares, que inutilmente o interrogavam, em situação constrangedora. Aquela sessão da CPI, em Brasília, só pode ser comparada a um espetáculo circense. E quem é o advogado de Cachoeira? Nada menos que o ex-ministro da Justiça de Lula, Márcio Thomaz Bastos, que, sentado a seu lado, como um segurança jurídico, ouvia os deputados e senadores se referirem a seu constituinte como "bandido, chefe de uma quadrilha de ladrões". Estava ali por vontade própria ou por imposição do cliente? Não se sabe, mantinha-se indiferente, como se nada ouvisse. Foi por saber Cachoeira culpado de todas aquelas falcatruas que o aconselhou a nada responder. Resta à CPI recorrer às provas documentais. Por isso mesmo, Thomaz Bastos já pediu a anulação delas. Cachoeira pode não ter razão, mas dinheiro não lhe falta. E o espetáculo continua... Por: Ferreira Gullar, Folha de SP

A MISSÃO DE LULA

A proximidade do julgamento do mensalão parece estar desestabilizando emocionalmente o ex-presidente Lula, que se tem esmerado nos últimos dias em explicitar uma truculência política que antes era dissimulada em público, ou maquiada. Nessa fase em que trabalha em dois projetos que se cruzam e parecem vitais para seu futuro, tamanha a intensidade com que se dedica a eles, Lula não tem tido cuidados com as aparências, e arrisca-se além do que sua experiência recomendaria. A pressão sobre ministros do STF, a convocação da CPI do Cachoeira, com direito a cartilha de procedimentos com os alvos preferenciais identificados (STF, imprensa, oposição) e as atitudes messiânicas, sempre colocando-se como o centro do universo político, revelam a alma autoritária deste ex-presidente ansioso pela ribalta política. A eleição de Fernando Haddad para a Prefeitura de São Paulo e a obsessão em desmoralizar o julgamento do mensalão (já que não conseguiu adiá-lo para que seus resultados não interferissem na eleição municipal e, além disso, a prescrição das penas resolvesse grande parte dos problemas judiciais do PT) pareciam as duas grandes tarefas do ex-presidente Lula neste momento. Mas ele, de voz própria, revelou seu verdadeiro objetivo político no programa do Ratinho: não permitir que um tucano volte a governar o país. Nunca antes nesse país viu-se um político assumir tão abertamente uma postura despótica, quase ditatorial, quanto a de Lula nessa cruzada nacional contra os tucanos, que tem na disputa pela capital paulista seu ponto decisivo. O PT, aliás, tem seguido a mesma batida de Lula, e se revela a cada instante um partido que não tem como objetivo programas de governo ou projetos nacionais para o país. A luta política pelo poder escancara posturas ditatoriais em todos os níveis, e para mantê-lo vale tudo. Desde rasgar a legislação eleitoral e fazer propaganda ilegal em emissora de televisão na tentativa de desatolar uma candidatura que até agora não demonstra capacidade de competição, até intervenções em diretórios que não obedecem à orientação nacional, como aconteceu agora mesmo em Recife. Vale também mobilizar um esquema policial de uma prefeitura petista, como a de Mauá em São Paulo, para apreender uma revista que apresenta reportagens contrárias aos interesses do PT. A truculência com que foi impedida a distribuição gratuita da revista "Free São Paulo", que trazia uma reportagem de capa sobre o assassinato do prefeito petista de Santo André Celso Daniel, é exemplar do que o PT e seus seguidores consideram "liberdade de imprensa". Os petistas acusam a revista de ser financiada pelo PSDB, o que ainda é preciso provar, mas, mesmo que seja, seria no mínimo incoerente criticarem tal estratégia, já que são estatais de diversos calibres e governos petistas que financiam uma verdadeira rede de blogs chapas-brancas e revistas para defenderem as ações governistas e demonizar seus adversários, em qualquer nível. Da mesma forma, parece ironia que líderes petistas se mostrem indignados com financiamentos eleitorais de caixa 2 de políticos tucanos, como se esse crime fosse uma afronta ao Estado de Direito e não, como disse o ex-presidente Lula tentando minimizar o caso do mensalão, coisa corriqueira no sistema eleitoral brasileiro. O recurso ao caixa 2 e a verbas não contabilizadas é evidentemente uma distorção do nosso sistema eleitoral que tem que ser combatida com rigor, mas o PT há muito perdeu a possibilidade de indignar-se diante deste e de outros malfeitos políticos. Acaba de ser publicado em edição eletrônica (e-book) e deve sair na segunda semana de junho em edição impressa o relatório do Clube de Roma com o título de "2052, previsões globais para os próximos 40 anos", coordenado pelo professor Jorgen Randers da BI Norwegian Business School, especialista em questões climáticas e planejamento de cenários que servirá de base para a programação do Clube de Roma durante a reunião Rio + 20. Randers já esteve no Brasil no início de maio, depois de lançar o relatório, para depoimento no Congresso em preparação para a Rio + 20. Trata-se de um estudo feito por 30 pensadores nos mais variados campos e tem o objetivo de atualizar o famoso estudo do Clube de Roma de quarenta anos atrás intitulado "Os limites do crescimento", que já questionava o modelo de crescimento permanente. Desta vez, o diagnóstico é conclusivo: a Humanidade vem se excedendo no uso dos recursos da Terra. A maneira atual de vida não pode ser mantida por gerações, e está a exigir modificações significativas para evitar colapsos locais antes de 2052. O estudo admite que o processo de adaptação da Humanidade às limitações do planeta já começou, mas a resposta talvez seja lenta demais. A China é considerada um exemplo de país que sabe agir na direção certa, e por isso chegará a 2052 bem preparado. O estudo alerta que continuamos a emitir todos os anos duas vezes mais gases do efeito estufa do que os oceanos e florestas podem absorver. Em consequência, as concentrações de CO2 na atmosfera continuarão aumentando, fazendo com que a temperatura aumente em dois graus em 2052. Se esse processo não for controlado, em 2080 as temperaturas terão aumentado em 2,8 graus centígrados - nível suficiente para iniciar um aquecimento global autossustentado. Segundo o relatório, a principal causa da incapacidade de resolver hoje problemas futuros é o modelo imediatista, com foco político e econômico no curto prazo. Randers defende um sistema de governança de mais longo prazo. No entanto, é pessimista quanto aos resultados, pois não acredita que os governos adotem uma regulamentação que obrigue os mercados a investir em soluções climaticamente corretas, e, segundo ele, não devemos acreditar que os mercados trabalharão em benefício da Humanidade. As previsões do documento do Clube de Roma sobre a economia global também não são nada animadoras. As atuais economias dominantes, especialmente os Estados Unidos, entrarão em estagnação, e países como os que formam os BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) terão progressos, mas o PIB mundial crescerá muito mais lentamente, devido à redução do crescimento da produtividade em economias mais maduras. Em 2052, ainda haverá 3 bilhões de pobres no mundo.Por:MERVAL PEREIRA O GLOBO - 03/06

