segunda-feira, 12 de maio de 2014

DIVIDIR E CONQUISTAR

Por que Vladimir Putin iria, propositalmente, soar o alarme enquanto posa de defensor dos valores “conservadores” e “tradicionais”? A ingenuidade dessa fraude deveria ser óbvia. Todos estão desorientados ao mesmo tempo.


Pedi recentemente a um amigo jornalista polonês que expusesse suas ideias sobre a atual crise que ocorre na Ucrânia. A resposta dele pode ser dividida em cinco partes:

(1) Os ucranianos estão lutando contra a versão corrupta do dito capitalismo russo; 

(2) A Rússia está tentando fazer parecer que a Ucrânia não é um Estado;

(3) Putin está reconstruindo o império da União Soviética e estendendo a influência de Moscou sobre setores econômicos específicos;

(4) O derradeiro objetivo de Moscou é expulsar completamente os Estados Unidos do território europeu usando uma nova ideologia antiamericana;

5) Enquanto isso, Moscou conta fortemente com a prontidão do Ocidente em se comprometer totalmente com o objetivo de preservar o acesso que possui ao mercado russo.

Há verdade no que diz meu colega polonês. O principal ponto dentre esses é a intenção de expulsar os Estados Unidos para fora da Europa. Esse era um objetivo soviético de antes de 1991 e continua imutável nos dias de hoje. Em parte, a ameaça de guerra na Ucrânia está sendo usada para produzir um racha na Europa; falar de sanções econômicas também tem o mesmo efeito. Enquanto alguns políticos priorizam o apoio à soberania ucraniana, como é o caso dos EUA e Grã-Bretanha, que estão obrigados pelo Memorando de Budapeste, outros políticos vêem como algo ridículo ter de sacrificar seus próprios interesses econômicos constituídos em prol de um país que esteve sob a guarda russa por séculos. Além disso, muitos estão chegando à conclusão que Washington é responsável por tumultuar as coisas na Ucrânia, e que os interesses europeus estão mais intimamente ligados aos da Rússia. Indiscutivelmente, esse é o objetivo imediato da tomada da Crimeia: dividir a Europa, dividir a OTAN, isolar a América da Europa, e demonstrar a necessidade que a Europa tem por aquilo que os oficiais russos chamam de “uma nova arquitetura de seguridade”.

Talvez o incidente mais danoso em se tratando das tentativas de Moscou de separar a América da Europa deu-se na publicação de uma conversação telefônica entre a secretária de Estado adjunta, Victoria Nuland, e o embaixador americano na Ucrânia, Geoffrey Pyatt, que ocorreu antes da queda do presidente ucraniano Yanukovych. Do ponto de vista moscovita, essa conversa entre Nuland e Pyatt caiu como uma luva. Ela dá a impressão que os oficiais americanos estão orquestrando a oposição ucraniana por debaixo dos panos. A seguir, um excerto da conversação entre Nuland e Pyatt:

Nuland: O que você tem em mente?

Pyatt: Penso que estamos na jogada. O caso de Klitschko é obviamente o que há de complicado aqui, especialmente após o anúncio dele como vice-primeiro-ministro. Além disso, você viu algumas das minhas observações sobre questões de uniões que existem agora, então estamos tentando fazer uma leitura rápida sobre onde ele está nessa coisa toda. Mas penso que a argumentação que usará na conversa com ele na próxima ligação telefônica que você fizer, terá de ser a mesma que você usou com Yats [Arseniy Yatseniuk] e estou grato que você colocou-o exatamente no lugar ao qual ele mais se adequa nessa situação. E também estou satisfeito com o que ele disse em resposta.

Nuland: Que bom. Então... penso que Klitsch não deveria aceitar o cargo no governo. É desnecessário. Não é uma boa ideia.

Pyatt: Sim, também acho, digo... em termos de ele não aceitar entrar no jogo governamental. Deixe-o ficar de fora e fazer sua lição de casa política e coisas do tipo. Estou apenas pensado em termos do tipo de processo que vem por aí e como nós queremos manter os democratas moderados unidos. O problema será Tyahnybok e seus comparsas, e eu estou certo de que isso é parte do que Yanukovych tem calculado nisso tudo.

Dado o poder e influência das estruturas da KGB na ex-República Soviética da Ucrânia, é improvável que esses inocentes diplomatas americanos tenham alguma ideia do que estão fazendo. Eles certamente não consideraram que seus telefones estavam grampeados. Na verdade, seus próprios sussurros são de conhecimentos do alto escalão em Moscou. Criaturas desamparadas a esse ponto não orquestram a derrubada de presidentes. Os oficiais da inteligência ucraniana declararam publicamente a conclusão de que o presidente Yanukovych não fugiu voluntariamente para a Rússia; Ele foi, na verdade, raptado pela GRU (Serviço de inteligência militar russo) e levado à Rússia como prisioneiro/boneco de ventríloquo.

Se isso parecer absurdo, será apenas porque o leitor não está familiarizado com o método político russo, isto é, provocação. Se a Revolução Ucraniana for uma provocação russa empreendida com o objetivo de rachar a OTAN, então podemos esperar encontrar evidências de que os russos criaram eles mesmos a Revolução Ucraniana. Devemos então esperar por um racha na OTAN, pois os russos jamais empreenderiam uma provocação a menos que eles a considerassem como algo muito provável de ser bem sucedido. Então não deveria nos surpreender quando a secretária de Estado adjunta Nuland conversa com o embaixador Pyatt (na conversa gravada) sobre correr por fora da União Europeia com a ONU. Ao mencionar isso, Nuland diz: “Então seria muito bom – penso eu – juntar isso e ter a ONU para ajudar e, sabe, foda-se a UE.”

Eu me desculparia por repetir a obscenidade de Nuland, mas estamos falando da declaração de uma oficial do alto escalão do Departamento de Estado dos EUA; como exemplo, isso evidencia uma crescente divergência de opiniões entre oficiais americanos e europeus em relação à crise ucraniana. Nuland estava obviamente irritada com os oficiais da UE, pois usar esse tipo de linguagem, mesmo que em particular, não pode significar que estamos falando de uma relação saudável. Os oficiais da inteligência russa que (muito provavelmente) gravaram as falas de Nuland estão parabenizando uns aos outros.

Retornando aos pensamentos do meu amigo polonês, ele ofereceu um aviso geral contra os auto-nomeadosexperts em assuntos russos. Esse aviso naturalmente diria respeito também a mim, embora eu não posso reivindicar ser expert no assunto. Segundo meu amigo, qualquer um que fale sobre um confronto militar com a Rússia está jogando o jogo russo. “Esses experts são provocadores”, disse meu amigo. “O clamor deles passa a ser o maná do céu para a propaganda russa, que faz todos os esforços para retratar o Ocidente como um lugar cheio de belicistas e cowboys irresponsáveis”. Esses provocadores podem estar tentando vender livros ou tentando escrever um blog – como eu estou tentando agora. No fim, eles estão no jogo da propaganda russa. É o que o Kremlin quer, pois se o Ocidente começar a demonizar a Rússia como país, o povo russo se alinhará aos chefões do Kremlin. Nesse caso, a ditadura na Rússia será reforçada em vez de enfraquecida.

“A imprensa ocidental nunca apoiou de verdade a verdadeira oposição russa”, observou meu amigo. Isso também é verdadeiro no caso da Ucrânia, onde os ativistas pela liberdade lutaram uma batalha solitária. Até mesmo Estados supostamente livres como a Polônia e a República Tcheca não estão totalmente livres das forças neocomunistas pró-Rússia (que estão em sua maioria no controle da economia, burocracia e do governo). Evidentemente, a mídia ocidental não dá a mínima para tudo isso. O Ocidente só exportou entretenimento estúpido e barato para a Polônia e para outras “ex” repúblicas soviéticas e ignorou o contínuo combate levado a cabo por Moscou a fim de manter existente um contingente controlado. Assim fomos enganados acerca da queda do comunismo. Não derrotamos o Império Soviético. Como afirmou meu amigo, “vale a pena lembrar que seja o que a Ucrânia tenha alcançado, foi contra a vontade política dos experts e políticos ocidentais”. Ele alerta também que “a Rússia não irá empreender uma guerra contra a Europa ou os Estados Unidos. Ela está apenas explorando a pobreza intelectual e a fraqueza estratégica... ou está contando com a inclinação do Ocidente em sempre ser transigente”.

Não estou certo do porquê ele diz que “a Rússia não irá empreender uma guerra...”. Tal guerra parece perfeitamente inevitável ao meu ver – e eu não sou nem um provocador e nem um belicista. Não obstante, é alarmante que, de repente, os idiotas úteis da Rússia no Ocidente estejam tomando uma posição mais beligerante contra a Rússia do que os conservadores. Sem dúvidas, em parte o que motiva a esquerda é a preocupação que eles têm com os direitos homossexuais. Ou será que somos cínicos o bastante para acreditar que todo o assunto homossexual é apenas uma falácia distrativa que serve como arma para dividir a direita em dois lados hostis um ao outro? Não é essa razão que faz com que conservadores econômicos e conservadores religiosos se digladiem e deixem de trabalhar juntos como fizeram outrora? E se considerarmos o quão vitoriosamente a esquerda faliu a América e como essa falência facilita o desarmamento americano, não deveríamos considerar todo o enfoque político da esquerda e da direita como vantajosos a Moscou?

Se alguém perceber o verdadeiro significado da campanha pelos direitos homossexuais ou a campanha para acabar com o aquecimento global ou a luta do feminismo como qualquer coisa além de um orquestrado ato de sabotagem contra o potencial de defesa do Ocidente, então esse alguém não entendeu nada e é um imbecil quando se trata de estratégia. Além do mais, a razão de toda essa sabotagem – que foi originalmente vislumbrada pelos comunistas – não é apenas enganação pela enganação. Quando o ato intermediário é enfraquecer a capacidade militar, significa que o fim é empreender uma guerra. E quando se empreende uma guerra, um lado quer que o outro seja culpado pela eclosão imediata de hostilidades. 

Anteriormente o Kremlin queria que todos os considerassem inofensivos. Por que Vladimir Putin iria, propositalmente, soar o alarme enquanto posa de defensor dos valores “conservadores” e “tradicionais”? A ingenuidade dessa fraude deveria ser óbvia. Todos estão desorientados ao mesmo tempo. Reiterando, é evidente que a estratégia russa é dividir a OTAN assim como o movimento conservador. O que importa se a esquerda de repente resolve demonizar Putin? Deixem que façam! Por favor! Ainda assim essa estratégia deve envolver um perigo muito real. Quando voltamos ao último outono e lembramos do desejo do presidente Obama em empenhar força militar na Síria e como isso foi evitado por meio da relutância dos nossos almirantes e legisladores, nós temos uma melhor noção do que a Rússia quer provocar agora. Eles querem que nós sejamos os agressores, para assim justificar um tipo de resposta armada. Novamente, isso sugere um desejo de empreender guerra.

