sábado, 10 de novembro de 2012

QUEM REALMENTE ARCA COM O FARDO DOS IMPOSTOS INDIRETOS


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O senso comum nos assegura que um imposto sobre a renda é "justo" porque tira dinheiro apenas dos ricos ao passo que impostos sobre bens de consumo penalizam majoritariamente os consumidores pobres, pois os empresários gananciosos repassam integralmente tais impostos ao preço final destes bens. Será mesmo? É realmente possível as empresas repassaram os impostos que incidem sobre bens de consumo totalmente para os consumidores na forma de um preço final mais elevado?

O fato de impostos sobre a renda acabarem prejudicando também os mais pobres já foi devidamente abordado em outros artigos (aqui e aqui), de modo que neste artigo irei me debruçar exclusivamente sobre a questão de impostos sobre bens de consumo. 

Para entendermos claramente o mecanismo de uma transmissão de impostos para os consumidores, e verificarmos se tal transmissão realmente é possível em termos econômicos, comecemos do início. 

Imagine que o mercado esteja funcionando normalmente sem um imposto sobre bens de consumo. Assim, todos os preços vigentes são aqueles determinados pela interação entre a oferta de bens — o estoque de bens disponíveis para serem vendidos — e a demanda por esses bens. E então vem o governo e impõe uma taxa de 20% sobre o valor de todos os bens de consumo da economia. O que irá ocorrer?

Em primeiro lugar, todos os varejistas sofrerão um imediato aumento de 20% em seus custos de vendas. Se a receita era de $100, eles agora ficarão com apenas $80. Eles podem aumentar os preços para compensar este custo adicional? Difícil. Afinal, os preços, em todo e qualquer momento, tendem a já estarem estipulados em um valor que traga o máximo possível de receita líquida para cada vendedor. Se os vendedores pudessem simplesmente repassar o aumento de 20% em seus custos para os consumidores, então por que já não haviam feito isso antes? Eles não são gananciosos? Por que tiveram de esperar que o governo estipulasse um imposto sobre bens de consumo para que então elevassem seus preços?

Preços já estão em um valor que traga o máximo possível de receita líquida para cada empresa. Qualquer aumento nos custos, portanto, terá de ser absorvido pela empresa; tal aumento não pode ser repassado diretamente para os consumidores. A imposição de uma taxa sobre a venda de bens de consumo não alterou o estoque de bens que já haviam sido produzidos e que estavam à disposição dos consumidores. E a demanda dos consumidores não foi alterada só porque o governo criou um imposto. Se o governo criar um imposto sobre as vendas, os consumidores não irão alterar suas curvas de demanda de modo a repentinamente aceitarem um preço maior para os bens de consumo. Por isso, se as empresas repassarem o imposto para o preço final de seus, elas simplesmente perderão receitas, pois menos consumidores comprarão seus produtos (assumindo aqui que a quantidade de dinheiro na economia não se alterou). 

Logo, como a oferta e a demanda não se alteraram, os preços também não irão se alterar. Os custos dos impostos serão absorvidos pelas empresas. [Isso explica por que era ingenuidade imaginar que os preços cairiam por causa da extinção da CPMF ou por causa da abolição da sacola plástica nos supermercados].

Este exemplo abordou a criação de um imposto uniforme sobre todos os bens de consumo da economia. Analisemos agora o que ocorreria caso este mesmo imposto incidisse apenas sobre bens específicos.

Imagine que o governo impõe uma taxa de 20% sobre um determinado bem — por exemplo, produtos cítricos. Tal imposto faria com que as empresas que vendem laranjas, limões, pomelos, sucos de laranja e limão, picolés, saladas de frutas etc. inicialmente tivessem de lidar com um aumento em seus custos de produção e, consequentemente, uma redução em seus lucros.

Como consequência, as pequenas empresas que operam marginalmente nesta indústria poderão sofrer prejuízos e falir, ao passo que as empresas mais eficientes irão cortar custos e reduzir sua produção, de modo a provocar uma redução na oferta de produtos cítricos no mercado. Ao fazerem isso, a redução na oferta levará a um aumento dos preços e a uma queda na demanda, mas os lucros não serão afetados, pois houve também uma redução na produção. Portanto, a taxa de 20% não pôde simplesmente ser repassada para os preços. Se as empresas fizessem isso e não alterassem seus custos de produção, o aumento dos preços levaria uma queda na demanda. E por não ter havido redução na produção, os lucros cairiam. 

Portanto, é justamente o efeito destrutivo do imposto sobre os lucros da empresa o que afeta a relação de oferta e demanda, levando a uma redução da oferta e a um consequente aumento dos preços para os consumidores.

Adicionalmente, dado que os consumidores podem, e irão, alterar suas preferências, passando a consumir outros tipos de frutas e sucos assim que os preços dos cítricos subirem, as empresas de cítricos não poderão aumentar os preços de seus produtos em exatos 20%. Tudo vai depender da oferta de produtos da concorrência. Dependendo dessa disponibilidade de substitutos e da elasticidade das curvas de demanda dos consumidores, o aumento percentual no preço dos cítricos pode acabar sendo bem menor do que 20%.

Até aqui, essa análise austríaca é bastante semelhante à análise neoclássica padrão. O diferencial vem agora.

No longo prazo — e este é o ponto distintivamente austríaco —, o fardo do imposto será jogado para os proprietários dos fatores de produção voltados especificamente para o setor de frutas cítricas — no caso, os cultivadores de frutas cítricas e donos de pomares. O valor de seu capital — sua terra e sua mão-de-obra — irá cair acentuadamente como consequência da queda na demanda por produtos cítricos. Os trabalhadores destes setores terão seus salários reduzidos. Caso não aceitem tal redução, serão demitidos e terão de procurar empregos em outras áreas. Esta maior oferta de mão-de-obra irá deprimir os salários destas outras áreas da economia.

E é assim que os consumidores serão prejudicados por este imposto indireto: como os cultivadores menos eficientes terão parado de produzir simplesmente porque não eram capazes de cobrir seus custos salariais, passa a haver uma maior escassez de produtos cítricos no mercado. E isso leva a um aumento nos preços para os consumidores. 

É desta forma, portanto, que impostos indiretos levam a aumentos nos preços. Eles não são simplesmente repassados; há toda uma distorção na cadeia de produção que leva a este aumento de preços. Quanto maior o imposto, maior será este efeito. 

Um famoso exemplo prático dessa teoria — e se tornou famoso justamente porque foi amplamente visível — ocorreu nos EUA no início da década de 1990, com a indústria de iates. Para combater uma queda nas receitas decorrente da recessão da época, o governo aprovou um imposto de 50% sobre 'artigos de luxo', como aviões, automóveis e barcos que custassem mais de US$100.000. Mas a demanda por estes itens de luxo era tão elástica que as compras de iate despencaram de 400 unidades em 1990 (ano anterior à criação do imposto) para 10 unidades em 1992.

Quase todos os construtores de iates foram à falência e vários trabalhadores desta indústria — uma mão-de-obra muito especializada — foram demitidos e tiveram de aceitar salários muito menores como pescadores de caranguejos, pilotos de barcos de turismo etc. Os consumidores tiveram de lidar com altos preços até o imposto ser finalmente abolido em 1993.

O governo quis aumentar suas receitas mas acabou apenas gerando desemprego. 

Como bem explicou Frédéric Bastiat, na economia há aquilo que se vê e o que não se vê. Um economista tem de ser igualmente versado nas duas artes. Nenhum imposto é neutro ao mercado; todo e qualquer imposto gera consequências inesperadas e não-premeditadas.

Joseph Salerno  é o vice-presidente acadêmico do Mises Institute, professor de economia da Pace University, e editor do periódico Quarterly Journal of Austrian Economics.

Tradução de Leandro Roque 

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

A ÉTICA PETISTA

Será que devemos condenar todo o Partido dos Trabalhadores pelos erros de alguns de seus membros? Não resta dúvida de que muita gente aderiu ao PT com a melhor das intenções. Mas confesso não entender quem ainda insiste no erro.


A bandeira da ética não foi rasgada hoje pelo PT. No fundo, o partido nunca teve muito apreço por ela. O que ele fazia era monopolizar o discurso da ética. Ao se colocar como seu único bastião, o PT enganou muitas pessoas ingênuas; mas seu objetivo sempre foi o poder pelo poder.

O discurso petista é sensacionalista e demagógico. Ele usa a velha tática de dividir para conquistar. Negros contra brancos, mulheres contra homens, pobres contra ricos, empregados contra empresários: o PT sempre soube chacoalhar as árvores para colher os frutos; o que nunca soube fazer foi plantar boas sementes.

Enquanto oposição, o PT sempre adotou postura destrutiva, contra os interesses nacionais. Foi contra Tancredo, não quis aprovar a Constituinte, lutou contra o Plano Real que derrotou a inflação, fez campanha contra as privatizações que modernizaram a economia, sempre de olho apenas no poder.

