quinta-feira, 15 de maio de 2014

MULHERES VALEM U$ 12 NA NIGÉRIA

O Islã avança rumo a uma religiosidade cada vez mais pura e próxima às fontes. No norte da Nigéria, um homem que se diz líder do Boko Haram assume sequestro de mais de 200 adolescentes no norte da Nigéria. A organização – cuja tradução é “a educação ocidental é um pecado” - deseja fundar Estado islâmico no país e já teria matado mais de 3.000 pessoas. Segundo os jornais, os puros e duros islâmicos do grupo reivindicaram ontem o sequestro de 276 meninas de Chibok, no norte do país, ocorrido no dia 14 de abril. Em vídeo, o movimento prometeu tratar as adolescentes como escravas, vendê-las em países vizinhos e forçá-las a casar.


A mensagem foi lida por um homem que se identificou como Abubakar Shekau, líder do grupo radical. "Eu capturei suas meninas. Nós vamos vendê-las no mercado, por Alá. Alá diz que eu devo vendê-las. Ele me ordenou que as venda. Vou vender mulheres. Eu vendo mulheres". 

No vídeo, ele aparece usando uniforme militar e de pé diante de um veículo blindado e duas camionetes com metralhadoras. 

"Eu disse que a educação ocidental deve parar. Vocês, meninas, devem deixar a escola e se casar", acrescentou Shekau, que indicou manter as jovens como "escravas". 

Alguém ainda lembra de Malala Yousufzai? Aconteceu há pouco mais de um ano. As celebridades criadas pela mídia são tão fugazes que até eu, que escrevi sobre o assunto, não mais lembrava. 

Malala foi aquela estudante paquistanesa, de 16 anos, atacada com tiros na cabeça pelos talibãs por defender o direito de educação das meninas, que ganhou projeção mundial ao defender o óbvio. Em julho passado, foi aplaudida de pé na sede da ONU, onde pediu aos líderes mundiais que proporcionem educação compulsória e gratuita para todas as crianças. 

Ora, quem não quer educação gratuita e compulsória para as crianças? A fortuna de Malala foi viver em um país dominado por fanáticos muçulmanos e ter sido alvejada na cabeça. Suas conclamações nada têm de novo ou original. Até parece o papa pedindo preces pela paz. A ONU declarou a data de seu aniversário, 12 de julho, como Dia de Malala.

Ao discursar para líderes jovens de mais de 100 países, ela pediu "uma luta global contra o analfabetismo, a pobreza e o terrorismo". "Vamos pegar nossos livros e canetas", disse ela. "Eles são nossas armas mais poderosas. Uma criança, um professor, um livro e uma caneta podem mudar o mundo. Educação é a solução". 

Só que a fama súbita parece ter subido à cabeça da menina e inspirado sandices. Malala inaugurou em setembro passado, na Inglaterra, a maior biblioteca pública da Europa, na região central de Birmingham.

Com a mosca azul zumbindo sobre sua cabecinha adolescente, Malala desatou a dizer bobagens. “Não há arma mais poderosa do que o conhecimento nem maior fonte de conhecimento do que a palavra escrita. Canetas e livros são armas que derrotam o terrorismo”, disse Malala, que vive na cidade inglesa desde outubro, após ter sobrevivido ao atentado praticado por militantes do Talibã.

Que educação é a solução, isto não se discute. Que canetas e livros sejam armas que derrotam o terrorismo, isto é solene bobagem de jovem que melhor teria feito se inaugurasse a biblioteca em silêncio. Afinal, é um livro que está a base da opressão islâmica, da mesma forma que um livro oprime judeus e cristãos até hoje. Não por acaso, árabes, judeus e cristãos são chamados de povos do Livros. Livros libertam, sim. Mas podem muito bem oprimir. Todo movimento terrorista tem em sua base um livro.

Terrorismo não é achado de homens incultos, muito antes pelo contrário. Em meados do século XIX, surgiu na Rússia tzarista um pequeno manifesto intitulado O Catecismo do Revolucionário, escrito na Suíça e assinado por dois revolucionários russos, Serguei Guennadovich Netchaiev e Mikhail Bakunin. Este panfleto tem sido até hoje a cartilha que inspirou todo terrorismo do século seguinte, desde Lênin, Stalin, Yasser Arafat, George Habash, Wadi Haddad, Carlos, o Chacal, Che Guevara, Aloysio Nunes Ferreira, Lamarca, Marighella e Fernando Gabeira, etarras ou OLP. Entre milhares de outros, bem entendido. 

O atentado contra a menina provocou protestos ao redor do mundo, incluindo críticas da ONU e de potências ocidentais, assim como uma mobilização popular dentro do próprio Paquistão, ultrapassando as barreiras étnicas, religiosas e políticas do país. Malala foi indicada a premiações internacionais e recebeu o Prêmio Nacional da Paz, concedido pelo governo paquistanês, no ano passado.

Hoje, quem lembra de Malala? Mas o Islã avança, dizia. Há exatamente uma semana, eu comentava o projeto de lei que quer legalizar o casamento das meninas e o estupro conjugal no Iraque. Um de seus artigos permite que as crianças se divorciem a partir dos nove anos, o que significa que podem se casar antes desta idade. Outro prevê que uma mulher seja obrigada a ter relações sexuais com seu marido quando ele pedir. 

Tudo muito coerente com o Islã. Maomé – abençoado seja seu nome – não se casou com Aisha quando ela tinha seis e consumou o casamento aos nove? Se o profeta pode, por que não poderiam os crentes?

Os opositores ao projeto afirmam que representa um retrocesso em matéria de direitos da mulher e que pode agravar as tensões entre diferentes confissões do país. Os partidários do projeto de lei afirmam que o texto apenas regula práticas que já existem.

Segundo a imprensa nigeriana, Abubakar Shekau vendeu algumas das estudantes seqüestradas como esposas em mercados na fronteira com o Chade e Camarões, a US$ 12 (R$ 26). Perguntinha que me parece pertinente: qual mulher não é vendida no mundo árabe? Ou alguma muçulmana pode escolher namorado ou marido? Só que 12 dólares me parece muito barato. 

Os festivais de camelo de Riad, Arábia Saudita, atraem todos os anos milionários empresários árabes que pagam até US$ 5 milhões por um camelo.
Por: Janer Cristaldo Do site: http://cristaldo.blogspot.com.br/


quarta-feira, 14 de maio de 2014

ADEUS, PT

Tudo tem um começo e um fim, como poderia dizer o Marquês de Maricá. E o fim está próximo


A cinco meses da eleição presidencial é evidente o sentimento de enfado, cansaço, de esgotamento com a forma de governar do Partido dos Trabalhadores. É como se um ciclo estivesse se completando. E terminando melancolicamente.

A construção do amplo arco de alianças que sustenta politicamente o governo Dilma foi, quase todo ele, organizado por Lula no início de 2006, quando conseguiu sobreviver à crise do mensalão e à CPMI dos Correios. Naquele momento buscou apoio do PMDB — tendo em José Sarney o principal aliado — e de partidos mais à direita. Estabeleceu um condomínio no poder tendo a chave do cofre. E foi pródigo na distribuição de prebendas. Fez do Tesouro uma espécie de caixa 1 do PT. Tudo foi feito — e tudo mesmo — para garantir a sua reeleição. Parodiando um antigo ministro da ditadura, jogou às favas todo e qualquer escrúpulo. No jogo do vale-tudo não teve nenhuma condescendência com o interesse público.

A petização do Estado teve início no primeiro mandato, mas foi a partir de 2007 que se transformou no objetivo central do partido. Ter uma estrutura permanente de milhares de funcionários petistas foi uma jogada de mestre. Para isso foram necessários os concursos — que garantem a estabilidade no emprego — e a ampliação do aparelho estatal. Em todos os ministérios, sem exceção, aumentou o número de funcionários. E os admitidos — quase todos eles — eram identificados com o petismo.

Desta forma — e é uma originalidade do petismo —, a tomada do poder (o assalto ao céu, como diria Karl Marx) prescindiu de um processo revolucionário, que seria fadado ao fracasso, como aquele do final da década de 60, início da década de 70 do século XX. E, mais importante, descolou do processo eleitoral, da vontade popular. Ou seja, independentemente de quem vença a eleição, são eles, os petistas, que moverão as engrenagens do governo. E o farão, óbvio, de acordo com os interesses partidários.

Se no interior do Estado está tudo dominado, a tarefa concomitante foi a de estabelecer um amplo e fiel arco de dependência dos chamados movimentos sociais, ONGs e sindicatos aos interesses petistas. Abrindo os cofres públicos com generosidade — e que generosidade! — foi estabelecido um segundo escudo, fora do Estado, mas dependente dele. E que, no limite, não sobrevive, especialmente suas lideranças, longe dos recursos transferidos do Erário, sem qualquer controle externo.

O terceiro escudo foi formado na imprensa, na internet, entre artistas e vozes de aluguel, sempre prontas a servir a quem paga mais. Fazem muito barulho, mas não vivem sem as benesses estatais. Mas ao longo do consulado petista ganharam muito dinheiro — e sem fazer esforço. Basta recordar os generosos patrocínios dos bancos e empresas estatais ou até diretamente dos ministérios. Nunca foi tão lucrativo apoiar um governo. Tem até atriz mais conhecida como garota-propaganda de banco público do que pelo seu trabalho artístico.

Mas tudo tem um começo e um fim, como poderia dizer o Marquês de Maricá. E o fim está próximo. O cenário não tem nenhum paralelo com 2006 ou 2010. O desenho da eleição tende à polarização. E isto, infelizmente, poderá levar à ocorrência de choques e até de atos de violência. O Tribunal Superior Eleitoral deverá ser muito acionado pelos partidos. E aí mora mais um problema: quem vai presidir as eleições é o ministro Dias Toffoli – como é sabido, de origem petista, foi advogado do partido e assessor do sentenciado José Dirceu.

Se a oposição conseguir enfrentar e vencer todas estas barreiras, não vai ter tarefa fácil quando assumir o governo e encontrar uma máquina estatal sob controle do partido derrotado nas urnas. As dezenas de milhares de militantes vão — se necessário — criar todo tipo de dificuldades para a implementação do programa escolhido por milhões de brasileiros. Aí — e como o Brasil é um país dos paradoxos — será indispensável ao novo governo a utilização dos DAS (cargos em comissão). Sem eles, não conseguirá governar e frustrará os eleitores.