Há uma lei de consequências não-intencionais operando na história que faz da guerra algo inevitável. De acordo com os sólidos princípios estratégicos, os estadistas deveriam empreender uma guerra apenas quando eles estivessem certos da vitória e que ela derramasse o mínimo possível de sangue. Ainda assim, a história nos oferece exemplos de guerras onde dezenas de milhões morreram em meio à ruína universal e o colapso econômico.

Apenas se admitirmos que os homens erram nos cálculos e as situações saem facilmente de controle é que podemos explicar os fatos históricos. Nesse contexto, não são os suecos que estão intencionalmente provocando um racha na Europa ao alertar para as preparações bélicas russas contra a Suécia. Nessa conjuntura, todo aquele que der o alerta para as intenções militares russas não são provocadores. Relatórios oficiais das preparações russas para invadir a Suécia envolvem a válida observação de um fenômeno efetivamente real, pois os estrategistas russos estão sempre sonhando com a guerra, se preparando para ela e acreditando nela. A Rússia atacou e engoliu seus vizinhos várias vezes. Por qual outra forma a Rússia teria se tornado o maior país da Terra? Certamente isso não se deu por meio de um processo pacífico. Francamente, quem pensar assim é um ignorante em história. O perigo russo não é imaginário e a ênfase que os russos deram no passado na guerra de informações não significa que eles estejam negligenciando os armamentos cinéticos. O Kremlin ataca seus inimigos em todos os níveis, usando todos os meios possíveis: economia, informação, religião, sociologia, cultura e até mesmo a parapsicologia. Mas sempre, e acima de tudo, os russos acreditam que o poder militar é a fundação de tudo. Sem poder militar, a guerra de informação, tão cara a eles, não passa de uma série de travessuras infantis. Apenas quando apoiada pelo poder militar é que a guerra de informações pode ser verdadeiramente efetiva, pois não se pode usá-la como uma multiplicadora de forças a menos que você tenha forças aptas a se multiplicar.

Por: Jeffrey Nyquist http://jrnyquist.com
Tradução: Leonildo Trombela Junior

domingo, 11 de maio de 2014

A ESCRAVIDÃO DA MULHER

A maior vítima do mundo moderno – fruto das revoluções Industrial e Francesa – foi indubitavelmente a mulher. A nova sociedade burguesa, separando o local de trabalho do de moradia, não apenas forçou as mulheres a uma dupla jornada, como as tornou duplamente prisioneiras. A casa, não mais um local de produção como nas eras agrárias anteriores, tornou-se uma gaiola onde se condena as mulheres a passar a vida espanando, varrendo e cuidando de um espaço ínfimo e fechado. Ao mesmo tempo, as que foram forçadas ao trabalho externo – predominantemente nas classes baixas – passaram a ter de abandonar os filhos e o lar para ajudar o marido a levar pão para casa.


Esta situação insustentável durou da virada do século 19 a meados do século passado, gerando o feminismo, solução errada para um problema real. Mulheres de classe média, desinteressadas por homens ao ponto de adotar como lema “a mulher precisa de um homem tanto quanto um peixe de uma bicicleta”, as primeiras líderes feministas esforçaram-se não por reconstruir um espaço para o feminino no mundo, mas por masculinizar a mulher.

Sua tacanha visão burguesa, limitada ao exíguo lar de classe média, fê-las ver com inveja a dupla escravidão da mulher de classe baixa e instar suas seguidoras a lançar-se ao famigerado “mercado de trabalho”, adotando, elas também, a dupla jornada.

Conseguiram. Hoje não apenas se espera que a mulher pobre seja forçada a um emprego tão pouco recompensador quanto operar o caixa de um supermercado, como se faz o mesmo com a mulher de classe média. Desde cedo ela é incentivada a procurar uma profissão rentável, a tornar-se uma profissional independente.

Ora, é tão trágico que a mulher seja independente como que o homem o seja. Um depende do outro. A interdependência do matrimônio, já ferida pela sociedade burguesa ao arrancar o homem do lar para ir ganhar o seu pão longe dele, sofreu um golpe ainda mais feroz. E este golpe é ainda mais doloroso, por ir contra as lealdades naturais da mulher. Um homem suporta, a contragosto, separar-se da família por todo o dia. Para uma mulher, abandonar seus filhos é negar sua razão de ser.

Urge aproveitar as oportunidades geradas pela sociedade pós-industrial para recriar a forma natural de produção, em que cada lar é uma sociedade não apenas de vida, como de produção e comércio. Maridos e mulheres, trabalhando juntos e educando os filhos na sua profissão, formam uma microssociedade muito mais feliz e realmente independente que qualquer delírio feminista.
Por: Carlos Ramalhete é professor. Publicado no jornal Gazeta do Povo





O GRANDE TRIPÉ E O PEQUENO

O Brasil não vai bem, a julgar pelos indicadores macroeconômicos, ainda mais quando se considera o prometido, ou o potencial. O crescimento é medíocre (e não há crises para servir como álibi), a inflação está perigosamente próxima de uma região muito escorregadia onde atolaram e afundaram alguns países vizinhos, e as contas externas e fiscais permanecem flagrantemente fora do lugar. Há problemas setoriais talvez explosivos (como no setor de energia, petróleo e também na mobilidade urbana), a produtividade estagnou há anos e a confiança do investidor (nacional e estrangeiro) atingiu os piores níveis em muitos anos.


Quem duvida que o governo perdeu a mão em matéria de macroeconomia?

A ideia que existe uma “matriz econômica alternativa”, como a crença na vida em outros planetas, costuma enclausurar-se num pequeno círculo de crentes e muito raramente é transportada para o terreno prático, onde invariavelmente fracassa. Muitos presidentes, por excesso de malícia ou ingenuidade, caíram nessa conversa, e aqui não foi diferente. A administração Dilma Rousseff experimentou o seu choque heterodoxo, mas não inovou em matéria macroeconômica, nem mesmo em contabilidade pública: os erros são todos velhos, assim como os efeitos especiais. Não há “nova matriz macroeconômica”, e a convicção das autoridades ao proclamá-la cria apenas uma ilusão de legitimidade. Como o juiz de futebol que marca pênalti inexistente, e antecipando-se às vaias, pune o defensor com cartão amarelo ou vermelho, fingindo uma certeza que todos sabem que ele não tem.

Mas por que tanta insistência em desafiar os consensos internacionais em macroeconomia?

Não me parece que esta ousadia tenha nascido das autoridades econômicas, cujas inclinações heterodoxas são bem conhecidas, exatamente como suas limitações. Os grandes pensadores heterodoxos exalam independência e descompromisso, atributos louváveis, mas que os afastam do encargo de formular soluções e de assumir responsabilidades. Talvez por isso mesmo a inflação brasileira nunca tenha tido um rosto, um defensor, alguém para responder perguntas simples sobre por que os preços sobem.

A “Nova Matriz” não pode ser vista senão como uma criatura do Planalto, e seus áulicos não escondem o intuito de antagonizar os “economistas do mercado financeiro”, e também todos os outros (ressalvadas as espécies ameaçadas), e também o FMI, as agências de risco, os especuladores em geral e, de lambuja, os conselhos do ex-presidente Lula, que conhece os economistas alternativos de outros carnavais.

É muito perigosa a ideia de uma política econômica, ainda mais uma “Nova Matriz”, cujo proprietário é o Palácio. Os riscos envolvidos são os costumeiramente discutidos no debate sobre independência do Banco Central. É ótimo quando o presidente pode atribuir à Autoridade Monetária certas políticas antipáticas das quais ele gostaria de se afastar. É péssimo quando o presidente se torna o dono das políticas, sobretudo quando elas não funcionam, e isso vale também para a política fiscal. Por isso mesmo, os presidentes costumam escalar simultaneamente ministros ortodoxos e outros nem tanto para delegar responsabilidades e ônus. Quanto mais centralização, mais a liderança se arrisca, e mais amarrada permanece a determinado curso.

Mas a boa notícia é que as instituições são robustas, o que limita os estragos e facilita sua reversão. Não há maiores dificuldades para o país retornar à racionalidade macroeconômica, normalmente identificada com o “tripé”: superávit primário, metas de inflação e câmbio flutuante. Não será necessária nenhuma emenda constitucional, nem mobilizações nacionais, apenas decisões administrativas do presidente e das autoridades competentes. Nada remotamente comparável com o que tínhamos em 1993.

É claro, todavia, que o país deve ambicionar muito mais. Não vamos esquecer que o “tripé” era uma versão simplificada para um trio de posturas filosóficas de maior alcance para a economia: responsabilidade fiscal, moeda sadia e cidadania global.

Este é o “grande tripé” do qual a versão mais conhecida é apenas uma simplificação tática e de fácil execução. Há muito mais em responsabilidade fiscal que simplesmente um número para o superávit primário, que pode ser facilmente manipulado. A sustentabilidade fiscal e financeira do governo envolve múltiplas questões atinentes ao equilíbrio entre obrigações do Estado, a capacidade de tributar e o endividamento público. O governo escapa de discutir transparentemente esses temas ao fingir que não existem problemas, e não há um pingo de dúvida que o Estado está onerado demais, que o sistema tributário precisa ser reformado e que contribuintes e consumidores estão insatisfeitos. É preciso retomar essas agendas.

A ideia de “moeda sadia” transcende a meta de inflação, pois o papel do Banco Central vai bem além das decisões sobre taxas de juros: inclui o Estado e o custo do crédito, a solidez do sistema bancário e a atuação de bancos públicos. Tampouco as relações do Brasil com o resto do mundo são definidas unicamente pela política cambial que, como já deve ter ficado claro, não tapa buracos nas estradas nem resolve as mazelas da competitividade nacional. As políticas industrial e de comércio exterior, assim como a diplomacia econômica, interagem com a regulamentação e atuação do Banco Central no mercado de câmbio a fim de definir os modos de inserção do Brasil no mundo globalizado. Infelizmente, retrocedemos na direção de ideias velhas sobre autossuficiência e nos afastamos das oportunidades oferecidas pela economia global.

