domingo, 23 de setembro de 2012

O FOME ZERO DE OBAMA



O que do ponto de vista econômico o que parece um absurdo pode ser politicamente lógico e sensato, ao menos no sentido maquiavélico da coisa.

Obama, ao contrário do nosso ex-presidente, não encontrou uma massa de miseráveis pronta para ser alistada na sua clientela. Teve de fabricá-la.



Se os caros leitores compreenderam o meu artigo anterior ("A engenharia da desordem"), deve ter-lhes ocorrido, ao menos de raspão, a ideia de que o sr. Barack Hussein Obama talvez não estivesse fazendo puro jogo de cena quando, ao encontrar o sr. Lula em Washington D.C., exclamou: "Esse é o cara!"

O presidente americano prometeu imitar o Fome Zero, e não somente o fez como vem obtendo, desse empreendimento, resultados perfeitamente simétricos aos alcançados pelo seu colega brasileiro.

Nos últimos anos, a economia americana caiu do primeiro lugar para o sétimo na escala de competitividade do Fórum Econômico Mundial. O desemprego, que em 2008 não passava muito de 4%, já está acima de 8%, e a criação de novos empregos é cada vez mais lenta. Comparando números, o colunista Donald Lambro, do Washington Times, conclui que o desempenho do presente governo americano na área trabalhista é o pior desde a II Guerra Mundial.

Em compensação, Obama foi o recordista absoluto na distribuição de dinheiro do governo não só aos pobres como também aos ricos – incluindo um vistoso leque de empresas falidas por má administração e fraudes, em geral pertencentes a seus contribuintes de campanha. Para isso, sobrecarregou o Estado de mais dívidas do que todos os seus antecessores somados, desde George Washington.

É um fracasso colossal, dizem os analistas econômicos. Mas, os utilitaristas que me perdoem, a racionalidade econômica não é a motivação última dos atos humanos. O que do ponto de vista econômico parece um absurdo pode ser politicamente lógico e sensato, ao menos no sentido maquiavélico da coisa.

Um artigo excelente do comentarista Ira Stoll , feito no New York Sun (www.nysun.com/national/paradox-of-obama-emerges-with-the-danger-that/87978/) mostra que as melhores chances de sucesso do candidato democrata nas eleições de novembro repousam precisamente no descalabro da sua política trabalhista: na primeira gestão Obama, o número das pessoas que vivem de ajuda governamental começou a superar, pela primeira vez na história americana, o das que trabalham e pagam impostos.

Hoje são 46,7 milhões de americanos que recebem vale-alimentação, 8,7 milhões de estudantes bolsistas, mais 7,6 milhões de empregados estatais sindicalizados. Total: 63 milhões de obamistas compulsivos. Quatro milhões acima do número de votos obtidos por John McCain em 2008.

Será especulação psicótica, será "teoria da conspiração" suspeitar que houve alguma premeditação por trás de um fracasso tão benéfico à pessoa do seu autor? Não, quando se leva em conta o seguinte fato: o único emprego que Obama teve na vida, o único ramo de atividade no qual adquiriu alguma experiência, foi o de "organizador comunitário", empenhado na aplicação da estratégia Cloward-Piven. E essa estratégia consiste, de alto a baixo, na arte de fomentar o desastre econômico para tirar dele proveitos políticos.

Expliquei isso num artigo de 2009 publicado neste mesmo Diário do Comércio (www.olavodecarvalho.org/semana/090305dc.html). Que pode haver de tão inverossímil em supor que, na Presidência, o homem fez a única coisa que comprovadamente sabe fazer?

Aí reside também a diferença entre ele e o seu modelo brasileiro. Lula, para implantar o monopólio político da esquerda e corromper a sociedade inteira, teve de manter a economia funcionando razoavelmente e fazer o possível para cortejar o empresariado, dessensibilizando-o para tudo o que se passasse fora do círculo de seus interesses mais imediatos.

Obama, ao contrário do nosso ex-presidente, não encontrou uma massa de miseráveis pronta para ser alistada na sua clientela. Teve de fabricá-la – e não havia como fazer isso senão demolindo a economia, aumentando ao mesmo tempo o desemprego e a dívida pública para que esses dois monstros se alimentassem um do outro até à completa exaustão do organismo nacional.

Outra diferença é a posição dos EUA no cenário internacional, que tinha de ser corroída mediante cortes no orçamento militar e o favorecimento inicialmente discreto, depois explícito, às forças inimigas que se levantavam contra governos aliados ou neutros.

O assassinato do embaixador americano na Líbia, sincronizado com manifestações anti-americanas na Tunísia, no Iêmen, no Irã e no Egito (onde, para cúmulo, os marines que guardam a embaixada continuam proibidos de portar munição de verdade), é o símbolo condensado da lógica que orienta toda a política do governo Obama. Essa lógica resume-se na simples aplicação local do mandamento globalista: enfraquecer os Estados no plano internacional e fortalecê-los no plano interno.

Dito de outro modo: desarmá-los contra seus inimigos e armá-los contra suas próprias populações, de modo a fazer deles os cães de guarda, ao mesmo tempo dóceis e implacáveis, da nova ordem global. De sob as cascas dos velhos Leviatãs nacionais começa a erguer-se, majestosamente sinistro, o Leviatã planetário.
Nota: O desenlace sangrento da intromissão dos EUA na Líbia ajudou a grande mídia a abafar pelo menos uma notícia importante: o Instituto de Ciência e Tecnologia de Israel examinou a certidão de nascimento de Barack Hussein Obama divulgada pelo governo americano (ver https://usjf.net/2012/09/video-former-netanyahu-adviser-obama-birth-certificate-forged/?utm_source=USJF+List&utm_campaign=418932d804-RSS_EMAIL_CAMPAIGN&utm_medium=email) e confirmou que "é manifestamente falsa".
Por: Olavo de Carvalho  Publicado no Diário do Comércio.

sábado, 22 de setembro de 2012

CÂMARAS DE VEREADORES



Câmaras: máquinas caras e nebulosas 

Sem fiscalizar ou prestar contas de gastos e atos, Câmaras custam R$ 9,5 bilhões por ano 


BRASÍLIA - As câmaras municipais, apesar de próximas fisicamente dos moradores, são o Poder menos transparente, o mais vulnerável à corrupção, o que menos presta contas aos eleitores e um dos mais caros aos cofres públicos. O custo dos legislativos nos 5.565 municípios brasileiros ficou em quase R$ 10 bilhões (R$ 9,5 bilhões) em 2011, considerando apenas as despesas declaradas. É o equivalente a cinco orçamentos anuais do Ministério da Cultura. E este custo anual poderá ultrapassar os R$ 15 bilhões em 2013, quando um contingente maior de vereadores entrará em cena, e com salários maiores que os atuais — dinheiro suficiente para pagar por quase um ano os 13 milhões de benefícios do Bolsa Família (R$ 19 bilhões). Na eleição de outubro, 432.867 candidatos disputam as 57.434 vagas de vereadores. O número de vagas cresceu mais de 10% em relação a 2008 (52.008 vereadores) por força da aprovação de uma emenda constitucional, cuja validade se aplica agora. 

Miniaturas do Congresso, os legislativos municipais, além de custar caro aos bolsos dos contribuintes e de ter pouca transparência, na maioria das vezes serve apenas para dizer amém aos planos traçados pelos prefeitos. 

Fiscalizar os atos do Executivo, que seria a principal tarefa de uma câmara municipal, está apenas na carta de boas intenções. Na maioria das cidades, os vereadores são cooptados pelo poder local e fazem vista grossa aos atos e omissões do chefe da prefeitura. 

Cláudio Weber Abramo, diretor-executivo da ONG Transparência Brasil, avalia que a função das câmaras de vereadores foi esvaziada nas últimas décadas. Justamente por causa da “força” exercida pelo Executivo: 

— Os vereadores não cumprem seu papel, não fiscalizam. Quem legisla, de fato, é o Executivo. Os prefeitos compram suas bases por meio da distribuição de cargos — afirma Abramo. 

Rio Largo (AL): sete de dez vereadores presos 

A pouca transparência e a falta de fiscalização favorecem as práticas de desvios e corrupção, com casos de desmandos generalizados no poder público. Foi o que aconteceu em Rio Largo este ano, na região metropolitana de Maceió, onde o prefeito e sete dos dez vereadores foram presos em maio, por corrupção. Em menor escala, esses casos se repetem país afora. 

O efeito principal da falta de transparência é a dificuldade — em alguns casos, impossibilidade — de se saber exatamente quanto do dinheiro do contribuinte é dispendido com os vereadores brasileiros. O custo de cerca de R$ 10 bilhões com o Legislativo municipal, levantamento exclusivo feito para o GLOBO pela Confederação Nacional dos Municípios (CNM), foi estimado com base nas informações fornecidas pela maioria dos municípios ao Tesouro Nacional. 