A estratégia de marketing do PT em 2002 mostrava a bandeira brasileira sendo comida por ratos, e o texto dizia: “Ou a gente acaba com eles ou eles acabam com o Brasil”. A realidade se mostrou diferente. O próprio PT era uma ratazana disfarçada de caça-roedores.

O caso envolvendo Waldomiro Diniz já era um alerta e tanto. Afinal, tratava-se de um homem da confiança de José Dirceu, que foi pego em gravação cobrando propina do bicheiro Carlinhos Cachoeira. O esquema contava com a participação dos bingos, e o PT fez de tudo para sepultar a “CPI dos Bingos” na época, como fez agora no caso da Delta, a principal construtora do Programa de Aceleração do Crescimento do governo Dilma (que não cresce).

A ligação do partido com o jogo do bicho vinha de longa data. O ex-governador Olívio Dutra esteve sob a mira de investigações por denúncias de ligações com o jogo ilegal. Uma fita gravada pelo ex-tesoureiro do partido, Jairo Carneiro, relatava o financiamento da campanha petista pelos contraventores.

Um dos casos mais escabrosos diz respeito ao assassinato do ex-prefeito de Santo André, Celso Daniel. O irmão da vítima, que teve de sair do país para se proteger, garante ter ouvido de Gilberto Carvalho a afirmação de que ele próprio entregava dinheiro das propinas a José Dirceu. Várias testemunhas do caso também morreram. A família nunca aceitou a versão de crime comum.

Existem outros escândalos, mas o leitor já entendeu o ponto: o PT jamais abraçou a ética de verdade. Da mesma forma que a própria democracia nunca foi vista com muita simpatia pelo partido. Tanto que ele sempre flertou com regimes autoritários, como a ditadura cubana, até hoje reverenciada por muitos, e o modelo socialista de Chávez.

Forçando um pouco a barra, podemos engolir a tese de que milhares de membros do partido ignoravam o que se passava por baixo dos panos. Não sabiam dos detalhes sórdidos, ainda que divulgados pela imprensa. A alienação permitia a manutenção da ilusão.

Mas como usar a ignorância como escusa agora, depois que o STF condenou parte da cúpula do PT por corrupção e formação de quadrilha? Os “delinqüentes”, termo usado pelo decano do STF, tentaram dar um golpe em nossa democracia. E não estamos falando de peixe pequeno, mas sim dos mais graúdos dentro do PT.

Para adicionar insulto à injúria, qual a reação dos lideres do partido, incluindo o maior deles, o ex-presidente Lula? Revolta contra os culpados que esgarçaram totalmente a bandeira ética do PT? Nada disso! O partido decide passar a mão na cabeça dos culpados e atacar o próprio STF, que tem a maioria dos ministros apontada pelo próprio PT, assim como a imprensa livre do país. Eles adorariam que o Brasil fosse Cuba.

A melhor defesa que um petista tem hoje é a de que seu partido é “apenas” tão ruim quanto os demais. Isso, por si só, já seria patético para quem sempre tentou monopolizar as virtudes. Mas há um detalhe: é mentira. O PT é muito pior! Justamente por se colocar acima de todos, ele sempre adotou a máxima de que seus fins “nobres” justificam os mais nefastos meios. A reação ao julgamento do STF comprova que o PT em nada mudou.

Com isso em mente, será que quem permanece filiado ao PT, de certa forma, não é cúmplice de uma quadrilha? É possível ter vergonha na cara e permanecer no partido? Alguns podem considerar isso muito radical. Mas não seria mais radical continuar petista depois de tudo que o PT aprontou? Por: Rodrigo Constantino

PEQUENOS ASSASSINATOS


"Falar mal do governo é tão bom que não deveria ser privilégio só da oposição"
Milton Campos, governador de Minas Gerais entre 1946 e 1950.

O governador mineiro, se vivo fosse, estaria frustrado em ver que sua frase não faz muito sentido nos dias atuais. Afinal, mal existe uma oposição, e aqueles que se intitulam “oposição”, pelo visto, não gostam de falar mal do governo. Já que a oposição não faz o que tem que fazer, os bolsistas do andar de baixo (bolsa família) também não e tão pouco os bolsitas do andar de cima (bolsa BNDES). Sobra para nós, os “sem bolsa”, essa deliciosa tarefa. Vamos a ela.

O objetivo desta carta é sair um pouco da análise de curto prazo da política econômica e dos mercados e olhar um pouco mais atentamente para outros direcionamentos do governo, que, no momento, não impactam o seu bolso, mas no futuro irão afetar a sua vida e a de seus filhos também.

Vamos começar pelo conceito de meritocracia, algo bem simples como: conquista-se coisas na vida de acordo com seu esforço e mérito. Aquele que usa os finais de semana para estudar tende a conseguir as melhores vagas nas universidades (e depois no mercado de trabalho) do que aquele que fica fiscalizando a natureza na praia, certo? Não mais. Desde a criação de um programa eleitoreiro de compra de votos, o bolsa família (sem a famosa porta de saída), passando pelo sistema de cotas e terminando no balcão dos amigos do BNDES, o que vemos é um sistema perverso que não estimula mais o esforço próprio e a busca pela superação.

O atual sistema de incentivos estimula o "coitadismo", a troca de votos por migalhas e, no caso do empresariado, de que mais valem bons contatos em Brasília do que a equação de cérebro afiado mais trabalho duro. Tudo aponta para uma sociedade onde a tônica é a "servidão voluntária" ao estado babá. De onde se pode esperar crescimento de longo prazo advindo de uma sociedade de zumbis? De onde virá a inovação?

Analisando o sistema de cotas, sancionado pela presidente Dilma Rousseff, que reserva 50% das vagas nas universidades públicas para alunos que cursaram todo o ensino médio em escolas públicas. Desse total, a metade será voltada para estudantes com renda familiar de até um salário e meio por pessoa. A outra metade para alunos negros, pardos e índios de acordo com a proporção dessas populações em cada estado, segundo o IBGE.

Há aí uma meia verdade que se transforma numa falácia. Que os alunos vindos das escolas públicas são precariamente formados, isto é um fato; porém não é correto correlacionar este fato à baixa renda. Afinal, pelo ensino público ser tão fraco academicamente é que as famílias de renda um pouco melhor buscam as escolas particulares. Basta o governo prover um serviço educacional digno, que haverá alunos de todas as classes sociais nas escolas públicas. O atual governo, em vez de endereçar o problema, ataca de forma populista as suas consequências. O resultado é que os cotistas se formarão em bem mais tempo do que os outros alunos, se é que se formarão. 

O input do sistema educacional está dado, mas alguém já parou para pensar no output deste monstrengo? Deve haver um aumento na evasão de alunos, um menor número de formandos e uma qualidade deteriorada dos novos profissionais. Se juntarmos essa previsão com a informação de uma taxa de desemprego bem perto do que chamamos de pleno emprego, podemos projetar uma economia de baixa produtividade e custo alto. Em resumo, uma economia com competitividade ainda pior do que temos hoje.

Outro conceito a ser abordado é a estabilidade de regras. Começando pela mais tenra idade, sabemos que a criança criada com regras estáveis dentro de casa crescerá de maneira mais saudável do que a criança em cuja casa os pais mudam a regra do jogo toda hora. A criança do lar instável tenderá a ficar mais insegura e, no futuro, repetirá o comportamento de seus pais. O mesmo se aplica a economia. 

Vamos ver o exemplo da fabricante coreana Kia Motors, que se instalou no Brasil trazendo uma proposta de alta qualidade com preço acessível. Rapidamente, chegou a 80 mil unidades vendidas, com uma boa rede de concessionárias e já caminhava para 100 mil carros vendidos por ano quando o governo, atendendo ao pleito dos simbióticos sindicalistas e montadoras, instalou um imposto de 30% sobre o automóvel importado. Da noite para o dia, o que acontece com o investimento de centenas de empresários e com a vida de milhares de funcionários que saíram de suas atividades anteriores para seguirem o Projeto Kia? Esse é o exemplo dos coreanos, mas poderia ter sido outro qualquer. Com o atual governo, quem é o louco de alocar tempo e dinheiro no Brasil? Somente se for muito bem conectado com Brasília, tiver uma ligação direta com o BNDES (quem sabe um apreço pela letra "X"). Mesmo com tudo isso, não há garantia de lucratividade.

A estabilidade de regras é crucial quando entendemos que governo não gera crescimento (a despeito do que até alguns vencedores de prêmio Nobel acreditam), ele apenas redireciona os recursos de A para B. No Brasil, além disso, entre A e B há o pit stop em C. Quem gera o crescimento são as entidades privadas. Se elas não tem regras estáveis de onde virá o estímulo ao crescimento?

