terça-feira, 16 de maio de 2017

Três princípios para a sanidade sócio econômica de uma nação - D. Bertra...

ALEMANHA CONFISCA MORADIAS PARA ALOJAR MIGRANTES

"A pesada agressão aos direitos de propriedade"

- Em uma medida sem precedentes, as autoridades de Hamburgo confiscaram seis unidades residenciais no distrito de Hamm, perto do centro da cidade. Um agente administrativo nomeado pela prefeitura está reformando as propriedades para posteriormente alugá-las - contra a vontade do proprietário - aos inquilinos escolhidos por ela. A porta-voz do distrito Sorina Weiland salientou que todos os custos da reforma serão cobrados do proprietário daquelas propriedades.

- Medidas semelhantes de expropriação foram propostas em Berlim, capital alemã, mas subsequentemente abandonadas porque foram consideradas inconstitucionais.

- Há alemães se perguntando o que os espera: as autoridades limitarão o máximo de espaço vital por pessoa e forçarão aqueles com apartamentos espaçosos a compartilhá-los com estranhos?
-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Autoridades de Hamburgo, a segunda maior cidade da Alemanha, começaram a confiscar moradias particulares para mitigar a sua carência - carência esta agudamente agravada pela decisão da chanceler Angela Merkel de permitir a entrada de mais de dois milhões de migrantes no país nos últimos anos.

Desde o final de 2015, autoridades municipais estão se assenhorando de imóveis comerciais, convertendo-os em abrigos para migrantes, quando Merkel abriu as fronteiras alemãs para centenas de milhares de migrantes da África, Ásia e Oriente Médio. Agora, no entanto, a cidade está expropriando unidades residenciais de propriedade de cidadãos comuns.

Em uma medida sem precedentes, as autoridades de Hamburgo confiscaram seis unidades residenciais no distrito de Hamm, perto do centro da cidade. As unidades, de propriedade de um locador privado, precisam ser reformadas além de estarem vagas desde 2012. Um agente administrativo nomeado pela prefeitura está reformando as propriedades para posteriormente alugá-las - contra a vontade do proprietário - aos inquilinos escolhidos por ela. A porta-voz do distrito Sorina Weiland salientou que todos os custos da reforma serão cobrados do proprietário daquelas propriedades.

A expropriação está autorizada pela Lei de Proteção da Habitação de Hamburgo (Hamburger Wohnraumschutzgesetz), uma lei de 1982 atualizada pelo governo socialista da cidade em maio de 2013, para permitir que a prefeitura confisque qualquer unidade de propriedade residencial que esteja vaga por mais de quatro meses.

O arrendamento forçado, o primeiro dessa natureza na Alemanha, segundo consta, tem como objetivo pressionar os proprietários de outras residências vazias na cidade a torná-las disponíveis para serem alugadas. Das 700.000 unidades para aluguel em Hamburgo, algo entre 1.000 e 5.000 (menos de 1%) são consideradas vagas, segundo uma estimativa do Senado de Hamburgo.
Hamburgo, Alemanha. (Imagem: Morris MacMatzen/Getty Images)


Membros dos partidos socialistas e do Partido Verde de Hamburgo implantaram recentemente um "disque denúncia" onde os residentes locais podem denunciar a existência de propriedades vazias. Ativistas também criaram o site - Leerstandsmelder (Informador de Moradias Desocupadas) - para identificar imóveis desocupados em Hamburgo e demais cidades alemãs.

Ainda não está claro porque o proprietário de Hamm deixou seus apartamentos vagos por mais de cinco anos. Postula-se que dada a localização das propriedades, os custos para reformar podem ter sido demasiado elevados e provavelmente não compensaria reformá-los pela renda que aufeririam.

Outros culpam as autoridades municipais por não aprovarem mais licenças para a construção de novas unidades residenciais. Um estudo realizado em 2012 - bem antes da crise migratória atingir proporções épicas - previu que por volta de 2017, Hamburgo teria um déficit de pelo menos 50.000 imóveis para aluguel.

Em 2016, no entanto, apenas 2.433 novas unidades residenciais foram disponibilizadas, ao passo que somente 2.290 novas licenças de construção foram aprovadas segundo estatísticas fornecidas pela prefeitura de Hamburgo. O número aumentou ligeiramente de 2.192 novas unidades e de 2.041 novos alvarás em 2015.

Em 2012 o governo socialista de Hamburgo apresentou um plano para construir 6.000 novas unidades residenciais por ano. O plano nunca se materializou porque os potenciais construtores tinham que aceitar limitações nos valores dos alugueis impostos pelo governo, o que tornaria impossível aos proprietários recuperarem até mesmo os custos de construção.

A partir daí, a cidade começou a confiscar propriedades privadas para resolver sua autoinfligida crise imobiliária.

