domingo, 23 de setembro de 2012

O LEGADO CULTURAL E ESPIRITUAL DA INFLAÇÃO MONETÁRIA


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A noção de que a inflação é um fenômeno nocivo é bastante comum na ciência econômica. Porém, a maioria dos livros-texto subestima a extensão desse mal, pois todos eles definem inflação muito limitadamente como sendo uma duradoura redução no poder de compra do dinheiro. Ademais, eles prestam escassa atenção às formas concretas de inflação. Para compreendermos a natureza destruidora da inflação em sua totalidade, é necessário termos em mente que ela se origina de uma violação das regras fundamentais da sociedade.

Inflação é o que ocorre quando as pessoas aumentam a oferta monetária por meio de fraude, imposição ou quebra de contrato. Invariavelmente, ela gera três conseqüências características: (1) ela beneficia os perpetradores à custa de todos os outros usuários do dinheiro; (2) ela permite a acumulação de dívidas além do nível que as dívidas poderiam atingir no livre mercado; e (3) ela reduz o poder de compra do dinheiro para um nível menor do que aquele que prevaleceria no livre mercado.

Embora essas três consequências sejam ruins o bastante, as coisas ficam muito piores quando a inflação é estimulada e promovida pelo estado (inflação por decreto). A inflação criada pelo governo é contínua, e, como resultado, podemos observar a formação de instituições e hábitos especificamente criados pela inflação. Assim, a inflação monetária criada monopolisticamente pelo governo gera uma mácula cultural e espiritual na sociedade humana. A seguir, vamos analisar mais detidamente alguns aspectos desse legado.

I. Governo hipercentralizado

A inflação beneficia o governo que a controla, não apenas em detrimento da população como um todo, mas também em detrimento de todos os governos secundários e terciários. É um fato bem conhecido que os reis europeus, durante a ascensão dos estados-nação nos séculos XVII e XVIII, esmagaram os principais vestígios de poder intermediário. As nações democráticas dos séculos XIX e XX completaram a centralização de poder que havia começado sob os reis. A força motriz econômica desse processo foi a inflação, a qual, naquele momento, já estava inteiramente nas mãos do aparato do poder central. Mais do que qualquer outra razão econômica, a inflação tornou o estado-nação irresistível. E, assim, ela contribuiu, indiretamente ao menos, para a popularidade das ideologias nacionalistas, as quais no século XX levaram a uma frenética veneração do estado-nação.

A inflação estimula o crescimento dos governos centrais. Ela permite que esses governos cresçam para muito além do que poderiam crescer em uma sociedade livre. E ela permite que eles monopolizem determinadas funções em uma escala que não ocorreria em um ambiente em que o dinheiro fosse produzido pelo livre mercado. Isso ocorre à custa de todas as formas de governo intermediário, e, é claro, à custa da sociedade civil como um todo. A centralização do poder estimulada pela inflação transforma o cidadão médio cada vez mais em um átomo socialmente isolado. Todas as suas relações sociais tornam-se controladas pelo estado central, o qual também passa a fornecer a maioria dos serviços que antes eram ofertados por outras entidades sociais, como a família, as igrejas e o governo local. Ao mesmo tempo, a direção central do aparato estatal torna-se cada vez mais distante da vida diária de seus protegidos.

II. O efeito da inflação monetária sobre as empresas

A inflação produzida pelo governo gera um impacto profundo sobre as finanças corporativas. Ela torna os passivos (dívidas) mais baratos do que seriam em um livre mercado. Isso estimula empreendedores a financiar suas empreitadas por meio da obtenção de empréstimos, e não por meio do patrimônio próprio (o capital trazido à empresa pelos seus proprietários).

Em um sistema de livre mercado de produção monetária, os bancos concederiam empréstimos apenas como intermediários financeiros. Isto é, eles poderiam emprestar somente aquela quantia de dinheiro que eles próprios houvessem poupado ou que outras pessoas houvessem poupado e emprestado aos bancos. Os bancos obviamente seriam livres para conceder empréstimos sob os termos (juros, valores, duração) que quisessem; porém, seria suicídio oferecer termos melhores do que aqueles que seus próprios depositantes (credores) lhe oferecessem. Por exemplo, se um banco recebe de um poupador um depósito que rende juros de 5%, seria irracional emprestar esse dinheiro a 4%. Donde se conclui que, em um livre mercado, um serviço bancário lucrativo está restrito a limites bastante estreitos, os quais por sua vez são determinados pelos poupadores. Não seria possível um banco permanecer no mercado e ao mesmo tempo oferecer termos melhores do que os dos poupadores.

Porém, o sistema bancário de reservas fracionárias é capaz de fazer justamente isso. Dado que estes bancos podem criar dinheiro a um custo virtualmente zero, eles podem conceder empréstimos a taxas que são menores do que aquelas que prevaleceriam de outro modo. E, desse modo, os beneficiários irão financiar por meio do endividamento alguns empreendimentos que eles de outra forma teriam financiado com seu próprio dinheiro, ou que eles sequer teriam empreendido.

É óbvio que serão poucas as empresas capazes de resistir a tais ofertas. A concorrência é feroz na maioria dos setores econômicos, e as empresas têm de aproveitar as melhores ofertas disponíveis, caso contrário elas perderão aquela "vantagem competitiva" que pode ser decisiva para os lucros e também para sua mera sobrevivência. A inflação monetária torna as empresas mais dependentes dos bancos do que elas seriam caso contrário. Ela cria um maior poder de decisão central e uma maior hierarquia do que existiria no livre mercado. O empreendedor que opera com 10% de capital próprio e 90% de dívida já deixou de ser um empreendedor genuíno. Seus credores (normalmente bancos) são os verdadeiros empreendedores que tomam todas as decisões essenciais. Ele foi transformado em um relativamente bem pago executivo — um gerente.

Desta forma, a inflação monetária reduz o número de empreendedores genuínos — homens independentes que operam com seu próprio dinheiro. Tais homens ainda existem em uma quantidade incrivelmente alta, mas eles somente conseguem sobreviver porque seu talento superior é comparável à situação financeira inferior com a qual eles têm de lidar. Eles precisam ser mais inovadores e trabalhar mais que seus concorrentes. Eles sabem o preço da independência e estão dispostos a pagá-lo. Normalmente eles são mais apegados aos negócios da família e se importam mais com seus empregados do que os outros fantoches dos banqueiros.

Dado que o crédito fácil decorrente da inflação monetária possibilita uma grande vantagem financeira, ele acaba por estimular comportamentos imprudentes da parte dos executivos das empresas. Isso é principalmente válido para os gerentes de grandes empresas que possuem acesso fácil ao mercado de capitais. Sua imprudência é frequentemente confundida com criatividade e inovação.

O economista Joseph Schumpeter memoravelmente caracterizou o sistema bancário de reservas fracionárias como sendo um tipo de força impulsora do desenvolvimento econômico inovador, uma vez que ele fornece dinheiro adicional para empreendedores com grandes ideias.

É concebível imaginar que em alguns casos esse sistema tenha tido esse papel, porém as chances estão majoritariamente do outro lado. Como regra geral, qualquer produto novo e qualquer profunda inovação nas organizações empreendedoriais representam uma ameaça aos bancos, pois estes já estão expressivamente investidos em empresas já estabelecidas, as quais produzem os produtos de sempre e utilizam as velhas formas de organização. Eles têm, portanto, todos os incentivos para impedir qualquer inovação — recusando-se a financiá-la — ou para espalhar essas novas ideias aos seus parceiros no mundo corporativo.

Assim, o sistema bancário de reservas fracionárias torna os negócios mais conservadores do que seriam caso contrário. Ele beneficia as empresas já estabelecidas à custa de inovadores recém-chegados. É muito mais provável que um projeto inovador venha de empreendedores independentes, principalmente se a tributação da renda for baixa.

III. O jugo do débito

Algumas das considerações acima também são válidas fora do mundo empreendedorial. A inflação monetária possibilita crédito fácil não apenas para governos e empresas, mas também para indivíduos. O simples fato de que tais créditos são oferecidos já é o suficiente para incitar algumas pessoas a se endividarem, algo que não fariam normalmente. Porém, o crédito fácil torna-se praticamente irresistível quando vem acoplado a outra típica consequência da inflação monetária: o aumento constante dos preços. Ao passo em que nos tempos passados um aumento dos preços era algo dificilmente perceptível, nos dias atuais todos os cidadãos do mundo ocidental já se acostumaram a esse fenômeno. Em países como Turquia e Brasil, onde o aumento de preços já chegou a taxas anuais de 80 a 100%, mesmo as pessoas mais jovens já chegaram a vivenciá-lo pessoalmente.

Tais condições impõem uma penalidade severa sobre a poupança mantida em espécie. Antigamente, a poupança era tipicamente feita na forma do entesouramento de moedas de ouro e prata. É verdade que tal ato de entesouramento não propiciava nenhuma receita — o metal era "estéril" — e que quem praticava tal ato não podia ser considerado um rentista. Porém, em todos os outros aspectos, o entesouramento do dinheiro era uma forma confiável e efetiva de poupança. O poder de compra da moeda não se evaporava em poucas décadas, e em épocas de crescimento econômico ela até mesmo ganhava poder de compra.

Mais importante ainda, elas eram extremamente adequadas para as pessoas comuns. Carpinteiros, pedreiros, alfaiates e agricultores normalmente não são observadores muito astutos do mercado internacional de capitais. Colocar algumas moedas de ouro debaixo do travesseiro ou dentro de um cofre foi um ato que lhes poupou várias noites de insônia, e os deixaram independentes de intermediários financeiros.

Agora compare esse cenário antigo com nossa atual situação. O contraste não poderia ser mais absoluto. Seria algo completamente inútil guardar cédulas de dinheiro em casa, visando à aposentadoria. Um homem com seus 30 anos de idade, que esteja planejando se aposentar daqui a 30 anos, precisa levar em conta uma depreciação monetária na ordem de 3 a 5% ao ano. Isto é, ele precisa poupar de 3 a 5 unidades monetárias hoje para poder ter o poder de compra de uma unidade atual quando ele se aposentar. E isso sendo bastante otimista.