A CNM identificou no Tesouro dados de 4.813 prefeituras relativos a essas despesas, o que significa que mais de 700 nada informaram ao cofre central. Mesmo no universo de 4.813, há um grupo de 669 que computaram como zero o gasto do Legislativo, o que é improvável. A contabilidade do dinheiro público gasto pelos parlamentares é o exemplo mais forte de falta de transparência. 

Mas os vereadores também sonegam outras informações de interesse comunitário: desde o parentesco de servidores de confiança até viagens ou dados simples de suas atividades. O GLOBO pesquisou os 26 sites dos legislativos das capitais do Brasil e constatou que a maioria não traz informações de fácil acesso. Há casos, inclusive, em que nem site há. Em São Luís, no Maranhão, por exemplo, ao tentar pesquisar dados sobre a Câmara o internauta se depara com um aviso de que, se continuar, a página poderá danificar o computador. 

— As câmaras municipais são as menos transparentes de todos os poderes. Tudo que acontece na esfera nacional, acontece na esfera estadual e é muito pior nos municípios — afirma Cláudio Abramo. — A regra geral é a obscuridade. 

O raciocínio de Abramo de que o exemplo vem de cima é compartilhado pelo presidente da CNM, Paulo Ziulkoski, um ex-prefeito do interior do Rio Grande do Sul que há alguns anos se dedica a defender os interesses das prefeituras em Brasília. Todos os vícios, inclusive as práticas de corrupção, diz ele, são copiados das esferas superiores: 

— Tudo que se vê no interior, em Brasília é igual. A Câmara dos Deputados, o Senado e as assembleias estaduais teriam que dar o exemplo, mas fazem o contrário. 

No Rio, cada vereador custa R$ 7,8 milhões 

Considerando apenas os vereadores de capitais, um levantamento da Transparência Brasil aponta que na Câmara do Rio cada um dos seus 51 representantes custa R$ 7,8 milhões anualmente, tomando como base o orçamento da Câmara Municipal deste ano. É a segunda mais cara do país, levando-se em conta a relação do número de vereadores pelo valor do orçamento. A primeira é São Paulo: R$ 8,5 milhões por cada um de seus 55 parlamentares. 

Porém, se o cálculo levar em conta a população da cidade, a Câmara de Florianópolis passa a ser a mais cara per capita entre as capitais. Lá, cada morador paga R$ 99,49 por representado. No Rio, esse custo é de R$ 62,73, per capita. Dinheiro que o cidadão não sabe como é gasto. 

A aprovação da Lei de Acesso à Informação, que entrou em vigor em maio, está longe de chegar às câmaras. Na maioria das vezes, os sites se limitam a exibir os nomes e as fotos dos vereadores, alguns projetos e o orçamento. Não há, por exemplo, informações básicas, como quanto ganham os vereadores, quantos funcionários dispõem em seus gabinetes, quanto recebem de diárias, quantos funcionários há no total. Também é difícil encontrar Legislativo que informe e-mails dos vereadores ou os telefones dos gabinetes. Todo esse jogo de esconder reforça a visão de que os vereadores não querem dar satisfação de seus atos ou de seus gastos. O Globo

SUSTENTABILIDADE COMEÇA EM CASA


Tenho visto a sociedade debater sustentabilidade com foco apenas na escassez futura de água, de verde e de ar limpo. 

Porém poucas práticas são tão insustentáveis quanto as tentativas de pessoas e de empresas de serem sustentáveis. Afinal, plantar ou abraçar uma árvore é um bom começo, mas raramente esse começo se repete por semanas ou meses seguidos. É como se aquele que plantou uma árvore já tivesse prestado contas com a natureza, voltando à sua rotina de desperdícios e de poluição com menor peso na consciência. 

Não vejo sentido em uma atividade iniciada e não encerrada, seja você um simples trabalhador, uma grande empresa ou o ministro Cezar Peluso. De sustentáveis, práticas cidadãs feitas uma ou duas vezes na vida têm apenas a inspiração. 

Ser sustentável é mais do que fazer um gesto eventual pelo futuro. Sustentabilidade começa em casa, pelo que você faz para que sua existência não se torne um problema para as demais pessoas neste mundo. Isso tem a ver com como você aproveita a água, a energia, os insumos e os alimentos. Mas tem também a ver com como você lida com seu orçamento. 

Quem lida de maneira desequilibrada com o dinheiro está criando problemas futuros não somente para sua vida mas também para a vida das pessoas com quem convive. Aqueles que têm dificuldades para poupar serão dependentes da ajuda do governo ou de seus familiares. Sem cuidar de seu futuro, precisarão de apoio financeiro e comprometerão o consumo dos filhos, forçando-os também a uma situação de privações, de dificuldade de poupar e, consequentemente, fazendo com que também se tornem dependentes da ajuda futura do governo ou dos familiares. É um círculo vicioso. 

Quem planeja e poupa o suficiente para viver no futuro com o rendimento do próprio patrimônio deixa de ser um ônus para o Estado. Se gastasse menos com o auxílio às famílias, o Estado teria mais recursos para administrar o interesse coletivo, incluindo a preservação do ambiente e o investimento em tecnologias para a sustentabilidade. Obviamente, essa minha utopia está considerando que, com mais recursos disponíveis, o Estado buscará o interesse coletivo de longo prazo. Hoje isso ainda não acontece. 

É curioso perceber que poupar não basta. Aqueles que poupam demais, seja por ganância ou por temor excessivo do futuro, limitam a circulação do dinheiro na economia. Com o comércio, a indústria e os serviços faturando menos, o governo tem de investir pesado em subsídios e em políticas de compensação e de incentivo. Gastando mais do que deveria com o equilíbrio da sociedade no presente, o Estado está deixando de cuidar do futuro. Ou seja, está deixando de adotar políticas de sustentabilidade. 

Costumo afirmar que gastar demais é tão perigoso quanto poupar demais, e isso tem tudo a ver com a construção de um futuro saudável para a economia pessoal e da sociedade. É por isso que a educação financeira não pode se limitar a planilhas, a cálculos e a simulações de investimentos, como muitas das primeiras experiências nesse campo têm sido praticadas nas escolas. Tenho visto métodos eficientes em transformar gastadores compulsivos em poupadores compulsivos. Infelizmente, um grave erro. 

A essência da educação financeira deve ser a busca do equilíbrio, e por isso também deveria ser parte dos esforços de sustentabilidade nas escolas e nos debates. Finanças deveria ser tema de aulas de ciências, filosofia e estudos da sociedade, objetivando educar os jovens para que tenham escolhas mais inteligentes e duradouras. Depois disso, caberia discutir o assunto também nas aulas de matemática. Não é o que vem sendo feito. 

No dia em que cada família souber consumir com qualidade, ou seja, maximizando sua satisfação a cada compra, aproveitará melhor o que consome e, consequentemente, consumirá em menor quantidade. 

Isso naturalmente já contribui para o ambiente, sem muito esforço adicional. Nesse caso, se abraçar uma árvore lhe faz feliz, continue fazendo-o, nem que seja apenas pelo seu bem-estar pessoal. Por: Gustavo Cerbasi

A DESTRUIÇÃO DAS NOSSAS CHANCES DE CRESCER



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Impressionante, como a Dilma em dois anos conseguiu incompatibilizar-se com todos os setores de infraestrutura deste país, prejudicando seriamente a nossa possibilidade de termos investimentos em infraestrutura.

O Estado Brasileiro está falido há mais de 30 anos. Não consegue investir o necessário para garantir o nosso crescimento, apesar de retirar 40% em impostos da população, e ainda por cima controlar o BNDES, Eletrobrás, Petrobras, Infraero e assim por diante.

É preciso de Parcerias Público Privadas, para que o setor Privado faça o que o Público teria obrigação de fazer. 

Nesta semana, por total desconhecimento dos princípios elementares de administração, ela afugentou milhares de investidores do setor de Energia Elétrica, que literalmente fugiram e venderam seus investimentos fazendo as ações das Cias. de Energia Elétrica despencarem entre 30% a 40%.

Veja acima o gráfico desastroso das ações da CESP. 

Simplesmente, Dilma e seu principal assessor aumentaram o Custo de Capital destas empresas em 80%, como neste caso da CESP, para os próximos 20 anos.

Ações de Cias. Elétricas são conhecidas como ações de viúvas. Viúvas não querem, nem podem, ter sustos como estes de perderem 30% da suas poupanças em dois dias.

Cias. Elétricas sabem disto, e são notórias por darem dividendos certos e constantes, apropriadas para este tipo de investidor. Por isto cobram caro pelas suas ações, o que significa que conseguem um custo de capital barato.

Em uma semana, Dilma e seu assessor conseguiram destruir os Fundos de Dividendos do Brasil, que jamais vão comprar no futuro ações de Cias. Elétricas, por 30 anos pelo menos.

Até estes gestores morrerem, e uma nova geração que não estudou História da Administração Brasileira assumirem seus lugares.