Esse “tripé ampliado” traz consigo, naturalmente, muitas agendas positivas que permanecem engavetadas há muitos anos. Já faz mais de uma década sem reformas e sem imaginação, e a colocação do país nas comparações internacionais de competitividade e de qualidade do ambiente de negócios permanece em níveis sofríveis. Em vez de enfrentar os problemas, as autoridades desprezam essas métricas e se afastam do debate sobre a qualidade da gestão pública e sobre a meritocracia em geral.

Como esperar que o crescimento brasileiro fosse se acelerar sem nenhum esforço de reforma, e com uma administração macroeconômica incapaz de executar nem a versão pequena do “tripé”?
Por: Gustavo Franco Economista e ex-presidente do Banco Central Publicado no Jornal O Globo



O BRASIL ESTÁ SE ISOLANDO DO MUNDO


Não teremos crescimento nas exportações compatível com o crescimento da Ásia.


Se você estava pensando em prestar o vestibular em Relações Internacionais, leia este artigo.

Se você está pensando em trabalhar com Comércio Exterior, importar ou exportar produtos, leia também.

O centro geopolítico do mundo mudou.

O centro do mundo não será mais Londres e Inglaterra, o novo mapa mundi é este que ilustra o artigo.

O novo centro geopolítico serão a China e Ásia. China, inclusive, significa centro.

Agora notem a proximidade da China com a Índia, Japão, Coreia, Austrália, Rússia e Europa.

No círculo amarelo reside 50% da população do mundo. Isto mesmo.

A densidade populacional desta área é de 200 hab. por km quadrado. A do Brasil é de 17 hab.

Agora veja a distância entre o Brasil e 50% da população do mundo.

Hoje estamos longe, muito longe do mundo.

Estamos onde está a Nova Zelândia nos mapas de hoje. Você já foi para a Nova Zelândia? Estava nos seus planos ir para lá algum dia?

Alguém do Brasil faz comércio internacional com a Nova Zelândia?

Estes 50% do mundo está crescendo 7% ao ano per capita, e o Brasil está crescendo 1% ao ano per capita, ou menos.

Estaremos geograficamente muito longe de onde ocorrerá 80% do crescimento do mundo nos próximos 30 anos.

Nesta nova configuração geoeconômica, nossa indústria teria que ter a melhor qualidade total do mundo, porque trocar produtos defeituosos a 15.000 km de distância seria caríssimo e inviável.

Pense também no problema causado pela nossa política pública cultural que é contra falar inglês e mandarim.

Nossa política pública é ensinar francês e espanhol.

Enquanto o Brasil continuar a buscar intercâmbio tecnológico e científico com Uruguai, Paraguai, Venezuela e Argentina, ficaremos ainda mais isolados tecnologicamente, dependendo das pesquisas científicas internas feitas pela USP, Kroton, Uniban, Anhanguera e das Universidades do Mercosul.

Nos próximos anos:

Não teremos crescimento nas exportações compatível com o crescimento da Ásia.

Nosso avanço tecnológico e científico dependerá dos nossos cientistas e da Academia Brasileira de Ciência, que é muito menos atuante no Brasil do que a Academia Brasileira de Letras.

Nosso avanço em técnicas administrativas, gerenciais, controle e auditoria, cibernética, dependerá das pesquisas e financiamento da FAPESP, IPEA e Ministérios da Ciência e Tecnologia na área de Administração e gestão, que hoje é praticamente zero.

Nosso comércio com a China dependerá de avanços em Refrigeração, Logística, Rapidez de Transporte, Telecomunicação com a Ásia, e intercâmbio de estudantes, hoje quase que inexistentes.

Algo para se pensar.

See more at: http://blog.kanitz.com.br/o-brasil-esta-se-isolando-mundo/#sthash.Gt7H4cZk.dpuf

sábado, 10 de maio de 2014

COBERTURA DE GELO MARÍTIMO NA ANTÁRTIDA BATE NOVOS RECORDES

A cobertura de gelo no Ártico segue abaixo da média histórica, mas cientistas estão sim estupefatos com o que vem ocorrendo no Polo Sul, onde o gelo marítimo bate recorde atrás de recorde. Em abril, a cobertura na Antártida alcançou 9 milhões de quilômetros quadrados, batendo a maior marca até então de abril, em 2008, por 320 mil quilômetros quadrados. Os dados são do norte-americano NSIDC. A cobertura de gelo marítimo no Polo Sul no mês passado aumentou, em média, impressionantes 112 mil quilômetros quadrados por dia e o crescimento seguia em ritmo acelerado também agora em maio. 





Onde o gelo supera mais os padrões históricos hoje é no Leste do Mar de Wedeel (no Sul do Atlântico) e numa enorme faixa costeira do continente gelado ao Sul da Austrália e do Oceano Índico. Houve ainda incremento na cobertura agora em abril, segundo o NSIDC, nos mares de Bellingshausen e Amundsen, duas das poucas áreas que tiveram menos gelo no mês de março. 




No geral, a cobertura de gelo marítimo na Antártida e ao seu redor está acima da média por 16 meses seguidos. A causa para este contínuo aumento das anomalias positivas de gelo no Hemisfério Sul nos últimos anos é motivo de grande discussão ainda na comunidade científica internacional, mas a maioria das teses passa pelo regime de vento que se observa na região. Por: Por: Professor Eugenio Hackbart Maio, 09-05-2014 | 11:13 | Categoria: Clima 



PORTUGAL, 40 ANOS DEPOIS DA REVOLUÇÃO


“Em poucas décadas estaremos reduzidos à indigência, ou seja, à caridade de outras nações, pelo que é ridículo continuar a falar de independência nacional. Para uma nação que estava a caminho de se transformar numa Suíça, o golpe de Estado foi o princípio do fim. Resta o sol, o turismo e o servilismo de bandeja, a pobreza crônica e a emigração em massa.”

“Veremos alçados ao poder analfabetos, meninos mimados, escroques de toda a espécie que conhecemos de longa data. A maioria não servia para criados de quarto e chegam a presidentes de câmara, deputados, administradores, ministros e até presidentes de República.”

Não sei se seríamos hoje uma Suíça; é impossível dizer o que seríamos hoje se não tivéssemos sido o que fomos ontem. O que podemos dizer, com alguma segurança, não é “o que seríamos hoje”, mas “o que não seríamos hoje” — porque quando as nossas utopias fracassam, deparamo-nos com a realidade por detrás da nossa construção utópica da realidade.

Mas, na medida em que só podemos explicar o nosso fracasso por intermédio dos conceitos que utilizamos no passado para a construção das estruturas utópicas falhadas, segue-se que nunca chegamos a ter uma imagem do mundo que pudéssemos responsabilizar pelo nosso fracasso — porque mesmo as críticas feitas à utopia utilizam os conceitos da utopia.

A única forma de tentar sair do labirinto do fracasso utópico é tentar sair para fora da utopia; ignorá-la completamente. Ou então, ignorar as elites responsáveis pela utopia.

Com exceção da “transformação em uma espécie de Suíça”, Marcello Caetano acertou: vemos hoje analfabetos funcionais alçados ao Poder, com cursos homologados ao domingo ou tirados em apenas um semestre; meninos mimados, que nunca trabalharam a sério, em lugares de primeiro-ministro e ministros; deputados escroques; e até um presidente da república que não fez o liceu e não sabe escrever corretamente.

“Resta o sol, o turismo e o servilismo de bandeja, a pobreza crônica e a emigração em massa”.

A elite política histriônica do pós-25 de Abril

Estamos a ser governados por amadores, gente para quem é mais importante aparecer na televisão do que defender e prestigiar Portugal. Ou então por profissionais da traição à pátria.

Para esta classe política (porque não se trata apenas deste ministro da Defesa, do Partido Social Democrata), Portugal é um meio, e não um fim em si mesmo — como ficou demonstrado desde que começaram a existir as eleições para o parlamento europeu, e sobretudo quando Durão Barroso foi nomeado para Bruxelas. Ser ministro de um governo português já não é importante nem valioso senão na medida em que é um meio de se chegar a um quadro do FMI (Vítor Gaspar), ou a deputado no parlamento europeu, ou um quadro do BCE [Banco Central Europeu] (Vítor Constâncio), etc..

Por isso, não me interessa saber o que significou o 25 de Abril de 1974, mas antes o que significa o 25 de Abril de hoje; ou seja, interessa saber as consequências actualizadas do 25 de Abril de 1974, e não já as causas que foram bastamente objecto de análise histórica. O conteúdo do vídeo em epígrafe é o exemplo do que é o 25 de Abril de hoje.

E reparem como o ministro tentou justificar o injustificável: em um país decente, em que a classe política concebesse esse país como um fim em si mesmo, um ministro teria o cuidado de não se submeter a esta humilhação, por um lado, e por outro lado, mesmo que um caso fortuito desta índole acontecesse, um ministro digno sairia calado, remetendo quaisquer declarações para o seu adido de imprensa.
A nossa classe política perdeu a vergonha, porque já não considera que seja necessário ter vergonha quando se trata de se justificar perante o povo português (e aqui incluo todos os partidos com assento no parlamento). Para a nossa classe política, o povo português é uma merda!; é isto que significa, hoje, o 25 de Abril de 1974!

Por: Orlando Braga edita o blog Perspectivas - http://espectivas.wordpress.com/

O ENFRAQUECIMENTO POLÍTICO DO PT

Não adianta anular voto e nem esbravejar contra a realidade nua e crua. Ela é o que é. A direita não tem nome algum. Nem o centro político.


A possibilidade de alternância do poder, tirando o PT e adiando qualquer tirania, é precisamente o racha no PMDB.

Observar a cena política brasileira nesse ano eleitoral tem sido surpreendente. Ninguém, ao virar do Ano Novo, poderia afirmar com alguma chance de sucesso que poderia haver alternância de poder. Certo: tirar socialistas radicais e pôr no lugar os socialistas fabianos não parece grande coisa à primeira vista. Resta a pergunta: qual a alternativa? A direita não tem candidato, nem mesmo o centro, representado pelo PMDB, tem candidato. Mais uma eleição de triunfo total da esquerda se desenha.

Não obstante, penso que a alternância será muito positiva. Primeiro, porque será a garantia de que o processo democrático vai continuar, sem que a tentação golpista do PT possa se consumar. Eu sempre me lembro que Hitler, até 1933, era quase inofensivo. Depois que empolgou o poder terminou em genocídio. O mesmo aconteceu nas experiências socialistas em toda parte, a mesma que o PT que fazer por aqui, ao abrigo e na liderança do Foro de São Paulo. Então não é possível descansar enquanto a opção do puro e simples continuísmo for a maior possibilidade. Nenhum brasileiro informado e responsável poderá querer tal coisa.