UM FATO E DUAS VERSÕES

Quando a notícia da reunião se tornou pública, ouvi negativas à versão de Gilmar Mendes, mas não vi uma única boca aberta em forma de “o” expressando incredulidade: “Quem? O Lula? Não! Ele jamais seria capaz de uma coisa dessas!”. Se eu compreendi direito, temos duas versões totalmente divergentes sobre a trombada ocorrida na esquina da vida onde recentemente se cruzaram Lula, Nelson Jobim e Gilmar Mendes. Numa das versões, o ministro do STF foi insistentemente pressionado e, por fim, ouviu uma insinuação que entendeu e contestou como se chantagem fosse. Noutra, foi um encontro cordial, em que o trio abordou “questões genéricas, institucionais”. Quase como se estivessem jogando conversa fora. Existem coisas inverossímeis. Claro que verossimilhança e seu antônimo não servem para firmar convicções absolutas, mas ajudam a gente a não fazer papel de bobo. Perante afirmações de difícil comprovação, podemos apelar para esse critério. Assim, por exemplo, se alguém disser que São Francisco de Assis acumulou uma fortuna em esmolas e a enterrou em algum ponto da Úmbria, a gente pode rejeitar a afirmação como falsa. Ela não seria coerente com a história de vida de uma pessoa que levou seu desapego aos bens materiais ao ponto de retirar-se da abonada casa paterna sem ter sequer um bolso para colocar as mãos. Não, não. O Poverello morreu poverello como uma andorinha. Todavia, se nos disserem que Mark Zuckerberg, o mal falado criador do Facebook, atropelou alguém no mundo dos negócios, podemos admitir o fato como provável porque há vários relatos nesse sentido. Assim também, se for atribuída a Carlinhos Cachoeira alguma operação empresarial irregular, a coerência entre a acusação e a imagem pública do cidadão será útil para formar opinião a respeito do episódio em si. Pelo viés oposto, quando lemos que Demóstenes Torres tinha “liaisons dangereuses” com o mundo do crime, foi necessário que se exibissem muitas evidências para criar um convencimento a respeito porque se tratava de algo incompatível com quanto dele até então se sabia. A notícia do encontro entre Lula e o ministro Gilmar Mendes, no escritório do ex-presidente do STF, nos coloca perante uma dessas situações. É inverossímil que os três ali estivessem apenas para tratar de generalidades. Vale lembrar, adicionalmente, que Lula, ao deixar a presidência, informou que dedicaria parte de seu tempo a provar que o mensalão não existiu. Ora, o referido processo, depois de longa jornada através dos anos e das linhas e entrelinhas dos códigos, está em vias de desabar muito peso pesado da política nacional sobre o colo dos onze do STF. Para quem queria provar que o mensalão não existiu, uma absolvição no Supremo (ou um adiamento para as calendas da impunidade geral) seria tudo de bom. Por outro lado, ninguém pode acusar o ex-presidente de excesso de escrúpulos no jogo do poder. Que o diga a ciranda de ministros a que restou constrangida a presidente Dilma. Tampouco se atribuirá a Lula qualquer devoção à sacralidade das instituições ou reverência às melhores regras do jogo político. Eis porque, quando a notícia da reunião se tornou pública, ouvi negativas à versão de Gilmar Mendes, mas não vi uma única boca aberta em forma de “o” expressando incredulidade: “Quem? O Lula? Não! Ele jamais seria capaz de uma coisa dessas!”. É aí que entra, novamente, a questão da verossimilhança. Ela não faz prova. Ela não condena. Sobre ela incide, sempre, poderosa dúvida razoável a serviço dos advogados de defesa. Mas o passado conta. E nem toda história ou biografia ganha o privilégio de uma comissão encarregada de a reescrever ao gosto da freguesia. Pelo menos é o que se espera. Por: PERCIVAL PUGGINA Publicado no jornal Zero Hora.