Como ocorreu com a famosa Moratória da Dívida Externa, dos Ministros Funaro e Sayad, que afugentou investimentos externos do Brasil por 20 anos, que só agora retornaram.

Investir em energia, ferrovias, portos, infraestrutura, com as MPs e mudanças das regras do jogo e este "micromanagement", se tornou assunto arriscado.

Não é mais para vocês, viúvas e investidores conservadores que aceitam remuneração mais baixa mas constante.

Agora, só especuladores, oligarcas russos, e investidores que cobram caro, vão investir, se tanto, em infraestrutura em países e governos temperamentais como da DIlma.

Em vez de reduzir o custo da capital, algo que vinha fazendo com elogios constantes meus nestes últimos tempos, ouvindo seu assessor predileto ela está inadvertidamente destruindo o futuro deste país.

Coisa muito séria que a imprensa e os seus futuros eleitores por alguma razão não perceberam. Ainda. Por: Stephen Kanitz

LULA x GETÚLIO VARGAS



Comparar Getúlio Vargas a Lula é um insulto à memória do presidente suicida


A nota oficial encomendada por Lula, redigida por Rui Falcão e subscrita por seis presidentes de partidos governistas comunica à nação, entre uma falsidade e uma safadeza, que está em curso uma trama política semelhante à que resultou no suicídio de Getúlio Vargas. Só um ajuntamento de palermas, oportunistas e casos de polícia conseguiria vislumbrar conspiradores em ação nos três partidos oposicionistas mais dóceis da história.

Só um bando de cretinos fundamentais ousaria confundir Aécio Neves com Carlos Lacerda, Geraldo Alckmin com Afonso Arinos, ou tucanos em sossego no poleiro com militares sublevados nos quartéis. E até sócios remidos do clube dos cafajestes se recusariam a comparar Luiz Inácio Lula da Silva a Getúlio Dornelles Vargas. Coerentes com a folha corrida de cada um, os signatários do besteirol espancaram sem clemência, e sem vestígios de rubor na face, a memória do mítico gaúcho.

“Querem fazer comigo o que fizeram com Getúlio Vargas”, recitou o palanque ambulante, de novo, em agosto de 2011. “Assim foi em 1954, quando inventaram um ‘mar de lama’ para derrubar o presidente Vargas”, reincidiram nesta quinta-feira seis carrascos da verdade. Alguém precisa contar-lhes aos gritos que foi o próprio Getúlio quem usou pela primeira vez a expressão “mar de lama”. Alguém precisa ordenar-lhes aos berros que parem de estuprar os fatos para fabricar mentiras eleitoreiras.

Na versão malandra do PT e seus parceiros alugados, a procissão de escândalos que afronta os brasileiros honestos desde a descoberta do mensalão não passa de invencionice dos netos da UDN golpista, que se valem de estandartes moralistas para impedir que outro pai dos pobres se mantenha no poder. Se a oposição não sofresse de afasia medrosa, a confraria dos 171 já teria aprendido que não há qualquer parentesco entre os dois Brasis. E não se atreveria a inventar semelhanças entre figuras antagônicas.

Em agosto de 1954, Getúlio Vargas era sistematicamente hostilizado por adversários que negavam até cumprimentos protocolares ao ex-ditador que voltara ao poder pela rota das urnas. Não há uma única foto do presidente ao lado de Carlos Lacerda. Passados quase 60 anos, Lula e Dilma lidam com adversários que fizeram a opção preferencial pela covardia e inventaram a oposição a favor. Muitos merecem cadeiras cativas na Irmandade dos Amigos do Cara, dirigida por velhas abjeções que Lula combateu até descobrir que todos nasceram uns para os outros.

Há 58 anos, surpreendido por delinquências praticadas às suas costas, acuado pela feroz oposição parlamentar, sitiado por ódios decorrentes dos horrores do Estado Novo, desafiado por oficiais rebeldes, traído por comandantes militares, abalado pela deserção dos aliados, Getúlio preferiu a morte à capitulação humilhante. No Ano 10 da Era da Mediocridade, o Grande Pastor do rebanho lulopetista só é ameaçado pelo Código Penal, por um STF disposto a cumprir a lei e pela incapacidade de aceitar imposições do destino.

Neste começo de primavera, o que se vê é um populista incapaz de perceber a aproximação do inverno. Os truques do animador de comício não surpreendem mais ninguém. Tornaram-se enfadonhos. Lula é uma caricatura de si próprio. É uma lenda precocemente no ocaso. Daqui a muitos anos, será um asterisco nos livros de história que nunca leu.

Getúlio perdeu a disposição de resistir ao constatar que, sem saber, convivera com criminosos. Na última reunião do ministério, foi defendido por figuras como Oswaldo Aranha e Tancredo Neves. Lula defendeu a permanência de Antonio Palocci e José Dirceu no primeiro escalão infestado de corruptos. E tenta o tempo todo livrar da cadeia bandidos de estimação para mantê-los a seu lado. Depois de tentar inutilmente adiar o julgamento do mensalão, faz o que pode para pressionar ministros que nomeou, desqualificar a Justiça e impedir a consumação do castigo.

Há uma semana, o protetor de pecadores foi empurrado para o meio do pântano pelas revelações de Marcos Valério divulgadas por VEJA. Em vez de replicar às acusações e interpelar judicialmente o acusador, o mais loquaz dos palanqueiros emudeceu. Entre amigos, gasta a voz debilitada em insultos a ministros do Supremo, mensaleiros trapalhões ou advogados ineptos ─ e promete, de meia em meia hora, vinganças tremendas. Em público, pede votos para candidatos amigos e calunia concorrentes.

O suicídio de Vargas, reiterei há um ano, foi um ato de coragem protagonizado pelo político que errou muito e cometeu pecados graves, mas nunca transigiu com roubalheiras, nunca barganhou com assaltantes de cofres públicos nem foi coiteiro de ladrões. Lula fez da corrupção endêmica um estilo de governo e um instrumento de poder. O tiro disparado na manhã de 24 de agosto de 1954 atingiu o coração de um homem honrado. Um saiu da vida para entrar na história. Outro ficará na história como quem caiu na vida.

Getúlio matou-se por ter vergonha na cara. Lula morrerá sem saber o que é isso. Por: Augusto Nunes

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

LEI DO MERCADO x LEI DA SELVA


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Wifredo Lam (1902-1982), "A Selva"
Museu de Arte Moderna, Nova York
Por mais que se argumente e se mostre as ineficiências da intervenção estatal e a superioridade econômica do capitalismo, ainda assim as doutrinas do intervencionismo e do socialismo levam vantagem ao apelar ao senso ético que existe em cada um. Não porque sejam de fato moralmente superiores, mas porque são vistas dessa forma. E enquanto o forem, não há índice de pobreza ou cifra de mortos que mudará a opinião pública.

A oposição ao capitalismo foi muito bem sucedida em pintá-lo como um sistema baseado no egoísmo, no qual indivíduos antissociais são induzidos a competir e agir de forma predatória, numa verdadeira luta de todos contra todos em que os poderosos ditam as regras e os fracos não têm vez. Homem primata, capitalismo selvagem. No sistema de mercado, imperaria a "lei da selva" ou "lei do mais forte". Suas alternativas, por outro lado, projetam a ideia de um mundo mais solidário, fraterno e menos competitivo, no qual cada um tem sua chance e, mesmo se falhar, encontra algum amparo.

Para piorar as coisas, certos defensores do capitalismo não só aceitam tal descrição como se orgulham dela. O homem, dizem, é egoísta por natureza e tem mais é que competir; só os fortes sobrevivem — e o resto, bem...azar deles. Quero, neste artigo, mostrar como essa visão está completamente equivocada. A lei do mercado é oposta à lei da selva.

Princípios opostos

Comecemos com uma descrição da vida sob a lei da selva. Na selva, os recursos são escassos, e nada é de ninguém. Se quero algo, pego. Se alguém mais quiser a mesma coisa, brigamos; só um será bem-sucedido. Tudo o que um consegue para si ou foi tirado de alguém ou privou alguém mais de tê-lo. Desavenças resolvem-se pela violência; os vencedores ficam com tudo e os perdedores perecem. Uma árvore deu frutos; quero-os para mim, você também. Lutamos, eu venço, fico com a árvore e ainda faço churrasco do seu cadáver; game over. Quem é menos capaz — menos forte ou menos astuto — dança.

Nesse ambiente, o foco de todos os indivíduos é no consumo. O ambiente é muito incerto para que alguém se dedique a projetos de longo prazo. Todas as associações são frágeis. Os indivíduos veem uns aos outros como inimigos, competidores potenciais. Fora da tribo ou do clã sanguíneo, vive-se em guerra.