O mais dramático de tudo, é que nossa infraestrutura está bem apertada e sucateada frente ao tamanho que chegamos. O governo demorou a reconhecer que o estado não pode e nem consegue construir o que necessitamos, mesmo assim ele quer ditar o quanto podem ganhar os operadores. Diga-se de passagem, bem pouco frente aos riscos. O resultado disso é que teremos investidores de segunda classe interessados. A concessão das estradas em 2007, e seu resultado pífio, demonstram bem isso. A dos aeroportos vai pelo mesmo caminho e o trem bala tem tudo para ser a "transamazônica" dos petistas.

É claro que ainda estamos em situação bem melhor do que estivemos na década de 80, porém nos preocupa ver que os pequenos assassinatos institucionais vão aos poucos erodindo as conquistas e reformas dos anos 90 e nos levando de volta para o passado. Tudo isso em nome de um esquerdismo anacrônico, autoritário e de resultados pífios pelo mundo. Afinal o que é a economia senão a psicologia aplicada à sistemas de incentivos corretos? Para nossa tristeza, os sistemas de incentivo corretos estão sendo destruídos diuturnamente.
Carta da MP Advisors

A MÍSTICA DO BOM SELVAGEM

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O trabalho feito por organizações ambientalistas e indigenistas de viés progressista – amplamente financiadas por organizações “filantrópicas” internacionais – está longe de ser a solução para esses problemas. Ao contrário: elas são justamente a causa desses problemas.


Jean-Jacques Rousseau, um dos grandes inspiradores dos ideais que culminaram na sangrenta Revolução Francesa de 1789, acreditava piamente naquilo que se chama “bom selvagem”. Rousseau defendia que o homem era naturalmente bom, e que era a sociedade que o corrompia, deformando sua essência em algo vil e perverso. Para impedir esse processo de mutilação do homem, era necessário destruir a sociedade tal como era, substituindo-a por uma sociedade que resgatasse a natureza benévola inerente ao ser humano. O processo pelo qual essa nova sociedade – e, por conseguinte, o novo homem – deveria surgir passava necessariamente pela demolição dos valores sobre os quais a velha sociedade estava alicerçada; todas as instituições que trabalhavam para a manutenção da velha sociedade – a Igreja, a família, a Coroa, o ensino, a cultura, as artes – deveriam necessariamente ruir para que o homem voltasse àquela Era de Ouro há muito perdida e ansiada.

O que motivou o surgimento do mito do “bom selvagem” foi o impacto que o contato com tribos nativas no continente americano e na região do Pacífico causou no imaginário literário europeu da época, sobretudo nos séculos XVII e XVIII. Vistos literalmente como descendentes de Adão e Eva que pareciam não terem sido atingidos pelo pecado original, os povos indígenas eram idealizados como ajuntamentos de pessoas puras, inocentes, cujo isolamento da civilização as manteve à salvo de deturpações em sua conduta e deformações em sua alma. Sua vida seria marcada por uma perfeita integração com a natureza, venerada pelos povos nativos como algo tão sagrado que qualquer interferência humana era considerada sacrílega e abominável, dependendo unicamente da prodigalidade da Mãe Terra para tirarem seu sustento.

Exatos 250 anos após a publicação de sua obra “Do Contrato Social” (1762), o pensamento revolucionário de Rousseau e a errônea concepção do índio como uma criatura pura, inocente (e, acima de tudo, indefesa) são mais fortes do que jamais foram. Quando se toca na questão indígena, sobretudo no Brasil, existem determinados traços paradigmáticos: 1) o índio deve ser protegido como um indivíduo parcialmente incapaz, que não possui faculdades mentais nem aptidões humanas suficientes para fazer suas próprias escolhas; 2) sua cultura tradicional deve ser preservada a qualquer custo, mesmo que muitos índios a abandonem espontaneamente; e 3) seus comportamentos são ontologicamente imunes a qualquer crítica que o “homem branco” possa fazer, uma vez que eles são dotados daquela sabedoria natural intrínseca à natureza humana que foi perdida por todos aqueles contaminados pela mácula da civilização. Esse estranho dueto de infantilização e sacralização tem provocado algumas bizarrices verdadeiramente assustadoras.

O assunto da vez é a situação de 140 índios guarani-kaiowá que, há cerca de um ano, invadiram parte de uma fazenda nas proximidades de Iguatemi, cidade do interior do Mato Grosso do Sul. A invasão foi batizada de comunidade Pyelito Kue. O proprietário das terras invadidas entrou com um pedido de reintegração de posse junto à Justiça Federal de Navirai, que determinou a retirada dos indígenas da região. Em reação à ordem, a comunidade Pyelito Kue emitiu um comunicado dizendo que a decisão judicial “é parte da ação de genocídio e extermínio histórico ao povo indígena”, e completou:

Pedimos, de uma vez por todas, para decretar a nossa dizimação e extinção total, além de enviar vários tratores para cavar um grande buraco para jogar e enterrar os nossos corpos. Esse é nosso pedido aos juízes federais. Já aguardamos esta decisão da Justiça Federal. Decretem a nossa morte coletiva Guarani e Kaiowá de Pyelito Kue/Mbarakay e enterrem-nos aqui. Visto que decidimos integralmente a não sairmos daqui com vida e nem mortos.


O comunicado causou uma celeuma daquelas – coisa muito comum em um país onde as pessoas efetivamente perderam sua capacidade de perceber e valorar problemas de acordo com seu real significado –, sobretudo nas redes sociais: começou a se falar em suicídio coletivo, pipocaram manifestações no Facebook e congêneres, abaixo-assinados foram iniciados, enfim, um grande circo midiático se armou em torno desse fato. A pedido do Governo Federal, a Justiça Federal de MS cassou a decisão que determinava a desocupação da área, de modo que os índios poderão ficar na região até o fim do trabalho de pesquisa que visa à demarcação das terras.

Chamar a situação dos guarani-kaiowá de genocídio é, no mínimo, um exagero sentimentalóide e despropositado. No entanto, é verdade que a situação das populações indígenas no Brasil é bastante injusta. Diversas comunidades passam por situações de risco social considerável: desnutrição, violência, desemprego, alto índice de mortalidade infantil e de doenças, falta de escolaridade, ausência de tratamento de saúde, enfim, um sem-número de problemas. No entanto, o trabalho feito por organizações ambientalistas e indigenistas de viés progressista – amplamente financiadas por organizações “filantrópicas” internacionais – está longe de ser a solução para esses problemas. Ao contrário: elas são justamente a causa desses problemas.

Um exemplo emblemático que serve de base a essa conclusão é a situação atual da reserva Raposa-Serra do Sol, em Roraima. Com aproximadamente 17.500 km² – maior, portanto, do que Líbano (10.400 km²), Irlanda do Norte (13.843 km²) e Timor-Leste (14.874 km²) –, a reserva teve a homologação de sua demarcação contínua confirmada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 20 de março de 2009. Produtores rurais e comerciantes que residiam e trabalhavam dentro da área da reserva foram retirados com a promessa de indenização do governo federal. As indenizações não vieram para a grande maioria deles, e outros receberam um valor irrisório por suas propriedades. Segundo reportagem da revista Veja intitulada “Uma reserva de miséria”, da edição nº 2219 (1º de junho de 2011), esse é o caso do ex-pecuarista Wilson Alves Bezerra. Sua propriedade, em que criava 1.300 cabeças de gado, possuía 5 mil hectares. Tendo o valor das edificações da propriedade sido orçado em R$ 350 mil, e levando em consideração um valor de R$ 1.000,00 por hectare – o que equivale a 1/3 do valor mínimo médio do mercado brasileiro –, o Sr. Wilson Bezerra deveria ter recebido pouco mais de R$ 5 milhões de indenização do governo. O valor total que recebeu foi de R$ 72 mil, cerca de 1,44% do valor total. Na época da reportagem da revista, ele sobrevivia vendendo churrasquinhos no centro de Boa Vista, o que lhe rendia R$ 40,00 por noite.

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Empreendimentos rurais como o do Sr. Wilson Bezerra empregavam muitos habitantes da região, sobretudo indígenas. Sem emprego, sem opção de sobrevivência e sem respaldo governamental, muitos índios se viram obrigados a também ir para Boa Vista. Muitos deles sobrevivem em condições precárias, conseguindo uma renda ínfima da cata de lixo e materiais recicláveis. Se antes havia uma perspectiva de desenvolvimento econômico e social para essas pessoas, hoje essa perspectiva não é mais do que um sonho distante e improvável. E a que se deve isso? À parceria de organizações indígenas e ambientais financiadas com recursos de fundações internacionais com órgãos do governo federal, como a Funai, e o Ministério Público Federal. São distorções como essa que levam o estado de Roraima a ter o pior PIB dentre as UFs brasileiras: cerca de 70% de seu território são compostos por reservas ambientais e indígenas, lugares em que atividades econômicas de base não podem ser conduzidas, o que gera um subdesenvolvimento generalizado no estado.