Teremos então uma transição diferente daquela que levou ao fim da Primeira República, em 1930; à queda de Vargas, em 1945; ou, ainda, da que conduziu ao regime militar, em 1964. Desta vez a mudança se dará pelo voto, o que não é pouco em um país com tradição autoritária. O passado petista — que imagina ser eterno presente — terá de ser enfrentado democraticamente, mas com firmeza, para que seja respeitada a vontade das urnas.

É bom não duvidar do centralismo democrático petista. Não deve ser esquecido que o petismo é o leninismo tropical. Pode aceitar sair do governo, mas dificilmente sairá do aparelho de Estado. Se a ordem de sabotar o eleito em outubro for emitida, os militantes-funcionários vão segui-la cegamente. Claro que devidamente mascarados com slogans ao estilo de “nenhum passo atrás”, de “manter as conquistas”, de impedir o “retorno ao neoliberalismo”. E com uma onda de greves.

A derrota na eleição presidencial não só vai implodir o bloco político criado no início de 2006, como poderá também levar a um racha no PT. Afinal, o papel de Lula como guia genial sempre esteve ligado às vitórias eleitorais e ao controle do aparelho de Estado. Não tendo nem um, nem outro, sua liderança vai ser questionada. As imposições de “postes”, sempre aceitas obedientemente, serão criticadas. Muitos dos preteridos irão se manifestar, assim como serão recordadas as desastrosas alianças regionais impostas contra a vontade das lideranças locais. E o adeus ao PT também poderá ser o adeus a Lula.
Por: Marco Antonio Villa PUblicado em: O Globo


DOM SEBASTIÃO VOLTOU

Luiz Inácio Lula da Silva tem como princípio não ter princípio, tanto moral, ético ou político. O importante, para ele, é obter algum tipo de vantagem. Construiu a sua carreira sindical e política dessa forma. E, pior, deu certo. Claro que isso só foi possível porque o Brasil não teve – e não tem – uma cultura política democrática. Somente quem não conhece a carreira do ex-presidente pode ter ficado surpreso com suas últimas ações. Ele é, ao longo dos últimos 40 anos, useiro e vezeiro destas formas, vamos dizer, pouco republicanas de fazer política.


Quando apareceu para a vida sindical, em 1975, ao assumir a presidência do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, desprezou todo o passado de lutas operárias do ABC. Nos discursos e nas entrevistas, reforçou a falácia de que tudo tinha começado com ele. Antes dele, nada havia. E, se algo existiu, não teve importância. Ignorou (e humilhou) a memória dos operários que corajosamente enfrentaram – só para ficar na Primeira República – os patrões e a violência arbitrária do Estado em 1905, 1906, 1917 e 1919, entre tantas greves, e que tiveram muitos dos seus líderes deportados do País.

No campo propriamente da política, a eleição, em 1947, de Armando Mazzo, comunista, prefeito de Santo André, foi irrelevante. Isso porque teria sido Lula o primeiro dirigente autêntico dos trabalhadores e o seu partido também seria o que genuinamente representava os trabalhadores, sem nenhum predecessor. Transformou a si próprio – com o precioso auxílio de intelectuais que reforçaram a construção e divulgação das bazófias – em elemento divisor da História do Brasil. A nossa história passaria a ser datada tendo como ponto inicial sua posse no sindicato. 1975 seria o ano 1.

Durante décadas isso foi propagado nas universidades, nos debates políticos, na imprensa, e a repetição acabou dando graus de verossimilhança às falácias. Tudo nele era perfeito. Lula via o que nós não víamos, pensava muito à frente do que qualquer cidadão e tinha a solução para os problemas nacionais – graças não à reflexão, ao estudo exaustivo e ao exercício de cargos administrativos, mas à sua história de vida.

Num país marcado pelo sebastianismo, sempre à espera de um salvador, Lula foi a sua mais perfeita criação. Um dos seus “apóstolos”, Frei Betto, chegou a escrever, em 2002, uma pequena biografia de Lula. No prólogo, fez uma homenagem à mãe do futuro presidente. Concluiu dizendo que – vejam a semelhança com a Ave Maria – “o Brasil merece este fruto de seu ventre: Luiz Inácio Lula da Silva”. Era um bendito fruto, era o Messias! E ele adorou desempenhar durante décadas esse papel.

Como um sebastianista, sempre desprezou a política. Se ele era o salvador, para que política? Seus áulicos – quase todos egressos de pequenos e politicamente inexpressivos grupos de esquerda -, diversamente dele, eram politizados e aproveitaram a carona histórica para chegar ao poder, pois quem detinha os votos populares era Lula. Tiveram de cortejá-lo, adulá-lo, elogiar suas falas desconexas, suas alianças e escolhas políticas. Os mais altivos, para o padrão dos seus seguidores, no máximo ruminaram baixinho suas críticas. E a vida foi seguindo.

Ele cresceu de importância não pelas suas qualidades. Não, absolutamente não. Mas pela decadência da política e do debate. Se aplica a ele o que Euclides da Cunha escreveu sobre Floriano Peixoto: “Subiu, sem se elevar – porque se lhe operara em torno uma depressão profunda. Destacou-se à frente de um país sem avançar – porque era o Brasil quem recuava, abandonando o traçado superior das suas tradições…”.

Levou para o seu governo os mesmos – e eficazes – instrumentos de propaganda usados durante um quarto de século. Assim como no sindicalismo e na política partidária, também o seu governo seria o marco inicial de um novo momento da nossa história. E, por incrível que possa parecer, deu certo. Claro que desta vez contando com a preciosa ajuda da oposição, que, medrosa, sem ideias e sem disposição de luta, deixou o campo aberto para o fanfarrão.

Sabedor do seu poder, desqualificou todo o passado recente, considerado pelo salvador, claro, como impuro. Pouco ou nada fez de original. Retrabalhou o passado, negando-o somente no discurso.

Sonhou em permanecer no poder. Namorou o terceiro mandato. Mas o custo político seria alto e ele nunca foi de enfrentar uma disputa acirrada. Buscou um caminho mais fácil. Um terceiro mandato oculto, típica criação macunaímica. Dessa forma teria as mãos livres e longe, muito longe, da odiosa – para ele – rotina administrativa, que estaria atribuída a sua disciplinada discípula. É um tipo de presidência dual, um “milagre” do salvador. Assim, ele poderia dispor de todo o seu tempo para fazer política do seu jeito, sempre usando a primeira pessoa do singular, como manda a tradição sebastianista.

Coagir ministros da Suprema Corte, atacar de forma vil seus adversários, desprezar a legislação eleitoral, tudo isso, como seria dito num botequim de São Bernardo, é “troco de pinga”.

Ele continua achando que tudo pode. E vai seguir avançando e pisando na Constituição – que ele e seus companheiros do PT, é bom lembrar, votaram contra. E o delírio sebastianista segue crescendo, alimentado pelos salamaleques do grande capital (de olho sempre nos generosos empréstimos do BNDES), pelos títulos de doutor honoris causa (?) e, agora, até por um museu a ser construído na cracolândia paulistana louvando seus feitos.

E Ele (logo teremos de nos referir a Lula dessa forma) já disse que não admite que a oposição chegue ao poder em 2014. Falou que não vai deixar. Como se o Brasil fosse um brinquedo nas suas mãos. Mas não será? Por: Marco Antonio Villa – O Estado de S.Paulo




terça-feira, 13 de maio de 2014

A UNIVERSIDADE É UM GALINHEIRO ONDE RAPOSAS VELHAS VÃO CAÇAR

Há pessoas com admirável poder de síntese. Frei Betto é um deles. Conseguiu resumir um amontoado de besteiras em uma curta frase, ao afirmar em um evento na UFRGS: “Não sei por que se fala do fracasso do socialismo na Europa e não se fala do fracasso do capitalismo no ocidente”. Em duas linhas, o frei consegue vários milagres:


1 – confunde social-democracia com comunismo;
2 – identifica Rússia e Leste europeu com Europa;
3 – exclui a Europa do Ocidente;
4 – equipara uma teoria utópica, totalitária e imposta por um Estado ditatorial com um sistema econômico que emerge espontaneamente em uma sociedade como resposta às suas necessidades.

Amontoado de besteiras, dizia eu. Melhor diria amontoado de safadezas. Frei Betto não é um jovenzinho imberbe de cabeça em cujo oco se joga qualquer lixo, mas raposa peluda, autor de mais de meia centena de livros, que sabe como seduzir galinhas.

Fracasso do capitalismo? Onde? A economia capitalista — ou neoliberal, como agora se convencionou chamar — vai bem, obrigado. Ou alguém pretende que a Europa seja socialista? Houve época em que, para enganar a clientela, os jornalistas de esquerda identificavam as sociais-democracias européias com o socialismo soviético. “A Europa caminha para o socialismo, é para lá que o mundo desenvolvido vai”, era o que pretendiam dizer. Mas antes que o jogo de palavras fizesse fortuna, a URSS afundou.

Depois da queda do Muro de Berlim, o Leste europeu virou Europa. Há mais de dez anos, um leitor de Estocolmo contestava uma de minhas crônicas, com veemência. Que na Europa há miséria, sim senhor: “a Romênia tem muitos meninos de rua, sem contar a Rússia, Albânia. Vi muita pobreza em Portugal, Espanha, Alemanha, Holanda, Bélgica, Inglaterra. Até aqui em Estocolmo tem mendigo”.

Vamos por partes. Há mais de vinte anos, havia uma Europa e um Leste europeu perfeitamente distintos. No Leste, universo socialista – ou seja, comunista – estavam os países da União Soviética onde, por definição, não havia desemprego nem greves ou conflitos trabalhistas. Muito menos miséria, mendigos, meninos de rua, estas mazelas decorrentes dos regimes capitalistas da velha Europa. Com a queda do Muro e o desmantelamento da URSS, a miséria oculta dos regimes socialistas veio à tona.

De repente, a Rússia, Albânia ou Romênia passaram a fazer parte da Europa. Há mendigos morrendo de frio em Moscou? FRIO MATA MENDIGOS NA EUROPA — dizem as manchetes. Quem só costuma ler as primeiras páginas nos quiosques ou zapear TV já passa a imaginar mendigos morrendo nas ruas de Paris, Londres, Berlim. Os jornalistas são hábeis em matéria de trocar sinais. As misérias herdadas de sete décadas de tirania socialista passam agora a ser debitadas à Europa. O mesmo faz frei Betto. O leitor menos avisado, que desconhece a arte de manipular conceitos, acaba caindo nos sofismas diariamente repetidos pela grande imprensa. Nesta época televisiva, ninguém mais lembra que Dostoievski passou a vida toda bradando, ao falar dos russos: não somos Europa.