Disso se conclui que a estratégia racional de poupança para ele seria se endividar com o intuito de comprar ativos cujos preços aumentariam com a inflação. Isso é exatamente o que ocorre hoje na maioria dos países ocidentais. Tão logo as pessoas arrumam um emprego e, com isso, uma fonte de renda parcialmente estável, eles se endividam para comprar uma casa — ao passo que seus avôs ainda seguiam a rotina de primeiro acumular poupança durante trinta anos para só então comprar seu primeiro imóvel com dinheiro próprio. Desnecessário dizer que este último sempre foi o procedimento cristão. Não carta de São Paulo aos Romanos (13:8), lemos: "A ninguém fiqueis devendo coisa alguma, a não ser o amor recíproco; porque aquele que ama o seu próximo cumpriu toda a lei."

As coisas não são muito melhores para aqueles que já acumularam alguma riqueza. É verdade que a inflação não os obriga a se endividar; porém, em todo caso, ela os priva da possibilidade de manter suas poupanças em dinheiro. Os idosos que vivem de pensões, as viúvas e os tutores de órfãos precisam investir seu dinheiro no mercado financeiro, pois, caso contrário, seu poder de compra irá se perder diariamente. Assim, eles se tornam dependentes dos intermediadores financeiros e, consequentemente, do comportamento dos preços das ações e dos títulos.

Com tudo isso, torna-se claro que tal situação é amplamente favorável para aqueles que ganham a vida no mercado financeiro. Corretores, analistas, bancos, empresas hipotecárias e outros "players" têm motivos para ser gratos a esse constante declínio do poder de compra do dinheiro sob um ambiente de inflação monetária. Porém, seria tal arranjo também benéfico para o cidadão comum? De certa forma, suas dívidas e seu maior investimento no mercado financeiro são benéficos para ele, dado nosso atual regime inflacionário.

Quando o aumento no nível de preços é perene, a dívida privada é para ele a melhor estratégia disponível. Porém, é claro, isso significa que, não fosse o intervencionismo governamental no sistema monetário, outras estratégias seriam superiores. A existência de bancos centrais e de dinheiro de papel faz com que as estratégias financeiras baseadas no endividamento sejam mais atrativas do que estratégias baseadas no acúmulo de poupança própria.

Não é exagero dizer que, por meio de sua política monetária, os governos ocidentais empurraram seus cidadãos para uma situação de dependência financeira completamente desconhecida para as gerações anteriores. Já em 1931, o papa Pio XI declarou:

É algo manifesto como, nos nossos tempos, não só se concentram riquezas, mas também acumula-se um poder imenso e um verdadeiro despotismo econômico nas mãos de poucos, que as mais das vezes não são senhores, mas simples depositários e administradores de capitais alheios, os quais administram de acordo com seu próprio prazer e vontade arbitrária.

Este despotismo vem sendo exercido mais impetuosamente por aqueles que, tendo nas suas mãos o dinheiro, são também senhores absolutos do crédito e por isso dispõem do sangue de que vive toda a economia, e manipulam de tal maneira a alma da mesma, que ninguém pode respirar sem sua licença.

É de se imaginar que vocabulário Pio XI teria utilizado para descrever nossa atual situação. A justificativa corrente para o atual arranjo monetário é que ele supostamente estimula o desenvolvimento industrial. O dinheiro que antigamente era entesourado não era apenas estéril, segundo tal teoria; era na realidade algo prejudicial do ponto de vista econômico, pois tal atitude privava as empresas dos meios de pagamento necessários para os investimentos. Sendo assim, a função da inflação monetária seria a de fornecer tais meios.

Entretanto, o entesouramento do dinheiro não possui nenhuma implicação macroeconômica negativa. Tal atitude definitivamente não reprime os investimentos industriais. O entesouramento aumenta o poder de compra do dinheiro e, consequentemente, dá um maior "peso" às unidades monetárias que permanecem em circulação. Todos os bens e serviços continuam podendo ser comprados, e todos os investimentos viáveis podem ser feitos com as unidades monetárias remanescentes. O fato fundamental e inegável é que a inflação monetária não faz surgir nenhum recurso adicional. O fato de você imprimir dinheiro não faz com que novos bens apareçam. A inflação meramente provoca uma alteração na alocação dos recursos já existentes. Estes deixam de ir para empresas geridas por empreendedores que operam com seu próprio dinheiro, sendo desviados para aquelas empresas financiadas com fartos créditos bancários.

O efeito líquido do recente surto de endividamento pessoal é, portanto, o de jogar populações inteiras na dependência financeira. As implicações morais são claras. O acúmulo de dívidas é incompatível com a independência financeira, e isso tende a enfraquecer a autossuficiência em todas as outras esferas. O indivíduo oprimido por dívidas acaba, no final, adotando o hábito de recorrer a terceiros em busca de ajuda, ao invés de se tornar uma âncora econômica e moral para sua família e para todas as pessoas que o cercam. A sobriedade e a independência de julgamento são substituídas pela submissão e pela auto-ilusão. 

E quando, como ocorre em muitos casos, as famílias não mais conseguem arcar com todo seu endividamento? O resultado é o desespero — ou, ao contrário, o desprezo por todos os padrões de sanidade financeira.

IV. Alguns ferimentos espirituais provocados pela inflação monetária

A inflação monetária reduz constantemente o poder de compra do dinheiro. Em algum grau, é possível para as pessoas protegerem sua poupança contra esse fenômeno, mas isso requer um completo conhecimento de estratégias financeiras, tempo disponível para supervisionar constantemente seus investimentos e uma boa dose de sorte. As pessoas que não possuem um desses ingredientes irão provavelmente perder uma parte substancial de seus ativos. A poupança de toda uma vida normalmente desaparece por completo durante os primeiros anos da aposentadoria. A consequência é o desespero e a erradicação dos padrões morais e sociais. Porém, seria errado inferir que a inflação produz esse efeito principalmente nos mais idosos. Como observou Thomas Woods:



Esses efeitos são "especialmente fortes entre os jovens. Eles aprendem a viver pensando apenas no presente e desdenham daqueles que tentam ensiná-los 'coisas antiquadas como moralidade e parcimônia.' A inflação, desta forma, estimula uma mentalidade de gratificação imediata que está em completo desacordo com a disciplina e a eterna perspectiva requeridas para se exercer os princípios da intendência bíblica — como investimentos de longo prazo para o benefício de gerações futuras."

Mesmo aqueles cidadãos abençoados com o conhecimento, o tempo e a sorte para proteger o capital de sua poupança não são capazes de se esquivar dos impactos perniciosos da inflação, pois eles têm de adotar hábitos que estão em desacordo com a saúde moral e espiritual. A inflação os obriga a gastar muito mais tempo pensando no seu dinheiro do que seria necessário na ausência dela. Como já dito, a maneira antiga de os cidadãos comuns pouparam era acumulando dinheiro dentro de casa. Sob um ambiente de inflação monetária como o atual, essa estratégia é suicida. Eles precisam investir em ativos cujos valores crescem com a inflação; e a maneira mais prática de se fazer isso é comprando ações e títulos. Porém, isso demanda várias horas dedicadas ao estudo, à comparação e à seleção dos papeis adequados. E isso os obriga a estarem sempre vigilantes e preocupados com seu dinheiro, para o resto de suas vidas. Eles precisam estar sempre seguindo o noticiário financeiro e monitorando os preços das ações no mercado financeiro.

Similarmente, as pessoas tenderão a prolongar a fase de suas vidas na qual elas se esforçam para ganhar dinheiro. E, ao escolher suas profissões, elas darão uma ênfase relativamente maior nos retornos monetários do que em qualquer outro critério. Por exemplo, alguns daqueles que teriam maior propensão à jardinagem irão abandonar essa vocação e procurar um emprego industrial, pois este oferece maiores retornos financeiros no longo prazo. E mais pessoas irão aceitar empregos distantes de suas casas apenas pelo fato de estes permitirem a elas ganharem um dinheiro extra — algo que não ocorreria com tanta frequência em um sistema monetário natural.

A dimensão espiritual desses hábitos induzidos pela inflação parece ser óbvia. Questões monetárias e financeiras passam a ter um papel exagerado na vida de um homem. A inflação torna a sociedade materialista. As pessoas cada vez mais se esforçam para obter dinheiro à custa da felicidade pessoal. A mobilidade geográfica induzida pela inflação enfraquece artificialmente os laços familiares. Muitos daqueles que tendem a ser gananciosos, invejosos e mesquinhos tornam-se vítimas do pecado. Mesmo aqueles que não possuem tal propensão serão expostos a tentações que não sentiriam caso contrário. E como os caprichos do mercado financeiro também fornecem uma desculpa perfeita para o uso excessivamente sovina do dinheiro, doações para instituições de caridade tendem a declinar.

E há o fato de que a inflação perene tende a deteriorar a qualidade dos produtos. Todo vendedor sabe que é difícil vender o mesmo produto físico a um preço maior do que aquele vigente nos anos anteriores. Porém, aumentos nos preços são inevitáveis quando a oferta monetária está em crescimento contínuo. Sendo assim, o que os vendedores fazem? Em muitos casos, a salvação vem por meio da inovação tecnológica, a qual permite um modo de produção mais barato do produto, desta forma neutralizando ou até mesmo compensando em demasia a influência da inflação. Isso ocorre, por exemplo, na indústria de computadores e de equipamentos construídos com uma grande quantidade de insumos de tecnologia da informação.

Porém, em outras indústrias, o progresso tecnológico possui um papel muito menor. Aqui, os vendedores lidam com o problema acima mencionado. Consequentemente, eles fabricam um produto de qualidade inferior e o vendem com o mesmo nome, junto com os eufemismos que se tornaram costumeiros no marketing comercial. Por exemplo, eles podem ofertar aos seus consumidores café "light" e vegetais "não condimentados" — o que pode ser traduzido como café ralo e vegetais que já perderam todos os resquícios de sabor. Deteriorações similares podem ser observadas na indústria de construção civil. Países flagelados pela inflação parecem ter sempre uma maior proporção de casas e ruas em constante necessidade de reparos.

Em ambientes assim, as pessoas desenvolvem uma atitude mais desleixada em relação às palavras que utilizam. Se tudo realmente for aquilo de que passou a ser chamado, então é difícil explicar a diferença entre verdade e mentira. A inflação incita as pessoas a mentirem sobre seus produtos, e a inflação perene estimula o hábito de mentir rotineiramente. Este autor já argumentou em outros trabalhos que as mentiras rotineiras possuem um papel importante no sistema bancário de reservas fracionárias, a instituição fundamental do sistema monetário inflacionário. A inflação monetária parece difundir esse hábito como um câncer para todo o resto da economia.