Ronald Reagan costumava dizer que o governo não é a solução para os problemas, mas o próprio problema. Nesse caso, o problema não é o governo, as ONGs e outros grupos de pressão, mas aquilo que os impregna até a medula: a mística do “bom selvagem”. Parece que 250 anos de equívocos e barbaridades não bastaram para apagar essa sandice da nossa “elite pensante”.




A ideia aparentemente inabalável de que o índio é uma criatura toda pura, naturalmente cheia de boas intenções, inocente, meio bobinha, muito mansa e dotada de uma sabedoria excelsa que provém de seu íntimo contato com a “Mãe Terra” tornou-se um verdadeiro arquétipo jungiano nos tempos hodiernos. Se antes, no contexto brasileiro, essa imagem servia muito mais à literatura do que à política – vide a Trilogia Indianista do escritor José de Alencar, composta pelas obras “O Guarani” (1857), “Iracema” (1865) e “Ubirajara” (1874) –, hoje ela serve para justificar todo tipo de infâmia.


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Reunião dos ministérios da Justiça e Direitos Humanos com representantes dos guarani-kaiowás.



Uma das falácias mais evidentes que compõem esse arquétipo está presente num texto recente de Luiz Martins da Silva, jornalista e professor da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília, publicado no portal da universidade. Em “O céu dos índios”, o prof. Luiz Martins escreve:

Contam cronistas que ao tempo dos primeiros exploradores os nativos até colaboravam na sobrecarga das naus, com madeiras e tudo o que queriam em grande quantidade, mas indagavam candidamente sobre os motivos de tanto acúmulo, se a madeira não ia acabar, se a floresta não ia desaparecer. Por que razão precisavam tanto de tudo e de uma só vez?

É possível que, “candidamente” encantado pelas historietas dos ditos cronistas, o autor do texto tenha se esquecido da altíssima carga de fantasia que embebiam a esmagadora maioria dos relatos de exploradores europeus em terras americanas. A tão alardeada consciência ecológica dos povos indígenas é, no mais das vezes, um delírio urdido por intelectuais que, incapazes de penetrar no mais essencial das culturas indígenas – ou, pior, ignorando-o de caso pensado, solenemente –, limitam suas análises ao assombro inicial causado pelo contato com o desconhecido. 

A ausência das noções de propriedade e de escassez torna desenfreada a utilização de determinado recurso limitado. E, ao contrário do que a nossa elite acadêmica pisa e repisa, a tragédia dos comuns não é algo cuja observância é limitada por diferenças culturais: ela faz parte da própria natureza humana. Aquilo que facilmente se obtém, que pode ser desfrutado sem limites e que não pertence a um indivíduo concreto, mas a uma abstrata coletividade, é explorado até a exaustão sem que haja ponderação acerca da durabilidade do bem e de seu melhor uso.

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Camiseta da Holanda e câmera digital: manufaturas tradicionais?

Notem que não é necessário nem mesmo conhecer a história dos povos indígenas para intuir a falsidade dessa sacrossanta consciência ecológica nativa. Em “Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil”, Leandro Narloch coloca as coisas de maneira bastante clara quanto a esse assunto:


As tribos que habitavam a região da mata atlântica botavam o mato abaixo com facilidade, usando uma ferramenta muito eficaz: o fogo. No fim da estação seca, praticavam a coivara, o ato de queimar o mato seco para abrir espaço para a plantação, empregado até hoje. No início, a coivara é eficiente, já que toda a biomassa da floresta vira cinzas que fertilizam o solo. Depois de alguns anos, o solo se empobrece. Pragas e ervas daninhas tomam conta. Como não havia enxadas e pesticidas e ninguém sabia adubar o solo, procuravam-se outras matas virgens para queimar e transformar em roças. O historiador americano Warren Dean estimou que a alimentação de cada habitante exigia a devastação de 2 mil metros quadrados de mata por ano. [...]

A grande vantagem ao fogo era facilitar a caça. Criando fogueiras coordenadas, um pequeno grupo de pessoas consegue controlar uma área enorme da mata sem precisar de machados, serrotes ou alguma outra ferramenta de ferro. As chamas desentocam animais escondidos na terra, no meio de arbustos e nos galhos. Aves, macacos, veados, capivaras, onças, lagartos e muitos outros animais corriam em direção ao mesmo ponto, onde os índios os esperavam para capturá-los. Não e à toa que, assim como em todo o resto do mundo, nas florestas brasileiras só havia animais de grande porte, rápidos e agressivos os mais lentos foram logo extintos pelas populações nativas. Para caçar alguns poucos animais, eles destruíam uma área enorme da floresta.



A ideia de que os índios também são criaturas ingênuas, inocentes, crédulas, bondosas por natureza, possuidoras de uma dignidade quase beatífica reservada somente aos animistas e panteístas – de alguma forma, esses credos equivalem a um inquestionável atestado de superioridade moral, lavrado com toda pompa e circunstância nos cartórios ideológicos (vulgo universidades) do Brasil –, é igualmente absurda. 
Dois casos são bastante ilustrativos. O primeiro ocorreu em 2004 nas imediações de Espigão d’Oeste, município do estado de Rondônia. A reserva Roosevelt, que abriga uma das maiores jazidas de diamantes do mundo, é habitada por índios cintas-largas. No dia 7 de abril daquele ano, cerca de 60 índios capturaram um grupo de 29 garimpeiros. Os garimpeiros – que, apesar de exercerem atividade ilegalmente, não estavam armados – foram amarrados com cipós e mortos a tiros e golpes de borduna, tendo os corpos carbonizados em seguida (algumas fotos das vítimas podem ser encontradas na rede). Poder-se-ia argumentar que os índios estavam apenas protegendo sua propriedade de invasores que estavam depredando sua terra sagrada e, a partir daí, forçar alguma ideia de legitimidade para essa barbaridade. Mas quando se sabe que muitos dos próprios índios da reserva traficam pedras preciosas, isso tudo soa mais como eliminação de concorrência.

O segundo caso ocorreu em maio de 2008 na cidade de Altamira/PA. Por iniciativa da Arquidiocese de Altamira e diversas ONGS, foi realizada uma grande reunião pública para discutir o afamado projeto da usina de Belo Monte. Paulo Fernando Rezende, engenheiro da Eletrobrás, participou do evento para falar a respeito do projeto de construção da usina e defender a necessidade do empreendimento. A reação dos índios foi esta:


Comparemos, por um instante, o vídeo acima com as palavras finais do texto do prof. Luiz Martins:


Em meados dos anos 70, levantei um dado estatístico, na Funai: havia entre os índios brasileiros missões de 50 diferentes linhagens religiosas, todas, evidentemente, tentando salvar as almas dos índios e encaminhá-los para um Céu de beatitudes. Eu fico me perguntando se não teria de ser o inverso, os brancos indo aprender com os índios, como se pode viver no Paraíso, já, aqui e agora.


A depender dos caiapós que deram esse show de horrores na reunião, é de se esperar que esse Paraíso terrestre seja construído com gritos de guerra, golpes de facão e bordoadas. Pensando bem, não é muito diferente do que os jacobinos, ébrios do ópio rousseauniano, fizeram na França quando o século XVIII estava em seus estertores. Bom, no fim das contas, talvez Rousseau estivesse certo, não é?

Em tempo: 
Índios são pessoas. Índios são seres humanos exatamente como nós, os “homens brancos”. Eles possuem fraquezas, qualidades, virtudes, defeitos, interesses, enfim, eles compartilham a mesma natureza humana que nós, “homens civilizados”, possuímos. E, assim como nós, eles também são capazes de atrocidades vergonhosas, como, por exemplo, a prática do infanticídio que algumas tribos mantêm. No entanto, eles também são capazes de atos verdadeiramente heróicos e virtuosos: é só serem tratados como pessoas, nem mais, nem menos. Se quisermos de fato que situações como essas não ocorram mais, está na hora de pararmos de agir como se fossem criaturas angélicas de outra dimensão ou como seres subumanos que necessitam da tutela estatal para absolutamente tudo. Por: Felipe Melo

A MOEDA E O TECIDO SOCIAL



Os bancos centrais dos principais países desenvolvidos parecem disputar quem consegue anunciar maiores estímulos em menos tempo. O problema maior, causado pelo excesso de endividamento do setor privado e dos governos, não vai ser solucionado com mais dívida, mas ninguém deseja enfrentar os sofrimentos dos ajustes necessários. A ilusão monetária surge como a esperança de que é possível diluir tais ajustes no tempo. As dívidas seriam corroídas pela inflação mais alta. Os credores seriam forçados a transferir renda para os devedores.