A alternativa viável é Aécio Neves, um legítimo representante das oligarquias regionais que, pragmaticamente, pratica discurso à esquerda. Mas bem vimos as suas últimas declarações, muito corajosas, falando que a realidade nacional poderá exigir medidas duras. Aécio, como membro da elite tradicional, não quer ver o circo pegar fogo. Provavelmente faria um governo a meio do caminho do que faria o seu avô e o que fez Fernando Henrique Cardoso.

A agenda contra-revolucionaria seria retardada um pouco se ele ganhasse. Acho que Aécio daria prosseguimento a ela, ainda que em ritmo mais lento. Mesmo que pessoalmente queira, não conseguiria segurar os socialistas do PSDB e seus aliados na marcha da revolução. E não tem como segurar o STF, que tomou o freio nos dentes e desandou a legislar. Viveremos mais dez anos, pelo menos, de revolução fabiana com Aécio. Rever o processo exige que o centro e a direita se unam para produzir um candidato viável diante dos socialistas. Essa realidade precisará ser construída.

Não penso que chorar o leite derramado resolva alguma coisa. Não adianta anular voto e nem esbravejar contra a realidade nua e crua. Ela é o que é. A direita não tem nome algum. Nem o centro político. Penso ser do interesse de todos os brasileiros a alternância agora, mesmo que entre pares socialistas. O totalitarismo ameaçará a nação se houver continuísmo.

A possibilidade de alternância do poder, tirando o PT e adiando qualquer tirania, é precisamente o racha no PMDB. No Rio de Janeiro, terceiro maior colégio eleitoral, já foi consumado. Na Bahia, quarto maior colégio, também. Minas Gerais tem o candidato da terra, que naturalmente poderá ser o mais votado. Em Pernambuco igualmente, com Eduardo Campos tirando votos do campo petista. Esses movimentos enfraqueceram para valer a candidatura oficial. Nisso se funda o que estou aqui dizendo. O eleitorado paulista, o maior colégio eleitoral, sempre deu seu voto contra o PT, em maioria.

Pior do que a queda de popularidade de Dilma Rousseff em todos os institutos de pesquisa é o racha nas elites, para o PT. Vimos que o empresariado está quase na oposição, porque oposição não pode ser. Mas é evidente que rachou. O reflexo está nas decisões do PMDB, de não apoiar o PT em colégios importantes. Fica cada dia mais evidente a desintegração das instituições no Brasil. E também da economia, posto que os petistas, ao contrário da gente do PSDB, aposta no desenvolvimentismo, não dando bola para os perigos da inflação e lutando convictamente para engrandecer ainda mais o Estado todo-poderoso. A economia brasileira está ficando inviável e isso custará muito em termos de crescimento econômico e desordem na atividade produtiva. A situação já está de difícil correção e o empresariado acordou para o drama. O jeito é tirar o PT.

De qualquer modo, tudo indica enfraquecimento do PT diante do eleitorado. Essa é a maior notícia política dos últimos tempos.
Por: Nivaldo Cordeiro Do site: http://nivaldocordeiro.net/


sexta-feira, 9 de maio de 2014

PEDAGOGIA INSPIRADA NO FEMINISMO TRANSFORMA O SER HUMANO EM ZUMBI

Alicerçado numa experiência fracassada de mudança de sexo que levou um jovem ao suicídio, o conceito de gênero não passa de uma plástica existencial, que transforma mulheres e homens em escravos do próprio corpo.


Em 2009, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica encomendou ao Datafolha uma pesquisa com cirurgiões plásticos de todo o Brasil para traçar um diagnóstico desse tipo de procedimento médico. Na época, estimou-se que eram realizadas anualmente 629 mil cirurgias plásticas no Brasil, das quais 73% eram cirurgias estéticas e 27%, cirurgias reparadoras.

Entre as cirurgias estéticas realizadas a campeã foi o aumento de mama (21%) seguido de lipoaspiração (20%), abdômen (15%) e redução de mama (12%). A calvície – em que pese assolar cerca de metade das cabeças masculinas a partir dos 50 anos – só motivou 1% de cirurgias. É que 88% das cirurgias estéticas são feitas em mulheres; todavia, 82% dos cirurgiões plásticos são homens contra apenas 18% de cirurgiãs. Esses dados mostram que a ciência atualizou o mito de Adão e Eva: já não é Deus quem cria a mulher a par­tir da costela do homem – é ela pró­pria quem se recria à imagem e semelhança de seus múltiplos espelhos, reduzindo-se a mera massa de modelar nas mãos dos machos da espécie.

Hoje, quando o número de cirurgias plásticas cresce de modo acelerado e já chega à casa de 1 milhão por ano, colocando o Brasil atrás apenas dos Estados Unidos, um fenômeno ainda mais assustador vem ocorrendo – o crescimento vertiginoso das cirurgias estéticas entre adolescentes de 14 a 18 anos. Entre 2008 e 2012, enquanto o número de cirurgias estéticas entre adultos cresceu 38% (o que já é ex­pre­ssivo), entre adolescentes o au­mento foi alarmante – 141% no mes­mo período. Os adolescentes de 14 a 18 anos já representam 10% do total de cirurgias estéticas realizadas no País. Além de estragarem os ca­be­los precocemente, transformando-os em “parangolés” de Hélio Oi­ti­cica, as meninas, mal nascem os seios, e já começam a torneá-los com silicone segundo a última mo­da ditada pelas heroínas artificiais do cinema, da televisão ou da música pop. Isso para não falar no excesso de tatuagens e outros adornos tribais, que também são uma forma radical de intervenção no corpo.

Tudo isso tende a piorar se for aprovado o novo Plano Nacional de Educação (PNE) tal como deseja a Câmara dos Deputados. Contra­riando a própria Constituição, que só reconhece a existência dos sexos biologicamente dados, o PNE 2011-2020 pretende incorporar o conceito de gênero, oriundo das teorias feministas, que nega a realidade carnal do sexo biológico e sobre ela impõe uma sexualidade retórica, feita de palavra, desejo e desajuste. Co­mo afirmei no artigo da semana pas­sada, “não se trata mais de combater a possível discriminação de um aluno homossexual, mas de promover a ‘igualdade de gênero’, o que significa igualar ao sexo biológico as mais variadas fantasias de desajustados sexuais, perseguindo o que os ideólogos chamam pejorativamente de ‘heteronormatividade’, isto é, o sexo homem-com-mulher, papai-e-mamãe, que deve ser discriminado na escola em nome das relações homem-com-homem, mulher-com-mulher, trans-com-todos etc.”

É a ditadura gay – que já tomou conta da saúde pública – chegando também às escolas. Sim, o conceito de gênero, que nega radicalmente a biologia do sexo e não vê diferença substancial entre os aparelhos re­pro­dutores do homem e da mulher, de­corre da submissão do feminismo à cultura gay. Com o novo Pla­no Nacional de Educação, a máxima de Simone de Beauvoir – “ninguém nasce mulher, torna-se mu­lher” – será ampliada e ensinada o­ficialmente nas escolas como verdade científica: ninguém nasce ho­mem nem mulher, e cada criança, à revelia de seu próprio sexo, deverá ter o direito de escolher o gênero que quiser, assumindo-se gay, lésbica, travesti, transgênero ou tudo isso junto. É a plástica existencial, a subversão do próprio conceito de ser humano, que deixa de ser uma realidade ontológica para se tornar uma metamorfose ambulante, sujeita aos baixos instintos do desejo.

Inversão das normas morais

Mas, verdade seja dita, em termos de conteúdo, o Plano Nacio­nal de Educação nem chega a ser novidade. O perigo que ele representa é porque, sendo lei, suas aberrações se tornam obrigatórias. Não apenas no campo sexual, mas também na crítica recorrente a toda a sociedade vigente, desde suas estruturas econômicas e sociais até suas estruturas mentais. Já na questão do gênero, o plano apenas aprofunda e legaliza o que já vem sendo praticado nas escolas, como a distribuição de camisinhas para meninas de 10 anos, num óbvio incentivo ao sexo precoce. Desde o surgimento da aids, doença que se revelou uma verdadeira bênção para o movimento gay, a teoria de gênero se tornou hegemônica nas universidades e, por meio dela, se impôs na vida social. Um exemplo é o propalado conceito de homofobia, uma falaciosa invenção acadêmica, que finge combater a discriminação da minoria homossexual (o que seria justo), mas, na verdade, persegue e criminaliza a maioria heterossexual (o que é insano).

Quem não se lembra da “polêmica do banheiro” protagonizada pelo cartunista Laerte? Laerte, que já foi casado, tem dois filhos, namora uma mulher desde 2004 e se define, ao mesmo tempo, como travesti e bissexual, assume, “por vezes”, como ele explica, uma aparência feminina. Como se vê, sexo para ele é não é biologia, mas capricho. E é em nome desse capricho que ele, um senhor de 61 anos vestido de mulher, se sente no direito de usar o banheiro feminino. E o faz impunemente. Segundo ele próprio, as pessoas se espantam, mas se calam. A única vez que alguém reclamou foi em janeiro de 2012, quando ele entrou no banheiro feminino de uma pizzaria em São Paulo e se deparou com uma mãe e sua filha de 10 anos. Em nome da educação e proteção de sua filha, a mãe reclamou para o dono da pizzaria que, gentilmente, pediu para Laerte não usar mais o banheiro feminino. Foi o suficiente para que o cartunista se transformasse em vítima de discriminação em toda a imprensa, ganhando fartos e nobres espaços para sua causa.

Em outros tempos, quando as coisas ainda não estavam de ponta-cabeça, Laerte seria levado a uma delegacia de polícia para responder pelo seu ato e, provavelmente, seria demitido da “Folha de S. Paulo”, por denegrir o nome da empresa onde trabalha com sua atitude desrespeitosa. Hoje, é a mãe de família quem tem de explicar por que não queria um homem dentro do banheiro em que se encontrava sua filha de 10 anos. Tudo porque o sexo biológico já não conta e se um homem enxerga a si mesmo como mulher, todos são obrigados a vê-lo dessa forma mesmo quando ele invade a privacidade do banheiro feminino portando seu intacto órgão de macho. Hoje, diversas Secretarias de Educação do País, por orientação do próprio MEC, já franqueiam os banheiros femininos aos homens travestis, fingindo não ver que essa prática é profundamente machista e desrespeita os direitos das meninas, pois, na prática, o oposto nunca ocorre e não se vê lésbica reivindicando o direito de usar o banheiro masculino.