V. Sufocando a chama

Na maioria dos países, o crescimento do estado assistencialista tem sido financiado por meio do acúmulo da dívida pública em uma escala que seria impensável sem o advento do dinheiro de papel. Uma rápida olhada no histórico mostra que o crescimento exponencial do estado assistencialista, que na Europa começou no início da década de 1970, progrediu pari passu com a explosão da dívida pública. É amplamente sabido que tal acontecimento tem sido um grande fator no declínio da família. Porém, é normalmente negligenciado o fato de que a principal causa desse declínio é a inflação monetária. De maneira lenta, porém resoluta, a inflação perene destroi a família. 

O assistencialismo tem sido a ferramenta preferida do estado para destruir a moral e as normas familiares. Atualmente, o estado assistencialista fornece um grande número de serviços que, em outras épocas, eram fornecidos pelas próprias famílias (e os quais, podemos supor, ainda continuariam sendo ofertados em grande parte pelas famílias caso o estado assistencialista deixasse de existir). A educação dos mais novos, o cuidado com os idosos e enfermos, a assistência em épocas de emergência — todos esses serviços são hoje efetivamente "terceirizados" para o estado. As famílias foram reduzidas a pequenas unidades de produção que compartilham as contas de luz, os carros, as geladeiras e, é claro, os tributos. O estado assistencialista financiado pelos impostos oferece-lhes, em troca, educação e saúde.

De um ponto de vista econômico, esse arranjo é um total desperdício de dinheiro. O fato é que o estado assistencialista é ineficiente; ele fornece serviços comparativamente ruins a custos comparativamente maiores. Não precisamos nos estender muito fazendo comentários sobre a incapacidade das agências estatais em oferecer o tipo de assistência emocional e espiritual que emerge apenas da caridade. A compaixão não pode ser comprada. Porém, o estado assistencialista também é ineficiente em termos puramente econômicos. Ele opera por meio de grandes burocracias e é, desta forma, responsável pela falta de incentivos e critérios econômicos que impedem o desperdício de dinheiro. Nas palavras do papa João Paulo II:

Ao intervir diretamente e privando a sociedade de sua responsabilidade, o estado assistencialista provoca a perda de energias humanas e um aumento exagerado das agências estatais, as quais são dominadas mais por lógicas burocráticas do que pela preocupação em servir os usuários, fazendo com que haja um acréscimo enorme das despesas. Com efeito, parece conhecer melhor as necessidades e ser mais capaz de satisfazê-las quem está mais próximo dos necessitados. Adicionalmente, vale ressaltar que certos tipos de necessidades requerem respostas que não sejam apenas materiais, mas que sejam capazes de compreender a mais profunda necessidade humana.

Todos sabem disso por experiência prática, e vários estudos científicos chegam à mesma conclusão. É exatamente pelo fato de o estado assistencialista ser um arranjo econômico ineficiente, que ele depende exclusivamente de impostos. Se o estado assistencialista tivesse de concorrer com as famílias em termos iguais, ele jamais duraria muito tempo. Ele só expulsou do "mercado assistencial" a família e as caridades privadas porque as pessoas são obrigadas a pagar por ele de um jeito ou de outro. Elas são obrigadas a pagar impostos, e elas não podem impedir o governo de se endividar cada vez mais — medida essa que absorve o capital que de outra forma seria utilizado para a produção de bens e serviços distintos.

O excessivo tamanho do estado assistencialista dos dias atuais representa um ataque total e direto à moral cristã. Mas ele também enfraquece essa moral por vias indiretas, a mais notável dela sendo o subsídio de maus exemplos morais. O fato é que alguns "estilos de vida" alternativos carregam consigo grandes riscos econômicos, tendendo portanto a serem mais custosos que os tradicionais arranjos familiares. O estado assistencialista socializa os custos de tais comportamentos, dando-lhes uma proeminência muito maior do que teriam em uma sociedade livre. 

Ao invés de gerar uma penalidade econômica, o assistencialismo pode na verdade prover vantagens econômicas aos seus recebedores, pois ele os dispensa dos custos da vida familiar (por exemplo, os custos associados à criação de filhos). Com o sustento do estado assistencialista, os assistidos podem então fazer escárnio da moral conservadora, rotulando-a como sendo algum tipo de superstição que não tem nenhum impacto na vida real. A dimensão espiritual parece clara: o estado assistencialista sistematicamente expõe as pessoas à tentação de acreditarem que não existe absolutamente nenhum preceito moral que já foi testado e aprovado pelo tempo.

Permita-me enfatizar aqui que o objetivo das observações anteriores não foi atacar os serviços assistencialistas, os quais são na verdade um componente essencial das sociedades cristãs. Antes, o ponto é que a inflação monetária destroi o controle democrático sobre a oferta desses serviços; que isso invariavelmente leva a um crescimento excessivo do estado assistencialista e a várias formas de assistencialismo; e que isso, por sua vez, não é algo inócuo ao caráter moral e espiritual da população.

As considerações acima não são de maneira alguma um relato completo e profundo do legado cultural e espiritual da inflação monetária. Porém, elas devem ser suficientes para comprovar o ponto principal: a inflação monetária é uma usina geradora de destruição social, econômica, cultural e espiritual.

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Notas
[1] Pio XI, Quadragesimo Anno (1931), §§ 105, 106. Ver também Deuteronômio 28: 12, 43-44.
[2] Thomas Woods, "Money and Morality: The Christian Moral Tradition and the Best Monetary Regime," Religion & Liberty, vol. 13, no. 5 (Set./Out. 2003).  O autor cita Ludwig von Mises.
[3] João Paulo II, Centesimus Annus, § 48.

Jörg Guido Hülsmann é membro sênior do Mises Institute e autor de Mises: The Last Knight of Liberalism e e The Ethics of Money Production.  Ele leciona na França, na Université d'Angers.

Tradução de Leandro Roque

TOCQUEVILLE E AS ELEIÇÕES


Confesso que em época de eleição fujo da propaganda eleitoral como o vampiro foge da cruz. Entretanto, algumas vezes essa fuga é impossível. Dia desses, tomei um táxi em que o motorista insistia em manter o rádio ligado na hora daquela chatice. Assim, fui obrigado a ouvir, durante longos minutos, um verdadeiro festival de promessas bizarras dos candidatos. Como se a vida fosse uma sucessão de almoços grátis, os candidatos, um após o outro, ofereciam-se com dedicado esmero para cuidar de mim e da minha família, desde o berço até o túmulo, provendo saúde, educação, creches, moradia digna, transporte, emprego, lazer, etc.

Ouvindo aquelas baboseiras todas – mais as indefectíveis inserções do TSE, cujo intuito é tentar nos convencer de que o exercício do voto e a democracia participativa são as coisas mais importantes de nossas vidas –, não pude deixar de lembrar do grande Tocqueville.

Cinco anos após retornar dos Estados Unidos, onde passou nove meses estudando detalhadamente a experiência democrática norte americana para escrever sua obra prima, “A Democracia na América”, Tocqueville faz um exercício intelectual absolutamente genial, tentando identificar que tipo de despotismo as democracias deveriam temer.

Tocqueville faz suas observações, que muito bem poderiam ser chamadas de profecias, a partir da visão de uma multidão inumerável de homens, todos muito parecidos, esforçando-se incessantemente para obter os prazeres mesquinhos e insignificantes com que preencherão suas vidas. Essa visão, por sinal, não é muito distante da visão do homem-massa, celebrizado por Ortega Y Gasset.

Mas deixemos que o próprio Tocqueville fale por si:

“Acima dessa raça de homens está um poder imenso e tutelar, que toma para si a garantia de suas satisfações e a vigilância de seu destino. Esse poder é absoluto, regular, cuidadoso e suave. Seria como a autoridade de um pai se o objetivo fosse o de preparar os homens para a maioridade, mas que busca, ao contrário, mantê-los na infância perpétua: espera que as pessoas se alegrem, desde que elas pensam em nada além de alegria. Para a sua felicidade, tal governo voluntariamente trabalha, mas quer ser o único agente e árbitro dessa felicidade; para isso, provê sua segurança, supre suas necessidades, facilita os seus prazeres, gerencia suas principais preocupações, dirige a sua indústria, regula a descendência da propriedade e subdivide suas heranças: o que mais resta, além de poupá-los de todo o cuidado de pensar e de todos os problemas da vida?”

“Assim, a cada dia o governo torna o exercício do livre arbítrio menos útil e menos frequente; circunscreve a vontade dentro de uma faixa mais estreita e, gradualmente, rouba do indivíduo todos os usos de si mesmo. O princípio da igualdade preparou os homens para essas coisas; tornou-os predispostos a suportá-las e a olhar para elas como benefícios.”

“Depois de ter tomado cada membro da comunidade em suas garras poderosas, moldando-os conforme a sua vontade, o poder supremo, em seguida, estende seu braço sobre toda a comunidade. Ele cobre a superfície da sociedade com uma rede de pequenas regras complicadas, específicas e uniformes, através das quais as mentes mais originais e os personagens mais energéticos não podem penetrar para elevar-se acima da multidão.”


“Os homens são constantemente animados por duas paixões conflitantes: eles querem ser liderados, mas desejam permanecer livres. Como não podem eliminar uma ou outra dessas propensões contrárias, se esforçam para satisfazer as duas ao mesmo tempo. Assim, aceitam um governo tutelar, todo-poderoso, mas eleito pelo povo. Eles combinam os princípios do centralismo e da soberania popular, o que lhes dá algum alívio: eles se consolam por serem tutelados pela reflexão de que eles mesmos escolheram os seus guardiães. Os homens admitem acorrentar-se, porque pensam que não é uma pessoa ou um grupo de pessoas, mas o povo em geral quem segura e conduz a corrente.”“A vontade do homem não é destruída, mas amolecida, dobrada e guiada; os homens raramente são forçados a agir, mas estão constantemente impedidos de fazê-lo. Tal poder não destrói, mas impede a existência; não tiraniza, mas comprime e entorpece o povo, até que cada nação seja reduzida a nada mais do que um rebanho de animais tímidos e industriosos, de que o governo é o pastor.”

“Quando o soberano é eleito, ou estreitamente vigiado por uma legislatura eleita e independente, a opressão que ele exerce sobre as pessoas às vezes é maior, mas é sempre menos degradante, porque cada homem, mesmo quando oprimido e desarmado, ainda pode imaginar que, enquanto ele deve obediência, é a si mesmo que a deve.”

“É em vão convocar um povo tornado tão dependente do poder central para escolher, de vez em quando, os representantes desse poder; o exercício raro e breve de sua livre escolha, por mais importante que seja, não irá impedi-los de, gradualmente, ir perdendo as faculdades de pensar, sentir e agir por si mesmos, e assim, gradualmente, cair abaixo do nível da humanidade.”