ENTENDAM A CRISE DO MENSALÃO

A crise do mensalão está se tornando uma briga de casal discutida cinco anos depois do fato. 
Ninguém mais sabe exatamente o que se discute, e estamos criando uma enorme crise institucional que envolve o Supremo Tribunal deste país, uma situação muito perigosa. 
O próximo passo será pedir a censura da imprensa e do Supremo Tribunal. 
Para entender o mensalão é preciso lembrar que o Brasil optou por uma democracia de 42 partidos, o que é absolutamente não administrável. 
Para ter apoio na aprovação do orçamento do Executivo você precisa dialogar com 42 partidos, oferecendo obras, canais de televisão, cargos para padrinhos e amigos, e assim por diante. 
De obra em obra, de comissão por fora em comissão, políticos obtêm suas verbas de campanha e uma graninha à parte. 
Comissões que antigamente eram de 5%, agora são de 20 a 30%, e muitas obras são totalmente desnecessárias a um custo efetivo de 100% administrativamente falando. 
 Há uma piada que explica o mensalão. 
Um político comenta com dois outros: 
"Tá vendo aquela estrada ali? 10% aqui no meu bolso". 
"Tá vendo aquele hospital ali? 20% aqui no meu bolso", diz o segundo. 
"Tá vendo aquela ponte ali?", diz um terceiro. "Não, que ponte? " "Pois é, 100% aqui no meu bolso". 
Se você fosse um administrador que tivesse lido esta piada, e soubesse que você precisa "comprar" alguns deputados, que estratégia você utilizaria para tornar este país mais eficiente ao menor custo possível? 
Você tem todos os dados que precisa. 
Provavelmente você diria ter somente 2 partidos, todos com políticos já ricos e honestos. Ótimo, daqui 1000 anos talvez. 
A segunda opção é dar os 5% de comissão para financiar os custos de campanha, e NÃO FAZER A OBRA ou a ponte da piada. 
Esta é a melhor opção, dentro de todas não muito éticas, eu sei, mas diante das alternativas o que fazer? Esta foi a essência do mensalão. Eu não estou defendendo o PT ou o mensalão, somente constatando que dar um salário de R$ 48.000,00 por mês para alguns deputados é muito melhor do que dar 30% sobre obras inúteis e desnecessárias. 
Portanto, a questão não é o mensalão e sim nossos 48 partidos, e esta briga agora é simplesmente briga de comadres antes da eleição municipal, colocando em risco a reputação do Supremo. 
Os militares, diga-se de passagem, foram os únicos que tentaram corrigir este monstruoso erro democrático. 
Por que a Revolução de 1964 não fechou o Congresso, criando um partido único e dando R$ 48.000,00 de salário para os 500 "membros do partido", como na Rússia, China e Cuba? Um mensalão às claras. 
Os militares mantiveram o Congresso porque queriam criar uma democracia de dois partidos somente, um de oposição e um de situação, o MDB e a ARENA. 
Eles queriam que nossos políticos aprendessem a viver num regime democrático onde a oposição jamais aceitaria um mensalão nem uma comissão, porque eles são o partido de oposição, e não um dos 35 partidos aliados. 
Os militares, no início pelo menos, queriam uma democracia funcional, com dois partidos atuantes. 
Um partido conservador, aquele que acredita em pequenas mudanças, mas continuadamente. 
E um partido de esquerda, aquele que quer mudar tudo que está aí, e fazer uma única revolução para depois nada mais mexer. 
O problema de partidos conservadores está na definição de pequenas mudanças, e quão frequentes. Podem ser pequenas demais e muito pouco frequentes. 
Um partido de esquerda em oposição é a melhor forma de manter o partido conservador atuante, com mudanças frequentes o tempo todo. 
E, um partido conservador em oposição é a melhor forma para obrigar uma esquerda a continuar a fazer mudanças depois da "revolução". 
Um partido de oposição é excelente, 34 partidos aliados uma desgraça. Infelizmente, os militares brasileiros foram totalmente boicotados pela ala que queria um único partido, sem oposição. 
Foram estes que deram força aos militares mais radicais e gerou o AI5 e o fim da nossa democracia de 2 partidos, que não conseguimos implantar até hoje. 
Portanto, não é o mensalão o verdadeiro problema. 
O problema são aqueles que querem um partido único neste país, sem Supremo Tribunal, sem liberdade de imprensa. 
E aqueles que querem 35 partidos aliados ao governo, desfrutando benesses sem fazer nada. 
 Os únicos que queriam somente 2 partidos eram uns poucos militares que já morreram, e que todos os nossos intelectuais e membros da velha imprensa querem que sejam esquecidos. Agora você sabe o porquê. Por:Stephen Kanitz