Renegando a biologia do sexo

Como se tornou possível essa inversão radical das normas morais? Por meio do insidioso trabalho ideológico das universidades, que se intensificou após a Segunda Guerra Mundial, sobretudo a partir da década de 60, quando o desconstrucionismo, representado por pensadores como Michel Foucault (1924-1984) e Jacques Derrida (1930-2004), invadiu os Estados Unidos e praticamente recolonizou o pensamento de países como o Brasil, que respira, ou melhor, se asfixia nessa densa atmosfera intelectual; densa não pela profundidade do seu conteúdo, mas pela irracionalidade inexpugnável de sua prosa, que nega os fatos na história, a essência na filosofia e a clareza na linguagem para se locupletar nas interpretações, nos particularismos e na obscuridade. Não é à toa que o marco na disseminação do desconstrucionismo no mundo foi a palestra de Derrida na Johns Hopkins University, nos Estados Unidos, em 21 de outubro de 1966, quando ele leu o ensaio “A estrutura, o signo e o jogo no discurso das ciências humanas”, que se tornou o último capítulo de seu livro “A Escritura e a Diferença”. Foi também na Universidade Johns Hopkins que o moderno conceito de “gênero” se fez carne e habitou a biologia, através de experiências com crianças.

Já na década de 50, o psicólogo John Money (1921-2006) e seus colegas da Universidade John Hopkins iniciaram um estudo pioneiro com pacientes hermafroditas, que apresentavam variadas combinações de ambos os sexos, como um ovário e um pênis, testículos e vagina e assim por diante. A partir de suas pesquisas, Money passou a defender a ambiguidade do hermafroditismo como uma espécie de princípio formador de ambos os sexos, que seriam moldados a partir da ação dos hormônios nos primeiros meses da vida intrauterina do bebê. Para ele, só no fim do quarto mês de gestação, quando os hormônios completam a modelagem da genitália externa (pênis ou vagina) é que o sexo começa de fato a ser definido, pois é essa aparência externa que vai prescrever o tipo de tratamento que a criança receberá dos pais e da sociedade, gerando expectativas de comportamento conforme o bebê é identificado como menino ou menina. É o que John Money chama de “papéis sexuais”, título do livro que escreveu em parceria com Patricia Tucker, publicado no Brasil em 1981 pela Editora Brasiliense.

Com isso, Money inaugurou o conceito de “gênero”, empregado por ele em meados da década de 50. Ele acreditava que, como a sexualidade humana possui uma ambiguidade de origem, era possível recriar o sexo das pessoas, através educação. O “papel sexual” imposto pela sociedade desde o nascimento da criança é que seria determinante para moldar o sexo e não a biologia. E a oportunidade para provar essa sua tese surgiu em 1967, quando David Reimer, um menino gêmeo de 8 meses, por um erro médico, teve o pênis cauterizado num processo de circuncisão. Os pais de David, mal saídos da adolescência, foram aconselhados a procurar John Money, considerado o maior especialista do mundo em identidade de gênero. Money recomendou uma cirurgia de mudança de sexo para a criança, que ganharia uma vagina artificial e um corpo feminizado por hormônios, podendo, segundo ele, levar uma vida sexual plenamente normal e satisfatória, bastando que fosse educado como menina.

O fato de David Reimer ser gêmeo idêntico mostrou-se ideal para a experiência de Money – se o menino se tornasse mulher a partir da educação dada por seus pais, mesmo tendo a mesma bagagem genética do irmão, estaria dada a prova de que o sexo é uma construção social. A experiência, realizada quando o menino tinha 22 meses, aparentemente foi muito bem-sucedida. O pequeno David ganhou uma vagina e passou a se chamar Brenda, que combinava com Brian, nome de seu irmão gêmeo. Quando li, há muitos anos, o livro de John Money em parceria com Patricia Tucker, eu não fazia ideia de que sua experiência tinha sido um fracasso. Apesar de ter sido criado como menina, usando vestidinhos cheios de babados, David nunca aceitou o papel de Bren­da. Aos 2 anos de idade, rasgava seus vestidos, repudiava as bonecas e cobiçava os carrinhos e armas de brinquedo do irmão. Na escola, seu jeito masculino era notado pelos colegas e a própria “Brenda” queixou-se aos pais que se sentia como um me­ni­no, apesar de não fazer a me­nor ideia do que lhe acontecera quando bebê, pois a cirurgia de mudança de sexo, por recomendação de John Money, foi mantida pelos pais em total sigilo.

O fracasso do experimento de gênero

Sentindo-se culpada por ter transformado o filho em menina, a mãe de David tentou suicídio. Seu pai se entregou ao alcoolismo e ele próprio passou a usar drogas eventualmente, além de apresentar sintomas de depressão. Quando David, que vivia como Brenda, fez 14 anos, um psiquiatra local convenceu a família a revelar a ele toda a verdade. “De repente, tudo fez sentido”, contou David Reimer ao jornalista e escritor canadense John Colapinto, que, em 2000, publicou um livro sobre o caso. David encontrou uma razão para a maneira como agia e se deu conta de que não estava louco, que não era nenhum maluco a se revoltar contra sua condição de mulher. Ao descobrir que nascera homem, David “iniciou o doloroso processo de conversão de volta ao seu sexo biológico”, conta Colapinto. Ele fez uma dupla mastectomia para remover os seios produzidos por terapias hormonais e, por meio de várias cirurgias, envolvendo enxertos e próteses de plástico, ele ganhou um pênis artificial com testículos. Além disso, tinha de tomar injeções regulares de testosterona. Deprimido com o tratamento e imaginando que nunca fosse se casar, ele tentou suicídio duas vezes antes dos 20 anos, numa delas depois que seu irmão morreu com uma overdose de antidepressivos.

Depois de voltar a ser homem, David acabou se casando e viveu com sua esposa durante 14 anos. Mas, segundo John Colapinto, era um marido difícil, devido às crises de depressão e aos ataques de fúria. Em 5 de maio de 2004, três dias depois de sua esposa ter sugerido que se separassem por um tempo, David Reimer se suicidou, pondo fim ao mito da completa separação entre sexo biológico e papéis sexuais, que John Money, agindo como um demiurgo, tentou forjar.

Money estava tão convicto de suas teses que, mesmo com todos os problemas enfrentados por David, continuou colhendo os louros de sua experiência na academia e na imprensa, tanto que foi capa da revista “Time” e incluiu, num de seus livros, um capítulo inteiro sobre o caso de sua jovem cobaia. Em 1985, quando duas crianças tiveram os pênis cauterizados por um erro num cirurgia de circuncisão, num caso semelhante ao de David Reimer, uma delas, que teve o pênis totalmente queimado, foi submetida a uma cirurgia de mudança de sexo, tornando-se “Baby Doe”. O psicólogo que recomendou a cirurgia foi John Money, apesar do fracasso de seu caso anterior.

É claro que não se pode atribuir o suicídio de David Reimer exclusivamente à mudança de sexo. O fato de ter perdido o pênis ainda bebê, provavelmente afetaria sua sexualidade, especialmente a partir da adolescência, quando estivesse em fase de autoafirmação. E a desagregação de sua família, inclusive a morte do irmão, pode ter agravado o seu quadro psicológico. Mas também é provável que o caminho escolhido por seus pais – sob a influência negativa de John Money – tenha sido a matriz de seu fracasso. Uma cirurgia de mudança de sexo para compensar o pênis perdido não é enfrentar o problema, mas fugir dele. E revela uma fragilidade emocional de seus próprios pais, que se entregaram ao suposto poder da medicina para operar milagres, quando deveriam ter ajudado o filho a crescer sublimando a falta do pênis. Na Idade Média, o filósofo Pedro Abelardo foi castrado pelos parentes da jovem Heloísa, a quem desonrara para os padrões da época. Como não havia um John Money em seu tempo, em vez de mudar de sexo, ele mudou de vida, entregando-se ainda mais à filosofia, um mecanismo de compensação que se mostra a olho nu até para leigos.

O ser humano transformado em zumbi

Esse é o grande problema do conceito de gênero que se quer impor a toda a sociedade a partir da escola. Ele é fruto de uma cultura materialista, que não reconhece o sofrimento como uma dimensão inerente à vida e acredita que a felicidade é bem externo ao indivíduo, que cabe à sociedade prover através de leis. Um exemplo são os homossexuais que conquistaram o direito de mudar de sexo de graça, via SUS. Depois da cirurgia, eles continuam tendo acompanhamento psicológico durante anos, pois já houve casos de suicídio de transexuais mesmo depois da mudança de sexo. Ora, já que a mudança de sexo não é garantia alguma de felicidade (afinal, o sexo oposto que o transexual busca é tão cheio de problemas quando o seu sexo de origem), por que não se render ao bom senso e aceitar ajuda psicológica não para trocar de sexo mas para se conformar com o sexo de nascimento? Esse inconformismo com os fatos da natureza transforma o homem em cobaia da ciência. Vivemos tempos pré-nazistas, em que a deificação do corpo aniquila o que há de humano nele.

Quem duvida, leia a revista “Cult” de novembro do ano passado, que traz um dossiê sobre a filósofa feminista Judith Butler, assumidamente lésbica e autora de obras consagradas nas universidades, entre elas “Problemas de Gênero: Feminismo e Subversão da Identidade”, publicado em 1990 e editado em 23 países, entre os quais o Brasil. Simone de Beauvoir (1908-1986), ao dizer que “ninguém nasce mulher, torna-se mulher”, negou a realidade do sexo biológico e antecipou o conceito de gênero que viria a ser sustentado falaciosamente pelas pesquisas de John Money. Agora, Judith Butler, aprofundando o desconstrucionismo de Michel Foucault, quer ir além da diferença entre sexo e gênero. “A ideia fundamental da pensadora é de que o discurso habita o corpo e que, de certo modo, faz esse corpo, confunde-se com ele”, explica a filósofa Marcia Tiburi, em seu ensaio sobre Butler na “Cult”. “Por isso, a diferença entre sexo e gênero não seria mais o caminho para a luta feminista. Mas o respeito aos corpos cuja liberdade depende, em última instância, de serem livres do discurso que os constitui”, acrescenta.