“Acrescento que, em breve, se tornarão incapazes de exercer o único grande privilégio que ainda lhes resta. As nações democráticas que introduziram a liberdade em sua constituição política, no momento exato em que foram aumentando o despotismo de sua administração, foram levadas a estranhos paradoxos. Para gerenciar essas pequenas coisas da vida, em que o bom senso é tudo o que se exige, os indivíduos não estão à altura da tarefa, mas, quando o governo do país está em jogo, esses mesmos indivíduos são investidos de poderes imensos; eles são, ao mesmo tempo, meros joguetes de seu governante e seus senhores, mais do que reis e menos do que homens.”

“Na verdade, é difícil conceber como homens que desistiram inteiramente do hábito do autogoverno podem fazer uma escolha adequada daqueles por quem serão governados; e é difícil de acreditar que um governo liberal, sábio e enérgico possa surgir a partir do sufrágio de um povo subserviente.”

É preciso dizer mais alguma coisa? Por: João Luiz Mauad

Fonte: OrdemLivre

O FOME ZERO DE OBAMA



O que do ponto de vista econômico o que parece um absurdo pode ser politicamente lógico e sensato, ao menos no sentido maquiavélico da coisa.

Obama, ao contrário do nosso ex-presidente, não encontrou uma massa de miseráveis pronta para ser alistada na sua clientela. Teve de fabricá-la.



Se os caros leitores compreenderam o meu artigo anterior ("A engenharia da desordem"), deve ter-lhes ocorrido, ao menos de raspão, a ideia de que o sr. Barack Hussein Obama talvez não estivesse fazendo puro jogo de cena quando, ao encontrar o sr. Lula em Washington D.C., exclamou: "Esse é o cara!"

O presidente americano prometeu imitar o Fome Zero, e não somente o fez como vem obtendo, desse empreendimento, resultados perfeitamente simétricos aos alcançados pelo seu colega brasileiro.

Nos últimos anos, a economia americana caiu do primeiro lugar para o sétimo na escala de competitividade do Fórum Econômico Mundial. O desemprego, que em 2008 não passava muito de 4%, já está acima de 8%, e a criação de novos empregos é cada vez mais lenta. Comparando números, o colunista Donald Lambro, do Washington Times, conclui que o desempenho do presente governo americano na área trabalhista é o pior desde a II Guerra Mundial.

Em compensação, Obama foi o recordista absoluto na distribuição de dinheiro do governo não só aos pobres como também aos ricos – incluindo um vistoso leque de empresas falidas por má administração e fraudes, em geral pertencentes a seus contribuintes de campanha. Para isso, sobrecarregou o Estado de mais dívidas do que todos os seus antecessores somados, desde George Washington.

É um fracasso colossal, dizem os analistas econômicos. Mas, os utilitaristas que me perdoem, a racionalidade econômica não é a motivação última dos atos humanos. O que do ponto de vista econômico parece um absurdo pode ser politicamente lógico e sensato, ao menos no sentido maquiavélico da coisa.

Um artigo excelente do comentarista Ira Stoll , feito no New York Sun (www.nysun.com/national/paradox-of-obama-emerges-with-the-danger-that/87978/) mostra que as melhores chances de sucesso do candidato democrata nas eleições de novembro repousam precisamente no descalabro da sua política trabalhista: na primeira gestão Obama, o número das pessoas que vivem de ajuda governamental começou a superar, pela primeira vez na história americana, o das que trabalham e pagam impostos.

Hoje são 46,7 milhões de americanos que recebem vale-alimentação, 8,7 milhões de estudantes bolsistas, mais 7,6 milhões de empregados estatais sindicalizados. Total: 63 milhões de obamistas compulsivos. Quatro milhões acima do número de votos obtidos por John McCain em 2008.

Será especulação psicótica, será "teoria da conspiração" suspeitar que houve alguma premeditação por trás de um fracasso tão benéfico à pessoa do seu autor? Não, quando se leva em conta o seguinte fato: o único emprego que Obama teve na vida, o único ramo de atividade no qual adquiriu alguma experiência, foi o de "organizador comunitário", empenhado na aplicação da estratégia Cloward-Piven. E essa estratégia consiste, de alto a baixo, na arte de fomentar o desastre econômico para tirar dele proveitos políticos.

Expliquei isso num artigo de 2009 publicado neste mesmo Diário do Comércio (www.olavodecarvalho.org/semana/090305dc.html). Que pode haver de tão inverossímil em supor que, na Presidência, o homem fez a única coisa que comprovadamente sabe fazer?

Aí reside também a diferença entre ele e o seu modelo brasileiro. Lula, para implantar o monopólio político da esquerda e corromper a sociedade inteira, teve de manter a economia funcionando razoavelmente e fazer o possível para cortejar o empresariado, dessensibilizando-o para tudo o que se passasse fora do círculo de seus interesses mais imediatos.

Obama, ao contrário do nosso ex-presidente, não encontrou uma massa de miseráveis pronta para ser alistada na sua clientela. Teve de fabricá-la – e não havia como fazer isso senão demolindo a economia, aumentando ao mesmo tempo o desemprego e a dívida pública para que esses dois monstros se alimentassem um do outro até à completa exaustão do organismo nacional.

Outra diferença é a posição dos EUA no cenário internacional, que tinha de ser corroída mediante cortes no orçamento militar e o favorecimento inicialmente discreto, depois explícito, às forças inimigas que se levantavam contra governos aliados ou neutros.

O assassinato do embaixador americano na Líbia, sincronizado com manifestações anti-americanas na Tunísia, no Iêmen, no Irã e no Egito (onde, para cúmulo, os marines que guardam a embaixada continuam proibidos de portar munição de verdade), é o símbolo condensado da lógica que orienta toda a política do governo Obama. Essa lógica resume-se na simples aplicação local do mandamento globalista: enfraquecer os Estados no plano internacional e fortalecê-los no plano interno.

Dito de outro modo: desarmá-los contra seus inimigos e armá-los contra suas próprias populações, de modo a fazer deles os cães de guarda, ao mesmo tempo dóceis e implacáveis, da nova ordem global. De sob as cascas dos velhos Leviatãs nacionais começa a erguer-se, majestosamente sinistro, o Leviatã planetário.
Nota: O desenlace sangrento da intromissão dos EUA na Líbia ajudou a grande mídia a abafar pelo menos uma notícia importante: o Instituto de Ciência e Tecnologia de Israel examinou a certidão de nascimento de Barack Hussein Obama divulgada pelo governo americano (ver https://usjf.net/2012/09/video-former-netanyahu-adviser-obama-birth-certificate-forged/?utm_source=USJF+List&utm_campaign=418932d804-RSS_EMAIL_CAMPAIGN&utm_medium=email) e confirmou que "é manifestamente falsa".
Por: Olavo de Carvalho  Publicado no Diário do Comércio.

sábado, 22 de setembro de 2012

CÂMARAS DE VEREADORES



Câmaras: máquinas caras e nebulosas 

Sem fiscalizar ou prestar contas de gastos e atos, Câmaras custam R$ 9,5 bilhões por ano 


BRASÍLIA - As câmaras municipais, apesar de próximas fisicamente dos moradores, são o Poder menos transparente, o mais vulnerável à corrupção, o que menos presta contas aos eleitores e um dos mais caros aos cofres públicos. O custo dos legislativos nos 5.565 municípios brasileiros ficou em quase R$ 10 bilhões (R$ 9,5 bilhões) em 2011, considerando apenas as despesas declaradas. É o equivalente a cinco orçamentos anuais do Ministério da Cultura. E este custo anual poderá ultrapassar os R$ 15 bilhões em 2013, quando um contingente maior de vereadores entrará em cena, e com salários maiores que os atuais — dinheiro suficiente para pagar por quase um ano os 13 milhões de benefícios do Bolsa Família (R$ 19 bilhões). Na eleição de outubro, 432.867 candidatos disputam as 57.434 vagas de vereadores. O número de vagas cresceu mais de 10% em relação a 2008 (52.008 vereadores) por força da aprovação de uma emenda constitucional, cuja validade se aplica agora. 

Miniaturas do Congresso, os legislativos municipais, além de custar caro aos bolsos dos contribuintes e de ter pouca transparência, na maioria das vezes serve apenas para dizer amém aos planos traçados pelos prefeitos. 

Fiscalizar os atos do Executivo, que seria a principal tarefa de uma câmara municipal, está apenas na carta de boas intenções. Na maioria das cidades, os vereadores são cooptados pelo poder local e fazem vista grossa aos atos e omissões do chefe da prefeitura. 

Cláudio Weber Abramo, diretor-executivo da ONG Transparência Brasil, avalia que a função das câmaras de vereadores foi esvaziada nas últimas décadas. Justamente por causa da “força” exercida pelo Executivo: 

— Os vereadores não cumprem seu papel, não fiscalizam. Quem legisla, de fato, é o Executivo. Os prefeitos compram suas bases por meio da distribuição de cargos — afirma Abramo. 

Rio Largo (AL): sete de dez vereadores presos 

A pouca transparência e a falta de fiscalização favorecem as práticas de desvios e corrupção, com casos de desmandos generalizados no poder público. Foi o que aconteceu em Rio Largo este ano, na região metropolitana de Maceió, onde o prefeito e sete dos dez vereadores foram presos em maio, por corrupção. Em menor escala, esses casos se repetem país afora. 

O efeito principal da falta de transparência é a dificuldade — em alguns casos, impossibilidade — de se saber exatamente quanto do dinheiro do contribuinte é dispendido com os vereadores brasileiros. O custo de cerca de R$ 10 bilhões com o Legislativo municipal, levantamento exclusivo feito para o GLOBO pela Confederação Nacional dos Municípios (CNM), foi estimado com base nas informações fornecidas pela maioria dos municípios ao Tesouro Nacional. 

A CNM identificou no Tesouro dados de 4.813 prefeituras relativos a essas despesas, o que significa que mais de 700 nada informaram ao cofre central. Mesmo no universo de 4.813, há um grupo de 669 que computaram como zero o gasto do Legislativo, o que é improvável. A contabilidade do dinheiro público gasto pelos parlamentares é o exemplo mais forte de falta de transparência. 

Mas os vereadores também sonegam outras informações de interesse comunitário: desde o parentesco de servidores de confiança até viagens ou dados simples de suas atividades. O GLOBO pesquisou os 26 sites dos legislativos das capitais do Brasil e constatou que a maioria não traz informações de fácil acesso. Há casos, inclusive, em que nem site há. Em São Luís, no Maranhão, por exemplo, ao tentar pesquisar dados sobre a Câmara o internauta se depara com um aviso de que, se continuar, a página poderá danificar o computador. 