sábado, 2 de junho de 2012

A ESSÊNCIA DO CONSERVADORISMO

O conservador suspeita de todos os esquemas utópicos. Ele não acredita que, pelo poder do direito positivo, nós podemos resolver todos os problemas da humanidade. Podemos ter a esperança de fazer nosso mundo tolerável, mas não podemos torná-lo perfeito. Uma amiga minha, a quem chamaremos senhorita Worth, teve uma conversa com uma vizinha – senhora Williams, digamos – que, no dia anterior, havia vendido um belo prédio antigo, há muito tempo pertencente à sua família, o qual seria demolido para que muitos automóveis usados fossem postos a venda no lugar. A senhora Williams tinha certos arrependimentos; mas, disse ela em caráter definitivo, “você não pode parar o progresso”. Ela ficou surpresa com a resposta da senhorita Worth, que foi esta: “Não, muitas vezes não; mas você pode tentar”. A Senhorita Worth não acreditava que o Progresso, com P maiúsculo, é uma coisa boa em si mesma. O Progresso pode ser bom ou mau, dependendo da direção a qual se está progredindo. É perfeitamente possível, e não raramente ocorre, de se progredir em direção à beira de um precipício. O pensamento conservador, jovem ou antigo, acredita que todos nós devemos obedecer à lei universal da mudança; mas muitas vezes está em nosso poder escolher quais mudanças aceitaremos e quais mudanças rejeitaremos. O conservador é uma pessoa que se esforça para conservar o que há de melhor em nossas tradições e em nossas instituições, conciliando o que é melhor com a reforma necessária de tempos em tempos. “Conservar” significa “salvar”... (Considere) a maldição do cupido: “Aqueles que mudam o amor antigo pelo novo, oram aos deuses para mudá-lo para pior.” Um conservador não é, por definição, um egoísta ou uma pessoa estúpida; em vez disso, ele é uma pessoa que acredita que há alguma coisa em nossa vida que vale a pena salvar. Conservadorismo, na verdade, é uma palavra com um significado antigo e honrado – mas, um significado quase esquecido pelos americanos até anos recentes. Abraham Lincoln queria ser conhecido como um conservador. “O que é o conservadorismo?”, disse ele. “Não é a preferência pelo antigo e experimentado, acima do novo e do não testado?” É isso; e é também um corpo de convicções éticas e sociais. Porém, a palavra “liberalismo” tem sido preferida entre nós por duas ou três décadas. Mesmo hoje em dia, embora haja um bom número de conservadores nas políticas nacional e estadual, em nenhum grande partido muitos líderes políticos descrevem a si mesmos como “conservadores”. Paradoxalmente, o povo dos Estados Unidos se tornou a principal nação conservadora do mundo exatamente quando deixou de chamar a si mesmo de conservador em seu próprio país. No entanto, com a nossa severa oposição ao radicalismo dos soviéticos e nosso repúdio nacional do coletivismo em todas as suas variedades, um bom número de americanos agora têm muitas dúvidas quanto ao desejo de serem chamados liberais ou radicais. Os liberais, por um bom tempo, foram derivando para a esquerda em direção a seus primos radicais; e o liberalismo, nos últimos anos, passou a significar um anexo para o Estado centralizado e para a impessoalidade sombria do Brave New World, de Huxley, ou de 1984, de Orwell. Homens e mulheres que não se consideram liberais ou radicais estão começando a perguntar a si mesmos no que acreditam e do que deveriam se chamar. O sistema de ideias opostas ao liberalismo e ao radicalismo é a filosofia política conservadora. O que é o Conservadorismo? O conservadorismo moderno tomou forma por volta do início da Revolução Francesa, quando homens de grande visão na Inglaterra e na América perceberam que, se a humanidade existe para conservação dos elementos da civilização que tornam a vida digna de ser vivida, algum corpo coerente de ideias deve resistir ao nivelamento e ao impulso destrutivo de revolucionários fanáticos. Na Inglaterra, o fundador do verdadeiro conservadorismo foi Edmund Burke, cujas Reflections on the Revolution in France mudaram o rumo da opinião pública britânica e influenciaram incalculáveis líderes da sociedade no Continente e na América. Nos recém-criados Estados Unidos, os fundadores da República, conservadores por formação e por experiência prática, estavam determinados a moldar a Constituição que deveria guiar a sua posteridade em caminhos duradouros de justiça e liberdade. Nossa Guerra de Independência Americana não foi uma revolução real, mas antes uma separação da Inglaterra; estadistas de Massachusetts e da Virgínia não desejavam virar a sociedade de cabeça para baixo. Em seus escritos, sobretudo nos trabalhos de John Adams, Alexander Hamilton e James Madison, nós encontramos um conservadorismo sóbrio e provado, fundado sobre uma compreensão da história e da natureza humana. A Constituição que os líderes daquela geração elaboraram tem provado ser o dispositivo conservador mais bem sucedido em toda a história. Os líderes conservadores, desde Burke e Adams, subscreveram certas ideias que podemos demonstrar, resumidamente, mediante definição. Os conservadores desconfiam do que Burke chamou “abstrações” - isto é, absolutos dogmas políticos divorciados da experiência prática e das circunstâncias particulares. Eles acreditam, todavia, na existência de certas verdades permanentes que regem a conduta da sociedade humana. Talvez, os princípios mais importantes que têm caracterizado o pensamento conservador americano são estes: 1. Homens e nações são governados por leis morais; e essas leis têm a sua origem em uma sabedoria superior à humana – a justiça divina. No fundo, problemas políticos são problemas morais e religiosos. O estadista sábio procura apreender a lei moral e reger sua conduta adequadamente. Nós temos uma dívida moral para com nossos antepassados, que nos concederam nossa civilização, e um dever moral para as gerações que virão depois de nós. Esta dívida foi ordenada por Deus. Portanto, não temos o direito de, impudentemente, mexer com a natureza humana ou com tecido delicado de nossa ordem social civil. 2. Variedade e diversidade são as características de uma grande civilização. Uniformidade e igualdade absoluta são a morte de todo verdadeiro vigor e liberdade na existência. Conservadores resistem, com imparcial virilidade, à uniformidade de um tirano ou de uma oligarquia e à uniformidade a qual Tocqueville chamou “despotismo democrático”. 