O que é Europa? À primeira vista, a resposta é fácil. É aquele continente que de sul a norte vai da Grécia até a Escandinávia e de leste a oeste vai de Portugal à Áustria. É o que um dia chamamos de a Europa dos Quinze: Alemanha, Áustria, Bélgica, Dinamarca, Espanha, Finlândia, França, Grécia , Irlanda, Itália, Luxemburgo, Países Baixos, Portugal, Reino Unido e Suécia. Há uns bons vinte anos, tive acirrada discussão com um desses jornalistas que quando vão ao Uruguai acham que já estão no estrangeiro. Ele, como bom comunista, defendia a tese de que a Rússia era Europa.

Ora, nada mais anti-europeu que a Rússia. Em um discurso em homenagem a Pushkin, Dostoievski já se perguntava: “O que tem feito a Rússia durante dois séculos senão servir mais à Europa do que a si mesma?” Durante toda sua vida, o escritor católico russo sustentou que “nós, russos, não somos europeus”. Mas e a plataforma continental européia? – insistia o jornalista. Ora, plataforma pertence à área da geografia. E a definição de Europa não é geográfica, mas política e cultural.

Antes de ser acidente geográfico, Europa é um conceito político, até hoje em construção. Juridicamente, a Europa era configurada pelo Acordo de Maastricht, que criou a União Européia, por sua vez baseada na Comunidade Européia. Neste espaço não se incluíam nem a finada União Soviética, nem os países do Leste Europeu, assim denominados justamente por não pertenceram ao que, politicamente, se considerava Europa. Isto é, a Europa dos Quinze. Que pressupunha democracia, sistema que a coitada da Rússia até hoje, mesmo após o desmoronamento da URSS, não conhece. Do tzarismo caiu no comunismo. Morto o comunismo, caiu nas mãos das máfias e de Putin.

Que mais não seja, diz-nos a Enciclopédia Britânica: “Geógrafos modernos tratam a antiga União Soviética como uma unidade territorial distinta, comparável a um continente, separada da Europa ao oeste e do resto da Ásia ao sul e ao leste. Esta distinção indubitavelmente deve ser mantida para a Rússia, que ocupa três quartos da União Soviética”.

Propus ao jornalista minha definição de Europa. No final dos 70, voltando de uma viagem da ex-Iugoslávia para a França, reservei um assento em uma cabina no trem Skopje/Belgrado. Escolhi uma cabina vazia e peguei assento na janela: se não dormisse, poderia praticar esse esporte que tanto me apraz, ver florestas, montanhas e neves desfilando ante meus olhos. Mal sentei, entrou o cobrador, seguido de uma prolífica família de iugoslavos. Junto com o cobrador, vinha um policial - acompanhado de um cão da mesma raça - com uma submetralhadora em punho. O cobrador mandou-me sair da cabina.

Ingênuo e indefeso, eu exibia meu bilhete, mostrava o número nele e no assento, tentava explicar em todas as línguas que conhecia que tinha direito àquele lugar. Lacônico, o homem da submetralhadora me indicou a porta com o cano da arma. Que fazer ante tão sólida argumentação? Evidentemente, eu não estava mais na Europa. Iugoslávia, já em seu étimo, quer dizer eslavos do Sul.

Ao falar de fracasso do socialismo na Europa e fracasso do capitalismo no ocidente, o frei exclui a Europa do Ocidente. Onde ficará então o Ocidente? Na Sibéria? Na Mongólia? É espantoso que um público universitário ouça uma sandice destas sem vaiar o palestrante. Se bem que quase nenhum universitário hoje, seja professor ou aluno, saiba dizer o que ocorreu em 9 de novembro de 1989.

Concluindo: o orgânico não precisa ser organizado. Não é permissível comparar um sistema artificial, distanciado do real, nascido de uma teoria utópica, com uma economia que surge espontaneamente, decorre da própria natureza humana e hoje é almejada por todos os países que um dia foram comunistas. Capitalismo não tem profeta, não tem livro nem é imposto, manu militari, por Estados ditatoriais. Há teorias sobre o capitaliso? Há. São teorias que tentam explicá-lo, não teorias que surgem do nada para criar um modelo de organização social. 

La universidad es un acuário, donde las nenas ván pescar – dizem os espanhóis. Chez nous, é um galinheiro onde raposas velhas vão caçar.
Por: Janer Cristaldo Dos site: http://cristaldo.blogspot.com.br/


segunda-feira, 12 de maio de 2014

PRONTUÁRIO DE INTERNAÇÃO

Tudo mundo declara ser uma cândida alma preocupada com a educação. É coisa linda de ver. Todavia, o que torna a situação esquisita é vermos que essas ilações de salão não apresentam fruto algum. E não dão porque essas encenações não passam de pose de bom-mocismo afetado de sujeitos que, no fundo, nunca tiveram nem mesmo apreço pela sua própria educação.

Se não, vejamos: façamos um breve exame de nossa ação educadora. Todos, gostemos ou não, somos pontos irradiadores duma conduta humana possível. Podemos até nos desagradar com essa idéia, porém, mesmo assim, a nossa maneira de viver é um ícone do que um infante deve fazer para ser reconhecido como um adulto.

Vale lembrar que tanto adultos como infantes, têm uma relativa dificuldade em concentrar-se numa contínua, ou fragmentária, exposição oral. Alguns se dedicam na ampliação dessa capacidade; outras tantos não estão nem aí para o borogodó. Até reconhecem a existência do problema, mas não têm coragem, nem vontade, de enfrentá-lo. Entretanto, os exemplos, tanto os dramáticos como os rotineiramente repetidos, calam, profundamente, em nossa alma tornando claras as questões que doutra forma teríamos dificuldade de aprender.

Dito isso, permitam-nos levantar uma magra lebre: imaginemos um indivíduo devidamente diplomado. Esse sujeito, por ventura, costuma ler com freqüência quando está em sua casa em seus momentos de lazer? Seus filhos, sobrinhos e demais pequenos de seu círculo de convívio, o flagram deitando suas vistas, alegremente, num livro? Será que ele tem o costume de ler para os seus?

Mesmo assim, provavelmente, o sujeito deve comprar livrinhos para os pequenos e cobrar deles o amor a leitura que nunca lhes foi demonstrado através de gesto algum, diga-se de passagem.

Enfim, se fôssemos francos, reconheceríamos que damos pouquíssima atenção para eles, ao mesmo tempo em que exigimos que a sociedade lhes dê aquilo que recusamo-nos regalar àqueles que dizemos amar.

Sem mais delongas, executemos duma vez esse lebrão: o que fazemos em nossos momentos de ócio? Bem aquilo que nossos filhos vêem. Atividades que fazemos com gosto e alegria descontrolada e que pouco tem haver com educação. E, por essas e outras, não me empolgo nem um pouquinho com todo esse amor pela educação que é apresentado, publicitariamente ou não, em nossa sociedade que, infelizmente, hoje, mais do que nunca, faz do fingimento a instituição cívica número um, reduzindo o amor ao conhecimento a uma esquisitice digna de internação. Fazer o quê?

Por:  DARTAGNAN DA SILVA ZANELA  http://zanela.blogspot.com

DIVIDIR E CONQUISTAR

Por que Vladimir Putin iria, propositalmente, soar o alarme enquanto posa de defensor dos valores “conservadores” e “tradicionais”? A ingenuidade dessa fraude deveria ser óbvia. Todos estão desorientados ao mesmo tempo.


Pedi recentemente a um amigo jornalista polonês que expusesse suas ideias sobre a atual crise que ocorre na Ucrânia. A resposta dele pode ser dividida em cinco partes:

(1) Os ucranianos estão lutando contra a versão corrupta do dito capitalismo russo; 

(2) A Rússia está tentando fazer parecer que a Ucrânia não é um Estado;

(3) Putin está reconstruindo o império da União Soviética e estendendo a influência de Moscou sobre setores econômicos específicos;

(4) O derradeiro objetivo de Moscou é expulsar completamente os Estados Unidos do território europeu usando uma nova ideologia antiamericana;

5) Enquanto isso, Moscou conta fortemente com a prontidão do Ocidente em se comprometer totalmente com o objetivo de preservar o acesso que possui ao mercado russo.

Há verdade no que diz meu colega polonês. O principal ponto dentre esses é a intenção de expulsar os Estados Unidos para fora da Europa. Esse era um objetivo soviético de antes de 1991 e continua imutável nos dias de hoje. Em parte, a ameaça de guerra na Ucrânia está sendo usada para produzir um racha na Europa; falar de sanções econômicas também tem o mesmo efeito. Enquanto alguns políticos priorizam o apoio à soberania ucraniana, como é o caso dos EUA e Grã-Bretanha, que estão obrigados pelo Memorando de Budapeste, outros políticos vêem como algo ridículo ter de sacrificar seus próprios interesses econômicos constituídos em prol de um país que esteve sob a guarda russa por séculos. Além disso, muitos estão chegando à conclusão que Washington é responsável por tumultuar as coisas na Ucrânia, e que os interesses europeus estão mais intimamente ligados aos da Rússia. Indiscutivelmente, esse é o objetivo imediato da tomada da Crimeia: dividir a Europa, dividir a OTAN, isolar a América da Europa, e demonstrar a necessidade que a Europa tem por aquilo que os oficiais russos chamam de “uma nova arquitetura de seguridade”.

Talvez o incidente mais danoso em se tratando das tentativas de Moscou de separar a América da Europa deu-se na publicação de uma conversação telefônica entre a secretária de Estado adjunta, Victoria Nuland, e o embaixador americano na Ucrânia, Geoffrey Pyatt, que ocorreu antes da queda do presidente ucraniano Yanukovych. Do ponto de vista moscovita, essa conversa entre Nuland e Pyatt caiu como uma luva. Ela dá a impressão que os oficiais americanos estão orquestrando a oposição ucraniana por debaixo dos panos. A seguir, um excerto da conversação entre Nuland e Pyatt:

Nuland: O que você tem em mente?