— As câmaras municipais são as menos transparentes de todos os poderes. Tudo que acontece na esfera nacional, acontece na esfera estadual e é muito pior nos municípios — afirma Cláudio Abramo. — A regra geral é a obscuridade. 

O raciocínio de Abramo de que o exemplo vem de cima é compartilhado pelo presidente da CNM, Paulo Ziulkoski, um ex-prefeito do interior do Rio Grande do Sul que há alguns anos se dedica a defender os interesses das prefeituras em Brasília. Todos os vícios, inclusive as práticas de corrupção, diz ele, são copiados das esferas superiores: 

— Tudo que se vê no interior, em Brasília é igual. A Câmara dos Deputados, o Senado e as assembleias estaduais teriam que dar o exemplo, mas fazem o contrário. 

No Rio, cada vereador custa R$ 7,8 milhões 

Considerando apenas os vereadores de capitais, um levantamento da Transparência Brasil aponta que na Câmara do Rio cada um dos seus 51 representantes custa R$ 7,8 milhões anualmente, tomando como base o orçamento da Câmara Municipal deste ano. É a segunda mais cara do país, levando-se em conta a relação do número de vereadores pelo valor do orçamento. A primeira é São Paulo: R$ 8,5 milhões por cada um de seus 55 parlamentares. 

Porém, se o cálculo levar em conta a população da cidade, a Câmara de Florianópolis passa a ser a mais cara per capita entre as capitais. Lá, cada morador paga R$ 99,49 por representado. No Rio, esse custo é de R$ 62,73, per capita. Dinheiro que o cidadão não sabe como é gasto. 

A aprovação da Lei de Acesso à Informação, que entrou em vigor em maio, está longe de chegar às câmaras. Na maioria das vezes, os sites se limitam a exibir os nomes e as fotos dos vereadores, alguns projetos e o orçamento. Não há, por exemplo, informações básicas, como quanto ganham os vereadores, quantos funcionários dispõem em seus gabinetes, quanto recebem de diárias, quantos funcionários há no total. Também é difícil encontrar Legislativo que informe e-mails dos vereadores ou os telefones dos gabinetes. Todo esse jogo de esconder reforça a visão de que os vereadores não querem dar satisfação de seus atos ou de seus gastos. O Globo

SUSTENTABILIDADE COMEÇA EM CASA


Tenho visto a sociedade debater sustentabilidade com foco apenas na escassez futura de água, de verde e de ar limpo. 

Porém poucas práticas são tão insustentáveis quanto as tentativas de pessoas e de empresas de serem sustentáveis. Afinal, plantar ou abraçar uma árvore é um bom começo, mas raramente esse começo se repete por semanas ou meses seguidos. É como se aquele que plantou uma árvore já tivesse prestado contas com a natureza, voltando à sua rotina de desperdícios e de poluição com menor peso na consciência. 

Não vejo sentido em uma atividade iniciada e não encerrada, seja você um simples trabalhador, uma grande empresa ou o ministro Cezar Peluso. De sustentáveis, práticas cidadãs feitas uma ou duas vezes na vida têm apenas a inspiração. 

Ser sustentável é mais do que fazer um gesto eventual pelo futuro. Sustentabilidade começa em casa, pelo que você faz para que sua existência não se torne um problema para as demais pessoas neste mundo. Isso tem a ver com como você aproveita a água, a energia, os insumos e os alimentos. Mas tem também a ver com como você lida com seu orçamento. 

Quem lida de maneira desequilibrada com o dinheiro está criando problemas futuros não somente para sua vida mas também para a vida das pessoas com quem convive. Aqueles que têm dificuldades para poupar serão dependentes da ajuda do governo ou de seus familiares. Sem cuidar de seu futuro, precisarão de apoio financeiro e comprometerão o consumo dos filhos, forçando-os também a uma situação de privações, de dificuldade de poupar e, consequentemente, fazendo com que também se tornem dependentes da ajuda futura do governo ou dos familiares. É um círculo vicioso. 

Quem planeja e poupa o suficiente para viver no futuro com o rendimento do próprio patrimônio deixa de ser um ônus para o Estado. Se gastasse menos com o auxílio às famílias, o Estado teria mais recursos para administrar o interesse coletivo, incluindo a preservação do ambiente e o investimento em tecnologias para a sustentabilidade. Obviamente, essa minha utopia está considerando que, com mais recursos disponíveis, o Estado buscará o interesse coletivo de longo prazo. Hoje isso ainda não acontece. 

É curioso perceber que poupar não basta. Aqueles que poupam demais, seja por ganância ou por temor excessivo do futuro, limitam a circulação do dinheiro na economia. Com o comércio, a indústria e os serviços faturando menos, o governo tem de investir pesado em subsídios e em políticas de compensação e de incentivo. Gastando mais do que deveria com o equilíbrio da sociedade no presente, o Estado está deixando de cuidar do futuro. Ou seja, está deixando de adotar políticas de sustentabilidade. 

Costumo afirmar que gastar demais é tão perigoso quanto poupar demais, e isso tem tudo a ver com a construção de um futuro saudável para a economia pessoal e da sociedade. É por isso que a educação financeira não pode se limitar a planilhas, a cálculos e a simulações de investimentos, como muitas das primeiras experiências nesse campo têm sido praticadas nas escolas. Tenho visto métodos eficientes em transformar gastadores compulsivos em poupadores compulsivos. Infelizmente, um grave erro. 

A essência da educação financeira deve ser a busca do equilíbrio, e por isso também deveria ser parte dos esforços de sustentabilidade nas escolas e nos debates. Finanças deveria ser tema de aulas de ciências, filosofia e estudos da sociedade, objetivando educar os jovens para que tenham escolhas mais inteligentes e duradouras. Depois disso, caberia discutir o assunto também nas aulas de matemática. Não é o que vem sendo feito. 

No dia em que cada família souber consumir com qualidade, ou seja, maximizando sua satisfação a cada compra, aproveitará melhor o que consome e, consequentemente, consumirá em menor quantidade. 

Isso naturalmente já contribui para o ambiente, sem muito esforço adicional. Nesse caso, se abraçar uma árvore lhe faz feliz, continue fazendo-o, nem que seja apenas pelo seu bem-estar pessoal. Por: Gustavo Cerbasi

A DESTRUIÇÃO DAS NOSSAS CHANCES DE CRESCER



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Impressionante, como a Dilma em dois anos conseguiu incompatibilizar-se com todos os setores de infraestrutura deste país, prejudicando seriamente a nossa possibilidade de termos investimentos em infraestrutura.

O Estado Brasileiro está falido há mais de 30 anos. Não consegue investir o necessário para garantir o nosso crescimento, apesar de retirar 40% em impostos da população, e ainda por cima controlar o BNDES, Eletrobrás, Petrobras, Infraero e assim por diante.

É preciso de Parcerias Público Privadas, para que o setor Privado faça o que o Público teria obrigação de fazer. 

Nesta semana, por total desconhecimento dos princípios elementares de administração, ela afugentou milhares de investidores do setor de Energia Elétrica, que literalmente fugiram e venderam seus investimentos fazendo as ações das Cias. de Energia Elétrica despencarem entre 30% a 40%.

Veja acima o gráfico desastroso das ações da CESP. 

Simplesmente, Dilma e seu principal assessor aumentaram o Custo de Capital destas empresas em 80%, como neste caso da CESP, para os próximos 20 anos.

Ações de Cias. Elétricas são conhecidas como ações de viúvas. Viúvas não querem, nem podem, ter sustos como estes de perderem 30% da suas poupanças em dois dias.

Cias. Elétricas sabem disto, e são notórias por darem dividendos certos e constantes, apropriadas para este tipo de investidor. Por isto cobram caro pelas suas ações, o que significa que conseguem um custo de capital barato.

Em uma semana, Dilma e seu assessor conseguiram destruir os Fundos de Dividendos do Brasil, que jamais vão comprar no futuro ações de Cias. Elétricas, por 30 anos pelo menos.

Até estes gestores morrerem, e uma nova geração que não estudou História da Administração Brasileira assumirem seus lugares.

Como ocorreu com a famosa Moratória da Dívida Externa, dos Ministros Funaro e Sayad, que afugentou investimentos externos do Brasil por 20 anos, que só agora retornaram.

Investir em energia, ferrovias, portos, infraestrutura, com as MPs e mudanças das regras do jogo e este "micromanagement", se tornou assunto arriscado.

Não é mais para vocês, viúvas e investidores conservadores que aceitam remuneração mais baixa mas constante.

Agora, só especuladores, oligarcas russos, e investidores que cobram caro, vão investir, se tanto, em infraestrutura em países e governos temperamentais como da DIlma.

Em vez de reduzir o custo da capital, algo que vinha fazendo com elogios constantes meus nestes últimos tempos, ouvindo seu assessor predileto ela está inadvertidamente destruindo o futuro deste país.

Coisa muito séria que a imprensa e os seus futuros eleitores por alguma razão não perceberam. Ainda. Por: Stephen Kanitz

LULA x GETÚLIO VARGAS



Comparar Getúlio Vargas a Lula é um insulto à memória do presidente suicida


A nota oficial encomendada por Lula, redigida por Rui Falcão e subscrita por seis presidentes de partidos governistas comunica à nação, entre uma falsidade e uma safadeza, que está em curso uma trama política semelhante à que resultou no suicídio de Getúlio Vargas. Só um ajuntamento de palermas, oportunistas e casos de polícia conseguiria vislumbrar conspiradores em ação nos três partidos oposicionistas mais dóceis da história.

Só um bando de cretinos fundamentais ousaria confundir Aécio Neves com Carlos Lacerda, Geraldo Alckmin com Afonso Arinos, ou tucanos em sossego no poleiro com militares sublevados nos quartéis. E até sócios remidos do clube dos cafajestes se recusariam a comparar Luiz Inácio Lula da Silva a Getúlio Dornelles Vargas. Coerentes com a folha corrida de cada um, os signatários do besteirol espancaram sem clemência, e sem vestígios de rubor na face, a memória do mítico gaúcho.