Muitos keynesianos aplaudem os afrouxamentos monetários. Paul Krugman chega a acusar o Fed de ser muito tímido! Para Krugman, até os estragos causados pelo furacão Sandy são vistos como algo positivo para a economia, especialmente se o banco central imprimir mais para financiar os gastos de reconstrução. Mas esta não era a postura do próprio Keynes. Em seu livro As Consequências Econômicas da Paz, escrito em 1919 para criticar as punições impostas à Alemanha pelo Tratado de Versalhes, ele alerta de forma profética:

Atribuiu-se a Lênin a declaração de que a melhor maneira de destruir o sistema capitalista é destruindo a moeda. Com um processo contínuo de inflação os governos podem confiscar uma parte importante da riqueza dos seus cidadãos, secreta e furtivamente. Com esse método eles não só confiscam mas o fazem arbitrariamente; é um processo que empobrece a muitos mas na verdade enriquece uns poucos. Esse deslocamento arbitrário da riqueza fere não só a segurança mas a confiança na equidade da distribuição de renda. Aqueles a quem o sistema traz vantagens além do que merecem, e mesmo do que esperam ou desejam, passam a ser ‘aproveitadores’ – objeto de ódio da burguesia, que a inflação empobreceu, não menos do que o proletariado. À medida que a inflação se desenvolve, e o valor da moeda flutua de mês a mês, as relações permanentes entre credores e devedores, fundamento do capitalismo, se desorganizam até quase perderem o sentido. E o processo de aquisição de valor degenera em uma loteria de azar.

Keynes ainda acrescenta:

Não há dúvida de que Lênin tinha razão. Não há meio mais seguro e mais sutil de subverter a base da sociedade do que corromper a sua moeda – processo que empenha todas as forças ocultas da economia na sua destruição, de modo tal que só uma pessoa em cada milhão consegue diagnosticar.

Lord Keynes merece muitas críticas dos liberais. Mas ele, perto de seus herdeiros ideológicos que falam hoje em seu nome, parece até um liberal defensor da austeridade. Ele sabia como a impressão desenfreada de moeda representava o caminho mais rápido para a destruição da economia e, com isso, do próprio tecido social responsável pela manutenção do modelo capitalista. Este, para funcionar, precisa de confiança, pois interliga milhões de agentes de forma impessoal. O símbolo desta confiança é justamente a moeda sólida.

Quando esta é deliberadamente desvalorizada, com a expansão descontrolada do balanço do banco central, o principal impacto negativo é na moral. As pessoas perdem os valores, os beneficiados por esta política inflacionária se tornam alvo de revolta popular (Wall Street deveria tomar mais cuidado com movimentos como “Ocupem Wall Street”), a concentração de riqueza aumenta de maneira artificial, e todos são instigados a especular no curto prazo para obter algum sustento extra. A eutanásia do rentier é um tiro nos poupadores, que têm parte de sua riqueza confiscada pelo governo.

No afã de inflar o preço dos ativos e estimular o consumo no curto prazo, estas políticas acabam gerando efeito contrário: os indivíduos percebem que terão de poupar ainda mais para desfrutar da aposentadoria, agora sem retorno sobre o capital acumulado, e precisam então reduzir seus gastos correntes. Quando o capital não tem mais valor no tempo, isso significa que é preciso acumular muito mais dinheiro para viver da poupança depois. Quando foi que o mundo endoidou de vez a ponto de acreditar que a impressão de moeda gera prosperidade efetiva?

Vários indivíduos, desesperados, passam a especular em ativos improdutivos, como imóveis e ouro, em busca de rentabilidade extra. O afrouxamento monetário dos bancos centrais cria uma sociedade de day traders, de especuladores ligados nos preços dos ativos a cada momento, à espera da nova rodada de estímulos, tal como viciados vidrados na expectativa da próxima rodada de droga.

A História está repleta de casos que ilustram as desgraças dessas medidas inflacionárias. Um dos importantes fatores que levaram à queda do império romano foi justamente a desvalorização sistemática de sua moeda pelas autoridades. Mais recentemente, a República de Weimar assombrou o mundo com sua hiperinflação, uma das principais causas da ascensão de Hitler ao poder.

Em When Money Dies, Adam Fergusson relata passo a passo a destruição da moeda alemã e como isso impactou na degradação moral do país. O mais impressionante era o desejo de negar os fatos. Mesmo após a expansão descontrolada da quantidade de moeda em circulação, muita gente ainda culpava bodes expiatórios pelo aumento no custo de vida. Os alemães sofreram tanto por esta ignorância que aprenderam a lição, criando o banco central mais ortodoxo e disciplinado do mundo. O Bundesbank foi um pilar fundamental da reconstrução alemã no pós-guerra, e ainda hoje desfruta de excelente reputação.

O mundo deveria levar o alerta a sério, portanto, quando lideranças alemãs começam a falar até em trazer seu ouro estocado nos Estados Unidos de volta ao país. Estamos diante de um momento extremamente perigoso, em escala mundial. Banqueiros centrais partem para experimentos irresponsáveis que podem abalar as principais estruturas do capitalismo. Com a moeda não se brinca impunemente. Ela é o elo que serve de argamassa para o tecido social. Se as pessoas perderem a confiança nela, então o caos pode se instalar em boa parte do mundo.Por: Rodrigo Constantino

DÉCIMA LIÇÃO


Dez lições de economia para iniciantes - Décima lição: bancos, bancos centrais e ciclos econômicos


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Você sabia que se a maioria dos correntistas de qualquer banco, por mais sólido que ele venha a ser, resolver sacar o dinheiro de suas contas não haverá dinheiro suficiente nos cofres do banco? E que desde 1970 aconteceram 124 crises bancárias no mundo, sem contar a Islândia e a Europa?

Os bancos comerciais, por receberem depósitos à vista (que, juntamente com o papel-moeda e as moedas metálicas compõem o que os economistas chamam de meios de pagamento ou, simplesmente, moeda) são propagadores de crédito e multiplicadores da moeda emitida pelos bancos centrais.

No sistema de reservas fracionárias acontece o que Fernando Ulrich relata em seu artigo sobre o sistema bancário indicado como leitura complementar a esta aula: "No entanto, no atual sistema bancário de reservas fracionárias, os bancos normalmente não emprestam o dinheiro em espécie que foi depositado. Eles, em vez disso, criam uma nova conta-corrente (formada unicamente por dígitos eletrônicos), cujo valor é então concedido como empréstimo. Desta forma, o balancete de um banco irá mostrar um total de $200 na forma de depósitos em conta-corrente, sendo $100 em dinheiro em espécie e $100 em empréstimos (com dinheiro exclusivamente eletrônico). Portanto, o banco possui 50% de dinheiro em espécie (reservas) para honrar seu passivo de $200. Ele possui apenas uma "fração" como reserva. Ao constatarem que os correntistas raramente retiram seus fundos, os bancos se sentem confiantes para expandir o crédito, concedendo empréstimos em quantias várias vezes superiores ao dinheiro originalmente depositado. Bancos, desta forma, criam dinheiro "ex nihilo". Ou, como descrito nos atuais livros-texto de economia, eles multiplicam dinheiro. Trata-se do "multiplicador monetário".

Prossegue Ulrich, em linguagem simples, em seu esclarecedor artigo: "Portanto, por meio da prática de reservas fracionárias, os bancos podem emitir passivos de curto prazo ao mesmo tempo em que mantêm apenas uma pequena fração de ativos líquidos de curto prazo, sendo que a vasta maioria dos ativos está na forma de investimentos de longo prazo. Ao longo da história, a maioria dos bancos mostrou-se incapaz de sobreviver durante muito tempo seguindo esta prática, dado que eles simplesmente não eram capazes de restituir todo o seu passivo em espécie (no passado, ouro; no presente, cédulas criadas pelo banco central). A criação de um banco central foi a consequência lógica desse arranjo, uma criação com o objetivo de remediar essa falha".

Até a primeira guerra mundial os governos estavam restritos em sua capacidade de emitir moeda, porque vigia o sistema de lastro ouro, em que eles só podiam emitir caso houvesse um aumento nas suas reservas de ouro. Com o final daquela guerra, os governos no mundo inteiro abandonaram o lastro ouro, que ficou restrito apenas aos Estados Unidos. Mas em 15 de agosto de 1971, no governo Nixon, os Estados Unidos abandonaram o padrão ouro.

Esse abandono de um lastro foi muito ruim porque provocou inflação em todos os países. Para você ter uma ideia de como isso foi ruim, saiba que o Federal Reserve (o Fed — Banco Central americano) foi criado em 1913 e que um dólar do ano de 1800 equivalia a um dólar de 1913, mas que um dólar atual vale 0,03 de um dólar de 1913! Você não acha que existe algo de errado com o Fed e os bancos centrais em geral?

E no Brasil, as coisas foram diferentes? A verdade é que foram muito piores! Veja só que coisa espantosa: nosso Banco Central foi criado pelo decreto 4.595, de 31 de dezembro de 1964. A moeda que circulava na época era o cruzeiro, criado em 1942. O cruzeiro novo foi implantado no dia 13 de fevereiro de 1967. O cruzeiro, padrão monetário desde 1942, perdia três zeros e se transformava em cruzeiro novo. Portanto, 1 cruzeiro = 0,001 cruzeiro novo.