Agora pensemos no mercado. No mercado, os recursos também são escassos, mas cada coisa tem um dono. A árvore e seus frutos são, por direito, de alguém. Disso decorre que, se eu quiser um dos frutos, tenho que oferecer algo em troca ao dono atual. E essa minha oferta tem que ser considerada vantajosa ao dono dos frutos. Em outras palavras: cada um, para alcançar seus próprios objetivos, tem que ajudar os demais a alcançar os seus. Parece injusto com os que não têm propriedade? Mas existem duas propriedades que todo mundo tem, e que são as mais valiosas de todas: sua mente e seu corpo, com os quais se trabalha. "Dê-me alguns dos seus abacates que eu te ajudo a tirar uma pedra da sua caverna". Civilizações nascem assim.

O foco na selva, como foi dito, é no consumo: comer para viver um dia a mais. No mercado, embora o objetivo final ainda seja o consumo, o foco é na produção: trocando uns com os outros, produzimos mais e ficamos todos melhores. Cada um tem maior quantidade de bens à sua disposição do que teria se não trocasse com os demais. Se na selva o próximo é um rival no consumo, no mercado ele é um potencial parceiro na produção. Na selva, o encontro com um desconhecido traz consigo um impasse ameaçador: "O que posso tirar dele e o que ele pode tirar de mim?" — duas alternativas excludentes. No mercado, o mesmo encontro levanta uma outra pergunta: "O que posso fazer por ele e o que ele pode fazer por mim?" — possibilidades que se concretizam simultaneamente.

Uma famosa tirinha narra a história aparentemente real das renas na ilha St. Matthew. As renas, animais irracionais, viviam sob a lei da selva. Para elas, o campo de líquen era um vasto campo de consumo; e quem não consumisse, ficaria com menos. Por isso comeram e se reproduziram desenfreadamente até extinguir sua própria fonte de sustento. Para os homens, supondo que tivéssemos a mesma dieta das renas, o campo de líquen, dividido em lotes, representaria oportunidades de produção e de cultivo. Posso arrasar meu campo em uma semana, consumindo-o completamente, ou posso restringir um pouco meu consumo presente, trabalhar no campo, e garantir o sustento duradouro. E quem não tem um campo de líquen, morre de fome? Não, pois nem só de líquen vive o homem! Todo homem é dono de sua força de trabalho, e pode prestar serviços a qualquer outro: ajudando a cultivar um campo, a construir uma casa, transportando mercadorias, fazendo freelas de designgráfico etc. Essa divisão das tarefas gera um ganho para a sociedade como um todo, pois a produtividade de cada trabalhador especializado é muito maior do que seria se cada um tivesse que fazer um pouco de tudo para si mesmo.

A lei do mercado é a lei do benefício mútuo. Para um subir, precisa ajudar outro a subir. É o exato oposto da lei da selva, em que o ganho de um vem em detrimento do outro. Como os desejos de todos são harmonizados, torna-se possível pensar no longo prazo. Na selva, só existe o presente; amanhã alguém pode roubar a caça que você tanto se esforçou para capturar. No mercado, curto e longo prazo se equilibram, cada um adiantando ou postergando o consumo de acordo com seu melhor julgamento.

Analogias insustentáveis

Com o que foi exposto, vemos como uma das principais relações da selva, a entre presa e caçador, simplesmente não existe no mercado. A vida do consumidor melhora ao comprar os bens do produtor; e é por isso mesmo que ele compra. A vida do empregado está melhor graças à vaga oferecida pelo empregador; e é por isso que ele aceita o emprego. A vida do empregador, por sua vez, também está melhor graças aos serviços do empregado. Ninguém é caçador e ninguém é presa nesse processo; todos cooperam.

Mas espere um pouco: sempre ouvimos dizer que o traço principal do mercado é a concorrência. E numa concorrência, um ganha e outro perde, exatamente como ocorre na concorrência selvagem. Quando uma onça caça uma anta, a onça mais fraquinha passa fome, morre antes e se reproduz menos. Quando uma empresa lança um produto de sucesso, outras perdem vendas, demitem funcionários, fecham as portas etc. É a lei da selva, ou não é?

Todo mundo sabe que no mercado existe competição acirrada. Ela é uma consequência, e não um princípio, de sua estrutura organizacional, isto é, do respeito à propriedade privada que resulta na necessidade de se ajudar os outros para se ser ajudado (daí o equívoco de se definir o mercado primariamente pela concorrência, fenômeno que ocorre em todo tipo de ordenamento social e institucional).

A concorrência de mercado tem a mesma origem da concorrência da selva: a escassez. A diferença entre elas, contudo, é significativa: na selva, compete-se pelo consumo dos recursos disponíveis. No mercado, compete-se para oferecer o melhor ao resto da sociedade. O que é produzido não é o bastante para satisfazer plenamente a demanda de todos os consumidores (em outras palavras, as pessoas têm renda e tempo limitados para gastar). Por esse motivo, os consumidores têm que exercitar certa seletividade em seu consumo: seu dinheiro e seu tempo vão para aquilo que melhor satisfizer seus desejos. Além disso, os produtores (e lembrem-se: produtores e consumidores são as mesmas pessoas) não são oniscientes, e não sabem perfeitamente o que os consumidores querem; suas escolhas e decisões sempre envolvem uma aposta que pode dar errado.

Os que melhor se adequarem à demanda dos consumidores receberão destes os recursos necessários para sustentar sua atividade. Os menos eficientes receberão recursos insuficientes e precisarão encontrar outro meio de se sustentar; isto é, procurar outra maneira de servir aos demais.

Nesse processo de perdas e ganhos, ocorre que uma pessoa, que estava empenhada em servir às demandas dos demais de um modo específico pode perder os consumidores que julgava "possuir". É só pensar no ocaso da maioria dos técnicos de vitrola na virada dos anos 1980 para os 1990, ou dos funcionários de uma fábrica nacional cuja competição com empresas chinesas tornou obsoleta. Por mais sofrida que essa transição possa ser, o próprio envolvido, se tiver uma correta leitura do que se passa, concordará que seu desemprego temporário é benéfico: "Minha atividade não usa os recursos disponíveis para melhor servir às demais pessoas. Quero ser remunerado por efetivamente servir e ajudar os outros ou quero tirar deles meu sustento sem lhes oferecer algo equivalente em troca?". Esse é o dilema: o dilema entre pautar-se pela lei da cooperação mútua (o que eventualmente requer sacrifícios) e a tentação de impor a lei da selva, ou seja, de impor que os outros te sirvam sem lhes oferecer uma contrapartida.

Não fosse por esse aspecto difícil do processo de mercado (os prejuízos de quem não se adequa à demanda e portanto obriga mudanças dolorosas de percurso), estaríamos todos muito mais pobres. Imaginem um mundo em que a remuneração de cada um não tivesse nada a ver com o quanto essa pessoa contribui para a vida alheia. O aparente ganho de alguns (que teriam seus empregos garantidos independentemente da demanda) resultaria na perda de todos, já que a sociedade estaria globalmente mais pobre: as necessidades humanas não dariam mais a finalidade à atividade produtiva.

Inclusão natural

A seleção natural elimina os indivíduos menos aptos. A seleção do mercado, igualmente não planejada (embora, diferentemente da seleção natural, fruto de ações humanas), elimina apenas ideias erradas sobre como servir às demandas dos demais. Embora isso possa trazer algum sofrimento para os indivíduos que apostaram nessas ideias, ela é, no longo prazo, boa inclusive para eles: uma sociedade mais rica e com mais oportunidades de criação de valor é boa para todos e é a única capaz de sustentar mesmo os que têm menos a contribuir. Do ponto de vista dos indivíduos no mercado, faz mais sentido falar de inclusão natural. Um indivíduo bem-sucedido beneficia os demais, ou melhor: seu sucesso só ocorre porque ele os beneficia. E embora possa ser difícil competir com ele na exata atividade que ele desempenha, enquanto houver demandas humanas não atendidas haverá campo aberto para que mais pessoas trabalhem e ajudem a satisfazê-las (e quando não houver mais demandas humanas não atendidas também não haverá mais motivo para trabalhar ou procurar emprego).

São apenas a afluência e a produtividade que a lei do mercado proporciona que tornam viável que um indivíduo sustente a si mesmo durante um período de desemprego, ou que seus parentes e amigos possam sustentá-lo se necessário. Nesse sentido ,aliás, cumpre notar que, na sociedade de mercado, mesmo aqueles realmente incapazes de produzir e trocar com os demais (os muito doentes, muito idosos, seriamente deficientes etc.) podem ser sustentados. Na lei da selva seriam os primeiros na fila do descarte, sacrificados ao imperativo de sobrevivência do clã. Hitler estava coberto de razão ao apontar que a sociedade liberal que ele tanto odiava permitira a sobrevivência de inválidos, deficientes e "não aptos" em geral; não aptos — é preciso frisar o ponto —à lei da selva; no mundo capitalista liberal, sua sobrevivência não apresentava problema algum.