“Querem fazer comigo o que fizeram com Getúlio Vargas”, recitou o palanque ambulante, de novo, em agosto de 2011. “Assim foi em 1954, quando inventaram um ‘mar de lama’ para derrubar o presidente Vargas”, reincidiram nesta quinta-feira seis carrascos da verdade. Alguém precisa contar-lhes aos gritos que foi o próprio Getúlio quem usou pela primeira vez a expressão “mar de lama”. Alguém precisa ordenar-lhes aos berros que parem de estuprar os fatos para fabricar mentiras eleitoreiras.

Na versão malandra do PT e seus parceiros alugados, a procissão de escândalos que afronta os brasileiros honestos desde a descoberta do mensalão não passa de invencionice dos netos da UDN golpista, que se valem de estandartes moralistas para impedir que outro pai dos pobres se mantenha no poder. Se a oposição não sofresse de afasia medrosa, a confraria dos 171 já teria aprendido que não há qualquer parentesco entre os dois Brasis. E não se atreveria a inventar semelhanças entre figuras antagônicas.

Em agosto de 1954, Getúlio Vargas era sistematicamente hostilizado por adversários que negavam até cumprimentos protocolares ao ex-ditador que voltara ao poder pela rota das urnas. Não há uma única foto do presidente ao lado de Carlos Lacerda. Passados quase 60 anos, Lula e Dilma lidam com adversários que fizeram a opção preferencial pela covardia e inventaram a oposição a favor. Muitos merecem cadeiras cativas na Irmandade dos Amigos do Cara, dirigida por velhas abjeções que Lula combateu até descobrir que todos nasceram uns para os outros.

Há 58 anos, surpreendido por delinquências praticadas às suas costas, acuado pela feroz oposição parlamentar, sitiado por ódios decorrentes dos horrores do Estado Novo, desafiado por oficiais rebeldes, traído por comandantes militares, abalado pela deserção dos aliados, Getúlio preferiu a morte à capitulação humilhante. No Ano 10 da Era da Mediocridade, o Grande Pastor do rebanho lulopetista só é ameaçado pelo Código Penal, por um STF disposto a cumprir a lei e pela incapacidade de aceitar imposições do destino.

Neste começo de primavera, o que se vê é um populista incapaz de perceber a aproximação do inverno. Os truques do animador de comício não surpreendem mais ninguém. Tornaram-se enfadonhos. Lula é uma caricatura de si próprio. É uma lenda precocemente no ocaso. Daqui a muitos anos, será um asterisco nos livros de história que nunca leu.

Getúlio perdeu a disposição de resistir ao constatar que, sem saber, convivera com criminosos. Na última reunião do ministério, foi defendido por figuras como Oswaldo Aranha e Tancredo Neves. Lula defendeu a permanência de Antonio Palocci e José Dirceu no primeiro escalão infestado de corruptos. E tenta o tempo todo livrar da cadeia bandidos de estimação para mantê-los a seu lado. Depois de tentar inutilmente adiar o julgamento do mensalão, faz o que pode para pressionar ministros que nomeou, desqualificar a Justiça e impedir a consumação do castigo.

Há uma semana, o protetor de pecadores foi empurrado para o meio do pântano pelas revelações de Marcos Valério divulgadas por VEJA. Em vez de replicar às acusações e interpelar judicialmente o acusador, o mais loquaz dos palanqueiros emudeceu. Entre amigos, gasta a voz debilitada em insultos a ministros do Supremo, mensaleiros trapalhões ou advogados ineptos ─ e promete, de meia em meia hora, vinganças tremendas. Em público, pede votos para candidatos amigos e calunia concorrentes.

O suicídio de Vargas, reiterei há um ano, foi um ato de coragem protagonizado pelo político que errou muito e cometeu pecados graves, mas nunca transigiu com roubalheiras, nunca barganhou com assaltantes de cofres públicos nem foi coiteiro de ladrões. Lula fez da corrupção endêmica um estilo de governo e um instrumento de poder. O tiro disparado na manhã de 24 de agosto de 1954 atingiu o coração de um homem honrado. Um saiu da vida para entrar na história. Outro ficará na história como quem caiu na vida.

Getúlio matou-se por ter vergonha na cara. Lula morrerá sem saber o que é isso. Por: Augusto Nunes

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

LEI DO MERCADO x LEI DA SELVA


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Wifredo Lam (1902-1982), "A Selva"
Museu de Arte Moderna, Nova York
Por mais que se argumente e se mostre as ineficiências da intervenção estatal e a superioridade econômica do capitalismo, ainda assim as doutrinas do intervencionismo e do socialismo levam vantagem ao apelar ao senso ético que existe em cada um. Não porque sejam de fato moralmente superiores, mas porque são vistas dessa forma. E enquanto o forem, não há índice de pobreza ou cifra de mortos que mudará a opinião pública.

A oposição ao capitalismo foi muito bem sucedida em pintá-lo como um sistema baseado no egoísmo, no qual indivíduos antissociais são induzidos a competir e agir de forma predatória, numa verdadeira luta de todos contra todos em que os poderosos ditam as regras e os fracos não têm vez. Homem primata, capitalismo selvagem. No sistema de mercado, imperaria a "lei da selva" ou "lei do mais forte". Suas alternativas, por outro lado, projetam a ideia de um mundo mais solidário, fraterno e menos competitivo, no qual cada um tem sua chance e, mesmo se falhar, encontra algum amparo.

Para piorar as coisas, certos defensores do capitalismo não só aceitam tal descrição como se orgulham dela. O homem, dizem, é egoísta por natureza e tem mais é que competir; só os fortes sobrevivem — e o resto, bem...azar deles. Quero, neste artigo, mostrar como essa visão está completamente equivocada. A lei do mercado é oposta à lei da selva.

Princípios opostos

Comecemos com uma descrição da vida sob a lei da selva. Na selva, os recursos são escassos, e nada é de ninguém. Se quero algo, pego. Se alguém mais quiser a mesma coisa, brigamos; só um será bem-sucedido. Tudo o que um consegue para si ou foi tirado de alguém ou privou alguém mais de tê-lo. Desavenças resolvem-se pela violência; os vencedores ficam com tudo e os perdedores perecem. Uma árvore deu frutos; quero-os para mim, você também. Lutamos, eu venço, fico com a árvore e ainda faço churrasco do seu cadáver; game over. Quem é menos capaz — menos forte ou menos astuto — dança.

Nesse ambiente, o foco de todos os indivíduos é no consumo. O ambiente é muito incerto para que alguém se dedique a projetos de longo prazo. Todas as associações são frágeis. Os indivíduos veem uns aos outros como inimigos, competidores potenciais. Fora da tribo ou do clã sanguíneo, vive-se em guerra.

Agora pensemos no mercado. No mercado, os recursos também são escassos, mas cada coisa tem um dono. A árvore e seus frutos são, por direito, de alguém. Disso decorre que, se eu quiser um dos frutos, tenho que oferecer algo em troca ao dono atual. E essa minha oferta tem que ser considerada vantajosa ao dono dos frutos. Em outras palavras: cada um, para alcançar seus próprios objetivos, tem que ajudar os demais a alcançar os seus. Parece injusto com os que não têm propriedade? Mas existem duas propriedades que todo mundo tem, e que são as mais valiosas de todas: sua mente e seu corpo, com os quais se trabalha. "Dê-me alguns dos seus abacates que eu te ajudo a tirar uma pedra da sua caverna". Civilizações nascem assim.

O foco na selva, como foi dito, é no consumo: comer para viver um dia a mais. No mercado, embora o objetivo final ainda seja o consumo, o foco é na produção: trocando uns com os outros, produzimos mais e ficamos todos melhores. Cada um tem maior quantidade de bens à sua disposição do que teria se não trocasse com os demais. Se na selva o próximo é um rival no consumo, no mercado ele é um potencial parceiro na produção. Na selva, o encontro com um desconhecido traz consigo um impasse ameaçador: "O que posso tirar dele e o que ele pode tirar de mim?" — duas alternativas excludentes. No mercado, o mesmo encontro levanta uma outra pergunta: "O que posso fazer por ele e o que ele pode fazer por mim?" — possibilidades que se concretizam simultaneamente.

Uma famosa tirinha narra a história aparentemente real das renas na ilha St. Matthew. As renas, animais irracionais, viviam sob a lei da selva. Para elas, o campo de líquen era um vasto campo de consumo; e quem não consumisse, ficaria com menos. Por isso comeram e se reproduziram desenfreadamente até extinguir sua própria fonte de sustento. Para os homens, supondo que tivéssemos a mesma dieta das renas, o campo de líquen, dividido em lotes, representaria oportunidades de produção e de cultivo. Posso arrasar meu campo em uma semana, consumindo-o completamente, ou posso restringir um pouco meu consumo presente, trabalhar no campo, e garantir o sustento duradouro. E quem não tem um campo de líquen, morre de fome? Não, pois nem só de líquen vive o homem! Todo homem é dono de sua força de trabalho, e pode prestar serviços a qualquer outro: ajudando a cultivar um campo, a construir uma casa, transportando mercadorias, fazendo freelas de designgráfico etc. Essa divisão das tarefas gera um ganho para a sociedade como um todo, pois a produtividade de cada trabalhador especializado é muito maior do que seria se cada um tivesse que fazer um pouco de tudo para si mesmo.

A lei do mercado é a lei do benefício mútuo. Para um subir, precisa ajudar outro a subir. É o exato oposto da lei da selva, em que o ganho de um vem em detrimento do outro. Como os desejos de todos são harmonizados, torna-se possível pensar no longo prazo. Na selva, só existe o presente; amanhã alguém pode roubar a caça que você tanto se esforçou para capturar. No mercado, curto e longo prazo se equilibram, cada um adiantando ou postergando o consumo de acordo com seu melhor julgamento.

Analogias insustentáveis

Com o que foi exposto, vemos como uma das principais relações da selva, a entre presa e caçador, simplesmente não existe no mercado. A vida do consumidor melhora ao comprar os bens do produtor; e é por isso mesmo que ele compra. A vida do empregado está melhor graças à vaga oferecida pelo empregador; e é por isso que ele aceita o emprego. A vida do empregador, por sua vez, também está melhor graças aos serviços do empregado. Ninguém é caçador e ninguém é presa nesse processo; todos cooperam.

Mas espere um pouco: sempre ouvimos dizer que o traço principal do mercado é a concorrência. E numa concorrência, um ganha e outro perde, exatamente como ocorre na concorrência selvagem. Quando uma onça caça uma anta, a onça mais fraquinha passa fome, morre antes e se reproduz menos. Quando uma empresa lança um produto de sucesso, outras perdem vendas, demitem funcionários, fecham as portas etc. É a lei da selva, ou não é?