Em 1º de outubro de 2015 o Parlamento de Hamburgo (Hamburgische Bürgerschaft) aprovou uma nova lei que autoriza a prefeitura a confiscar imóveis comerciais vazios (prédios de escritórios, espaço para o comércio varejista e terrenos) e usá-los para abrigar migrantes.

Autoridades municipais ressaltaram que a medida era necessária porque, naquela época, mais de 400 novos migrantes chegavam à Hamburgo todo santo dia e todos os abrigos para refugiados estavam lotados. Elas disseram que, pelo fato dos proprietários de imóveis vazios se recusarem a disponibilizar suas propriedades à prefeitura de forma voluntária, deveria ser permitido a ela tomá-las à força.

A medida foi aplaudida pela esquerda. "Estamos fazendo de tudo para que os refugiados não fiquem desabrigados no próximo inverno" ressaltou o Senador Till Steffen do Partido Verde. "Por essa razão precisamos fazer uso de propriedades comerciais vazias".

Já outros argumentaram que as iniciativas do Estado de confiscar propriedades privadas são autocráticas e cheiram comunismo. "O proposto confisco de construções e terrenos privados é uma agressão massiva aos direitos de propriedade dos cidadãos de Hamburgo", assinalou André Trepoll, da União Democrata Cristã de centro direita (CDU). "Isso equivale a uma expropriação executada pelo Estado". Ele afirmou que a medida proposta é uma "lei de intimidação" que equivale a uma "ruptura política com implicações de longo alcance". Ele acrescentou: "os fins não justificam os meios".

Katja Suding, líder do Partido Liberal Democrata (FDP) em Hamburgo, assinalou que a lei proposta "passa dos limites de forma inaceitável... Essas medidas coercitivas só alimentam o ressentimento contra os refugiados".

Medidas semelhantes de expropriação foram propostas em Berlim, capital alemã, mas subsequentemente abandonadas porque foram consideradas inconstitucionais.

Em novembro de 2015 legisladores em Berlim consideraram implantar uma legislação de emergência que permitiria às autoridades locais confiscarem residências particulares para acomodarem candidatos a asilo. A proposta teria autorizado a polícia a invadir casas e apartamentos de propriedade particular, sem um mandado, para que determinasse sua viabilidade para alojar refugiados e migrantes.

A legislação, proposta pelo prefeito de Berlim, Michael Müller do Partido Social Democrata (SPD), de centro esquerda, teria alterado o Artigo 36 da Lei de Segurança e Ordem Pública de Berlim (Allgemeine Gesetz zum Schutz der öffentlichen Sicherheit und Ordnung, ASOG), que atualmente autoriza a polícia a entrar em residências privadas apenas em casos extremos, para "evitar graves ameaças", ou seja, para combater crimes graves. Müller queria expandir o escopo para autorizar inspeções sem mandado incluindo "prevenir a falta de moradias".

A proposta foi mantida em sigilo até o líder do Partido Liberal Democrata (FDP) em Berlim, Sebastian Czaja, alertar que a medida viola a constituição alemã.

"Os planos do Senado de Berlim para requisitar propriedades residenciais e comerciais para acomodar refugiados sem o consentimento do proprietário é uma flagrante violação da constituição. A tentativa do Senado de minar o direito constitucional à propriedade e à inviolabilidade do lar deve ser incondicionalmente rejeitada".

Desde então, tanto o gabinete do prefeito quanto o Senado parecem ter abandonado os ditos planos.

Após uma investigação, Gunnar Schupelius, um colunista do jornal BZ de Berlim, salientou:

"Causou espécie um relato que circulou no fim de semana: o Senado autorizaria a polícia a entrar em casas particulares para abrigar refugiados, mesmo contra a vontade do proprietário. Achei que fosse só uma piada, depois um mal-entendido, porque a Lei Fundamental, Artigo 13, estabelece: "o lar é inviolável".

"De modo que saí em busca da origem do relato e consegui encontrá-lo. Foi a Chancelaria do Senado (Senatskanzlei), ao que tudo indica, que fez circular a 'proposta' entre os senadores. A Chancelaria do Senado é outro nome que se dá ao Gabinete do Prefeito. O secretário em exercício é Björn Böhning (SPD)...

"A proposta é clara: a polícia poderá entrar em propriedades privadas sem ordem judicial para averiguar a possibilidade delas se tornarem abrigo para refugiados se eles estiverem ameaçados de ficarem sem moradia. Isso será permitido sem o consentimento do proprietário. E não é só a polícia que deveria ter tal autorização, mas também as agências reguladoras.