O mercado, assim, é a antisselva. Se na selva impera a inimizade e a seleção natural, no mercado vigora a cooperação universal e a criação de oportunidades até mesmo para os menos favorecidos. Na selva uma pessoa a mais é mais uma boca para alimentar; no mercado, é mais uma potencial criadora de valor. A selva é o consumo autônomo e voraz dos recursos escassos; o mercado é o uso dos mesmos recursos para a produção conjunta, e na qual o recurso mais valioso de todos se faz valer: a inteligência humana. Não há nada de "selvagem" no capitalismo; e é justamente sua destruição gradual que pode nos levar de volta à guerra de todos contra todos da lei da selva.

Joel Pinheiro da Fonseca é mestrando em filosofia, editor da revista Dicta&Contradicta .

terça-feira, 18 de setembro de 2012

O FOME ZERO DE OBAMA


O que do ponto de vista econômico parece um absurdo pode ser politicamente lógico e sensato, ao menos no sentido maquiavélico da coisa.
Obama, ao contrário do nosso ex-presidente, não encontrou uma massa de miseráveis pronta para ser alistada na sua clientela. Teve de fabricá-la.


Se os caros leitores compreenderam o meu artigo anterior ("A engenharia da desordem"), deve ter-lhes ocorrido, ao menos de raspão, a ideia de que o sr. Barack Hussein Obama talvez não estivesse fazendo puro jogo de cena quando, ao encontrar o sr. Lula em Washington D.C., exclamou: "Esse é o cara!"

O presidente americano prometeu imitar o Fome Zero, e não somente o fez como vem obtendo, desse empreendimento, resultados perfeitamente simétricos aos alcançados pelo seu colega brasileiro.

Nos últimos anos, a economia americana caiu do primeiro lugar para o sétimo na escala de competitividade do Fórum Econômico Mundial. O desemprego, que em 2008 não passava muito de 4%, já está acima de 8%, e a criação de novos empregos é cada vez mais lenta. Comparando números, o colunista Donald Lambro, do Washington Times, conclui que o desempenho do presente governo americano na área trabalhista é o pior desde a II Guerra Mundial.

Em compensação, Obama foi o recordista absoluto na distribuição de dinheiro do governo não só aos pobres como também aos ricos – incluindo um vistoso leque de empresas falidas por má administração e fraudes, em geral pertencentes a seus contribuintes de campanha. Para isso, sobrecarregou o Estado de mais dívidas do que todos os seus antecessores somados, desde George Washington.

É um fracasso colossal, dizem os analistas econômicos. Mas, os utilitaristas que me perdoem, a racionalidade econômica não é a motivação última dos atos humanos. O que do ponto de vista econômico parece um absurdo pode ser politicamente lógico e sensato, ao menos no sentido maquiavélico da coisa.

Um artigo excelente do comentarista Ira Stoll , feito no New York Sun (www.nysun.com/national/paradox-of-obama-emerges-with-the-danger-that/87978/) mostra que as melhores chances de sucesso do candidato democrata nas eleições de novembro repousam precisamente no descalabro da sua política trabalhista: na primeira gestão Obama, o número das pessoas que vivem de ajuda governamental começou a superar, pela primeira vez na história americana, o das que trabalham e pagam impostos.

Hoje são 46,7 milhões de americanos que recebem vale-alimentação, 8,7 milhões de estudantes bolsistas, mais 7,6 milhões de empregados estatais sindicalizados. Total: 63 milhões de obamistas compulsivos. Quatro milhões acima do número de votos obtidos por John McCain em 2008.

Será especulação psicótica, será "teoria da conspiração" suspeitar que houve alguma premeditação por trás de um fracasso tão benéfico à pessoa do seu autor? Não, quando se leva em conta o seguinte fato: o único emprego que Obama teve na vida, o único ramo de atividade no qual adquiriu alguma experiência, foi o de "organizador comunitário", empenhado na aplicação da estratégia Cloward-Piven. E essa estratégia consiste, de alto a baixo, na arte de fomentar o desastre econômico para tirar dele proveitos políticos.

Expliquei isso num artigo de 2009 publicado neste mesmo Diário do Comércio (www.olavodecarvalho.org/semana/090305dc.html). Que pode haver de tão inverossímil em supor que, na Presidência, o homem fez a única coisa que comprovadamente sabe fazer?

Aí reside também a diferença entre ele e o seu modelo brasileiro. Lula, para implantar o monopólio político da esquerda e corromper a sociedade inteira, teve de manter a economia funcionando razoavelmente e fazer o possível para cortejar o empresariado, dessensibilizando-o para tudo o que se passasse fora do círculo de seus interesses mais imediatos.

Obama, ao contrário do nosso ex-presidente, não encontrou uma massa de miseráveis pronta para ser alistada na sua clientela. Teve de fabricá-la – e não havia como fazer isso senão demolindo a economia, aumentando ao mesmo tempo o desemprego e a dívida pública para que esses dois monstros se alimentassem um do outro até à completa exaustão do organismo nacional.

Outra diferença é a posição dos EUA no cenário internacional, que tinha de ser corroída mediante cortes no orçamento militar e o favorecimento inicialmente discreto, depois explícito, às forças inimigas que se levantavam contra governos aliados ou neutros.

O assassinato do embaixador americano na Líbia, sincronizado com manifestações anti-americanas na Tunísia, no Iêmen, no Irã e no Egito (onde, para cúmulo, os marines que guardam a embaixada continuam proibidos de portar munição de verdade), é o símbolo condensado da lógica que orienta toda a política do governo Obama. Essa lógica resume-se na simples aplicação local do mandamento globalista: enfraquecer os Estados no plano internacional e fortalecê-los no plano interno.

Dito de outro modo: desarmá-los contra seus inimigos e armá-los contra suas próprias populações, de modo a fazer deles os cães de guarda, ao mesmo tempo dóceis e implacáveis, da nova ordem global. De sob as cascas dos velhos Leviatãs nacionais começa a erguer-se, majestosamente sinistro, o Leviatã planetário.

Nota: O desenlace sangrento da intromissão dos EUA na Líbia ajudou a grande mídia a abafar pelo menos uma notícia importante: o Instituto de Ciência e Tecnologia de Israel examinou a certidão de nascimento de Barack Hussein Obama divulgada pelo governo americano (ver https://usjf.net/2012/09/video-former-netanyahu-adviser-obama-birth-certificate-forged/?utm_source=USJF+List&utm_campaign=418932d804-RSS_EMAIL_CAMPAIGN&utm_medium=email) e confirmou que "é manifestamente falsa".

Por: Olavo de Carvalho Publicado no Diário do Comércio.

DE CIRCOS, FICÇÕES E REALIDADE


O CIRCO


Desde o início do julgamento do ‘mensalão’ denunciei-o como um espetáculo circense para, como na antiga Roma, desviar a atenção da população de seus reais problemas. Minha opinião não mudou com algumas vitórias dos gladiadores togados contra o outro time. Muito embora haja grandes diferenças entre o que sucedia na Roma das Sete Colinas com a nova Roma Planaltina. Na primeira, Cidade Eterna, berço de um dos maiores Impérios da Antiguidade e desde então Sé Católica, era a plebe que era enganada. Na atual, triste caricatura criada por um Presidente megalômano desatinado em conluio com um arquiteto comunista, cuja existência é absolutamente desnecessária, senão maléfica, são os letrados (sic) que assistem com mais atenção ao espetáculo, riem e aplaudem efusivamente o Gigante Núbio que quer abater todos os adversários, e apupam o Leão Polonês que luta com menos furor. Igualzinho aos antigos Romanos que se enfureciam quando o Imperador ou as Vestais levantavam os polegares, salvando os perdedores, pois queriam ver muito sangue. A plebe mesmo, além de enfrentar as mazelas do transporte público para ganhar minguados trocados que os togados faturam em alguns segundos do sua confortável “faina”, está interessada no Brasileirão – Flamengo cai ou não para a ‘segundona’? – na luta entre Carminha e Ritinha e o futuro do Tufão, do Max e do Jorginho ‘Batata’, e nos programas do Ratinho, do Huck e do Faustão.


A FICÇÃO 


Além deste circo começa a tomar corpo uma obra de ficção Hollywoodiana para aterrorizar a Humanidade como um todo, mas particularmente aos brasileiros: a invenção gerada pela ONU sem nenhuma evidência científica de uma futura falta d’água potável no mundo e a necessidade de proteger nosos ‘aquíferos’ dos “alienígenas”.


Há muitos anos, aficionado por ficção científica, assisti a um filme sobre um planeta nos confins do Universo onde a água estava acabando. Como eram povos altamente desenvolvidos possuíam avançada tecnologia interplanetária e mandaram naves gigantescas para procurar água em outros planetas. A Terra, obviamente foi um dos escolhidos. Naves enormes se postaram sobre o Atlântico e o Pacífico e sugavam toda água. Finalmente, os terráqueos conseguem ganhar a parada, comandados por aqueles heróis que sempre surgem.