Todo mundo sabe que no mercado existe competição acirrada. Ela é uma consequência, e não um princípio, de sua estrutura organizacional, isto é, do respeito à propriedade privada que resulta na necessidade de se ajudar os outros para se ser ajudado (daí o equívoco de se definir o mercado primariamente pela concorrência, fenômeno que ocorre em todo tipo de ordenamento social e institucional).

A concorrência de mercado tem a mesma origem da concorrência da selva: a escassez. A diferença entre elas, contudo, é significativa: na selva, compete-se pelo consumo dos recursos disponíveis. No mercado, compete-se para oferecer o melhor ao resto da sociedade. O que é produzido não é o bastante para satisfazer plenamente a demanda de todos os consumidores (em outras palavras, as pessoas têm renda e tempo limitados para gastar). Por esse motivo, os consumidores têm que exercitar certa seletividade em seu consumo: seu dinheiro e seu tempo vão para aquilo que melhor satisfizer seus desejos. Além disso, os produtores (e lembrem-se: produtores e consumidores são as mesmas pessoas) não são oniscientes, e não sabem perfeitamente o que os consumidores querem; suas escolhas e decisões sempre envolvem uma aposta que pode dar errado.

Os que melhor se adequarem à demanda dos consumidores receberão destes os recursos necessários para sustentar sua atividade. Os menos eficientes receberão recursos insuficientes e precisarão encontrar outro meio de se sustentar; isto é, procurar outra maneira de servir aos demais.

Nesse processo de perdas e ganhos, ocorre que uma pessoa, que estava empenhada em servir às demandas dos demais de um modo específico pode perder os consumidores que julgava "possuir". É só pensar no ocaso da maioria dos técnicos de vitrola na virada dos anos 1980 para os 1990, ou dos funcionários de uma fábrica nacional cuja competição com empresas chinesas tornou obsoleta. Por mais sofrida que essa transição possa ser, o próprio envolvido, se tiver uma correta leitura do que se passa, concordará que seu desemprego temporário é benéfico: "Minha atividade não usa os recursos disponíveis para melhor servir às demais pessoas. Quero ser remunerado por efetivamente servir e ajudar os outros ou quero tirar deles meu sustento sem lhes oferecer algo equivalente em troca?". Esse é o dilema: o dilema entre pautar-se pela lei da cooperação mútua (o que eventualmente requer sacrifícios) e a tentação de impor a lei da selva, ou seja, de impor que os outros te sirvam sem lhes oferecer uma contrapartida.

Não fosse por esse aspecto difícil do processo de mercado (os prejuízos de quem não se adequa à demanda e portanto obriga mudanças dolorosas de percurso), estaríamos todos muito mais pobres. Imaginem um mundo em que a remuneração de cada um não tivesse nada a ver com o quanto essa pessoa contribui para a vida alheia. O aparente ganho de alguns (que teriam seus empregos garantidos independentemente da demanda) resultaria na perda de todos, já que a sociedade estaria globalmente mais pobre: as necessidades humanas não dariam mais a finalidade à atividade produtiva.

Inclusão natural

A seleção natural elimina os indivíduos menos aptos. A seleção do mercado, igualmente não planejada (embora, diferentemente da seleção natural, fruto de ações humanas), elimina apenas ideias erradas sobre como servir às demandas dos demais. Embora isso possa trazer algum sofrimento para os indivíduos que apostaram nessas ideias, ela é, no longo prazo, boa inclusive para eles: uma sociedade mais rica e com mais oportunidades de criação de valor é boa para todos e é a única capaz de sustentar mesmo os que têm menos a contribuir. Do ponto de vista dos indivíduos no mercado, faz mais sentido falar de inclusão natural. Um indivíduo bem-sucedido beneficia os demais, ou melhor: seu sucesso só ocorre porque ele os beneficia. E embora possa ser difícil competir com ele na exata atividade que ele desempenha, enquanto houver demandas humanas não atendidas haverá campo aberto para que mais pessoas trabalhem e ajudem a satisfazê-las (e quando não houver mais demandas humanas não atendidas também não haverá mais motivo para trabalhar ou procurar emprego).

São apenas a afluência e a produtividade que a lei do mercado proporciona que tornam viável que um indivíduo sustente a si mesmo durante um período de desemprego, ou que seus parentes e amigos possam sustentá-lo se necessário. Nesse sentido ,aliás, cumpre notar que, na sociedade de mercado, mesmo aqueles realmente incapazes de produzir e trocar com os demais (os muito doentes, muito idosos, seriamente deficientes etc.) podem ser sustentados. Na lei da selva seriam os primeiros na fila do descarte, sacrificados ao imperativo de sobrevivência do clã. Hitler estava coberto de razão ao apontar que a sociedade liberal que ele tanto odiava permitira a sobrevivência de inválidos, deficientes e "não aptos" em geral; não aptos — é preciso frisar o ponto —à lei da selva; no mundo capitalista liberal, sua sobrevivência não apresentava problema algum.

O mercado, assim, é a antisselva. Se na selva impera a inimizade e a seleção natural, no mercado vigora a cooperação universal e a criação de oportunidades até mesmo para os menos favorecidos. Na selva uma pessoa a mais é mais uma boca para alimentar; no mercado, é mais uma potencial criadora de valor. A selva é o consumo autônomo e voraz dos recursos escassos; o mercado é o uso dos mesmos recursos para a produção conjunta, e na qual o recurso mais valioso de todos se faz valer: a inteligência humana. Não há nada de "selvagem" no capitalismo; e é justamente sua destruição gradual que pode nos levar de volta à guerra de todos contra todos da lei da selva.

Joel Pinheiro da Fonseca é mestrando em filosofia, editor da revista Dicta&Contradicta .

terça-feira, 18 de setembro de 2012

O FOME ZERO DE OBAMA


O que do ponto de vista econômico parece um absurdo pode ser politicamente lógico e sensato, ao menos no sentido maquiavélico da coisa.
Obama, ao contrário do nosso ex-presidente, não encontrou uma massa de miseráveis pronta para ser alistada na sua clientela. Teve de fabricá-la.


Se os caros leitores compreenderam o meu artigo anterior ("A engenharia da desordem"), deve ter-lhes ocorrido, ao menos de raspão, a ideia de que o sr. Barack Hussein Obama talvez não estivesse fazendo puro jogo de cena quando, ao encontrar o sr. Lula em Washington D.C., exclamou: "Esse é o cara!"

O presidente americano prometeu imitar o Fome Zero, e não somente o fez como vem obtendo, desse empreendimento, resultados perfeitamente simétricos aos alcançados pelo seu colega brasileiro.

Nos últimos anos, a economia americana caiu do primeiro lugar para o sétimo na escala de competitividade do Fórum Econômico Mundial. O desemprego, que em 2008 não passava muito de 4%, já está acima de 8%, e a criação de novos empregos é cada vez mais lenta. Comparando números, o colunista Donald Lambro, do Washington Times, conclui que o desempenho do presente governo americano na área trabalhista é o pior desde a II Guerra Mundial.

Em compensação, Obama foi o recordista absoluto na distribuição de dinheiro do governo não só aos pobres como também aos ricos – incluindo um vistoso leque de empresas falidas por má administração e fraudes, em geral pertencentes a seus contribuintes de campanha. Para isso, sobrecarregou o Estado de mais dívidas do que todos os seus antecessores somados, desde George Washington.

É um fracasso colossal, dizem os analistas econômicos. Mas, os utilitaristas que me perdoem, a racionalidade econômica não é a motivação última dos atos humanos. O que do ponto de vista econômico parece um absurdo pode ser politicamente lógico e sensato, ao menos no sentido maquiavélico da coisa.

Um artigo excelente do comentarista Ira Stoll , feito no New York Sun (www.nysun.com/national/paradox-of-obama-emerges-with-the-danger-that/87978/) mostra que as melhores chances de sucesso do candidato democrata nas eleições de novembro repousam precisamente no descalabro da sua política trabalhista: na primeira gestão Obama, o número das pessoas que vivem de ajuda governamental começou a superar, pela primeira vez na história americana, o das que trabalham e pagam impostos.

Hoje são 46,7 milhões de americanos que recebem vale-alimentação, 8,7 milhões de estudantes bolsistas, mais 7,6 milhões de empregados estatais sindicalizados. Total: 63 milhões de obamistas compulsivos. Quatro milhões acima do número de votos obtidos por John McCain em 2008.

Será especulação psicótica, será "teoria da conspiração" suspeitar que houve alguma premeditação por trás de um fracasso tão benéfico à pessoa do seu autor? Não, quando se leva em conta o seguinte fato: o único emprego que Obama teve na vida, o único ramo de atividade no qual adquiriu alguma experiência, foi o de "organizador comunitário", empenhado na aplicação da estratégia Cloward-Piven. E essa estratégia consiste, de alto a baixo, na arte de fomentar o desastre econômico para tirar dele proveitos políticos.

Expliquei isso num artigo de 2009 publicado neste mesmo Diário do Comércio (www.olavodecarvalho.org/semana/090305dc.html). Que pode haver de tão inverossímil em supor que, na Presidência, o homem fez a única coisa que comprovadamente sabe fazer?

Aí reside também a diferença entre ele e o seu modelo brasileiro. Lula, para implantar o monopólio político da esquerda e corromper a sociedade inteira, teve de manter a economia funcionando razoavelmente e fazer o possível para cortejar o empresariado, dessensibilizando-o para tudo o que se passasse fora do círculo de seus interesses mais imediatos.

Obama, ao contrário do nosso ex-presidente, não encontrou uma massa de miseráveis pronta para ser alistada na sua clientela. Teve de fabricá-la – e não havia como fazer isso senão demolindo a economia, aumentando ao mesmo tempo o desemprego e a dívida pública para que esses dois monstros se alimentassem um do outro até à completa exaustão do organismo nacional.

Outra diferença é a posição dos EUA no cenário internacional, que tinha de ser corroída mediante cortes no orçamento militar e o favorecimento inicialmente discreto, depois explícito, às forças inimigas que se levantavam contra governos aliados ou neutros.

O assassinato do embaixador americano na Líbia, sincronizado com manifestações anti-americanas na Tunísia, no Iêmen, no Irã e no Egito (onde, para cúmulo, os marines que guardam a embaixada continuam proibidos de portar munição de verdade), é o símbolo condensado da lógica que orienta toda a política do governo Obama. Essa lógica resume-se na simples aplicação local do mandamento globalista: enfraquecer os Estados no plano internacional e fortalecê-los no plano interno.