O cruzeiro substituiu o cruzeiro novo em 15 de Maio de 1970, sendo que um cruzeiro valia um cruzeiro novo. Durou até 27 de fevereiro de 1986.

O cruzado é proveniente do Plano Cruzado, implantado pelo governo Sarney. A partir do dia 28 de Fevereiro de 1986, mil cruzeiros passaram a valer um cruzado. 
Para implantar o cruzado o governo aproveitou as cédulas de 10 mil, 50 mil e 100 mil cruzeiros, carimbando-as para o novo padrão. Portanto, 1 cruzeiro de 1986 passou a valer 0,001 cruzado, ou seja, 1 cruzeiro de 1964, quando nosso Banco Central foi criado, equivalia a 0,000001 cruzados.

Mas a farra não ficou nisso: o cruzado novo entrou em circulação no dia 15 de janeiro de 1989, na segunda reforma monetária do presidente José Sarney. A nova moeda substituía o cruzado, sendo que 1 cruzado novo valia 1000 cruzados, o que significa que 1 cruzeiro de 1964 equivalia agora a 0,000000001 cruzados novos.

O cruzeiro foi reintroduzido como padrão monetário em substituição ao cruzado novo, como parte do "Plano Collor", em março de 1990, sem ocorrer a perda de três zeros. Então, 1 cruzeiro de 1964 equivalia agora a 0,000000001 cruzeiros de 1989.

O cruzeiro real foi implantado no 1º de Agosto de 1993, substituindo o cruzeiro, sendo 1 cruzeiro real equivalente a 1.000 cruzeiros de 1991. Isso significa que 1 cruzeiro de 1964 passava a valer agora 0,000000000001 cruzeiros reais de 1989!

Mas você pensa que a farra acabou aí? Nada disso! O Real foi lançado em 01/07/1994, pelo Plano Real, no governo Itamar Franco. Primeiramente foi estabelecido um índice paralelo para efeito de transição, a Unidade Referencial de Valor (URV). A conversão de cruzeiros reais, para reais foi feita mediante a divisão do valor em cruzeiros reais pelo valor da URV naquela data, que era de CR$2.750,00. Então, um real vale 2.750 cruzeiros reais, ou seja, para encerrar a conversa, 1 cruzeiro de 1964, quando nosso glorioso Banco Central foi criado, equivale a 0,000000000 divididos por 2750!

Não se assuste, porque a coisa é ainda pior: não consideramos a inflação que aconteceu entre 1964 e 1994, consideramos apenas as mudanças de moeda, senão ainda teríamos que dividir esse último número pela inflação que se verificou naqueles 30 anos, que foi uma das maiores do mundo! Literalmente, desde que foi criado, o Banco Central do Brasil nada mais fez do que destruir a nossa moeda!

E por que é muito importante que não ocorram distúrbios na quantidade de moeda? A resposta dos austríacos é que os ciclos econômicos, vale dizer, a inflação e o desemprego são provocados exatamente por manipulações artificiais na moeda e no crédito.

A ideia central da Teoria Austríaca dos Ciclos Econômicos (TACE) é que, quando ocorre uma expansão do crédito bancário, supondo que as expectativas quanto à inflação futura não existam, as taxas de juros, inicialmente, caem, mantendo-se abaixo dos níveis que alcançariam se o crédito não tivesse aumentado. O efeito disso é que, necessariamente, os padrões de gastos sofrerão alterações: os gastos de investimentos subirão relativamente aos gastos de consumo corrente e às poupanças. Portanto, a expansão monetária, necessariamente, provoca uma ausência de coordenação entre os planos de poupança e de investimento do setor privado. Esse impacto descoordenador da política monetária é essencial na visão austríaca, mas não é levado em conta pela teoria macroeconômica convencional.

Ora, a política monetária, ao alterar os preços relativos, modifica os sinais emitidos pelos preços. No caso de uma expansão monetária, estes sinais apontam para a redução dos lucros das empresas que produzem para consumo corrente e para o aumento dos lucros da produção de bens para consumo futuro. Alteram-se, portanto, as taxas de retorno sobre as várias combinações de capital. Os retornos nos estágios de produção mais próximos do consumo caem, enquanto crescem os retornos nos estágios de produção mais afastados do consumo; recursos não específicos deslocam-se dos primeiros para os segundos; vai diminuindo a produção de bens de consumo, ao mesmo tempo em que os padrões de produção de bens de capital vão sofrendo alterações, passando-se a produzir bens que se adaptem a estruturas de produção que abarquem mais estágios do que anteriormente. Para que esses investimentos se completem até o estágio dos bens de consumo final, deverão ser subtraídos mais recursos do consumo, o que significa que a produção de bens de ordens mais baixas deverá manter-se em queda, até que a nova estrutura de produção se complete.

O processo descrito se reverte por ele mesmo: na medida em que as rendas dos donos dos fatores de produção aumentam (em decorrência da expansão monetária), cresce a demanda por bens de consumo, o que faz com que os preços desses bens, relativamente aos preços dos bens mais afastados do consumo, aumentem. Reverte-se, desta forma, o processo: caem os retornos nos estágios mais afastados do consumo final, enquanto sobem os retornos nos estágios mais próximos do consumo final; recursos não específicos fazem o caminho de volta; os bens de capital, que haviam sido dimensionados para a estrutura de produção anterior, têm agora que ser redimensionados para uma estrutura menos intensiva em capital; surgirão perdas e desemprego, que serão mais fortes nos setores que anteriormente haviam se expandido mais e que, agora, se defrontam com superproduções.

As perdas e o desemprego gerados nada mais são do que a contrapartida das alocações perversas de recursos geradas pela expansão monetária. Ou seja, expansão monetária e recessão são inseparáveis!

Para a Escola Austríaca, então, a crise que vem se abatendo sobre os Estados Unidos, a Europa e que se espalha por todo o mundo foi provocada por uma combinação malévola de: bancos centrais fixando as taxas de juros em níveis absurdamente baixos, na tentativa errada de manter as economias em crescimento; gastos irresponsáveis dos governos, que acabaram provocando dívidas públicas espantosamente elevadas. Infelizmente, os governos vêm "combatendo" essa crise da pior forma possível, com os bancos centrais mantendo as taxas de juros próximas de zero e os governos ampliando consideravelmente os seus gastos. Para os austríacos – e toda a experiência de mais de um século mostra que eles estão com a razão – essas medidas só servirão para alimentar mais a crise.
Ubiratan Jorge Iorio é economista, Diretor Acadêmico do IMB e Professor Associado de Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). 

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

ÍNDIOS HOMICIDAS



Ontem, na divisa do Mato Grosso com o Pará, índios que faziam garimpo ilegal atacaram a Polícia Federal. No conflito, oito pessoas ficaram feridas. É cada vez mais normal a prisão de índios fortemente armados, para defender o garimpo ilegal, a extração de madeira ou simplesmente para assaltar transeúntes em terras indígenas. Veja notícia abaixo:


Um conflito entre índios caiabis e agentes da Polícia Federal deixou ontem um saldo de oito feridos -seis indígenas e dois policiais- às margens do rio Teles Pires, norte de Mato Grosso. De acordo com a Polícia Federal, o confronto ocorreu pela manhã, quando policiais explodiam uma balsa usada pelos índios para extração ilegal de ouro no rio. A balsa pertencia a um cacique conhecido como Camaleão. Os índios chegaram atirando e lançando flechas, ainda segundo o relato da PF, e os agentes então revidaram.


No fim da tarde de ontem, segundo a direção do Hospital Regional de Alta Floresta, no extremo norte do Estado, nenhum dos índios feridos corria risco de morte. Dois índios caiabis foram feridos a bala no braço, perderam muito sangue e ficaram em situação crítica até receberem os primeiros atendimentos no hospital.


Um deles foi operado em Alta Floresta, enquanto o outro seria levado ontem à noite para Cuiabá, para passar por cirurgia vascular. Não havia informações sobre os outros índios feridos. De acordo com a direção do hospital, os dois policiais, feridos a flecha, permaneceram acampados na base montada pela PF na área da operação, a pouco mais de 200 km da sede de Alta Floresta.

Ainda não há informações sobre o motivo da reação dos índios: se defendiam o patrimônio, no caso, a balsa, ou se teriam ficado contrariados com uma suposta ação truculenta dos policiais na ação. Ontem, no fim da tarde, a PF deslocou de carro e de avião cerca de 30 homens para Alta Floresta. Eles foram remanejados de Cuiabá, capital do Estado, e de Sinop, no norte mato-grossense. Hoje pela manhã esse reforço deve seguir para o local do conflito com os índios.


No mesmo dia, a Polícia Federal também desarmou indígenas no Paraná, para evitar uma matança entre eles, em briga pelo poder na aldeia. Como sempre, a FUNAI não soube explicar o que estava ocorrendo.