Pyatt: Penso que estamos na jogada. O caso de Klitschko é obviamente o que há de complicado aqui, especialmente após o anúncio dele como vice-primeiro-ministro. Além disso, você viu algumas das minhas observações sobre questões de uniões que existem agora, então estamos tentando fazer uma leitura rápida sobre onde ele está nessa coisa toda. Mas penso que a argumentação que usará na conversa com ele na próxima ligação telefônica que você fizer, terá de ser a mesma que você usou com Yats [Arseniy Yatseniuk] e estou grato que você colocou-o exatamente no lugar ao qual ele mais se adequa nessa situação. E também estou satisfeito com o que ele disse em resposta.

Nuland: Que bom. Então... penso que Klitsch não deveria aceitar o cargo no governo. É desnecessário. Não é uma boa ideia.

Pyatt: Sim, também acho, digo... em termos de ele não aceitar entrar no jogo governamental. Deixe-o ficar de fora e fazer sua lição de casa política e coisas do tipo. Estou apenas pensado em termos do tipo de processo que vem por aí e como nós queremos manter os democratas moderados unidos. O problema será Tyahnybok e seus comparsas, e eu estou certo de que isso é parte do que Yanukovych tem calculado nisso tudo.

Dado o poder e influência das estruturas da KGB na ex-República Soviética da Ucrânia, é improvável que esses inocentes diplomatas americanos tenham alguma ideia do que estão fazendo. Eles certamente não consideraram que seus telefones estavam grampeados. Na verdade, seus próprios sussurros são de conhecimentos do alto escalão em Moscou. Criaturas desamparadas a esse ponto não orquestram a derrubada de presidentes. Os oficiais da inteligência ucraniana declararam publicamente a conclusão de que o presidente Yanukovych não fugiu voluntariamente para a Rússia; Ele foi, na verdade, raptado pela GRU (Serviço de inteligência militar russo) e levado à Rússia como prisioneiro/boneco de ventríloquo.

Se isso parecer absurdo, será apenas porque o leitor não está familiarizado com o método político russo, isto é, provocação. Se a Revolução Ucraniana for uma provocação russa empreendida com o objetivo de rachar a OTAN, então podemos esperar encontrar evidências de que os russos criaram eles mesmos a Revolução Ucraniana. Devemos então esperar por um racha na OTAN, pois os russos jamais empreenderiam uma provocação a menos que eles a considerassem como algo muito provável de ser bem sucedido. Então não deveria nos surpreender quando a secretária de Estado adjunta Nuland conversa com o embaixador Pyatt (na conversa gravada) sobre correr por fora da União Europeia com a ONU. Ao mencionar isso, Nuland diz: “Então seria muito bom – penso eu – juntar isso e ter a ONU para ajudar e, sabe, foda-se a UE.”

Eu me desculparia por repetir a obscenidade de Nuland, mas estamos falando da declaração de uma oficial do alto escalão do Departamento de Estado dos EUA; como exemplo, isso evidencia uma crescente divergência de opiniões entre oficiais americanos e europeus em relação à crise ucraniana. Nuland estava obviamente irritada com os oficiais da UE, pois usar esse tipo de linguagem, mesmo que em particular, não pode significar que estamos falando de uma relação saudável. Os oficiais da inteligência russa que (muito provavelmente) gravaram as falas de Nuland estão parabenizando uns aos outros.

Retornando aos pensamentos do meu amigo polonês, ele ofereceu um aviso geral contra os auto-nomeadosexperts em assuntos russos. Esse aviso naturalmente diria respeito também a mim, embora eu não posso reivindicar ser expert no assunto. Segundo meu amigo, qualquer um que fale sobre um confronto militar com a Rússia está jogando o jogo russo. “Esses experts são provocadores”, disse meu amigo. “O clamor deles passa a ser o maná do céu para a propaganda russa, que faz todos os esforços para retratar o Ocidente como um lugar cheio de belicistas e cowboys irresponsáveis”. Esses provocadores podem estar tentando vender livros ou tentando escrever um blog – como eu estou tentando agora. No fim, eles estão no jogo da propaganda russa. É o que o Kremlin quer, pois se o Ocidente começar a demonizar a Rússia como país, o povo russo se alinhará aos chefões do Kremlin. Nesse caso, a ditadura na Rússia será reforçada em vez de enfraquecida.

“A imprensa ocidental nunca apoiou de verdade a verdadeira oposição russa”, observou meu amigo. Isso também é verdadeiro no caso da Ucrânia, onde os ativistas pela liberdade lutaram uma batalha solitária. Até mesmo Estados supostamente livres como a Polônia e a República Tcheca não estão totalmente livres das forças neocomunistas pró-Rússia (que estão em sua maioria no controle da economia, burocracia e do governo). Evidentemente, a mídia ocidental não dá a mínima para tudo isso. O Ocidente só exportou entretenimento estúpido e barato para a Polônia e para outras “ex” repúblicas soviéticas e ignorou o contínuo combate levado a cabo por Moscou a fim de manter existente um contingente controlado. Assim fomos enganados acerca da queda do comunismo. Não derrotamos o Império Soviético. Como afirmou meu amigo, “vale a pena lembrar que seja o que a Ucrânia tenha alcançado, foi contra a vontade política dos experts e políticos ocidentais”. Ele alerta também que “a Rússia não irá empreender uma guerra contra a Europa ou os Estados Unidos. Ela está apenas explorando a pobreza intelectual e a fraqueza estratégica... ou está contando com a inclinação do Ocidente em sempre ser transigente”.

Não estou certo do porquê ele diz que “a Rússia não irá empreender uma guerra...”. Tal guerra parece perfeitamente inevitável ao meu ver – e eu não sou nem um provocador e nem um belicista. Não obstante, é alarmante que, de repente, os idiotas úteis da Rússia no Ocidente estejam tomando uma posição mais beligerante contra a Rússia do que os conservadores. Sem dúvidas, em parte o que motiva a esquerda é a preocupação que eles têm com os direitos homossexuais. Ou será que somos cínicos o bastante para acreditar que todo o assunto homossexual é apenas uma falácia distrativa que serve como arma para dividir a direita em dois lados hostis um ao outro? Não é essa razão que faz com que conservadores econômicos e conservadores religiosos se digladiem e deixem de trabalhar juntos como fizeram outrora? E se considerarmos o quão vitoriosamente a esquerda faliu a América e como essa falência facilita o desarmamento americano, não deveríamos considerar todo o enfoque político da esquerda e da direita como vantajosos a Moscou?

Se alguém perceber o verdadeiro significado da campanha pelos direitos homossexuais ou a campanha para acabar com o aquecimento global ou a luta do feminismo como qualquer coisa além de um orquestrado ato de sabotagem contra o potencial de defesa do Ocidente, então esse alguém não entendeu nada e é um imbecil quando se trata de estratégia. Além do mais, a razão de toda essa sabotagem – que foi originalmente vislumbrada pelos comunistas – não é apenas enganação pela enganação. Quando o ato intermediário é enfraquecer a capacidade militar, significa que o fim é empreender uma guerra. E quando se empreende uma guerra, um lado quer que o outro seja culpado pela eclosão imediata de hostilidades. 

Anteriormente o Kremlin queria que todos os considerassem inofensivos. Por que Vladimir Putin iria, propositalmente, soar o alarme enquanto posa de defensor dos valores “conservadores” e “tradicionais”? A ingenuidade dessa fraude deveria ser óbvia. Todos estão desorientados ao mesmo tempo. Reiterando, é evidente que a estratégia russa é dividir a OTAN assim como o movimento conservador. O que importa se a esquerda de repente resolve demonizar Putin? Deixem que façam! Por favor! Ainda assim essa estratégia deve envolver um perigo muito real. Quando voltamos ao último outono e lembramos do desejo do presidente Obama em empenhar força militar na Síria e como isso foi evitado por meio da relutância dos nossos almirantes e legisladores, nós temos uma melhor noção do que a Rússia quer provocar agora. Eles querem que nós sejamos os agressores, para assim justificar um tipo de resposta armada. Novamente, isso sugere um desejo de empreender guerra.

Há uma lei de consequências não-intencionais operando na história que faz da guerra algo inevitável. De acordo com os sólidos princípios estratégicos, os estadistas deveriam empreender uma guerra apenas quando eles estivessem certos da vitória e que ela derramasse o mínimo possível de sangue. Ainda assim, a história nos oferece exemplos de guerras onde dezenas de milhões morreram em meio à ruína universal e o colapso econômico.

Apenas se admitirmos que os homens erram nos cálculos e as situações saem facilmente de controle é que podemos explicar os fatos históricos. Nesse contexto, não são os suecos que estão intencionalmente provocando um racha na Europa ao alertar para as preparações bélicas russas contra a Suécia. Nessa conjuntura, todo aquele que der o alerta para as intenções militares russas não são provocadores. Relatórios oficiais das preparações russas para invadir a Suécia envolvem a válida observação de um fenômeno efetivamente real, pois os estrategistas russos estão sempre sonhando com a guerra, se preparando para ela e acreditando nela. A Rússia atacou e engoliu seus vizinhos várias vezes. Por qual outra forma a Rússia teria se tornado o maior país da Terra? Certamente isso não se deu por meio de um processo pacífico. Francamente, quem pensar assim é um ignorante em história. O perigo russo não é imaginário e a ênfase que os russos deram no passado na guerra de informações não significa que eles estejam negligenciando os armamentos cinéticos. O Kremlin ataca seus inimigos em todos os níveis, usando todos os meios possíveis: economia, informação, religião, sociologia, cultura e até mesmo a parapsicologia. Mas sempre, e acima de tudo, os russos acreditam que o poder militar é a fundação de tudo. Sem poder militar, a guerra de informação, tão cara a eles, não passa de uma série de travessuras infantis. Apenas quando apoiada pelo poder militar é que a guerra de informações pode ser verdadeiramente efetiva, pois não se pode usá-la como uma multiplicadora de forças a menos que você tenha forças aptas a se multiplicar.