Na falta de alienígenas de outros planetas, servem os do Norte deste aqui mesmo, despertando a obsessão antiamericana subjacente na mente da comunalha e infelizmente de nossos nacionalistas, militares e civis, como já expressei anteriormente. Pretende-se com esta desculpa impedir a decisão soberana do Paraguai de assinar convênio com os EUA permitindo a instalação de uma base no território paraguaio do Chaco.


Em 28 de agosto o Notícias Terra relatou: Analistas geopolíticos da América do Sul estão apreensivos com a situação do Paraguai, principalmente pela relação do país latino com os Estados Unidos. A intensificação de atividades rotuladas como "humanitárias" e de "cooperação" da embaixada americana em Assunção e a regularidade de visitas de militares ianques de alta patente ao país são dois dos principais motivos. Um professor (sic) argentino levantou a velha arenga nacionalisteira ao declarar que os EUA "têm interesse na manutenção de sua hegemonia na região, em detrimento de uma integração latino-americana e o estabelecimento da suposta base permitiria maior proximidade com os países sul-americanos e respostas imediatas na hipótese de confrontos, devido a sua localização geográfica estratégica.


A Embaixada Americana em Assunción revela que a pista foi concluída ainda no governo Stroessner e por paraguaios e nada tem a ver com apoio atual ao governo de Federico Franco. Que os EUA queiram vigiar de perto a Tríplice Fronteira, o narcotráfico e os grupos terroristas islâmicos que indubitavelmente atuam por lá, deveriam merecer agradecimentos dos três países, mas eis que surge a paranóia dos ‘aquíferos’, pois ali se encontra o Guarani. São invasores que pretendem roubar nossa água, como se dela precisassem: no Meio Oeste dos Estados Unidos situam-se a Grande Bacia Artesiana com 1.7 km2 e o aquífero Ogallala (452 mil m2) somando 2.152 km2 maiores do que a soma dos dois aquíferos brasileiros, o Guarani (1.2 km2) e do Alter do Chão (437 mil km2)=1.637 km2, sendo que o primeiro ainda é dividido com outros três países [i]! Além do que a própria Embaixada responde à pergunta que eu fiz: ao afirmar que os EUA não têm interesse no Aquífero, diz que não haveria meio possível de transportar tal quantidade de água. Os EUA não possuem naves gigantescas com tal capacidade!
A TRISTE REALIDADE DO PAÍS




Enquanto preocupam-se com as condenações de mensaleiros e acalentam uma guerra – suicida – contra os “invasores do norte”, a realidade é bem outra. A degeneração moral da agenda Fabiano-Marxista (no Brasil: tucano-petista) segue impávida. O País está infestado de vadias, vagabundas, gays e drogados de toda espécie só esperando que o projeto ONU-SOROS-FHC-GAVÍRIA de liberação das drogas seja aprovado. A “educação sexual” através do kit gay, iniciada nos anos FHC e aprofundada nos petistas é de uma criatividade destrutiva – se me permitem o paradoxo – imensa, como o terrívelEncontrando Bianca (Bianca é um travesti gay)[i]. Podem estar certos: a liberação da pedofilia virá a reboque através de um projeto, que já existe, de “direitos da criança à plena satisfação sexual”. Falta pouco para ser introduzido do já nefasto ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente). Num país de dinheiristas só se pensa na corrupção financeira – o Circo – e não na corrupção moral e da alma. Ora, deixa pra lá, põe o Dirceu na cadeia e ficaremos todos felizes! Como já dizia o poema de e. e. cummings:

Everybody happy?

WE-WE-WE

& to hell with the chappy

Who doesn’t agree

Do estado da economia, das greves incontroladas e das mentiras da PresidAnta escrevo outra hora. Por: Heitor de Paola


Para publicação no Jornal Inconfidência, Belo Horizonte, MG


EDUCAÇÃO NO BRASIL E NO PRIMEIRO MUNDO



O Brasil investe em educação um percentual do PIB de Primeiro Mundo e colhe um resultado de Terceiro. É dinheiro que falta? Não! É competência mesmo! Mas não se diga isso na era petista…



Ainda ontem, com o rosto — e, possivelmente, o pensamento — paralisado pelo botox, Carlos Giannazi, candidato à Prefeitura de São Paulo pelo PSOL (o partido em que Caetano & Chico vão votar no Rio), defendia, num debate, que o governo passe a investir 10% do PIB em educação… É uma boçalidade! As coisas são simples assim: esse dinheiro não existe. Se existisse, dada a atual estrutura, seria o mesmo que jogá-lo pela janela. Aliás, é bem provável que, nessa hipótese, ele fosse mais bem aproveitado.

O Brasil é a sétima economia do mundo e investe na área 5,7% do PIB. É muito dinheiro. Só que é mal aproveitado, e o resultado é pífio. Entre outras razões, há um permanente boicote a todo e qualquer esforço feito em favor da qualidade. Em São Paulo, o então governador José Serra instituiu um sistema de promoção de professores por mérito e de qualificação dos profissionais. A Apeoesp, comandada pelo PT, foi à greve. Opôs-se até mesmo à definição de um currículo mínimo para as escolas. Livros foram queimados em praça pública. Os esquerdopatas querem mais salário, mas recusam qualquer programa que avalie seu desempenho. Os prejudicados são os alunos.

Aí aparecem, então, as soluções miraculosas — as “chalitices” e “mercadantices” da vida, como “escola em tempo integral”, “escola da família”, “escola com tablet”… Só não se fala numa escola com professor capacitado e submetido a uma avaliação constante do seu trabalho, que premie a competência e puna a incompetência, como em qualquer área da vida. Os sindicatos, tomados por petistas e esquerdistas ainda piores, não deixam.

Pois bem. Reproduzo abaixo uma nota publicada na Exame.com. Em relação à porcentagem do PIB, o Brasil investe em educação mais do que muitos países superdesenvolvidos. Mas está lá atrás na fila da qualidade. Leiam.
*
Tramita no Congresso Nacional uma proposta para fazer o volume de recursos para a educação chegar a 10% do PIB nacional. Hoje, o Brasil investe 5,7% — um dos índices mais altos entre os 42 países membros da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a frente de Reino Unido, Canadá e Alemanha, por exemplo. Na semana passada, a organização lançou um relatório sobre os gastos em educação de várias nações. Investir um décimo de toda a riqueza produzida no país deixaria o Brasil em primeiro lugar no ranking, acima da Islândia, que investe assombrosos 7,8% do PIB em educação hoje.

Esse número considera, além dos investimentos nas instituições de ensino, gastos governamentais com bolsas e programas de apoio aos alunos. Apesar do investimento brasileiro ser próximo da média dos países da OCDE, o país se encontra somente em 53º lugar — de um total de 65 — no Pisa, um programa de avaliação da qualidade da educação da mesma organização.

Ou seja, maiores investimentos não necessariamente acompanham, na mesma proporção, uma melhora no desempenho dos estudantes. O Brasil é o 15º que mais investe o PIB na área na lista da OCDE. Os lanternas no ranking foram Indonésia (investimento de 3% do PIB), Índia (investimento de 3,5%), Japão (3,8%), Eslováquia (4,1%) e República Tcheca (4,4%).

Os investimentos em educação de 20 países


Por Reinaldo Azevedo

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

TERCEIRA LIÇÃO



Dez lições de economia austríaca - Terceira lição: ação, tempo e conhecimento
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Rascunhamos na aula anterior o conceito de ação e podemos agora defini-lo:ação, para a Escola Austríaca de Economia, é qualquer ato executado voluntariamente com o objetivo de aumentar a satisfação de quem o executa. Como vimos na aula anterior, os agentes — isto é, aqueles que agem, sejam eles consumidores, produtores, investidores, poupadores, exportadores, importadores etc. — quando o fazem o fazem por meio deescolhas, considerando que os fins sempre suplantem os meios, ou seja, que as escolhas são feitas em meio àescassez.

Toda a ação nos mercados pressupõe, então, uma escolha feita em um determinado momento, tendo o agente a posse de alguns meios e tendo em vista determinado(s) fim(s). A teoria econômica supõe, com toda a razão, que todas as ações são realizadas com a expectativa de que, caso sejam concretizadas, venham a aumentar a satisfação (ou utilidade, na linguagem dos economistas) dos agentes. Ninguém age para piorar, é isso o que queremos dizer.

Agora uma pergunta que pode parecer complicada: e uma pessoa que decida que vai suicidar-se pulando de um edifício alto? Essa pessoa estará agindo da forma como definimos, isto é, pensando que se suicidar vai aumentar a sua satisfação? A resposta é sim! Porque seus sentimentos subjetivos estão tão abalados que ela pensa que a morte é a melhor solução. É claro que ela está errada, mas no momento em que decide tirar a própria vida ela não percebe isso.