O que vem a ser um corpo construído pelo discurso? E o que são corpos livres do discurso que os constitui? Devem ser zumbis sem cabeça, que abdicam de seu estatuto humano, nesse novo dualismo feminista que subverte Descartes – em vez de a mente reger o corpo, o corpo é que rege a mente. É o que se depreende de outra entrevista da revista “Cult”, de março último, com a professora e doutora em Comunicação pela UFRJ, Ivana Bentes. Depois de dizer que os homens “continuam em pânico com a autonomia das mulheres”, Ivana Bentes, também discípula de Foucault, afirma: “Um dia sexo vai ser modalidade esportiva, e prostituição (masculina e feminina) serviço e profissão de utilidade pública”. E adianta qual é o modelo de mulher: “Admiro as meninas do funk que ressignificaram o feminismo nas favelas, ao fazerem a crônica sexual da periferia de forma explícita, como Tati Quebra Barraco, que considero uma Leila Diniz dos novos tempos. Há os que pensam que, ao se colocarem como protagonistas da cena sexual, as meninas do funk só ocupam o lugar de poder dos homens. Na verdade, é um discurso radical de autonomia e de liberdade, que, vindo das mulheres, subvertendo o sentido de ‘cachorras’ e ‘popuzudas’ coloca o preconceito e o machismo de ponta-cabeça”.

A afirmação dessa doutora está longe de ser isolada, em que pese ser uma absoluta negação da realidade. Há artigos e teses louvando o funk e enaltecendo a liberdade sexual de suas meninas, sem levar em conta o preço dessa suposta liberdade. Como afirma o psicólogo canadense Steven Pinker, em seu livro “A Tábula Rasa”, a negação da natureza humana, por consequência da própria realidade, se tornou a “religião secular da vida intelectual moderna”. Quem quiser ver como as meninas do funk colocam o machismo de ponta-cabeça, como acredita Ivana Bentes em sua alucinação ideológica, basta ir ao Complexo de Bangu nos finais de semana. Lá, como em qualquer presídio do País, há milhares de “cachorras” esperando na fila para serem tratadas, de fato, como cadelas, servindo de repasto para o macho despejar sua libido na vagina sempre disponível – inclusive para servir de receptáculo das drogas transportadas para dentro da cadeia, até que a “cachorra” seja presa e o bandido a substitua na visita íntima seguinte por outra mulher qualquer; afinal, o corpo liberto da razão não tem satisfações a dar – só instintos a satisfazer. 
Por: José Maria e Silva é sociólogo e jornalista.  Publicado no Jornal Opção.

quinta-feira, 8 de maio de 2014

SÓ EXISTE ECONOMIA CAPITALISTA

BRASIL OCUPA ANTEPENÚLTIMA POSIÇÃO EM RANKING INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO

O Brasil aparece na 38.ª posição entre 40 países analisados no The Learning Curve (Curva do Aprendizado, em inglês), realizado pela The Economist Intelligence Unit (EIU) e Pearson Internacional. Em relação ao estudo anterior, de 2012, o País subiu uma colocação, apesar de ter piorado seu desempenho no índice.

O levantamento da EIU e da Person considera diferentes avaliações, relacionando-as com a produtividade do país. O índice leva em conta habilidades cognitivas e de desempenho escolar a partir do cruzamento de indicadores da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE): Programa Internacional de Avaliação dos Alunos (Pisa), Tendências Internacionais nos Estudos de Matemática e Ciência (Timms) e avaliações do Progresso no Estudo Internacional de Alfabetização e Leitura (Pirls). Também são usados dados educacionais de alfabetização e taxas de aprovação.

No estudo deste ano, o Brasil passou o México no ranking, porque aquele país teve um recuo ainda maior no índice. O último lugar continua ocupado pela Indonésia. As primeiras posições trazem novidades, com nações asiáticas, como Coreia do Sul e Japão, tomando o lugar da Finlândia, que havia muitos anos figurava na liderança da maioria das avaliações.

“O sucesso desses países destaca a importância de ter objetivos claros para o sistema educacional e uma forte cultura de responsabilidade na prestação de contas”, afirma o relatório.

Qualidade. Para Michael Barber, chefe de Educação da Pearson, os governos de todo o mundo estão sob pressão para melhorar a aprendizagem. “Isso é cada vez mais importante para o sucesso das pessoas”, disse.
O relatório ressalta a ligação estatística entre o tempo médio gasto na escola por um estudante de um país e a produtividade dos trabalhadores. Aponta ainda que é imprescindível a qualidade da formação básica, mas a retenção de habilidades depende da continuidade da aprendizagem ao longo da vida adulta.

A professora Maria Helena Guimarães de Castro, presidente da Fundação Seade, afirma que o Brasil tem resultados muito positivos na inclusão dos últimos 25 anos, mas que o desafio agora é a qualidade. “O essencial está no ensino fundamental, com professores estimulados e bem formados”, diz ela, que foi consultora do relatório. “A produtividade do Brasil é muito baixa e precisamos avançar. Mas é claro que esse não é o único sentido da educação.”

Para o presidente da Pearson no Brasil, Giovanni Giovannelli, o diagnóstico também pode ajudar os gestores por mostrar as práticas que funcionam no mundo. “Tem quase 200 países nas Nações Unidas e só esses 40 têm essa medição. Só isso é em si um fato positivo para o Brasil”, diz ele.


POSIÇÃO 2014 PAÍSES Z-SCORE POSIÇÃO 2012 MUDANÇA NO SCORE 2014 / 2012
1 COREIA 1.30 1 0.07
2 JAPÃO 1.03 2 0.14
3 CINGAPURA 0.99 2 0.15
4 HONG KONG 0.96 -1 0.05
5 FINLÂNDIA 0.92 -4 -0.34
6 REINO UNIDO 0.67 0 0.07
7 CANADÁ 0.60 3 0.05
8 HOLANDA 0.58 -1 -0.01
9 IRLANDA 0.51 2 -0.02
10 POLÔNIA 0.50 4 0.08
11 DINAMARCA 0.46 1 -0.04
12 ALEMANHA 0.41 3 0.00
13 RÚSSIA 0.40 7 0.14
14 ESTADOS UNIDOS 0.39 3 0.04
15 AUSTRÁLIA 0.38 -2 -0.08
16 NOVA ZELÂNDIA 0.35 -8 -0.22
17 ISRAEL 0.30 12 0.45
18 BÉLGICA 0.28 -2 -0.07
19 REPÚBLICA TCHECA 0.27 3 0.07
20 SUÍÇA 0.25 -11 -0.30
21 NORUEGA 0.21 5 0.10
22 HUNGRIA 0.17 -4 -0.16
23 FRANÇA 0.17 2 0.04
24 SUÉCIA 0.17 -3 -0.06
25 ITÁLIA 0.11 -1 -0.03
26 ÁUSTRIA 0.10 -3 -0.05
27 ESLOVÁQUIA 0.09 -8 -0.23
28 PORTUGAL 0.04 -1 0.03
29 ESPANHA -0.08 -1 0.01
30 BULGÁRIA -0.26 0 -0.03
31 ROMÊNIA -0.44 1 0.16
32 CHILE -0.79 1 -0.13
33 GRÉCIA -0.86 -2 -0.55
34 TURQUIA -0.94 0 0.30
35 TAILÂNDIA -1.16 2 0.30
36 COLÔMBIA -1.25 0 0.21
37 ARGENTINA -1.49 -2 -0.09
38 BRASIL -1.73 1 -0.08
39 MÉXICO -1.76 -1 -0.16
40 INDONÉSIA -1.84 0 0.19


Nota: As pontuações do Índice são representadas pelo Z-Score (pontuação Z), que indica quantas divergências de padrão uma observação está acima ou abaixo da média. O processo de normalizar todos os valores no Índice com o Z-Score permite uma comparação direta dos desempenhos dos países em todos os indicadores. Note que os Z-Scores listados são específicos à sua respectiva versão no Índice e seus países. Ao fazer comparações de países individuais nas versões do Índice, é importante focar na colocação do país no ranking e não na pontuação do Z-Score. FONTE: : The Economist Intelligence Unit

**********************
Análise:

Países que tratam educação como assunto estratégico colhem desenvolvimento econômico

Por Ilona Becskeházy, consultora em educação

O projeto “A Curva de Aprendizado”, que apresenta agora seu segundo relatório, organiza dados complexos, obtidos de fontes diversas, de forma a potencializar seu uso informativo, além de permitir a comparação entre cenários e resultados educacionais de cerca de um quarto dos países do mundo. Entre eles, o Brasil. As conclusões que o projeto vem apresentando, assim como as informações que o compõem, não são desconhecidas por quem se interessa pelas políticas educacionais, mas têm permanecido ao largo dos desenhos das intervenções propostas para o setor em nosso País.

O relatório tem o diferencial de analisar a educação levando em conta o contexto socioeconômico de cada país, que guarda relações tanto de causa como de efeito de sistemas educacionais competentes ou incompetentes. Os que trataram o tema da educação como assunto estratégico e implementaram, por décadas, reformas estruturantes, além de fazer investimentos em recursos humanos e materiais para garantir patamares altos de exigência a todos os seus alunos, colhem as recompensas de maior desenvolvimento econômico e bem estar individual. Os que não fizeram, simplesmente não colheram. Entre eles, o Brasil.

O responsável pela elaboração do relatório menciona o interesse de Ministros da Educação em saber como melhorar seus sistemas educativos. Entre eles, não está o Brasil. Por aqui, desdenhamos o que se aprendeu nos processos de estruturação educacional em países que hoje são industrializados porque nosso desenvolvimento prescindiu da educação. A nação se satisfez com o consumo baseado na exploração de riquezas naturais e não cobrou a distribuição do conhecimento. Escolhemos parâmetros medíocres e soluções paliativas para que ninguém se sinta incomodado.

Perspectivas de mudança? Basta ler o que vai proposto no Plano Nacional de Educação que será votado em breve, para se perceber que mantemos a prática de deixar como está para ver como fica.
COM MARINA AZAREDO Publicado no Estadão

A CLASSE DOS "SUPERTRABALHADORES": UM DILEMA PARA OS MARXISTAS


“O trabalho afasta de nós três grandes males: o tédio, o vício e a pobreza.” (Voltaire)

Uma grande reportagem no GLOBO de hoje fala da classe dos“supertrabalhadores”, aquela turma bem preparada e que trabalha horas e horas em altos cargos executivos. Diz a matéria:

Eles estudam mais, ganham mais e trabalham mais. Esses “supertrabalhadores” formam uma classe nativa do século XXI, formada por pessoas bem remuneradas e com formação de alto nível. São indivíduos que dedicam mais horas a suas carreiras do que os menos abastados e chegam a preferir o tempo no escritório ao lazer. O fenômeno foi apresentado numa pesquisa da Universidade de Oxford, na Inglaterra. Divulgado ontem, o estudo mostra que, até a década de 1960, homens mais instruídos ficavam menos horas diárias nos seus empregos que trabalhadores braçais. Atualmente, porém, quanto maior o nível de instrução, maior o tempo no trabalho. O mesmo ocorreria com mulheres mais instruídas, de forma ainda mais incisiva.