Por: Jeffrey Nyquist http://jrnyquist.com
Tradução: Leonildo Trombela Junior

domingo, 11 de maio de 2014

A ESCRAVIDÃO DA MULHER

A maior vítima do mundo moderno – fruto das revoluções Industrial e Francesa – foi indubitavelmente a mulher. A nova sociedade burguesa, separando o local de trabalho do de moradia, não apenas forçou as mulheres a uma dupla jornada, como as tornou duplamente prisioneiras. A casa, não mais um local de produção como nas eras agrárias anteriores, tornou-se uma gaiola onde se condena as mulheres a passar a vida espanando, varrendo e cuidando de um espaço ínfimo e fechado. Ao mesmo tempo, as que foram forçadas ao trabalho externo – predominantemente nas classes baixas – passaram a ter de abandonar os filhos e o lar para ajudar o marido a levar pão para casa.


Esta situação insustentável durou da virada do século 19 a meados do século passado, gerando o feminismo, solução errada para um problema real. Mulheres de classe média, desinteressadas por homens ao ponto de adotar como lema “a mulher precisa de um homem tanto quanto um peixe de uma bicicleta”, as primeiras líderes feministas esforçaram-se não por reconstruir um espaço para o feminino no mundo, mas por masculinizar a mulher.

Sua tacanha visão burguesa, limitada ao exíguo lar de classe média, fê-las ver com inveja a dupla escravidão da mulher de classe baixa e instar suas seguidoras a lançar-se ao famigerado “mercado de trabalho”, adotando, elas também, a dupla jornada.

Conseguiram. Hoje não apenas se espera que a mulher pobre seja forçada a um emprego tão pouco recompensador quanto operar o caixa de um supermercado, como se faz o mesmo com a mulher de classe média. Desde cedo ela é incentivada a procurar uma profissão rentável, a tornar-se uma profissional independente.

Ora, é tão trágico que a mulher seja independente como que o homem o seja. Um depende do outro. A interdependência do matrimônio, já ferida pela sociedade burguesa ao arrancar o homem do lar para ir ganhar o seu pão longe dele, sofreu um golpe ainda mais feroz. E este golpe é ainda mais doloroso, por ir contra as lealdades naturais da mulher. Um homem suporta, a contragosto, separar-se da família por todo o dia. Para uma mulher, abandonar seus filhos é negar sua razão de ser.

Urge aproveitar as oportunidades geradas pela sociedade pós-industrial para recriar a forma natural de produção, em que cada lar é uma sociedade não apenas de vida, como de produção e comércio. Maridos e mulheres, trabalhando juntos e educando os filhos na sua profissão, formam uma microssociedade muito mais feliz e realmente independente que qualquer delírio feminista.
Por: Carlos Ramalhete é professor. Publicado no jornal Gazeta do Povo





O GRANDE TRIPÉ E O PEQUENO

O Brasil não vai bem, a julgar pelos indicadores macroeconômicos, ainda mais quando se considera o prometido, ou o potencial. O crescimento é medíocre (e não há crises para servir como álibi), a inflação está perigosamente próxima de uma região muito escorregadia onde atolaram e afundaram alguns países vizinhos, e as contas externas e fiscais permanecem flagrantemente fora do lugar. Há problemas setoriais talvez explosivos (como no setor de energia, petróleo e também na mobilidade urbana), a produtividade estagnou há anos e a confiança do investidor (nacional e estrangeiro) atingiu os piores níveis em muitos anos.


Quem duvida que o governo perdeu a mão em matéria de macroeconomia?

A ideia que existe uma “matriz econômica alternativa”, como a crença na vida em outros planetas, costuma enclausurar-se num pequeno círculo de crentes e muito raramente é transportada para o terreno prático, onde invariavelmente fracassa. Muitos presidentes, por excesso de malícia ou ingenuidade, caíram nessa conversa, e aqui não foi diferente. A administração Dilma Rousseff experimentou o seu choque heterodoxo, mas não inovou em matéria macroeconômica, nem mesmo em contabilidade pública: os erros são todos velhos, assim como os efeitos especiais. Não há “nova matriz macroeconômica”, e a convicção das autoridades ao proclamá-la cria apenas uma ilusão de legitimidade. Como o juiz de futebol que marca pênalti inexistente, e antecipando-se às vaias, pune o defensor com cartão amarelo ou vermelho, fingindo uma certeza que todos sabem que ele não tem.

Mas por que tanta insistência em desafiar os consensos internacionais em macroeconomia?

Não me parece que esta ousadia tenha nascido das autoridades econômicas, cujas inclinações heterodoxas são bem conhecidas, exatamente como suas limitações. Os grandes pensadores heterodoxos exalam independência e descompromisso, atributos louváveis, mas que os afastam do encargo de formular soluções e de assumir responsabilidades. Talvez por isso mesmo a inflação brasileira nunca tenha tido um rosto, um defensor, alguém para responder perguntas simples sobre por que os preços sobem.

A “Nova Matriz” não pode ser vista senão como uma criatura do Planalto, e seus áulicos não escondem o intuito de antagonizar os “economistas do mercado financeiro”, e também todos os outros (ressalvadas as espécies ameaçadas), e também o FMI, as agências de risco, os especuladores em geral e, de lambuja, os conselhos do ex-presidente Lula, que conhece os economistas alternativos de outros carnavais.

É muito perigosa a ideia de uma política econômica, ainda mais uma “Nova Matriz”, cujo proprietário é o Palácio. Os riscos envolvidos são os costumeiramente discutidos no debate sobre independência do Banco Central. É ótimo quando o presidente pode atribuir à Autoridade Monetária certas políticas antipáticas das quais ele gostaria de se afastar. É péssimo quando o presidente se torna o dono das políticas, sobretudo quando elas não funcionam, e isso vale também para a política fiscal. Por isso mesmo, os presidentes costumam escalar simultaneamente ministros ortodoxos e outros nem tanto para delegar responsabilidades e ônus. Quanto mais centralização, mais a liderança se arrisca, e mais amarrada permanece a determinado curso.

Mas a boa notícia é que as instituições são robustas, o que limita os estragos e facilita sua reversão. Não há maiores dificuldades para o país retornar à racionalidade macroeconômica, normalmente identificada com o “tripé”: superávit primário, metas de inflação e câmbio flutuante. Não será necessária nenhuma emenda constitucional, nem mobilizações nacionais, apenas decisões administrativas do presidente e das autoridades competentes. Nada remotamente comparável com o que tínhamos em 1993.

É claro, todavia, que o país deve ambicionar muito mais. Não vamos esquecer que o “tripé” era uma versão simplificada para um trio de posturas filosóficas de maior alcance para a economia: responsabilidade fiscal, moeda sadia e cidadania global.

Este é o “grande tripé” do qual a versão mais conhecida é apenas uma simplificação tática e de fácil execução. Há muito mais em responsabilidade fiscal que simplesmente um número para o superávit primário, que pode ser facilmente manipulado. A sustentabilidade fiscal e financeira do governo envolve múltiplas questões atinentes ao equilíbrio entre obrigações do Estado, a capacidade de tributar e o endividamento público. O governo escapa de discutir transparentemente esses temas ao fingir que não existem problemas, e não há um pingo de dúvida que o Estado está onerado demais, que o sistema tributário precisa ser reformado e que contribuintes e consumidores estão insatisfeitos. É preciso retomar essas agendas.

A ideia de “moeda sadia” transcende a meta de inflação, pois o papel do Banco Central vai bem além das decisões sobre taxas de juros: inclui o Estado e o custo do crédito, a solidez do sistema bancário e a atuação de bancos públicos. Tampouco as relações do Brasil com o resto do mundo são definidas unicamente pela política cambial que, como já deve ter ficado claro, não tapa buracos nas estradas nem resolve as mazelas da competitividade nacional. As políticas industrial e de comércio exterior, assim como a diplomacia econômica, interagem com a regulamentação e atuação do Banco Central no mercado de câmbio a fim de definir os modos de inserção do Brasil no mundo globalizado. Infelizmente, retrocedemos na direção de ideias velhas sobre autossuficiência e nos afastamos das oportunidades oferecidas pela economia global.

Esse “tripé ampliado” traz consigo, naturalmente, muitas agendas positivas que permanecem engavetadas há muitos anos. Já faz mais de uma década sem reformas e sem imaginação, e a colocação do país nas comparações internacionais de competitividade e de qualidade do ambiente de negócios permanece em níveis sofríveis. Em vez de enfrentar os problemas, as autoridades desprezam essas métricas e se afastam do debate sobre a qualidade da gestão pública e sobre a meritocracia em geral.

Como esperar que o crescimento brasileiro fosse se acelerar sem nenhum esforço de reforma, e com uma administração macroeconômica incapaz de executar nem a versão pequena do “tripé”?
Por: Gustavo Franco Economista e ex-presidente do Banco Central Publicado no Jornal O Globo



O BRASIL ESTÁ SE ISOLANDO DO MUNDO


Não teremos crescimento nas exportações compatível com o crescimento da Ásia.


Se você estava pensando em prestar o vestibular em Relações Internacionais, leia este artigo.

Se você está pensando em trabalhar com Comércio Exterior, importar ou exportar produtos, leia também.

O centro geopolítico do mundo mudou.

O centro do mundo não será mais Londres e Inglaterra, o novo mapa mundi é este que ilustra o artigo.

O novo centro geopolítico serão a China e Ásia. China, inclusive, significa centro.

Agora notem a proximidade da China com a Índia, Japão, Coreia, Austrália, Rússia e Europa.

No círculo amarelo reside 50% da população do mundo. Isto mesmo.

A densidade populacional desta área é de 200 hab. por km quadrado. A do Brasil é de 17 hab.

Agora veja a distância entre o Brasil e 50% da população do mundo.

Hoje estamos longe, muito longe do mundo.

Estamos onde está a Nova Zelândia nos mapas de hoje. Você já foi para a Nova Zelândia? Estava nos seus planos ir para lá algum dia?

Alguém do Brasil faz comércio internacional com a Nova Zelândia?

Estes 50% do mundo está crescendo 7% ao ano per capita, e o Brasil está crescendo 1% ao ano per capita, ou menos.

Estaremos geograficamente muito longe de onde ocorrerá 80% do crescimento do mundo nos próximos 30 anos.

Nesta nova configuração geoeconômica, nossa indústria teria que ter a melhor qualidade total do mundo, porque trocar produtos defeituosos a 15.000 km de distância seria caríssimo e inviável.

Pense também no problema causado pela nossa política pública cultural que é contra falar inglês e mandarim.

Nossa política pública é ensinar francês e espanhol.