Da mesma forma São Francisco de Assis, quando mandou distribuir os bens de seu pai, um rico comerciante, aos pobres, praticou aquela ação porque achou, de acordo com sua valoração subjetiva, que aquela ação lhe proporcionaria uma satisfação muito grande. O postulado da ação humana, portanto, é universal! Toda ação é executada no intuito de se aumentar o estado de satisfação.

Podemos refinar agora um pouco: toda ação é executada porque quem a executa acha que se a executar sua satisfação vai aumentar. O agente pesou e repesou meios e fins, considerou suas valorações e decidiu-se por aquela ação — por exemplo, comprar um tênis da marca X. Mas pode acontecer que, depois de ter praticado a ação, ou seja, depois de ter comprado o tênis, ele venha a perceber que a qualidade o mesmo não era boa, ou que poderia ter pagado um preço bem menor pelo mesmo modelo em outra loja. Em outras palavras, como o nosso conhecimento de todos os fatores que devem ser considerados ao se fazer as escolhas sempre é incompleto, além de estar distribuído desigualmente entre os agentes, ocorre que as ações acontecem na imensa maioria das vezes em ambiente de incerteza, o que significa que a ocorrência de erros costuma ser comum.

A economia do mundo real, portanto, nada mais é do que o conjunto de todas as ações — compras, vendas, empréstimos, decisões de produção, de poupança, de investimento etc. — realizadas sob a forma de transações econômicas, que envolvam escolhas.

Acontece, porém, que essas escolhas não são fixas no tempo! Imagine que você não suporta ouvir músicas sertanejas, mas que um belo dia começa a namorar a filha de um rico fazendeiro do interior de São Paulo. Sua valoração quanto às músicas sertanejas muda: você, influenciado por fatores não econômicos, como a paixão, passa a comprar CDs e DVDs de todas as duplas sertanejas que encontra nas lojas. Seis meses depois, vocês terminam o namoro. Muito provavelmente, você jogará no lixo todos os CDs e DVDs que comprou enquanto estava apaixonado. Portanto, sua escala de valores alterou-se duas vezes em poucos meses. E isso acontece com boa parte dos bens e serviços que temos que valorar ao longo de nossas vidas (felizmente, porque senão a vida será mais entediante).

A passagem do tempo, portanto, tende a afetar sensivelmente e de maneira muitas vezes imprevista as nossas escolhas. O tempo pode ser definido como um fluxo permanente e contínuo de novas experiências: é como se o nosso estoque de conhecimentos e de interpretação desses conhecimentos estivesse armazenado em um tanque e o tempo fosse algo como uma torneira despejando novos conhecimentos e novas interpretações a esse estoque, que vai, então, se modificando permanentemente; e isso influencia as ações ao longo do tempo. Por exemplo, se você gosta muito de chocolate e come de uma vez só duas barras daquelas maiores, provavelmente vai sentir dores na barriga. Na próxima vez, dificilmente você comerá duas barras de uma só vez.

Outro exemplo: quando você tinha cinco anos, o valor subjetivo que atribuía a um velocípede certamente era maior do que o que atribui hoje a ele, porque o tempo passou e suas perspectivas, sua memória, sua antecipação foi alterando o seu conhecimento e a maneira de interpretar esse conhecimento também se alterou.

Vamos refazer nossa definição de economia, então: a economia do mundo real, portanto, nada mais é do que o conjunto de todas as ações — compras, vendas, empréstimos, decisões de produção, de poupança, de investimento etc. — realizadas sob a forma de transações econômicas, que envolvam escolhas ao longo do tempo. 

Por fim, temos que considerar que, como ensinou o grande economista austríaco Hayek, o nosso conhecimento (aquele necessário para decidirmos as ações econômicas que escolheremos) possui duas características: primeira, ele é incompleto; e segunda, ele está espalhado de maneira desigual entre os participantes dos mercados.

Ora, se nosso conhecimento é incompleto, ele é insuficiente, então, para que possamos tomar todas as decisões envolvendo uma ação com certeza absoluta de que serão as decisões corretas. E se ele está distribuído desigualmente entre os participantes dos mercados, isso significa que alguns terão informações mais apuradas do que outros, o que irá com certeza afetar o grau de acerto/erro das decisões. Por fim, observe que, mesmo se todos os participantes em um mercado tivessem exatamente as mesmas informações, o mesmo conhecimento, cada um deles interpretaria essas informações e conhecimentos de maneira absolutamente única, individual, porque somos racionais, temos gostos e preferências próprias, valorizamos a posse de dinheiro de maneiras diferentes, somos influenciados por fatores externos diferentes, somos, para resumir, diferentes.

A conclusão disso é que sempre vai existir uma incerteza característica ao processo de escolher quais as melhores ações, tanto no campo da economia como nos outros campos da vida humana. Essa incerteza que está presente na ação humana, por mais racional que esta possa ser, não é uma incerteza que se pode medir com números, como, por exemplo, quando dizemos que a probabilidade de dar "cara" quando lançamos uma moeda para o ar muitas vezes será de 0,5. No caso da ação humana nos mercados, trata-se de uma incerteza que chamamos de incerteza genuína, à qual não podemos associar números nem estimativas. O corolário da incerteza genuína é a ignorância: temos que admitir que, por mais estudados que possamos ser, sempre seremos ignorantes de algumas condições específicas (de momento ou não) e que seriam relevantes para que a nossa ação não contenha erros.

Podemos agora finalizar nossa definição de economia, escrevendo: a economia do mundo real, portanto, nada mais é do que o conjunto de todas as ações — compras, vendas, empréstimos, decisões de produção, de poupança, de investimento, etc. — realizadas sob a forma de transações econômicas, que envolvam escolhas ao longo do tempo, realizadas em ambiente de incerteza genuína. 

O erro, a incerteza genuína, a ignorância, o fato de que nossas valorações mudam com o tempo e outros fatores muito complexos e que não se restringem apenas à economia fazem com que tenhamos que considerar que estudar economia não é o mesmo que estudar uma ciência natural. Por isso, temos que ter muito cuidado quando usamos a matemática para descrever o comportamento econômico, pois a economia não se presta a isso: nenhum modelo matemático poderá explicar porque você preferiu comprar uma camisa do seu clube de futebol, ao invés de comprar a de um clube rival.

A Escola Austríaca rejeita o uso da matemática na economia porque usa o critério hipotético dedutivo (e não o indutivo) e porque adota o falsificacionismo, em que formulamos uma teoria com base em argumentos lógicos e consideramos que essa teoria será correta enquanto não for falsificada pelos fatos do mundo real. Isso é diferente do método das outras correntes do pensamento econômico, que usam modelos matemáticos para descreverem o comportamento das pessoas no mundo real.

Ação, tempo e conhecimento, eis o universo da economia, caro aluno. Convido você a mergulhar nesse mundo fascinante!



Sugestões de leitura:

Iorio, Ubiratan J. Ação, tempo e conhecimento: a Escola Austríaca de Economia, Instituto Mises Brasil, 2011, São Paulo, Introdução e caps.1e 2






Sugestões para reflexão e debate:

1. Por que toda ação é uma escolha?

2. A definição de ação é válida sempre ou admite exceções?

3. Qual a importância da incerteza para as escolhas que caracterizam a ação?

4. Comente: "tempo é conhecimento, tempo é experiência".

5. Defina economia em função dos três conceitos apresentados.



Ubiratan Jorge Iorio é economista, Diretor Acadêmico do IMB e Professor Associado de Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Visite seu website.


"MENSALEIROS NO TRIBUNAL"


Depois de longa espera, finalmente o Supremo Tribunal Federal vai julgar o processo do Mensalão. A demora é só mais uma demonstração de quão ineficiente é o Judiciário. A lentidão é a maior característica do poder que devia ser célere, eficiente e, principalmente, justo. E não é por falta de recursos. Não. Basta observar as folhas de pagamento que, com muita dificuldade e depois de muita pressão do Conselho Nacional de Justiça, estão sendo divulgadas.

Os poderes Executivo e Legislativo estão maculados pela corrupção até a medula. Não há dia sem que apareça uma denúncia sobre o desvio de recursos públicos ou ao favorecimento de interesses privados. Os olhos do cidadão acabam, em um movimento natural, se dirigindo para o Judiciário. É um gesto de desespero e de impotência. Porém….

Não há otimismo que consiga reverter este quadro, ao menos a curto prazo. Vivemos um dos momentos mais difíceis da história republicana. Daí a enorme responsabilidade do STF no julgamento do Mensalão. Em 2005 fomos bombardeados por reportagens e entrevistas sobre o caso. O mais triste para os valores republicanos foram as sessões da CPMI dos Correios. Muitos depoimentos foram transmitidos ao vivo. Foi estarrecedor ouvir depoentes que tratavam de desvios de recursos públicos, de pagamento de campanhas eleitorais (como a presidencial de 2002) e da compra de apoio político no Congresso, com enorme tranquilidade, como se toda aquela podridão fizesse parte do jogo político em qualquer democracia. E quem agisse de forma distinta não passaria de um ingênuo. Em resumo, a ideia propagada pelos depoentes era de que política sempre foi assim.