A Polícia Federal desencadeou ontem uma operação para desarmar um grupo de índios no sul do Paraná. Seis indígenas, entre eles o cacique Valdir Kokoj Santos, foram presos na reserva de Mangueirinha (a 408 km de Curitiba). A operação teve como objetivo desarmar líderes que estariam coagindo os demais indígenas. O cacique enfrenta oposição de um grupo que estaria disposto a assumir o comando da aldeia.


A Funai (Fundação Nacional do Índio) não soube informar o número de habitantes da aldeia. Disse apenas que, no local, vivem índios das etnias caingangue e guarani. O delegado Maurício Todeschini, que comandou a operação, disse que há histórico de violência dentro da reserva, mas ressaltou que apenas o grupo liderado desse cacique age com brutalidade.


No fim da tarde, antes de ser transferido para a carceragem da PF em Curitiba, o cacique pagou fiança de R$ 7.000 e foi solto. O delegado disse que o pagamento foi feito por outros índios. Os demais indígenas presos foram levados para Pato Branco. As denúncias contra Santos foram feitas pelos próprios índios. A PF confirmou as acusações que levaram a Justiça a emitir 27 mandados de busca e apreensão. A ação envolveu cerca de 100 policiais. Foram apreendidas cinco espingardas e três revólveres.

A VITORIA DO OBAMA


A Vitoria do Obama - A Quem Ele Deve Sua Reeleição ?


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Romney recebeu 52% dos votos do sexo masculino contra 45% do Obama. Isto mesmo. 

Justamente daqueles homens que apostavam na capacidade do Romney de consertar a economia e gerar os empregos que eles tanto precisam. 

Obama ganhou graças as mulheres, tendo 55% dos votos, contra 44% do Mitt Romney. Mulheres representam 53% dos eleitores, mais um bônus. 

Porque esta maciça preferencia das mulheres por Obama? 

Afinal são casadas, e tenderiam a votar com seus maridos (ou vice versa, como é hoje em dia ), portando a diferença dos sexos deveria ser bem menor. 

Foi aí que eu errei. 

Fiz minha mini pesquisa quando estava em Nova York, e detectei que muitos homens negros não estavam nada felizes com Obama, e votariam mais por solidariedade, do que na avaliação de suas qualificações. 

Estavam respondendo as pesquisas de forma "politicamente correta" mas na hora poderiam simplesmente não votar. 

Mas esqueci de entrevistar mulheres negras. 

Lição, nunca mais falar sobre assuntos que você não tenha todos os fatos, e não entende profundamente, que foi o meu caso. Me perdoem. 

Obama teve 96% dos votos das mulheres negras, Romney somente 4%. 

Como elas são 8% do eleitorado, elas representam 7,6% da diferença entre Obama e Romney, que foi somente 2%. 

Foram elas que fizeram a diferença, são elas o ponto fora da curva. 

Porque mulheres negras não influenciaram os seus maridos na mesma proporção? 

Porque 70% são mães solteiras, que vivem do Bolsa Família Americano. Chama se Food Stamps, e outras benesses. 

Romney também perdeu na Florida, nos condados dominados por velhos americanos aposentados fugindo do clima inóspito do norte dos Estados Unidos. 

Outro Bolsa Família dos Estados Unidos, que cresce exponencialmente ano a ano. 

Estes apoiam o Obama Care com unhas e dedos, forma de receber benefícios de saúde sem ter poupado para o necessário, cujas despesas recairão sobre a nova geração de contribuintes, que ficarão bem mais pobres do que seus pais. 

Que por sinal mais votaram em Obama. 

Desavisados, 60% dos jovens entre 18 a 29 votaram nele, sem entender o que Romney e Bush tem dito há mais de 12 anos. 

Que a dívida atuarial e médica dos Estados Unidos já atingiu 100 a 200 trilhões de dólares, dependendo de quem faz a conta. E são estes jovens que terão de pagar a farra dos velhos. 

Estados Unidos está virando uma Europa, uma Grécia. 

O dólar virará um Euro, teremos inflação e juros altos, a medida que a velha geração vai endividar o país, quando a nova geração recusar a pagar as benesses que os velhos se auto conferiram. 

Prometo nunca mais palpitar em política, porque resultados assim eu realmente não entendo, muito menos a lógica dos jovens eleitores. Fonte : http://edition.cnn.com/election/2012/results/race/president#exit-polls

Por: Stephen Kanitz

O ESTADO DA SÍNDROME DE ESTOCOLMO


Quando se pergunta o que um político fez em seu mandato para justificar sua reeleição, é muito comum ouvir que tal político ampliou a quantidade de pessoas beneficiadas pelo bolsa-família, construiu mais hospitais públicos, trouxe mais unidades do SUS para a cidade, instituiu escolas públicas voltadas para atender às necessidades especiais de crianças marginalizadas, aprovou a lei de cotas para minorias ou desprivilegiados, aumentou o seguro-desemprego, manteve o nível dos preços dos transportes públicos ou ainda que aumentou o policiamento na cidade para a guerra ao tráfico, trazendo maior sensação de segurança à população.


Chega quase a ser verossímil acreditar que é desumano votar contra esses políticos e não ser a favor de medidas como as listadas anteriormente, as quais não seriam possíveis sem o aparato público. Sim, é verdade, as medidas que caracterizam o estado do "bem-estar-social" não seriam possíveis sem este aparato, porque é este justamente o responsável pelas ações cujas consequências tornam necessária a própria intervenção estatal.

Confuso? Você vai entender melhor quando reconhecer a semelhança que guarda as consequências de algumas políticas públicas com o quadro psicológico desenvolvido por pessoas vítimas de sequestro, vítimas dos cenários de guerra ou submetidas à grave violência doméstica ou familiar. Esse quadro é mais comumente conhecido pelo nome de Síndrome do Estocolmo e é bem caracterizado pelo trecho a seguir extraído da Wikipédia:

As vítimas começam por identificar-se emocionalmente com os sequestradores, a princípio como mecanismo de defesa, por medo de retaliação e/ou violência. Pequenos gestos gentis por parte dos captores são frequentemente amplificados porque, do ponto de vista do refém é muito difícil, senão impossível, ter uma visão clara da realidade nessas circunstâncias e conseguir mensurar o perigo real. As tentativas de libertação, são, por esse motivo, vistas como uma ameaça, porque o refém pode correr o risco de ser magoado.

O fato é que as engrenagens que movem esse aparato político têm dentes pequenos, mas afiados. As reentrâncias compartimentadas em forma de ausência de informação são tão minúsculas que tornam quase impossível às vítimas conseguirem discernir a realidade, isto é, as causas daquilo que torna a situação tão penosa para elas.

É muito compreensível, então, que o seguro-desemprego seja tão desejável quando existem inúmeros impostos/"contribuições" e uma liberdade contratual tão escassa, tornando o processo de contratação/demissão e abertura de novas empresas tão demorada e custosa, que fica quase impraticável alguém sair do trabalho atual para um novo em um curto período. Torna-se ainda mais compreensível, quando a vítima é auxiliada por tal seguro, afinal é esta ferramenta que a impediu de sofrer privações nesse período de transação.

É completamente plausível a vítima ser a favor de ações de "distribuições de renda", quando o governo paga seus títulos imprimindo dinheiro, distorcendo e inflacionando os preços no mercado, e quando tributa acentuadamente produtos alimentícios. Torna-se até quase irrefutável quando o benfeitor governo subsidia grandes fazendeiros de modo a tornar a nossa comida mais barata para o exterior e mais cara para o consumidor brasileiro!

É inteiramente factível a vítima ser a favor de políticos que mantenham o preço das passagens de ônibus, quando estes tomam sua renda e a usam para subsidiar uma gasolina taxada em mais de 100% sobre o custo e, ainda assim, cada vez mais aguada. É só você imaginar o quanto essa tributação é convertida em ruas esburacadas e engarrafamentos grotescos que você começa a entender que isso é o mínimo que se pode pedir em um ambiente em que a iniciativa privada praticamente não tem atuação, o transporte coletivo.

Chega a doer os olhos, assim como dói quando você fica muito tempo no escuro e vê a luz exterior, de tão claro que é o fato de o sistema público de saúde ser imprescindível quando o cidadão de baixa renda possui péssimas condições de saneamento, esgoto, se alimenta mal, fica estressado no trânsito e carece de serviços de prevenção médica.

Emociona, assim como emociona ouvir o canto dos pássaros depois de nada mais ter escutado que silêncio e pensamentos sombrios na sua cabeça, o bravo clamor à igualdade de oportunidades que é propiciada pelo estado por meio de cotas, quando se é refém de um sistema público básico, fundamental e médio de ensino de péssima qualidade que por si só é um dos principais responsáveis pela manutenção da pobreza, da imobilidade econômica de certos indivíduos e pela atratividade de atividades ilícitas em um ambiente em que ser honesto exige cada vez mais sacrifícios.