Enquanto o Brasil continuar a buscar intercâmbio tecnológico e científico com Uruguai, Paraguai, Venezuela e Argentina, ficaremos ainda mais isolados tecnologicamente, dependendo das pesquisas científicas internas feitas pela USP, Kroton, Uniban, Anhanguera e das Universidades do Mercosul.

Nos próximos anos:

Não teremos crescimento nas exportações compatível com o crescimento da Ásia.

Nosso avanço tecnológico e científico dependerá dos nossos cientistas e da Academia Brasileira de Ciência, que é muito menos atuante no Brasil do que a Academia Brasileira de Letras.

Nosso avanço em técnicas administrativas, gerenciais, controle e auditoria, cibernética, dependerá das pesquisas e financiamento da FAPESP, IPEA e Ministérios da Ciência e Tecnologia na área de Administração e gestão, que hoje é praticamente zero.

Nosso comércio com a China dependerá de avanços em Refrigeração, Logística, Rapidez de Transporte, Telecomunicação com a Ásia, e intercâmbio de estudantes, hoje quase que inexistentes.

Algo para se pensar.

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sábado, 10 de maio de 2014

COBERTURA DE GELO MARÍTIMO NA ANTÁRTIDA BATE NOVOS RECORDES

A cobertura de gelo no Ártico segue abaixo da média histórica, mas cientistas estão sim estupefatos com o que vem ocorrendo no Polo Sul, onde o gelo marítimo bate recorde atrás de recorde. Em abril, a cobertura na Antártida alcançou 9 milhões de quilômetros quadrados, batendo a maior marca até então de abril, em 2008, por 320 mil quilômetros quadrados. Os dados são do norte-americano NSIDC. A cobertura de gelo marítimo no Polo Sul no mês passado aumentou, em média, impressionantes 112 mil quilômetros quadrados por dia e o crescimento seguia em ritmo acelerado também agora em maio. 





Onde o gelo supera mais os padrões históricos hoje é no Leste do Mar de Wedeel (no Sul do Atlântico) e numa enorme faixa costeira do continente gelado ao Sul da Austrália e do Oceano Índico. Houve ainda incremento na cobertura agora em abril, segundo o NSIDC, nos mares de Bellingshausen e Amundsen, duas das poucas áreas que tiveram menos gelo no mês de março. 




No geral, a cobertura de gelo marítimo na Antártida e ao seu redor está acima da média por 16 meses seguidos. A causa para este contínuo aumento das anomalias positivas de gelo no Hemisfério Sul nos últimos anos é motivo de grande discussão ainda na comunidade científica internacional, mas a maioria das teses passa pelo regime de vento que se observa na região. Por: Por: Professor Eugenio Hackbart Maio, 09-05-2014 | 11:13 | Categoria: Clima 



PORTUGAL, 40 ANOS DEPOIS DA REVOLUÇÃO


“Em poucas décadas estaremos reduzidos à indigência, ou seja, à caridade de outras nações, pelo que é ridículo continuar a falar de independência nacional. Para uma nação que estava a caminho de se transformar numa Suíça, o golpe de Estado foi o princípio do fim. Resta o sol, o turismo e o servilismo de bandeja, a pobreza crônica e a emigração em massa.”

“Veremos alçados ao poder analfabetos, meninos mimados, escroques de toda a espécie que conhecemos de longa data. A maioria não servia para criados de quarto e chegam a presidentes de câmara, deputados, administradores, ministros e até presidentes de República.”

Não sei se seríamos hoje uma Suíça; é impossível dizer o que seríamos hoje se não tivéssemos sido o que fomos ontem. O que podemos dizer, com alguma segurança, não é “o que seríamos hoje”, mas “o que não seríamos hoje” — porque quando as nossas utopias fracassam, deparamo-nos com a realidade por detrás da nossa construção utópica da realidade.

Mas, na medida em que só podemos explicar o nosso fracasso por intermédio dos conceitos que utilizamos no passado para a construção das estruturas utópicas falhadas, segue-se que nunca chegamos a ter uma imagem do mundo que pudéssemos responsabilizar pelo nosso fracasso — porque mesmo as críticas feitas à utopia utilizam os conceitos da utopia.

A única forma de tentar sair do labirinto do fracasso utópico é tentar sair para fora da utopia; ignorá-la completamente. Ou então, ignorar as elites responsáveis pela utopia.

Com exceção da “transformação em uma espécie de Suíça”, Marcello Caetano acertou: vemos hoje analfabetos funcionais alçados ao Poder, com cursos homologados ao domingo ou tirados em apenas um semestre; meninos mimados, que nunca trabalharam a sério, em lugares de primeiro-ministro e ministros; deputados escroques; e até um presidente da república que não fez o liceu e não sabe escrever corretamente.

“Resta o sol, o turismo e o servilismo de bandeja, a pobreza crônica e a emigração em massa”.

A elite política histriônica do pós-25 de Abril

Estamos a ser governados por amadores, gente para quem é mais importante aparecer na televisão do que defender e prestigiar Portugal. Ou então por profissionais da traição à pátria.

Para esta classe política (porque não se trata apenas deste ministro da Defesa, do Partido Social Democrata), Portugal é um meio, e não um fim em si mesmo — como ficou demonstrado desde que começaram a existir as eleições para o parlamento europeu, e sobretudo quando Durão Barroso foi nomeado para Bruxelas. Ser ministro de um governo português já não é importante nem valioso senão na medida em que é um meio de se chegar a um quadro do FMI (Vítor Gaspar), ou a deputado no parlamento europeu, ou um quadro do BCE [Banco Central Europeu] (Vítor Constâncio), etc..

Por isso, não me interessa saber o que significou o 25 de Abril de 1974, mas antes o que significa o 25 de Abril de hoje; ou seja, interessa saber as consequências actualizadas do 25 de Abril de 1974, e não já as causas que foram bastamente objecto de análise histórica. O conteúdo do vídeo em epígrafe é o exemplo do que é o 25 de Abril de hoje.

E reparem como o ministro tentou justificar o injustificável: em um país decente, em que a classe política concebesse esse país como um fim em si mesmo, um ministro teria o cuidado de não se submeter a esta humilhação, por um lado, e por outro lado, mesmo que um caso fortuito desta índole acontecesse, um ministro digno sairia calado, remetendo quaisquer declarações para o seu adido de imprensa.
A nossa classe política perdeu a vergonha, porque já não considera que seja necessário ter vergonha quando se trata de se justificar perante o povo português (e aqui incluo todos os partidos com assento no parlamento). Para a nossa classe política, o povo português é uma merda!; é isto que significa, hoje, o 25 de Abril de 1974!

Por: Orlando Braga edita o blog Perspectivas - http://espectivas.wordpress.com/

O ENFRAQUECIMENTO POLÍTICO DO PT

Não adianta anular voto e nem esbravejar contra a realidade nua e crua. Ela é o que é. A direita não tem nome algum. Nem o centro político.


A possibilidade de alternância do poder, tirando o PT e adiando qualquer tirania, é precisamente o racha no PMDB.

Observar a cena política brasileira nesse ano eleitoral tem sido surpreendente. Ninguém, ao virar do Ano Novo, poderia afirmar com alguma chance de sucesso que poderia haver alternância de poder. Certo: tirar socialistas radicais e pôr no lugar os socialistas fabianos não parece grande coisa à primeira vista. Resta a pergunta: qual a alternativa? A direita não tem candidato, nem mesmo o centro, representado pelo PMDB, tem candidato. Mais uma eleição de triunfo total da esquerda se desenha.

Não obstante, penso que a alternância será muito positiva. Primeiro, porque será a garantia de que o processo democrático vai continuar, sem que a tentação golpista do PT possa se consumar. Eu sempre me lembro que Hitler, até 1933, era quase inofensivo. Depois que empolgou o poder terminou em genocídio. O mesmo aconteceu nas experiências socialistas em toda parte, a mesma que o PT que fazer por aqui, ao abrigo e na liderança do Foro de São Paulo. Então não é possível descansar enquanto a opção do puro e simples continuísmo for a maior possibilidade. Nenhum brasileiro informado e responsável poderá querer tal coisa.

A alternativa viável é Aécio Neves, um legítimo representante das oligarquias regionais que, pragmaticamente, pratica discurso à esquerda. Mas bem vimos as suas últimas declarações, muito corajosas, falando que a realidade nacional poderá exigir medidas duras. Aécio, como membro da elite tradicional, não quer ver o circo pegar fogo. Provavelmente faria um governo a meio do caminho do que faria o seu avô e o que fez Fernando Henrique Cardoso.

A agenda contra-revolucionaria seria retardada um pouco se ele ganhasse. Acho que Aécio daria prosseguimento a ela, ainda que em ritmo mais lento. Mesmo que pessoalmente queira, não conseguiria segurar os socialistas do PSDB e seus aliados na marcha da revolução. E não tem como segurar o STF, que tomou o freio nos dentes e desandou a legislar. Viveremos mais dez anos, pelo menos, de revolução fabiana com Aécio. Rever o processo exige que o centro e a direita se unam para produzir um candidato viável diante dos socialistas. Essa realidade precisará ser construída.

Não penso que chorar o leite derramado resolva alguma coisa. Não adianta anular voto e nem esbravejar contra a realidade nua e crua. Ela é o que é. A direita não tem nome algum. Nem o centro político. Penso ser do interesse de todos os brasileiros a alternância agora, mesmo que entre pares socialistas. O totalitarismo ameaçará a nação se houver continuísmo.

A possibilidade de alternância do poder, tirando o PT e adiando qualquer tirania, é precisamente o racha no PMDB. No Rio de Janeiro, terceiro maior colégio eleitoral, já foi consumado. Na Bahia, quarto maior colégio, também. Minas Gerais tem o candidato da terra, que naturalmente poderá ser o mais votado. Em Pernambuco igualmente, com Eduardo Campos tirando votos do campo petista. Esses movimentos enfraqueceram para valer a candidatura oficial. Nisso se funda o que estou aqui dizendo. O eleitorado paulista, o maior colégio eleitoral, sempre deu seu voto contra o PT, em maioria.

Pior do que a queda de popularidade de Dilma Rousseff em todos os institutos de pesquisa é o racha nas elites, para o PT. Vimos que o empresariado está quase na oposição, porque oposição não pode ser. Mas é evidente que rachou. O reflexo está nas decisões do PMDB, de não apoiar o PT em colégios importantes. Fica cada dia mais evidente a desintegração das instituições no Brasil. E também da economia, posto que os petistas, ao contrário da gente do PSDB, aposta no desenvolvimentismo, não dando bola para os perigos da inflação e lutando convictamente para engrandecer ainda mais o Estado todo-poderoso. A economia brasileira está ficando inviável e isso custará muito em termos de crescimento econômico e desordem na atividade produtiva. A situação já está de difícil correção e o empresariado acordou para o drama. O jeito é tirar o PT.