3. Justiça significa que todo homem e toda mulher têm direito ao que lhes é próprio – às coisas que melhor se adaptam à sua própria natureza, às recompensas de sua capacidade e integridade, à sua propriedade e à sua personalidade. A sociedade civilizada requer que todos os homens e mulheres tenham direitos iguais diante da lei, mas essa igualdade não deve se estender à igualdade de condição: isto é, a sociedade é uma grande associação, na qual todos têm direitos iguais – mas não para igualar coisas. A sociedade justa requer liderança sólida, recompensas diferentes para habilidades diferentes e um senso de respeito e dever. 4. Propriedade e liberdade são inseparavelmente conectadas; nivelamento econômico não é progresso econômico. Os conservadores valorizam a propriedade para seu próprio interesse, é claro; mas a valorizam muito mais porque, sem ela, todos os homens e mulheres estão a mercê de um governo onipotente. 5. O poder é repleto de perigos; portanto, o bom estado é aquele no qual o poder é controlado e equilibrado, restringido por constituições e costumes sólidos. Na medida do possível, o poder político deve ser mantido nas mãos de instituições privadas e locais. A centralização é normalmente um sinal de decadência social. 6. O passado é um grande depósito de sabedoria; como Burke disse, “o indivíduo é tolo, mas a espécie é sábia.” Os conservadores acreditam que precisamos nos guiar pelas tradições morais, pela experiência social e por todo o complexo corpo de conhecimentos legados a nós por nossos antepassados. Os apelos conservadores estão para além da opinião precipitada do momento, pela qual Chesterton os denominava de “a democracia dos mortos” - isto é, as opiniões consideradas dos homens e mulheres sábios que morreram antes de nosso tempo, a experiência da espécie humana. O conservador, em suma, sabe que não nasceu ontem. 7. A sociedade moderna necessita urgentemente de uma verdadeira comunidade: e verdadeira comunidade é um mundo distante do coletivismo. A comunidade autêntica é regida por amor e caridade, não por força. Através de igrejas, associações voluntárias, governos locais e uma variedade de instituições, os conservadores se esforçam para manter a comunidade saudável. Os conservadores não são egoístas, mas zelosos do bem-estar público. Eles sabem que o coletivismo significa o fim da comunidade genuína, e substituem uniformidade por variedade e força por cooperação voluntária. 8. Nos assuntos das nações, o conservador americano acredita que seu país deve ser um exemplo para o mundo, mas que não deve tentar reconstruir o mundo à sua imagem. É uma lei da política, bem como da biologia, que todo ser vivente ama, acima de tudo – até mesmo acima de sua própria vida –, sua identidade distintiva, que o diferencia de todos os outros seres. O conservador não aspira à dominação do mundo, nem aprecia a perspectiva de um mundo reduzido a um padrão único de governo e de civilização. 9. Os conservadores sabem que homens e mulheres não são perfectíveis; e nem o são as instituições políticas. Nós não podemos criar um paraíso na Terra, embora possamos fazer um inferno. Somos todos criaturas nas quais bem e mal estão misturados; e, quando as boas instituições negligenciam e ignoram os antigos princípios morais, o mal tende a predominar em nós. Por isso, o conservador suspeita de todos os esquemas utópicos. Ele não acredita que, pelo poder do direito positivo, nós podemos resolver todos os problemas da humanidade. Podemos ter a esperança de fazer nosso mundo tolerável, mas não podemos torná-lo perfeito. Quando o progresso é alcançado, o é através do reconhecimento prudente das limitações da natureza humana. 10. Os conservadores estão convencidos de que mudança e reforma não são idênticas: inovação política e moral pode ser tanto destrutiva como benéfica; e se a inovação é empreendida com espírito de presunção e entusiasmo, provavelmente será desastrosa. Todas as instituições humanas, em certa medida, se alteram de época para época, pois o lento processo de mudança é o meio de conservar a sociedade, exatamente como é, para o corpo humano, o meio de sua renovação. Mas, os conservadores americanos se esforçam para conciliar o crescimento e as modificações essenciais para nossa vida com a força de nossas tradições sociais e morais. Com Lord Falkland, eles dizem: “quando não é necessário mudar, é necessário não mudar.” Eles entendem que homens e mulheres são mais satisfeitos quando podem sentir que vivem em um mundo estável de valores duradouros. O conservadorismo, então, não é simplesmente o interesse das pessoas que têm muitas propriedades e influência; não é simplesmente a defesa de privilégios e de status. A maioria dos conservadores não são nem ricos nem poderosos. Porém, eles fazem até mesmo o mais simples deles obter grandes benefícios de nossa República estabelecida. Eles têm liberdade, segurança pessoal e de sua casa, igual proteção das leis, o direito aos frutos de sua indústria e oportunidade para fazer o melhor que neles há. Eles têm um direito de personalidade em vida e um direito de consolo na morte. Os princípios conservadores são o abrigo das esperanças de todos na sociedade. E o conservadorismo é um importante conceito social para todo aquele que deseja justiça igualitária e liberdade pessoal e todos os amáveis caminhos antigos da humanidade. O conservadorismo não é simplesmente uma defesa do “capitalismo”. (“Capitalismo”, na verdade, é uma palavra cunhada por Karl Marx, projetada desde o início para significar que a única coisa defendida pelos conservadores é a grande acumulação de capital privado.) Mas, o que o verdadeiro conservador faz corajosamente é defender a propriedade privada e uma liberdade econômica, ambas para seu próprio bem e porque elas são meios para atingir grandes fins. Esses grandes fins são mais do que econômicos e políticos. Eles envolvem dignidade humana, personalidade humana, felicidade humana. Eles envolvem até mesmo o relacionamento entre Deus e o homem. Pois o coletivismo radical de nossa época é ferozmente hostil a qualquer outra autoridade: o radicalismo moderno detesta a fé religiosa, a virtude privada, a individualidade tradicional e a vida de satisfações simples. Tudo o que vale a pena ser conservado está ameaçado em nossa geração. A mera oposição negativa e irracional à corrente de acontecimentos, agarrando-se com desespero ao que ainda mantemos, não será suficiente nesta época. Um conservadorismo de instinto deve ser reforçado por um conservadorismo de pensamento e imaginação. Original adaptado de The Intelligent Woman’s Guide to Conservatism (New York: The Devin-Adair Company, 1957). Do Russell Kirk Center. Tradução: José Junio Souza da Costa