Contudo, no decorrer dos trabalhos da CPMI, o clamor da opinião pública foi crescendo. A crise política se instalou. Alguns parlamentares do PT, envergonhados com a revelação do esquema de corrupção, saíram do partido. O presidente Lula foi à televisão e pediu, em rede nacional, desculpas pela ação dos dirigentes partidários. Disse desconhecer que, nas antessalas do Palácio do Planalto, tinha sido planejado o que ficou conhecido como Mensalão. Falou até que tinha sido traído. Não disse por quem e nem como.

O relatório final da CPMI pedindo o indiciamento dos responsáveis foi encaminhado à Procuradoria Geral da República. A aprovação foi comemorada. Em sinal de triunfo, o relator foi carregado pelos colegas. Para a oposição, o presidente Lula estava nas cordas, à beira de um nocaute. Caberia, disse, na época, um dos seus líderes, levá-lo sangrando até o ano seguinte para, então, vencê-lo facilmente nas urnas. Abrir um processo para apurar o crime de responsabilidade colocaria em risco o país. Estranha argumentação mas serviu para justificar a inépcia oposicionista, a falta de brio republicano e uma irresponsabilidade que só a história poderá avaliar.

Em 2007 o STF aceitou a denúncia. Foi uma sessão bizarra. Advogados se sucediam na tribuna defendendo seus clientes, enquanto os ministros bocejavam, consultavam seus computadores, conversavam, riam e ironizavam seus colegas. Dois deles ─ Ricardo Lewandovsky e Carmen Lúcia ─ chegaram a trocar mensagens especulando sobre os votos dos ministros e tratando outros por apelidos. Eros Grau foi chamado de “Cupido” e Ellen Gracie de “Professora”. O ministro Cupido, ou melhor, Eros Grau, chegou ao ponto de mandar um bilhetinho para um advogado, um velho amigo, e que estava defendendo um dos indiciados. Teve advogado que falou por tempo superior ao regimental e, claro, como não podia deixar de ser, fomos quase sufocados pelo latinório vazio, a erudição postiça, tão típica dos nossos bacharéis. Em certos momentos, a sessão lembrou um animado piquenique. Pena, que ao invés de um encontro de amigos, o recinto era da nossa Suprema Corte.

Apesar do clima descontraído, a denúncia foi aceita. E o processo se arrastou por um lustro. Deve ser registrado que, inicialmente, eram quarenta acusados e foram utilizados todos os mecanismos ─ que são legais ─ protelatórios. No final do ano passado, o ministro Joaquim Barbosa entregou ao presidente do STF o processo. De acordo com o regimento foi designado um ministro revisor. A escolha recaiu em Ricardo Lewandovski, o mesmo que, na noite da aceitação da denúncia, em 2007, foi visto e ouvido ─ principalmente ouvido ─ ao celular, em um restaurante de Brasília, falando nervosamente que a tendência dos ministros era “amaciar para José Dirceu”, um dos acusados. Mas que, continuou o advogado de São Bernardo, a pressão da mídia teria impedido o “amaciamento” (curioso é que nessas horas a linguagem é bem popular e o idioma de Virgílio é esquecido). O mesmo Lewandowski ficou seis meses com o processo. Foi uma das mais longas revisões da história. Argumentou que o processo era muito longo. Mas isto não impediu que realizasse diversas viagens pelo Brasil e para o exterior durante este período.

Depois de muita pressão ─ e foi pressão mesmo ─ , o ministro revisor entregou seu relatório. Só que, dias antes, o presidente Ayres Brito reuniu os ministros e estabeleceu o calendário do julgamento. Registre-se que Lewandovski não compareceu à reunião, demonstrando claramente sua insatisfação. O ápice das manobras de coação da Corte foram as reuniões de Lula com ministros ou prepostos de ministros. Se o Brasil fosse um país sério, o ex-presidente ─ que agora nega o que tinha declarado em 2005 sobre o Mensalão ─ teria sido processado. Mas, diria o otimista, ao menos, teremos o julgamento público do maior escândalo de corrupção da história recente.Por: Marco Antonio Villa

O DOMÍNIO DOS FATOS

Às vésperas da primeira parte em que políticos petistas e outros, de partidos aliados, serão julgados pelo Supremo Tribunal Federal pela acusação de compra de votos em troca de apoio político, a revista Veja traz este fim de semana um relato, atribuído ao lobista Marcos Valério, incriminando o ex-presidente Lula no mensalão. 

Já condenado a muitos anos de prisão, e sendo provável que até o final do julgamento deva ser condenado a outros tantos por novos crimes, Valério já tem a certeza de que ficará na cadeia por longo tempo, e estaria revoltado com o abandono a que seus amigos do PT o relegaram. 

Segundo o relato, Valério acusa Lula de ser o verdadeiro chefe da trama criminosa, e dá detalhes de quem viveu por dentro a intimidade dos palácios presidenciais. 

De concreto, em termos do julgamento, nem essas revelações nem as acusações anteriores de advogados dos réus têm o condão de incluir o ex-presidente no rol dos acusados nesta Ação Penal 470. Mas os estragos políticos são devastadores, e nada impede que uma denúncia seja feita contra Lula mais adiante. 

No próprio julgamento, o advogado Luis Francisco Barbosa, que defende Roberto Jefferson, acusou o ex-presidente Lula de ser o verdadeiro mandante dos crimes. 

Ele se baseou na tese do “domínio final do fato”, que levou o Procurador-Geral a acusar o ex-ministro José Dirceu como o “chefe da quadrilha”. “Não só sabia como ordenou o desencadeamento de tudo isso que essa ação penal escrutina. Aqueles ministros eram apenas executivos dele”, garantiu o advogado, referindo-se a José Dirceu, Luiz Gushiken e Anderson Adauto. 

Pelo menos um deles, José Dirceu, disse certa vez que não fazia nada sem o conhecimento de Lula. Para provar sua tese, Barbosa fez um relato muito semelhante ao do Procurador-Geral, ligando fatos e consequências, apelando para o bom-senso dos juízes, pois não tem “atos de ofício” que provem sua acusação. 

E acusou Roberto Gurgel de prevaricação por ter “sentado em cima” de um pedido formal para incluir Lula entre os réus do mensalão. 

Anteriormente, em setembro de 2011, o advogado Marcelo Leonardo afirmou, nas alegações finais apresentadas ao Supremo Tribunal Federal na defesa de Marcos Valério, que faltava alguém no banco dos réus. 

Usando o mesmo raciocínio que Veja atribui a Marcos Valério, segundo quem “apenas os mequetrefes” estão sendo condenados, escreveu o advogado na ocasião: “É um raríssimo caso de versão acusatória de crime em que o operador do intermediário aparece como a pessoa mais importante da narrativa, ficando mandantes e beneficiários em segundo plano. (...) Alguns, inclusive, de fora da imputação, embora mencionados na narrativa, como o próprio presidente Lula”. Relatos anteriores davam conta que Marcos Valério, deprimido, enviara diversas mensagens para seus interlocutores no PT, principalmente a Paulo Okamoto, ex-tesoureiro do PT e amigo íntimo de Lula, ameaçando revelar detalhes do envolvimento do ex-presidente no mensalão. 

Paulo Okamotto admitiu recentemente ter conversado com Marcos Valério em diversas ocasiões nos últimos tempos, mas ao contrário de acalmar o publicitário mineiro, as conversas tinham um motivo mais trivial do que chantagens, embora inverossímil: “Ele queria me encontrar porque às vezes queria saber como está a política, preocupado com essas coisas”. 

Lembrando que o próprio Procurador-Geral da República, Roberto Gurgel, acusou o esquema de ter sido tramado de dentro do Palácio do Planalto, o advogado de Jefferson disse que seria uma ofensa a Lula afirmar que ele não sabia de nada: 

"Claro que sua excelência (Gurgel) não pode afirmar que o presidente da República fosse um pateta, um deficiente, que sob suas barbas estivesse acontecendo tenebrosas transações e ele não soubesse nada", concluiu Luis Francisco Barbosa. 

Nas vezes anteriores em que deixou vazar ameaças contra seus parceiros petistas, o publicitário Marcos Valério recuou. Diante da situação concreta de se ver na cadeia por muito tempo, é possível que Valério tenha perdido a esperança de ser salvo, apesar das promessas que diz ter recebido. 

Os petistas garantiram a ele que adiariam o julgamento o mais que pudessem, e que as penas, em último caso, seriam brandas. A realidade tem sido bastante diferente. 

Alguns ministros do Supremo deixaram escapar, no início do julgamento, que pela tese do “domínio final do fato”, se a cadeia de comando não terminasse no ex-ministro José Dirceu, teria forçosamente que subir um patamar e atingir o ex-presidente Lula.Por: Merval pereira