De qualquer modo, tudo indica enfraquecimento do PT diante do eleitorado. Essa é a maior notícia política dos últimos tempos.
Por: Nivaldo Cordeiro Do site: http://nivaldocordeiro.net/


sexta-feira, 9 de maio de 2014

PEDAGOGIA INSPIRADA NO FEMINISMO TRANSFORMA O SER HUMANO EM ZUMBI

Alicerçado numa experiência fracassada de mudança de sexo que levou um jovem ao suicídio, o conceito de gênero não passa de uma plástica existencial, que transforma mulheres e homens em escravos do próprio corpo.


Em 2009, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica encomendou ao Datafolha uma pesquisa com cirurgiões plásticos de todo o Brasil para traçar um diagnóstico desse tipo de procedimento médico. Na época, estimou-se que eram realizadas anualmente 629 mil cirurgias plásticas no Brasil, das quais 73% eram cirurgias estéticas e 27%, cirurgias reparadoras.

Entre as cirurgias estéticas realizadas a campeã foi o aumento de mama (21%) seguido de lipoaspiração (20%), abdômen (15%) e redução de mama (12%). A calvície – em que pese assolar cerca de metade das cabeças masculinas a partir dos 50 anos – só motivou 1% de cirurgias. É que 88% das cirurgias estéticas são feitas em mulheres; todavia, 82% dos cirurgiões plásticos são homens contra apenas 18% de cirurgiãs. Esses dados mostram que a ciência atualizou o mito de Adão e Eva: já não é Deus quem cria a mulher a par­tir da costela do homem – é ela pró­pria quem se recria à imagem e semelhança de seus múltiplos espelhos, reduzindo-se a mera massa de modelar nas mãos dos machos da espécie.

Hoje, quando o número de cirurgias plásticas cresce de modo acelerado e já chega à casa de 1 milhão por ano, colocando o Brasil atrás apenas dos Estados Unidos, um fenômeno ainda mais assustador vem ocorrendo – o crescimento vertiginoso das cirurgias estéticas entre adolescentes de 14 a 18 anos. Entre 2008 e 2012, enquanto o número de cirurgias estéticas entre adultos cresceu 38% (o que já é ex­pre­ssivo), entre adolescentes o au­mento foi alarmante – 141% no mes­mo período. Os adolescentes de 14 a 18 anos já representam 10% do total de cirurgias estéticas realizadas no País. Além de estragarem os ca­be­los precocemente, transformando-os em “parangolés” de Hélio Oi­ti­cica, as meninas, mal nascem os seios, e já começam a torneá-los com silicone segundo a última mo­da ditada pelas heroínas artificiais do cinema, da televisão ou da música pop. Isso para não falar no excesso de tatuagens e outros adornos tribais, que também são uma forma radical de intervenção no corpo.

Tudo isso tende a piorar se for aprovado o novo Plano Nacional de Educação (PNE) tal como deseja a Câmara dos Deputados. Contra­riando a própria Constituição, que só reconhece a existência dos sexos biologicamente dados, o PNE 2011-2020 pretende incorporar o conceito de gênero, oriundo das teorias feministas, que nega a realidade carnal do sexo biológico e sobre ela impõe uma sexualidade retórica, feita de palavra, desejo e desajuste. Co­mo afirmei no artigo da semana pas­sada, “não se trata mais de combater a possível discriminação de um aluno homossexual, mas de promover a ‘igualdade de gênero’, o que significa igualar ao sexo biológico as mais variadas fantasias de desajustados sexuais, perseguindo o que os ideólogos chamam pejorativamente de ‘heteronormatividade’, isto é, o sexo homem-com-mulher, papai-e-mamãe, que deve ser discriminado na escola em nome das relações homem-com-homem, mulher-com-mulher, trans-com-todos etc.”

É a ditadura gay – que já tomou conta da saúde pública – chegando também às escolas. Sim, o conceito de gênero, que nega radicalmente a biologia do sexo e não vê diferença substancial entre os aparelhos re­pro­dutores do homem e da mulher, de­corre da submissão do feminismo à cultura gay. Com o novo Pla­no Nacional de Educação, a máxima de Simone de Beauvoir – “ninguém nasce mulher, torna-se mu­lher” – será ampliada e ensinada o­ficialmente nas escolas como verdade científica: ninguém nasce ho­mem nem mulher, e cada criança, à revelia de seu próprio sexo, deverá ter o direito de escolher o gênero que quiser, assumindo-se gay, lésbica, travesti, transgênero ou tudo isso junto. É a plástica existencial, a subversão do próprio conceito de ser humano, que deixa de ser uma realidade ontológica para se tornar uma metamorfose ambulante, sujeita aos baixos instintos do desejo.

Inversão das normas morais

Mas, verdade seja dita, em termos de conteúdo, o Plano Nacio­nal de Educação nem chega a ser novidade. O perigo que ele representa é porque, sendo lei, suas aberrações se tornam obrigatórias. Não apenas no campo sexual, mas também na crítica recorrente a toda a sociedade vigente, desde suas estruturas econômicas e sociais até suas estruturas mentais. Já na questão do gênero, o plano apenas aprofunda e legaliza o que já vem sendo praticado nas escolas, como a distribuição de camisinhas para meninas de 10 anos, num óbvio incentivo ao sexo precoce. Desde o surgimento da aids, doença que se revelou uma verdadeira bênção para o movimento gay, a teoria de gênero se tornou hegemônica nas universidades e, por meio dela, se impôs na vida social. Um exemplo é o propalado conceito de homofobia, uma falaciosa invenção acadêmica, que finge combater a discriminação da minoria homossexual (o que seria justo), mas, na verdade, persegue e criminaliza a maioria heterossexual (o que é insano).

Quem não se lembra da “polêmica do banheiro” protagonizada pelo cartunista Laerte? Laerte, que já foi casado, tem dois filhos, namora uma mulher desde 2004 e se define, ao mesmo tempo, como travesti e bissexual, assume, “por vezes”, como ele explica, uma aparência feminina. Como se vê, sexo para ele é não é biologia, mas capricho. E é em nome desse capricho que ele, um senhor de 61 anos vestido de mulher, se sente no direito de usar o banheiro feminino. E o faz impunemente. Segundo ele próprio, as pessoas se espantam, mas se calam. A única vez que alguém reclamou foi em janeiro de 2012, quando ele entrou no banheiro feminino de uma pizzaria em São Paulo e se deparou com uma mãe e sua filha de 10 anos. Em nome da educação e proteção de sua filha, a mãe reclamou para o dono da pizzaria que, gentilmente, pediu para Laerte não usar mais o banheiro feminino. Foi o suficiente para que o cartunista se transformasse em vítima de discriminação em toda a imprensa, ganhando fartos e nobres espaços para sua causa.

Em outros tempos, quando as coisas ainda não estavam de ponta-cabeça, Laerte seria levado a uma delegacia de polícia para responder pelo seu ato e, provavelmente, seria demitido da “Folha de S. Paulo”, por denegrir o nome da empresa onde trabalha com sua atitude desrespeitosa. Hoje, é a mãe de família quem tem de explicar por que não queria um homem dentro do banheiro em que se encontrava sua filha de 10 anos. Tudo porque o sexo biológico já não conta e se um homem enxerga a si mesmo como mulher, todos são obrigados a vê-lo dessa forma mesmo quando ele invade a privacidade do banheiro feminino portando seu intacto órgão de macho. Hoje, diversas Secretarias de Educação do País, por orientação do próprio MEC, já franqueiam os banheiros femininos aos homens travestis, fingindo não ver que essa prática é profundamente machista e desrespeita os direitos das meninas, pois, na prática, o oposto nunca ocorre e não se vê lésbica reivindicando o direito de usar o banheiro masculino.

Renegando a biologia do sexo

Como se tornou possível essa inversão radical das normas morais? Por meio do insidioso trabalho ideológico das universidades, que se intensificou após a Segunda Guerra Mundial, sobretudo a partir da década de 60, quando o desconstrucionismo, representado por pensadores como Michel Foucault (1924-1984) e Jacques Derrida (1930-2004), invadiu os Estados Unidos e praticamente recolonizou o pensamento de países como o Brasil, que respira, ou melhor, se asfixia nessa densa atmosfera intelectual; densa não pela profundidade do seu conteúdo, mas pela irracionalidade inexpugnável de sua prosa, que nega os fatos na história, a essência na filosofia e a clareza na linguagem para se locupletar nas interpretações, nos particularismos e na obscuridade. Não é à toa que o marco na disseminação do desconstrucionismo no mundo foi a palestra de Derrida na Johns Hopkins University, nos Estados Unidos, em 21 de outubro de 1966, quando ele leu o ensaio “A estrutura, o signo e o jogo no discurso das ciências humanas”, que se tornou o último capítulo de seu livro “A Escritura e a Diferença”. Foi também na Universidade Johns Hopkins que o moderno conceito de “gênero” se fez carne e habitou a biologia, através de experiências com crianças.

Já na década de 50, o psicólogo John Money (1921-2006) e seus colegas da Universidade John Hopkins iniciaram um estudo pioneiro com pacientes hermafroditas, que apresentavam variadas combinações de ambos os sexos, como um ovário e um pênis, testículos e vagina e assim por diante. A partir de suas pesquisas, Money passou a defender a ambiguidade do hermafroditismo como uma espécie de princípio formador de ambos os sexos, que seriam moldados a partir da ação dos hormônios nos primeiros meses da vida intrauterina do bebê. Para ele, só no fim do quarto mês de gestação, quando os hormônios completam a modelagem da genitália externa (pênis ou vagina) é que o sexo começa de fato a ser definido, pois é essa aparência externa que vai prescrever o tipo de tratamento que a criança receberá dos pais e da sociedade, gerando expectativas de comportamento conforme o bebê é identificado como menino ou menina. É o que John Money chama de “papéis sexuais”, título do livro que escreveu em parceria com Patricia Tucker, publicado no Brasil em 1981 pela Editora Brasiliense.