A TEMIDA GREVE DA ALIMENTAÇÃO PÚBLICA

Um exercício de imaginação: como seria se a alimentação, feito o transporte público, fosse gerida pelo governo? Má qualidade, filas e corrupção Depois de uma semana de greves de metrôs e ônibus pelo país, políticos e especialistas voltaram a repetir as opiniões de sempre. Dizem que é preciso haver mais planejamento do poder público, que o governo precisa investir mais no transporte coletivo, que a mobilidade urbana deve ser prioridade etc. Recomendações assim são como oferecer uísque a alcoólatras: o remédio que se receita é precisamente a causa do problema. O que impede a melhoria do transporte não é a falta de cuidado do governo, e sim o monopólio público sobre o transporte coletivo. Para chegar a essa constatação, basta imaginar uma notícia comum nos últimos dias tratando de outro serviço essencial: a alimentação. “A semana foi de muito transtorno para quem precisa se alimentar fora de casa. Greves de garçons e cozinheiros paralisaram os serviços de mais de 30 mil restaurantes, padarias e lanchonetes que formam o sistema de alimentação pública municipal. Os trabalhadores pedem aumento real e reajuste dos abonos salariais. Não houve acordo entre o governo e o sindicato até o fim da noite de ontem. Na capital, 6 milhões de pessoas utilizam diariamente o serviço de alimentação coletiva. Todos os estabelecimentos que vendem comida pronta são operados sob concessão por apenas 16 consórcios e cooperativas. A prefeitura e o governo estadual supervisionam a distribuição dos prato feitos e comerciais, planejam o sistema e realizam os repasses para as concessionárias. Sem ter a quem recorrer diante da paralisação dos serviços, usuários chegaram a depredar bares e restaurantes. Outros se arriscaram em lanchonetes clandestinas, aquelas que não foram escolhidas nas licitações do governo e por isso atuam à margem do sistema de abastecimento da cidade. O que impede a melhoria do transporte não é a falta de cuidado do governo, e sim o monopólio público sobre o transporte coletivo A prefeitura alerta que esses serviços, além de ilegais, trazem diversos riscos para os usuários. O sistema oficial, porém, é mal avaliado pelos cidadãos. Pesquisa recente mostra que o número total de queixas à prefeitura contra as comedorias saltou de 119.755, em 2010, para 143.901, em 2011. A demora no atendimento ficou em primeiro lugar entre as dez principais reclamações. Outras queixas comuns são o desrespeito dos garçons, a pouca variação do cardápio e a falta de limpeza nas instalações. O prefeito prometeu ontem mais investimentos na área. ‘Até 2013, esperamos reduzir para 40 minutos o tempo de espera para o almoço’, disse. Ele negou que o aumento dos salários dos garçons e cozinheiros resulte em aumento da tarifa do prato feito, hoje em R$ 30. O Ministério Público investiga supostos repasses ilegais da prefeitura a concessionárias, que fizeram expressivas doações de campanha na última eleição. Os promotores acreditam que esses repasses seriam o principal motivo para a comida custar tão caro mesmo sendo subsidiada pelo governo. Analistas afirmam que seria melhor que o governo deixasse para a iniciativa privada toda a venda de comida pronta. A concorrência entre padarias, botecos e restaurantes, argumentam eles, levaria diversidade e qualidade ao setor, atrairia a classe média e ainda baixaria o custo do serviço popular, como acontece em centenas de outros ramos da economia. Para os analistas, a livre iniciativa e a concorrência poderiam até fazer a cidade ser mundialmente conhecida por seus restaurantes. O sindicato dos garçons, a prefeitura, a associação das concessionárias, o Ministério Público e o governo estadual reagiram veementemente a essa proposta, que qualificaram de ‘irresponsável e neoliberal’. Para as entidades, a ausência do Estado na alimentação poderia resultar na falta de lanchonetes em áreas distantes, além do desabastecimento de comida na cidade. ‘Se algum dia entregarmos o setor de restaurantes a empresários comprometidos apenas com o lucro, criaremos um completo caos’, disse o prefeito.” Por:Por Leandro Narloch, Rodrigo Constantino e Anthony Ling Fonte: Folha de S. Paulo, 31/05/2012

O MAIS CRUEL DOS DIAS...