“O século XXI inverteu a relação educação/lazer, com os mais bem educados, homens e mulheres, trabalhando, em geral, uma parte muito maior do dia do que aqueles com nível médio de educação, que, por sua vez, fazem mais do que aqueles com menos escolaridade”, afirma a pesquisa “Post-industrious society: Why work time will not disappear for our grandchildren” (“Sociedade pós-industrial: Por que o tempo de trabalho não vai desaparecer para os nossos netos”, em tradução livre).

Esses dados não deixam de ser um dilema para os marxistas, ainda presos em uma mentalidade de luta de classes totalmente ultrapassada e antiquada. Patrões seriam exploradores e trabalhadores seriam explorados por essa ótica marxista. Mas onde entrariam esses “supertrabalhadores” que recebem muitas vezes salários enormes, sem com isso deixar de ser assalariados, ou seja, não sendo os “donos dos meios de produção”? São exploradores ou explorados?

Parte da explicação para tanto trabalho é que esse mercado extremamente qualificado é bastante competitivo. Atuei no mercado financeiro por vários anos e sei bem como é isso. Não existe nada parecido com a mentalidade de “bater ponto”, de cumprir um horário determinado, de se desligar para curtir os momentos de lazer. O vizinho ficará até mais tarde, e poderá ser o próximo promovido se entregar resultado. A meritocracia é plena, o que exige contínuo esforço dos envolvidos.

Outra explicação é simplesmente o fato de que muitos desses trabalhadores adoram o que fazem. Marxistas achavam que o socialismo iria liberar os trabalhadores para outras funções mais agradáveis, como a pesca ou a filosofia. O trabalho, associado à labuta fabril, era visto como um fardo degradante a ser superado. O que os marxistas modernos precisam enfrentar é esse fato de que muitos desses trabalhadores gostam de seus trabalhos.

Cheguei a escrever no meu antigo blog um texto chamado “Eu fui explorado!”, expondo esse dilema para os marxistas. Escrevi:

Trabalhei por 6 anos para uma empresa que exige bastante dos seus empregados, objetivando manter sua eficiência, tão necessária para sua própria sobrevivência e conseqüente sobrevivência dos empregos que gera. Trabalhei várias horas por dia, acumulei meses e meses de férias não aproveitadas, deixei de gozar de feriados etc. Não havia uma arma apontada para a minha cabeça para tanto. Era uma escolha pessoal. Como tratava-se de uma troca voluntária, era mutuamente benéfica por definição, caso contrário, bastava uma das partes cancelar o trato. Eu queria aquilo! Considerava que era bom para mim, vantajoso para meu futuro.

Mas um esquerdista diria que não, que eu não sei do que falo, que não tenho a menor idéia do que é bom para mim. Ele iria impedir minha “exploração”, afirmando que é um absurdo trabalhar tantas horas por dia, ou deixar de sair de férias. Usaria o aparato estatal e sindical para garantir minhas “conquistas” e “direitos”, direitos estes que eu gostaria de abrir mão mas não posso.

Agora que sou escritor e blogueiro, continuo um “workaholic”, escrevendo vários textos inclusive em feriados e muitas vezes até quase de madrugada. Ninguém me cobra isso. Faço o que gosto, o que ajuda muito. Certa vez li que o segredo da vida era achar alguém que pagasse para você fazer aquilo que se tivesse dinheiro pagaria para fazer. Há algo mais triste do que jovens ingressando no mercado de trabalho e já pensando no que vão fazer na aposentadoria?

Entendo que não será tarefa fácil para a maioria, encontrar uma ocupação produtiva e ao mesmo tempo satisfatória, mas eis um dilema para a esquerda em geral e marxistas em particular: muitos trabalhadores trabalham com tanto afinco porque gostam do que fazem, e claro, desejam ser bem remunerados por seu esforço e mérito. O aumento da remuneração é parte da explicação também:

Já a Universidade de Oxford sugere que, entre os fatores que podem ter influenciado este aumento na jornada dos mais instruídos, estão os rendimentos elevados, que tornaram o trabalho mais atraente em relação ao tempo de lazer. O crescimento é consequência também de uma mudança na ideologia ligada ao lazer. O tempo dedicado ao entretenimento pessoal já foi considerado um símbolo de poder social no século XIX, mas, hoje, segundo o estudo, muitos enxergam isto até mesmo como sinal de preguiça ou desemprego.

Domenico De Masi e seu “ócio criativo” perderam charme na cultura moderna. Talvez seja o reflexo de uma herança calvinista ainda, que valoriza o trabalho, ao contrário do que faziam os ibéricos católicos. Quando Mauá entregou a pá de jacarandá para D. Pedro II em uma cerimônia, simbolizando o ato de trabalhar, foi um grande constrangimento, e o imperador teria ficado com aquilo entalado na garganta por anos, segundo o biógrafo de Mauá, Jorge Caldeira. A ética do trabalho ainda não pegou muito por aqui, nessas terras tropicais…

O trabalho intelectual é mais desafiador e estimulante, e a verdadeira criação de riqueza vem do cérebro, de nossa mente, não de nossos braços. Eis mais um dilema para os marxistas, que ainda vivem reféns da crença absurda de que é o trabalho físico que produz riqueza para uma sociedade. Diz a reportagem:

Além disso, economistas dizem que quanto melhor a educação, mais distante esses indivíduos ficam de tarefas fisicamente pesadas. O trabalho, desta forma, teria se tornado mais satisfatório tanto intelectual quanto emocionalmente. Com isso, eles acabam sentindo menos necessidade do período de folga.

A filósofa russa Ayn Rand colocou em um de seus personagens a seguinte mensagem:

“Olhe para um gerador de eletricidade e ouse dizer que ele foi criado pelo esforço muscular de criaturas irracionais. Tente plantar um grão de trigo sem os conhecimentos que lhe foram legados pelos homens que foram os primeiros a plantar trigo. Tente obter alimentos usando apenas movimentos físicos, e descobrirá que a mente do homem é a origem de todos os produtos e de toda a riqueza que já houve na terra.”

Vários socialistas sonharam com o dia em que as máquinas substituiriam os homens e estes poderiam, então, viver apenas para o lazer. Tal utopia conquistou gente da estatura de um Oscar Wilde, que escreveu, em A alma do homem sob o socialismo:

O fato é que a civilização exige escravos. Nisso os gregos estiveram muito certos. A menos que haja escravos para fazer o trabalho odioso, horrível e desinteressante, a cultura e a contemplação tornam-se quase impossíveis. A escravidão humana é injusta, arriscada e desmoralizante. Da escravidão mecânica, da escravidão da máquina, depende o futuro do mundo. [...] Haverá grandes acumuladores de energia em cada cidade, em cada residência se preciso, e essa energia o homem converterá em calor, luz ou movimento, conforme suas necessidades. 

Hoje, de fato, as máquinas facilitaram ou substituíram inúmeros trabalhos braçais, e graças à evolução capitalista diversos tipos de ofício foram aposentados. Mas isso não jogou milhões de pessoas apenas no ócio contemplativo ou nas artes, como esperavam os utópicos, e sim em novos desafios intelectuais e tecnológicos, novos ofícios criados pelo próprio progresso, surgindo essa classe de “supertrabalhadores”.

A tendência, à medida que o país se desenvolva com o capitalismo, é ele depender mais de serviços e menos de agricultura e indústria. O capitalismo, portanto, libera um contingente expressivo de gente para funções mais estimulantes e prazerosas, é o grande aliado dos trabalhadores.

Não precisamos de sindicatos impondo com a ajuda do governo a redução da jornada de trabalho para combater a “exploração” dos capitalistas; precisamos de mais capitalismo e livre mercado, de uma ética calvinista que valorize o trabalho, e do investimento em qualificação, para que cada vez mais gente possa investir seu tempo naquilo que realmente gosta, aumentando assim a produtividade da economia e a satisfação geral. O futuro não está em trabalhar cada vez menos, e sim em trabalhar cada vez mais com aquilo que desejamos.

Por: Rodrigo Constantino  Do site: http://veja.abril.com.br/blog/rodrigo-constantino/


quarta-feira, 7 de maio de 2014

VISÃO HISTÓRICA

"Mr. Gorbachev, open this gate. Mr. Gorbachev, tear down this wall!"


Em 1989, houve um acontecimento que mudou a história recente da humanidade: a queda do muro de Berlim. O que aconteceu, na prática, foi o suposto desaparecimento do comunismo real diante daquilo que parecia uma vitória do capitalismo ou uma vitória de dois homens específicos: o então presidente dos EUA, Ronald Reagan, anticomunista ferrenho, e o papa João Paulo II, vítima do comunismo na Polônia.

Dois anos antes da queda do muro de Berlim, em 1987, Ronald Reagan, diante do portão de Brandemburgo, em Berlim, falando a respeito do secretário geral do partido comunista Mikhail Gorbachev, pediu aquilo que todos os homens de boa vontade do Ocidente desejavam: "Mr. Gorbachev, open this gate. Mr. Gorbachev, tear down this wall!" [1].

Então, em 1989, diante da queda do muro, o capitalismo, os valores do ocidente e o Papa João Paulo II pareciam ter triunfado.

Porém, na ocasião da viagem de João Paulo II a Cuba, um jornalista perguntou a Fidel Castro como o líder cubano se sentia ao receber a visita do homem que havia derrubado o comunismo. Fidel respondeu: “eu não desprezaria assim Mikhail Gorbachev”. Hoje, cada vez mais, se percebe que tudo aconteceu de caso pensado. Declarações do próprio Gorbachev e de alguns comunistas já previam a necessidade de se promover uma aparente morte do comunismo, para que o espírito e o ideal do comunismo se alastrassem no Ocidente. Os próprios comunistas compreendiam que havia uma espécie de queda de braço na guerra fria e que estavam perdendo a disputa. A guerra indicava uma vitória dos EUA, que estavam muito melhor que os soviéticos. Quando os EUA estavam vencendo a batalha militar, os comunistas se dirigiram para outro campo de batalha. Já há décadas haviam percebido que o caminho da vitória sobre o capitalismo não era o militar, mas o cultural.

Mas, como aconteceu o triunfo da linha marxista cultural, que parecia originalmente heterodoxa? No século XIX, Karl Marx defendia a ideia de que a sociedade era injusta porque explorava o trabalhador. Era necessário que através de um método revolucionário (armado), a classe trabalhadora tomasse posse do governo, implantando uma ditadura do proletariado, controlando os meios de produção. E essa ditadura seria uma ponte para uma sociedade que, ao final, seria justa, sem classes, sem governo.