É tão palpável a violência causada pelo tráfico de drogas, a qual se materializa em diversos roubos e assassinatos, que se torna absolutamente plausível ser a favor da proibição do consumo de entorpecentes e a favor da guerra às drogas. É completamente compreensível (e aqui, como nos parágrafos anteriores, falo com toda sinceridade) ser a favor da proibição quando você teve um parente vítima da violência causada pela guerra ao tráfico ou vítima do vício irrefreável das drogas. Sim, admito e me compadeço, podem acreditar; mas ainda assim é necessário enxergar que quem lhe leva à guerra é o mesmo que lhe cede a arma e o condecora ao término, vivo ou morto. Quem combate o tráfico é o mesmo que confere a pessoas de má índole o monopólio da comercialização de drogas e, portanto, lhes confere poder.

Há indivíduos que argumentam, e esse tipo de argumento não provém de vítimas dessa situação, que pessoas que estão no estado de baixa renda não teriam condições de ter suas necessidades atendidas pela iniciativa privada. Porém, elas realmente o são agora pelo sistema público? Se a população não tem condições de arcar com o custo de hospitais e escolas privadas, por que ela teria condições de pagar, sumultaneamente, por péssimos hospitais, por péssimas escolas públicas e, principalmente, por uma péssima administração pública para administrá-los? A iniciativa privada no âmbito principalmente da educação, saúde e empreendedorismo é realmente livre ou também é refém, afinal?Para a última pergunta, eu diria que sim, a iniciativa privada infelizmente também é refém, mas é uma vítima que talvez se torna menos alheia à própria situação, e, mesmo sob condições adversas, é capaz de operar alguns milagres por ter uma janela de reação maior. É assim, sob condições adversas ao empreendedorismo, que médicos do Sírio e do Einstein abriram uma clínica na entrada da favela de Heliopólis, em São Paulo (veja aqui). É assim, sob condições que no Brasil denominamos de penúria, que em Gana pais ganhando cerca de cinquenta dólares por semana preferem matricular seus filhos em escolas particulares às públicas disponíveis (veja estevídeo).

A visão de quem foi vítima desse aprisionamento de idéias, sem dúvida, merece ser respeitada, porém urge que chamemos a atenção para o fato de que o melhor médico não é necessariamente aquele que um dia contraiu a doença que está combatendo. A realidade, infelizmente, pode não ser a mesma para todos, mas a razão ainda segue ao lado daqueles que enxergam um pouco mais longe e conseguem vislumbrar o jogo por um ângulo melhor. Daqueles que percebem isso a tempo antes de serem acometidos por esse estado nada saudável de coisas, o estado da Síndrome de Estocolmo. 
Por: Johel Rodrigues é aluno do 5º ano de Engenharia de Fortificação e Construção do Instituto Militar de Engenharia

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

PRODUTOS QUE SE 'AUTOCONSERTAM'




Bactérias no concreto são ativadas pela água da chuva, corrigindo rachaduras

Um concreto experimental que se conserta sozinho ao rachar está em fase de testes, com o objetivo de se tornar um entre vários produtos que podem ganhar habilidades "autocurativas".

O concreto é o material de construção mais usado no mundo, mas a ação da água e de produtos químicos tende, ao longo do tempo, a corroê-lo.

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O material em fase de testes na Universidade Técnica de Delft (Holanda) contém bactérias que produzem calcário e são ativadas pela água da chuva. Os esporos da bactéria - adicionados à fórmula do concreto - ficam dormentes até serem atingidos pela água da chuva corroendo as estruturas do material. Então, a bactéria, que é inofensiva, produzirá calcário e "curará" as rachaduras causadas pela água.

"Vimos em laboratório o conserto de rachaduras de 0,5 mm de largura", mais do que o estabelecido por normas, explica o microbiologista Henk Jonkers, autor do projeto.

Se a ideia der certo, Jonkers espera comercializar o produto daqui a dois ou três anos, após testes externos e em diferentes tipos de concreto.

O principal desafio é garantir que o agente "curador" seja forte o suficiente para sobreviver ao processo de mistura do concreto. Para isso, é preciso aplicar uma cobertura às partículas, algo que encarece o processo.

Mas mesmo que o agente aumente em 50% o custo do concreto, isso ainda representará apenas 1% a 2% do total dos custos de construção. Já a manutenção de concreto deteriorado representaria um custo maior, diz Jonkers.
Celulares sob o sol

No futuro, telas de smartphones e tablets talvez sejam consertadas com a exposição ao sol

Não é só no concreto que cientistas buscam desenvolver capacidades de autoconserto.

Uma aplicação possível dessa propriedade seria em smartphones e tablets, que tão comumente sofrem riscos e quebras na tela. A equipe do professor Ian Bond, da Universidade de Bristol (Grã-Bretanha), fez um estudo de viabilidade a respeito de um problema parecido, que afeta vidros à prova de balas. "O vidro suporta a bala, mas racha", explica.

Bond avaliou a possibilidade de encharcar o vidro com alguma substância que preencha as rachaduras. "Esse mesmo princípio poderia ser aplicado em escala menor", em aparelhos eletrônicos, agrega o professor.

Bond acredita que um sistema com um gatilho - talvez a luz do sol - também pode funcionar: "Soldados (em combate) poderiam ferver seus óculos protetores para consertar riscos ou rachaduras na superfície. Você não pode fazer isso com seu celular, mas talvez possa colocar o aparelho na janela, sob o sol durante 24 horas, para consertar alguns riscos".

No caso de smartphones, trata-se apenas de um projeto. Mas já existe um spray que pode ser aplicado em motores para prevenir ou minimizar vazamentos, caso eles sejam atingidos por balas de baixo calibre. O sistema, construído pela empresa HIT-USA, já foi usada por militares americanos no Iraque.

Há três camadas no spray, e as duas exteriores são feitas de um plástico especialmente formulado que se espalha ao redor do projétil. Entre o plástico há uma camada especial com um componente absorvente. Quando esse componente entra em contato com o combustível, forma-se uma camada seladora.
Circuitos de metal

Experimento na Universidade de Bristol mostra agentes curativos sendo injetados em produtos

Os primeiros estudos sérios sobre esse tipo de tecnologia começaram nos anos 1960, por pesquisadores soviéticos. E, em 2001, um estudo da Universidade de Illinois (EUA) deu o pontapé para avanços nessa área.

Os pesquisadores injetaram um polímero semelhante ao plástico com cápsulas microscópicas contendo um líquido de agentes curativos. Se o material rachasse, isso ativava a ruptura das cápsulas e a liberação do agente curativo. E uma reação química reparava o produto. O polímero é capaz de recompor cerca de 75% de suas características originais.

Para ser testada, a superfície recebeu um golpe de martelo e ficou com a mancha acima

Na última década, essa equipe avançou e criou um circuito elétrico que se autoconsertava quando danificado. Microcápsulas no circuito liberavam metal líquido em caso de danos, restaurando a condutividade.

O grupo já está comercializando seu trabalho por intermédio da empresa Autonomic Materials, que obteve investimentos de cerca de US$ 4 milhões. Segundo o executivo-chefe Joe Giuliani, as primeiras aplicações das microcápsulas devem ser em tintas e adesivos para serem usados em ambientes afetados pela corrosão.

Mas o agente curativo injetado faz com que o produto se "cure" sozinho. Em questão de segundos, a mancha diminui até quase desaparecer

O setor de petróleo e gás pode ser beneficiado: produtos autocurativos podem ser úteis em plataformas, em oleodutos e em refinarias.

Scott White, do Instituto Beckman da Universidade de Illinois, opina que o conserto em equipamentos esportivos e aeronáuticos, por exemplo, é um "alvo de médio prazo" para a ciência.

Segundo ele, todo o conceito de autoconserto tem despertado grande interesse na última década, com cerca de 200 estudos acadêmicos publicados a respeito no ano passado. Há projetos em direções distintas, como polímeros e compostos que se autorreparem.

A inspiração, em alguns casos, é o sistema vascular humano, que depende de uma rede capilar para transportar agentes curativos ao local de feridas no corpo. Ao mesmo tempo, exploram a natureza reversível de alguns compostos químicos para incorporar neles essas habilidades curativas.
'Aeronave autocurativa'

Bond, da Universidade de Bristol, está desenvolvendo uma rede vascular baseada em fibras ocas, que transmitiriam agentes curativos por meio de polímeros. Sua ideia final é "uma aeronave autocurativa".

A ideia é minimizar danos em elementos estruturais de aviões, que podem ser alvo de rachaduras. O desafio será convencer as autoridades aeroviárias da segurança dessa tecnologia.

Por isso, Bond trabalha para superar alguns obstáculos enfrentados por sistemas vasculares: passar de microcápsulas para uma rede bi ou tridimensional, por exemplo, é um grande desafio industrial. Outro problema é garantir e controlar o fluxo do líquido curativo pelo material.

"No caso do sangue, ele só coagula quando está fora da veia", diz o professor. "Queremos algo assim, já que o perigo de compostos químicos simples é de que ele solidifique toda a rede capilar."