O mais cruel dos dias para quem tem culpa no cartório confirma que a esperteza, quando é muita, fica grande e come o dono.

Neste sábado, os leitores de VEJA serão confrontados com informações que renovam o prazo de validade da lição de Tancredo Neves: a esperteza, quando é muita, fica grande e come o dono. 
Provas documentais obtidas pela revista atestam que os arquitetos da CPI do Cachoeira, concebida para embaralhar o julgamento do mensalão, montaram uma lista de alvos prioritários que incluiu ministro Gilmar Mendes, o procurador-geral Roberto Gurgel e jornalistas independentes. 
Ruins de mira, os artilheiros trapalhões acabaram acertando o próprio pé ou a testa de bandidos de estimação. 
Depois da quebra do sigilo bancário e fiscal da Construtora Delta, o que deveria ser uma devassa restrita ao estado de Goiás escapou do controle dos parteiros. 
A cachoeira de patifarias vai se mostrando suficientemente caudalosa para alcançar pecadores em qualquer ponto do país ─ e provocar estragos de bom tamanho no coração do poder. 
No mais cruel dos dias para quem tem culpa no cartório, o Brasil soube que o empreiteiro Fernando Cavendish utilizou empresas fantasmas, “laranjas” e notas frias para justificar a saída de dinheiro destinado a figurões incumbidos de ampliar a coleção de contratos multimilionários com o PAC e com governos estaduais. 
Cavendish valeu-se dessas vigarices para alugar, por exemplo, os serviços de “consultoria” do mensaleiro José Dirceu, escalado para aumentar a fatia reservada à Delta entre os fornecedores da Petrobras. 
Dirceu, uma usina de ideias de jerico, foi um dos mais vibrantes defensores da instauração da CPI. 
Não vai dormir por alguns dias. Talvez o console a certeza de que é só mais um na multidão de companheiros afetados pela epidemia de insônia.Por: Augusto Nunes

RITMO DE EXPANSÃO DO BRASIL PERDE ATÉ PARA NAÇÕES EM CRISE

Quando se toma o ritmo de expansão das economias no primeiro trimestre em relação ao mesmo período do ano passado, o Brasil figura apenas na 22ª posição entre os 33 países que já divulgaram os seus dados. E se distancia de seus pares do Brics (grupo das cinco maiores economias emergentes, Rússia, Índia, China e África do Sul), aproximando-se das economias mais afetadas pela turbulência europeia, como os Estados Unidos (2,1%) e Alemanha (1,7%). A China, que cresceu 8,1% de janeiro a março, aparece no topo do ranking, com a Índia em quarto (5,3%) e a Rússia em quinto (4,9%). Com expansão de 2,1%, a África do Sul é a 14 no ranking, oito postos à frente do Brasil. 

 No fim da lista, que tem a Grécia como lanterna (em 33 lugar, com retração de 6,2% no PIB trimestral), estão ainda Portugal (32 colocação e queda de 2,2%), a Itália (31 lugar e PIB negativo de 1,3%) e a Holanda (30 colocação, cujo PIB encolheu 1,1%).”O Brasil é um país com características semelhantes às dos grandes emergentes mas que cresce no ritmo dos europeus”, compara Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, que compilou os dados para o ranking dos PIBs do primeiro trimestre. “Isso é reflexo dos problemas estruturais (Previdência, estrutura tributária, inexistência de planejamento de longo prazo) que persistem no país, cuja solução é adiada governo após governo”. 

 Mesmo com a economia quase estagnada no primeiro trimestre, o Brasil conseguiu se manter à frente do Reino Unido como a sexta maior economia do mundo. Mas a diferença conseguida no fim do ano passado, quando deslocou os britânicos para a sexta posição, agora é bem pequena: enquanto o PIB brasileiro acumulado nos quatro trimestres encerrados em março somava US$ 2,483 trilhões, o do Reino Unido era de US$ 2,417 trilhões. O cálculo é do banco WestLb e leva em conta o dólar médio do primeiro trimestre. Com a alta da moeda americana ante o real nos últimos dois meses, ressalva o banco, o país muito provavelmente voltaria para a sétima posição. “Não houve alteração no ranking comparando-se com o resultado fechado de 2011, apesar da diferença em relação ao Reino Unido ter diminuído. Mas o efeito do câmbio depreciado deve ser maior neste segundo trimestre”, diz Luciano Rostagno, estrategista-chefe do WestLb. 

 Estados Unidos se mantêm como maior economia No agregado dos quatro trimestres até março, os Estados Unidos se mantêm com folga no posto de maior economia do mundo, com PIB de US$ 15,4 trilhões, seguidos da China (US$ 7,56 trilhões), e do Japão (US$ 5,95 trilhões). Apesar do agravamento da crise na Europa, a Alemanha se mantém como a quarta economia, com geração de riquezas de US$ 3,5 trilhões. O PIB de US$ 2,76 trilhões garante a permanência da França em quinto.Por Ronaldo D’Ercole, no Globo

RATOS E COBRAS

Leio no caderno de Ciência do jornal O Globo sobre a grande conquista da neurociência: “Rato paralítico volta a andar”. Diz a matéria: “Uma técnica revolucionária que une estimulação neuronal e reabilitação com auxílio de uma espécie de vestimenta cibernética permitiu que ratos que perderam os movimentos das patas por causa de lesões graves na medula voltassem a anda e até correr em pouco tempo, uma esperança para pessoas com paralisia”. 