Dito de outro modo: desarmá-los contra seus inimigos e armá-los contra suas próprias populações, de modo a fazer deles os cães de guarda, ao mesmo tempo dóceis e implacáveis, da nova ordem global. De sob as cascas dos velhos Leviatãs nacionais começa a erguer-se, majestosamente sinistro, o Leviatã planetário.

Nota: O desenlace sangrento da intromissão dos EUA na Líbia ajudou a grande mídia a abafar pelo menos uma notícia importante: o Instituto de Ciência e Tecnologia de Israel examinou a certidão de nascimento de Barack Hussein Obama divulgada pelo governo americano (ver https://usjf.net/2012/09/video-former-netanyahu-adviser-obama-birth-certificate-forged/?utm_source=USJF+List&utm_campaign=418932d804-RSS_EMAIL_CAMPAIGN&utm_medium=email) e confirmou que "é manifestamente falsa".

Por: Olavo de Carvalho Publicado no Diário do Comércio.

DE CIRCOS, FICÇÕES E REALIDADE


O CIRCO


Desde o início do julgamento do ‘mensalão’ denunciei-o como um espetáculo circense para, como na antiga Roma, desviar a atenção da população de seus reais problemas. Minha opinião não mudou com algumas vitórias dos gladiadores togados contra o outro time. Muito embora haja grandes diferenças entre o que sucedia na Roma das Sete Colinas com a nova Roma Planaltina. Na primeira, Cidade Eterna, berço de um dos maiores Impérios da Antiguidade e desde então Sé Católica, era a plebe que era enganada. Na atual, triste caricatura criada por um Presidente megalômano desatinado em conluio com um arquiteto comunista, cuja existência é absolutamente desnecessária, senão maléfica, são os letrados (sic) que assistem com mais atenção ao espetáculo, riem e aplaudem efusivamente o Gigante Núbio que quer abater todos os adversários, e apupam o Leão Polonês que luta com menos furor. Igualzinho aos antigos Romanos que se enfureciam quando o Imperador ou as Vestais levantavam os polegares, salvando os perdedores, pois queriam ver muito sangue. A plebe mesmo, além de enfrentar as mazelas do transporte público para ganhar minguados trocados que os togados faturam em alguns segundos do sua confortável “faina”, está interessada no Brasileirão – Flamengo cai ou não para a ‘segundona’? – na luta entre Carminha e Ritinha e o futuro do Tufão, do Max e do Jorginho ‘Batata’, e nos programas do Ratinho, do Huck e do Faustão.


A FICÇÃO 


Além deste circo começa a tomar corpo uma obra de ficção Hollywoodiana para aterrorizar a Humanidade como um todo, mas particularmente aos brasileiros: a invenção gerada pela ONU sem nenhuma evidência científica de uma futura falta d’água potável no mundo e a necessidade de proteger nosos ‘aquíferos’ dos “alienígenas”.


Há muitos anos, aficionado por ficção científica, assisti a um filme sobre um planeta nos confins do Universo onde a água estava acabando. Como eram povos altamente desenvolvidos possuíam avançada tecnologia interplanetária e mandaram naves gigantescas para procurar água em outros planetas. A Terra, obviamente foi um dos escolhidos. Naves enormes se postaram sobre o Atlântico e o Pacífico e sugavam toda água. Finalmente, os terráqueos conseguem ganhar a parada, comandados por aqueles heróis que sempre surgem.


Na falta de alienígenas de outros planetas, servem os do Norte deste aqui mesmo, despertando a obsessão antiamericana subjacente na mente da comunalha e infelizmente de nossos nacionalistas, militares e civis, como já expressei anteriormente. Pretende-se com esta desculpa impedir a decisão soberana do Paraguai de assinar convênio com os EUA permitindo a instalação de uma base no território paraguaio do Chaco.


Em 28 de agosto o Notícias Terra relatou: Analistas geopolíticos da América do Sul estão apreensivos com a situação do Paraguai, principalmente pela relação do país latino com os Estados Unidos. A intensificação de atividades rotuladas como "humanitárias" e de "cooperação" da embaixada americana em Assunção e a regularidade de visitas de militares ianques de alta patente ao país são dois dos principais motivos. Um professor (sic) argentino levantou a velha arenga nacionalisteira ao declarar que os EUA "têm interesse na manutenção de sua hegemonia na região, em detrimento de uma integração latino-americana e o estabelecimento da suposta base permitiria maior proximidade com os países sul-americanos e respostas imediatas na hipótese de confrontos, devido a sua localização geográfica estratégica.


A Embaixada Americana em Assunción revela que a pista foi concluída ainda no governo Stroessner e por paraguaios e nada tem a ver com apoio atual ao governo de Federico Franco. Que os EUA queiram vigiar de perto a Tríplice Fronteira, o narcotráfico e os grupos terroristas islâmicos que indubitavelmente atuam por lá, deveriam merecer agradecimentos dos três países, mas eis que surge a paranóia dos ‘aquíferos’, pois ali se encontra o Guarani. São invasores que pretendem roubar nossa água, como se dela precisassem: no Meio Oeste dos Estados Unidos situam-se a Grande Bacia Artesiana com 1.7 km2 e o aquífero Ogallala (452 mil m2) somando 2.152 km2 maiores do que a soma dos dois aquíferos brasileiros, o Guarani (1.2 km2) e do Alter do Chão (437 mil km2)=1.637 km2, sendo que o primeiro ainda é dividido com outros três países [i]! Além do que a própria Embaixada responde à pergunta que eu fiz: ao afirmar que os EUA não têm interesse no Aquífero, diz que não haveria meio possível de transportar tal quantidade de água. Os EUA não possuem naves gigantescas com tal capacidade!
A TRISTE REALIDADE DO PAÍS




Enquanto preocupam-se com as condenações de mensaleiros e acalentam uma guerra – suicida – contra os “invasores do norte”, a realidade é bem outra. A degeneração moral da agenda Fabiano-Marxista (no Brasil: tucano-petista) segue impávida. O País está infestado de vadias, vagabundas, gays e drogados de toda espécie só esperando que o projeto ONU-SOROS-FHC-GAVÍRIA de liberação das drogas seja aprovado. A “educação sexual” através do kit gay, iniciada nos anos FHC e aprofundada nos petistas é de uma criatividade destrutiva – se me permitem o paradoxo – imensa, como o terrívelEncontrando Bianca (Bianca é um travesti gay)[i]. Podem estar certos: a liberação da pedofilia virá a reboque através de um projeto, que já existe, de “direitos da criança à plena satisfação sexual”. Falta pouco para ser introduzido do já nefasto ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente). Num país de dinheiristas só se pensa na corrupção financeira – o Circo – e não na corrupção moral e da alma. Ora, deixa pra lá, põe o Dirceu na cadeia e ficaremos todos felizes! Como já dizia o poema de e. e. cummings:

Everybody happy?

WE-WE-WE

& to hell with the chappy

Who doesn’t agree

Do estado da economia, das greves incontroladas e das mentiras da PresidAnta escrevo outra hora. Por: Heitor de Paola


Para publicação no Jornal Inconfidência, Belo Horizonte, MG


EDUCAÇÃO NO BRASIL E NO PRIMEIRO MUNDO



O Brasil investe em educação um percentual do PIB de Primeiro Mundo e colhe um resultado de Terceiro. É dinheiro que falta? Não! É competência mesmo! Mas não se diga isso na era petista…



Ainda ontem, com o rosto — e, possivelmente, o pensamento — paralisado pelo botox, Carlos Giannazi, candidato à Prefeitura de São Paulo pelo PSOL (o partido em que Caetano & Chico vão votar no Rio), defendia, num debate, que o governo passe a investir 10% do PIB em educação… É uma boçalidade! As coisas são simples assim: esse dinheiro não existe. Se existisse, dada a atual estrutura, seria o mesmo que jogá-lo pela janela. Aliás, é bem provável que, nessa hipótese, ele fosse mais bem aproveitado.

O Brasil é a sétima economia do mundo e investe na área 5,7% do PIB. É muito dinheiro. Só que é mal aproveitado, e o resultado é pífio. Entre outras razões, há um permanente boicote a todo e qualquer esforço feito em favor da qualidade. Em São Paulo, o então governador José Serra instituiu um sistema de promoção de professores por mérito e de qualificação dos profissionais. A Apeoesp, comandada pelo PT, foi à greve. Opôs-se até mesmo à definição de um currículo mínimo para as escolas. Livros foram queimados em praça pública. Os esquerdopatas querem mais salário, mas recusam qualquer programa que avalie seu desempenho. Os prejudicados são os alunos.

Aí aparecem, então, as soluções miraculosas — as “chalitices” e “mercadantices” da vida, como “escola em tempo integral”, “escola da família”, “escola com tablet”… Só não se fala numa escola com professor capacitado e submetido a uma avaliação constante do seu trabalho, que premie a competência e puna a incompetência, como em qualquer área da vida. Os sindicatos, tomados por petistas e esquerdistas ainda piores, não deixam.

Pois bem. Reproduzo abaixo uma nota publicada na Exame.com. Em relação à porcentagem do PIB, o Brasil investe em educação mais do que muitos países superdesenvolvidos. Mas está lá atrás na fila da qualidade. Leiam.
*
Tramita no Congresso Nacional uma proposta para fazer o volume de recursos para a educação chegar a 10% do PIB nacional. Hoje, o Brasil investe 5,7% — um dos índices mais altos entre os 42 países membros da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a frente de Reino Unido, Canadá e Alemanha, por exemplo. Na semana passada, a organização lançou um relatório sobre os gastos em educação de várias nações. Investir um décimo de toda a riqueza produzida no país deixaria o Brasil em primeiro lugar no ranking, acima da Islândia, que investe assombrosos 7,8% do PIB em educação hoje.

Esse número considera, além dos investimentos nas instituições de ensino, gastos governamentais com bolsas e programas de apoio aos alunos. Apesar do investimento brasileiro ser próximo da média dos países da OCDE, o país se encontra somente em 53º lugar — de um total de 65 — no Pisa, um programa de avaliação da qualidade da educação da mesma organização.

Ou seja, maiores investimentos não necessariamente acompanham, na mesma proporção, uma melhora no desempenho dos estudantes. O Brasil é o 15º que mais investe o PIB na área na lista da OCDE. Os lanternas no ranking foram Indonésia (investimento de 3% do PIB), Índia (investimento de 3,5%), Japão (3,8%), Eslováquia (4,1%) e República Tcheca (4,4%).

Os investimentos em educação de 20 países


Por Reinaldo Azevedo