Com isso, Money inaugurou o conceito de “gênero”, empregado por ele em meados da década de 50. Ele acreditava que, como a sexualidade humana possui uma ambiguidade de origem, era possível recriar o sexo das pessoas, através educação. O “papel sexual” imposto pela sociedade desde o nascimento da criança é que seria determinante para moldar o sexo e não a biologia. E a oportunidade para provar essa sua tese surgiu em 1967, quando David Reimer, um menino gêmeo de 8 meses, por um erro médico, teve o pênis cauterizado num processo de circuncisão. Os pais de David, mal saídos da adolescência, foram aconselhados a procurar John Money, considerado o maior especialista do mundo em identidade de gênero. Money recomendou uma cirurgia de mudança de sexo para a criança, que ganharia uma vagina artificial e um corpo feminizado por hormônios, podendo, segundo ele, levar uma vida sexual plenamente normal e satisfatória, bastando que fosse educado como menina.

O fato de David Reimer ser gêmeo idêntico mostrou-se ideal para a experiência de Money – se o menino se tornasse mulher a partir da educação dada por seus pais, mesmo tendo a mesma bagagem genética do irmão, estaria dada a prova de que o sexo é uma construção social. A experiência, realizada quando o menino tinha 22 meses, aparentemente foi muito bem-sucedida. O pequeno David ganhou uma vagina e passou a se chamar Brenda, que combinava com Brian, nome de seu irmão gêmeo. Quando li, há muitos anos, o livro de John Money em parceria com Patricia Tucker, eu não fazia ideia de que sua experiência tinha sido um fracasso. Apesar de ter sido criado como menina, usando vestidinhos cheios de babados, David nunca aceitou o papel de Bren­da. Aos 2 anos de idade, rasgava seus vestidos, repudiava as bonecas e cobiçava os carrinhos e armas de brinquedo do irmão. Na escola, seu jeito masculino era notado pelos colegas e a própria “Brenda” queixou-se aos pais que se sentia como um me­ni­no, apesar de não fazer a me­nor ideia do que lhe acontecera quando bebê, pois a cirurgia de mudança de sexo, por recomendação de John Money, foi mantida pelos pais em total sigilo.

O fracasso do experimento de gênero

Sentindo-se culpada por ter transformado o filho em menina, a mãe de David tentou suicídio. Seu pai se entregou ao alcoolismo e ele próprio passou a usar drogas eventualmente, além de apresentar sintomas de depressão. Quando David, que vivia como Brenda, fez 14 anos, um psiquiatra local convenceu a família a revelar a ele toda a verdade. “De repente, tudo fez sentido”, contou David Reimer ao jornalista e escritor canadense John Colapinto, que, em 2000, publicou um livro sobre o caso. David encontrou uma razão para a maneira como agia e se deu conta de que não estava louco, que não era nenhum maluco a se revoltar contra sua condição de mulher. Ao descobrir que nascera homem, David “iniciou o doloroso processo de conversão de volta ao seu sexo biológico”, conta Colapinto. Ele fez uma dupla mastectomia para remover os seios produzidos por terapias hormonais e, por meio de várias cirurgias, envolvendo enxertos e próteses de plástico, ele ganhou um pênis artificial com testículos. Além disso, tinha de tomar injeções regulares de testosterona. Deprimido com o tratamento e imaginando que nunca fosse se casar, ele tentou suicídio duas vezes antes dos 20 anos, numa delas depois que seu irmão morreu com uma overdose de antidepressivos.

Depois de voltar a ser homem, David acabou se casando e viveu com sua esposa durante 14 anos. Mas, segundo John Colapinto, era um marido difícil, devido às crises de depressão e aos ataques de fúria. Em 5 de maio de 2004, três dias depois de sua esposa ter sugerido que se separassem por um tempo, David Reimer se suicidou, pondo fim ao mito da completa separação entre sexo biológico e papéis sexuais, que John Money, agindo como um demiurgo, tentou forjar.

Money estava tão convicto de suas teses que, mesmo com todos os problemas enfrentados por David, continuou colhendo os louros de sua experiência na academia e na imprensa, tanto que foi capa da revista “Time” e incluiu, num de seus livros, um capítulo inteiro sobre o caso de sua jovem cobaia. Em 1985, quando duas crianças tiveram os pênis cauterizados por um erro num cirurgia de circuncisão, num caso semelhante ao de David Reimer, uma delas, que teve o pênis totalmente queimado, foi submetida a uma cirurgia de mudança de sexo, tornando-se “Baby Doe”. O psicólogo que recomendou a cirurgia foi John Money, apesar do fracasso de seu caso anterior.

É claro que não se pode atribuir o suicídio de David Reimer exclusivamente à mudança de sexo. O fato de ter perdido o pênis ainda bebê, provavelmente afetaria sua sexualidade, especialmente a partir da adolescência, quando estivesse em fase de autoafirmação. E a desagregação de sua família, inclusive a morte do irmão, pode ter agravado o seu quadro psicológico. Mas também é provável que o caminho escolhido por seus pais – sob a influência negativa de John Money – tenha sido a matriz de seu fracasso. Uma cirurgia de mudança de sexo para compensar o pênis perdido não é enfrentar o problema, mas fugir dele. E revela uma fragilidade emocional de seus próprios pais, que se entregaram ao suposto poder da medicina para operar milagres, quando deveriam ter ajudado o filho a crescer sublimando a falta do pênis. Na Idade Média, o filósofo Pedro Abelardo foi castrado pelos parentes da jovem Heloísa, a quem desonrara para os padrões da época. Como não havia um John Money em seu tempo, em vez de mudar de sexo, ele mudou de vida, entregando-se ainda mais à filosofia, um mecanismo de compensação que se mostra a olho nu até para leigos.

O ser humano transformado em zumbi

Esse é o grande problema do conceito de gênero que se quer impor a toda a sociedade a partir da escola. Ele é fruto de uma cultura materialista, que não reconhece o sofrimento como uma dimensão inerente à vida e acredita que a felicidade é bem externo ao indivíduo, que cabe à sociedade prover através de leis. Um exemplo são os homossexuais que conquistaram o direito de mudar de sexo de graça, via SUS. Depois da cirurgia, eles continuam tendo acompanhamento psicológico durante anos, pois já houve casos de suicídio de transexuais mesmo depois da mudança de sexo. Ora, já que a mudança de sexo não é garantia alguma de felicidade (afinal, o sexo oposto que o transexual busca é tão cheio de problemas quando o seu sexo de origem), por que não se render ao bom senso e aceitar ajuda psicológica não para trocar de sexo mas para se conformar com o sexo de nascimento? Esse inconformismo com os fatos da natureza transforma o homem em cobaia da ciência. Vivemos tempos pré-nazistas, em que a deificação do corpo aniquila o que há de humano nele.

Quem duvida, leia a revista “Cult” de novembro do ano passado, que traz um dossiê sobre a filósofa feminista Judith Butler, assumidamente lésbica e autora de obras consagradas nas universidades, entre elas “Problemas de Gênero: Feminismo e Subversão da Identidade”, publicado em 1990 e editado em 23 países, entre os quais o Brasil. Simone de Beauvoir (1908-1986), ao dizer que “ninguém nasce mulher, torna-se mulher”, negou a realidade do sexo biológico e antecipou o conceito de gênero que viria a ser sustentado falaciosamente pelas pesquisas de John Money. Agora, Judith Butler, aprofundando o desconstrucionismo de Michel Foucault, quer ir além da diferença entre sexo e gênero. “A ideia fundamental da pensadora é de que o discurso habita o corpo e que, de certo modo, faz esse corpo, confunde-se com ele”, explica a filósofa Marcia Tiburi, em seu ensaio sobre Butler na “Cult”. “Por isso, a diferença entre sexo e gênero não seria mais o caminho para a luta feminista. Mas o respeito aos corpos cuja liberdade depende, em última instância, de serem livres do discurso que os constitui”, acrescenta.

O que vem a ser um corpo construído pelo discurso? E o que são corpos livres do discurso que os constitui? Devem ser zumbis sem cabeça, que abdicam de seu estatuto humano, nesse novo dualismo feminista que subverte Descartes – em vez de a mente reger o corpo, o corpo é que rege a mente. É o que se depreende de outra entrevista da revista “Cult”, de março último, com a professora e doutora em Comunicação pela UFRJ, Ivana Bentes. Depois de dizer que os homens “continuam em pânico com a autonomia das mulheres”, Ivana Bentes, também discípula de Foucault, afirma: “Um dia sexo vai ser modalidade esportiva, e prostituição (masculina e feminina) serviço e profissão de utilidade pública”. E adianta qual é o modelo de mulher: “Admiro as meninas do funk que ressignificaram o feminismo nas favelas, ao fazerem a crônica sexual da periferia de forma explícita, como Tati Quebra Barraco, que considero uma Leila Diniz dos novos tempos. Há os que pensam que, ao se colocarem como protagonistas da cena sexual, as meninas do funk só ocupam o lugar de poder dos homens. Na verdade, é um discurso radical de autonomia e de liberdade, que, vindo das mulheres, subvertendo o sentido de ‘cachorras’ e ‘popuzudas’ coloca o preconceito e o machismo de ponta-cabeça”.

A afirmação dessa doutora está longe de ser isolada, em que pese ser uma absoluta negação da realidade. Há artigos e teses louvando o funk e enaltecendo a liberdade sexual de suas meninas, sem levar em conta o preço dessa suposta liberdade. Como afirma o psicólogo canadense Steven Pinker, em seu livro “A Tábula Rasa”, a negação da natureza humana, por consequência da própria realidade, se tornou a “religião secular da vida intelectual moderna”. Quem quiser ver como as meninas do funk colocam o machismo de ponta-cabeça, como acredita Ivana Bentes em sua alucinação ideológica, basta ir ao Complexo de Bangu nos finais de semana. Lá, como em qualquer presídio do País, há milhares de “cachorras” esperando na fila para serem tratadas, de fato, como cadelas, servindo de repasto para o macho despejar sua libido na vagina sempre disponível – inclusive para servir de receptáculo das drogas transportadas para dentro da cadeia, até que a “cachorra” seja presa e o bandido a substitua na visita íntima seguinte por outra mulher qualquer; afinal, o corpo liberto da razão não tem satisfações a dar – só instintos a satisfazer. 
Por: José Maria e Silva é sociólogo e jornalista.  Publicado no Jornal Opção.