Fantástico! Por outro lado, o mesmo jornal noticia que certo Ratinho, com aspecto humano, recebeu o ex-presidente Lula para “entrevista” em seu programa no SBT. Não há estímulo neuronal ou vestimenta cibernética que faça esse Ratinho andar! Sua vocação é rastejar mesmo, como fazem as cobras. Conforme divulgou Lauro Jardim em sua coluna do Radar on-line, a primeira entrevista de Lula após o tratamento do câncer não foi capaz de alterar o ibope do programa, de apenas 8 pontos. 

Por falar em cobra, o ex-presidente Lula levou a tiracolo o candidato Fernando Haddad ao programa. Haddad, para quem não lembra, é aquele do “Kit Gay”, o ministro da Educação que conseguiu desmoralizar de vez com o Enem. É também autor de tese de mestrado sobre o sistema soviético, e de doutorado sobre Marx. 

O programa de entrevista acabou se transfigurando em campanha política do candidato esquerdista, em pleno ano eleitoral. Haddad teve até a cara-de-pau de lançar plataformas de campanha à prefeitura de São Paulo durante o programa, para tentar sair dos míseros 3% de intenção de votos até o momento. Já Lula, que preferiu não comentar as acusações do ministro Gilmar Mendes, encontrou espaço para afirmar que não vai “permitir” novamente um tucano na presidência. 

Todos sabem que o PT em geral e Lula em particular nunca demonstraram muito apreço pelas instituições republicanas, pela divisão de poderes e pelas leis eleitorais. Ainda assim, quando eu soube disso tudo, bateu-me um espírito de Galvão Bueno e automaticamente perguntei: Pode isso, Arnaldo?! Arnaldo não respondeu, mas sei o que qualquer juiz sério diria: cartão vermelho para eles! Por: Rodrigo Constantino

ECONOMIA BRASILEIRA VOLA AO PADRÃO DO VOO DA GALINHA

Com queda dos investimentos das empresas e do governo, o desempenho da economia brasileira no primeiro trimestre ficou abaixo das expectativas mais pessimistas -e os dados não prenunciam uma aceleração tão cedo. Segundo divulgou o IBGE, a produção nacional, reunindo indústria, agricultura e serviços, praticamente não cresceu no período e se mantém perto da estagnação desde a metade do ano passado, a despeito da queda dos juros e da sucessão de pacotes oficiais de estímulo. Tudo somado, o Produto Interno Bruto -ou seja, toda a renda gerada no país- medido de janeiro a março foi apenas 0,2% superior ao dos três meses anteriores. As previsões mais comuns no mercado e em Brasília variavam de 0,3% a 0,6%. O resultado não só é incompatível com a meta do governo Dilma Rousseff de um crescimento de 4,5% neste ano, já sepultada, como põe em risco até o prêmio de consolação de uma taxa acima dos modestos 2,7% de 2011. Não há um cenário de alarme, porque o desemprego se mantém baixo, preserva o consumo das famílias e atenua o desgaste político. Mas a estagnação ameaça as promessas de um caminho mais curto rumo ao desenvolvimento: desde o início do mandato da presidente, foram cinco trimestres consecutivos de expansão abaixo de 1%, o que não acontecia desde o final dos anos 90. PIOR FORA DA EUROPA Entre as maiores economias que já divulgaram os resultados do trimestre, o desempenho brasileiro é o pior fora da Europa. Detalhados, os números evidenciam o impacto da crise global sobre um dos calcanhares de aquiles da economia nacional: a escassez de investimentos para ampliar a capacidade produtiva. Diante das incertezas do quadro internacional, as obras de infraestrutura e as compras de máquinas e equipamentos tiveram a maior queda desde o colapso do final de 2008, no momento mais agudo da crise. Apenas 18,7% da renda nacional foram destinados aos investimentos, abaixo dos 19,5% há um ano. A política econômica tem como meta uma taxa de 25%, para que o crescimento do consumo interno possa ser atendido sem uma escalada da inflação ou das importações. "VOO DE GALINHA" Motor do crescimento na era Lula e alvo principal dos recentes pacotes de Dilma, o consumo das famílias se mantém em alta, mas não exibe mais o antigo fôlego. Para Armando Castelar, da Fundação Getúlio Vargas, o modelo de estimular o consumo de bens duráveis está esgotado. "As famílias estão endividadas. A inadimplência está em alta, apesar da queda do desemprego." Em consequência, o ritmo de expansão anual da economia é decrescente desde o salto de 7,5% comemorado em 2010. "Voltamos ao padrão do voo de galinha." O consumo é insuficiente para uma retomada vigorosa do comércio e dos serviços, que respondem por quase 70% do PIB e são os setores mais resistentes a crises. Para piorar, a agricultura teve resultado desastroso no trimestre em razão dos efeitos da seca no Sul em lavouras de soja. A indústria, setor mais afetado pela freada, teve crescimento, mas graças à comparação com o fraco desempenho no final de 2011. Sábado, Junho 02, 2012 Folha de S. Paulo