Em suma, o ideal de Marx era a implantação de um paraíso terrestre, de uma sociedade justa, perfeita, através do poder criativo do mal. Marx, porém, não é a origem de tal pensamento, mas somente um porta-voz. Afirmar a força criativa do mal, do negativo, que da destruição faz surgir algo de bom é um princípio da filosofia Hegeliana. De uma antítese forte, segundo Hegel, surge uma síntese superior. Hegel identifica uma espécie de injustiça com o mal, com o negativo, que foi demonizado, exorcizado, criando imobilismo e falta de vitalidade. Hegel traz para a filosofia algo que já era enxergado e defendido pela arte, pelo romance [2] .

“Dê asas à maldade e acontecerá algo de bom”. Foi o que Hegel propôs com a sua dialética. Marx levou tal conceito à prática. No caso de Marx e da revolução armada, a luta seria suprassumida, levada para cima. Matar, destruir, hostilizar a civilização, trazer abaixo a ordem foi o caminho adotado (ou proposto) por ele para a produção de uma ordem superior. E esse mesmo princípio é o que governa a vida de muitos sacerdotes e muitos bispos, dentro da própria Igreja hoje. Muitos fazem automaticamente coisas que não sabem de onde vêm [3] .

É preciso que desde o início estas realidades fiquem claras, para que se consiga distinguir claramente qual o papel que cada personagem desempenha na Igreja. Uma pessoa só pode ser julgada a partir das coisas que combate. Se alguém diz que é a favor dos pobres, dizendo que ama a justiça social, o único critério para verificar se está dizendo a verdade ou não é analisar o que irá combater: se combate tudo o que há de sagrado, como a liturgia do Missal, a disciplina do Código de Direito Canônico e a doutrina do Catecismo da Igreja Católica, percebe-se, claramente, uma realidade diversa daquela que é apresentada costumeiramente. Uma coisa é a propaganda que é feita de si mesmo, outra é o verdadeiro intento de cada pessoa em seu agir cotidiano.

Um exemplo pode ser encontrado numa pessoa que declara seu amor à verdadeira tradição da Igreja e não à “tradição engessada” de Trento; que afirma amar os santos, mas somente os que são “comprometidos”; que diz amar a liturgia, mas a liturgia “inculturada”, capaz de “falar” ao povo. Na realidade, em todos os casos citados, é necessário entender que existe um princípio de ação marxista, que permeia todos os comportamentos: é o princípio do negativo, do destruidor, que busca por abaixo toda a estrutura vigente para que uma “melhor” seja erigida [4] .

O papa Bento XVI recentemente esteve na Alemanha, no Congresso Nacional (Bundestag) e dirigiu uma palestra aos parlamentares de seu país. Foi aplaudido efusivamente de pé por quase todos os congressistas, exceto por um pequeno número de pessoas, de um determinado partido. Em suas palavras conclusivas o papa disse:

"A cultura da Europa nasceu do encontro entre Jerusalém, Atenas e Roma, do encontro entre a fé no Deus de Israel, a razão filosófica dos Gregos e o pensamento jurídico de Roma. Este tríplice encontro forma a identidade íntima da Europa. Na consciência da responsabilidade do homem diante de Deus e no reconhecimento da dignidade inviolável do homem, de cada homem, este encontro fixou critérios do direito, cuja defesa é nossa tarefa neste momento histórico" [5].

Segundo Bento XVI, é necessário defender a fé cristã, o direito romano, a filosofia grega porque existe um movimento revolucionário que está derrubando (ou já derrubou) estas três colunas da civilização ocidental. O papa professa publicamente que é necessário reerguê-las. É preciso, porém, deixar claro quem quer e por que quer destruir estas colunas.

Hegel e Marx, como já apresentando, colocam a realidade do trabalho do negativo. Marx, por exemplo, quer, através de um trabalho de destruição, trazer abaixo uma ordem e um sistema que, segundo ele, oprimia o trabalhador. Marx profetizou uma sociedade justa, sem classes, sem governo, dizendo que isso aconteceria por uma revolução dos trabalhadores. Previa que os trabalhadores iriam sofrer tanto debaixo da pressão dos capitalistas que, mais cedo ou mais tarde, haveria tanto conflito a ponto de estourar uma revolta [6] .

Sua obra O manifesto do partido comunista termina com um convite para a união dos proletários. Imaginava que os trabalhadores dos diversos países da Europa iriam se unir contra os capitalistas, impondo uma ditadura do proletariado. Isso, porém, nunca aconteceu. Apesar de ter acontecido uma guerra (I Guerra Mundial), os trabalhadores não se uniram para lutar contra os proletariados, mas para lutar contra outros trabalhadores.

Depois da I Guerra Mundial, o marxismo estava em plena crise teórica: como foi possível a união dos trabalhadores para matar outros trabalhadores, buscando defender os interesses de seus patrões? Quem os alienou?

Marx, de certa forma, já havia encontrado a “solução” em uma de suas frases mais conhecidas: a religião é o ópio do povo [7]. Marx havia entendido que havia um fator cultural que alienava o povo. Porém, não conseguiu elaborar tal pensamento de forma adequada.

Tal elaboração será feita por dois filósofos, de forma independente, um húngaro, Georg Lukács e o outro italiano, Antonio Gramsci (que teve seu método acolhido pelos marxistas culturais). Quando terminou a I Guerra, diante da grande crise teórica do marxismo, para Gramsci e para os marxistas culturais, o grande adversário a ser derrubado mostrou a sua face: a ética judaico-cristã, a filosofia grega, o direito romano, eram como que uma espécie de veneno que alienava as pessoas, impedindo os trabalhadores de lutarem de forma revolucionária.

Gramsci esteve na URSS, durante a década de 20. Presenciou a tentativa de Lênin de estabelecer as bases do estado soviético. Viu também quando Stálin tomou as rédeas do partido, matando vários dissidentes comunistas (Trotsky, por exemplo). Viu que o comportamento de Stálin era a aplicação prática da filosofia de Hegel. Gramsci pôde compreender que era necessário destruir, trazer abaixo a cultura ocidental, mas que não haveria solução pelo caminho stalinista. Era preciso implodir as três colunas do Ocidente, lentamente, anonimamente, gradualmente. Na técnica gramsciana, nada pode ser ostensivo, tudo deve ser feito disfarçadamente, com o veneno sendo ministrado ao paciente como se fosse um remédio, como se fosse o medicamento de sua salvação. Em outras palavras, é necessário destruir a cultura ocidental em nome da dignidade e da liberdade do homem. Em nome da liberdade, cria-se a ditadura. Em nome dos Direitos Humanos, cerceiam-se os direitos do homem.

Uma coisa é aquilo que o marxismo cultural alardeia, outra coisa é o que ele verdadeiramente busca fazer. Em nosso país, um exemplo disso é a aprovação do “casamento” homossexual. Tudo foi feito em nome da dignidade humana, pois os homossexuais não podem ser oprimidos, têm direitos, não podem ser vítimas de um olhar preconceituoso.

O objetivo, na realidade, é a destruição da família, pois para o pensamento marxista a família é um valor burguês, uma desgraça que precisa ser extinta, já que está baseada em elementos que impedem a revolução: a propriedade privada (bens passados para herdeiros, perpetuação da propriedade privada), a opressão patriarcal (o homem é maior do que a mulher, não há igualdade) e a ética sexual burguesa. Só como exemplo, numa relação homossexual existe uma clara afronta à ética sexual cristã, uma violação ao patriarcalismo ocidental, não há herdeiros. A propaganda é a defesa dos direitos dos homossexuais, mas o interesse verdadeiro é a destruição da família. Como o povo está alienado, com um pensamento cristão muito arraigado, é necessário entrar em sua consciência e arrancar à força os valores “burgueses” que impedem a revolução. Mais uma vez, o caminho é olhar para o que é combatido, não para aquilo que pretensamente é defendido.

Esta introdução buscou colocar uma visão panorâmica do que é marxismo cultural. Marx quis implantar uma sociedade nova aqui na terra. Gramsci mostrou que os meios para tal empreendimento são os culturais, já que os métodos armados não deram certo. O que Gramsci propõe é a mudança do interior das pessoas, pois somente assim acontecerá verdadeiramente o início da nova sociedade. É necessário aculturar as pessoas, acabar com a cultura de cada uma delas.

Referências

“Senhor Gorbachev, abra este portão! Senhor Gorbachev, derrube este muro!”. Discurso proferido diante do portão de Brandemburgo no dia 12 de junho de 1987. O vídeo pode ser conferido em: http://www.youtube.com/watch?v=5MDFX-dNtsM.
Isso pode ser conferido no romance Fausto, de Goethe, no momento em que Mefistófeles, o demônio, apresenta-se ao protagonista: “Fausto: Pois então, quem és tu? Mefistófeles: Eu sou uma parte dessa força que deseja sempre o mal e sempre cria o bem”. (GOETHE. Fausto. Quadro IV, Cena II. Segundo o original: Fausto: Nun gut, wer bist du denn? Mephistopheles: “Ich bin ein Teil von jener Kraft, die stets das Böse will und stets das Gute schafft”.)
Nesta série de palestras, será necessário tomar uma decisão: ser um teólogo da Libertação competente, buscando fazer um trabalho de destruição dentro da própria Igreja; ser alguém fiel à Igreja, à Tradição e ao papa. Este material pode ser utilizado para o bem, sabendo o que se deve fazer para evitar o mal; ou então, ser utilizado para o mal, conscientemente usado para destruir a Igreja.
Infelizmente, o princípio da destruição parece estar presente dentro da Igreja. Muitas pessoas creem que quanto mais forem devassas, quanto mais destruírem a moral tradicional, mais promoverão o amor; quanto mais caluniarem, quanto mais destruírem a vida dos outros, tanto mais implantarão o reino de Deus; creem que quanto mais criarem desordem e profanarem o sagrado, tanto mais servirão à causa de Deus. Vivem, portanto, de acordo com o princípio da destruição.
Bento XVI, Discurso na visita ao Parlamento Federal no Palácio do Reichstag de Berlim, proferido no dia 22 de setembro de 2011. O discurso está disponível em http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/speeches/2011/september/documents/hf_ben-xvi_spe_20110922_reichstag-berlin_po.html
Para dar maior fundamento às suas teorias, Marx consultou dados relativos aos trabalhadores nos “Blue books” ingleses, forjando, porém, os dados coletados.
Numa época em que havia grandes dificuldades para se amenizar uma dor lancinante, o ópio era uma possibilidade alucinógena para fugir da dor.