"Esta delicada 'proposta' atraiu pouca atenção pública. Somente o secretário-geral do FDP (Partido Liberal Democrata) de Berlim, Sebastian Czaja, se manifestou alertando para um 'flagrante preparativo para rasgar a constituição'. Internamente deve ter havido protestos: a 'proposta' de repente desapareceu da ordem do dia. Desapareceu para sempre ou será que vai voltar"? "

Ainda não está claro porque ninguém questionou sobre a constitucionalidade da lei de expropriação de Hamburgo.

Enquanto isso, há alemães se perguntando o que os espera: as autoridades limitarão o máximo de espaço vital por pessoa e forçarão aqueles com apartamentos espaçosos a compartilhá-los com estranhos?
Por Soeren Kern 16 de Maio de 2017
Tradução: Joseph SkilnikSoeren Kern é Colaborador Sênior do Gatestone Institute de Nova Iorque. Do site: https://pt.gatestoneinstitute.org

terça-feira, 9 de maio de 2017

A "QUARTA CLASSE"


Uma das maiores bobagens disseminadas pelo Brasil e pelo mundo é a noção de que somos divididos em somente duas classes.

O mundo na realidade é dividido em N classes, algo que você intuitivamente já sabia, mas para simplificar vou reduzi-las para somente sete Classes, a seguir.

A Sétima Classe. São todos aqueles com Q.I. até 80. Vide o gráfico. São aqueles que só têm a sua força de trabalho para vender.

Em termos de força intelectual ficam devendo.

Mas mesmo assim conseguem cuidar de máquinas, fazer trabalho repetitivo, obedecer ordens e serem produtivos para a sociedade.

A Sexta Classe. Aqueles com Q.I. Até 90.

A Quinta Classe. Aqueles com Q.I. Até 100.

Essas duas Classes provavelmente são até tão inteligentes quanto a média, mas por não terem tempo ou condições para estudar ou “refletir sobre o mundo” tiram notas mais baixas no teste de QI.

Estes também se viram, basta um pouco de supervisão, contato e aconselhamento da Terceira e Segunda Classes.

A Quarta Classe são aqueles com Q.I. entre 100 e 110.

São mais espertos do que necessariamente inteligentes.

É a classe má, perversa, enganadora, mentirosa.

As outras seis Classes são essencialmente do bem, com as exceções de sempre.

A Terceira Classe são aqueles com Q.I. entre 110 e 120, são os bacharéis de Faculdades, os que serão o segundo escalão das empresas, do governo e das ONGs.

São os que fazem acontecer, que trabalham para coordenar, planejar, motivar, essenciais para todas as sociedades.

A Segunda Classe são aqueles com Q.I. entre 120 e 130, os mestres e doutores.

Serão os Diretores, os Presidentes, os Sócios e os Líderes da Sociedade.

São aqueles que sabem analisar problemas complexos e tomar decisões complicadas e nos liderar fora das crises que ocorrem de tempos em tempos.

E finalmente temos a Primeira Classe.

São aqueles com Q.I. acima de 130, os gênios, os cientistas, os Nerds, os Prêmios Nobel, os inventores, os inovadores, como aqueles engenheiros têxteis da era industrial.

A Primeira Classe se vira sozinha, mas deixa um enorme legado em termos de quebra de paradigmas, teorias, sistemas, etc…

São meio excêntricos de fato, muitas vezes incompreendidos e solitários.

Agora vem a tese central que explica o que aconteceu no mundo.

Numa sociedade eficiente, os conhecimentos adquiridos pelas classes superiores precisam ser lentamente transmitidos às classes inferiores, em cascata da Primeira até a Sétima. Vide o gráfico.

Embora cada classe prefira escrever para a sua própria classe, povos que entendem essa dinâmica criam mecanismos para cada classe difundir conhecimento para a classe mais à sua esquerda.

Por isso temos livros científicos, livros de autoajuda, artigos em jornais, congressos, faculdades, cada classe instruindo a classe logo abaixo.

O mundo seguia basicamente esse modelo com sucesso por mais de 2000 anos.

O que variava era a rapidez de transmissão, no Brasil super mais lenta.

Hoje essa disseminação de conhecimento classe abaixo, deveria ser muito mais rápida graças à internet, mas não é.

Ela foi interrompida pela Quarta Classe.

A Quarta Classe tomou o poder impedindo que a disseminação de conhecimento da Primeira Classe fosse efetivamente transmitida para as classes mais necessitadas.

Continuam ensinando Karl Marx, em vez de Elon Musk.

E assim perpetuam a pobreza, mas não a deles, impedindo o progresso dos mais necessitados.

É a Quarta Classe que é dominada por intelectuais medíocres e frustrados, jornalistas medíocres e incompetentes, economistas medíocres e fakes, artistas de terceira.

Medíocre significa média, lembrem-se disso.

Substituíram conhecimento por narrativas, interpretações Derridianas, mentiras fabricadas e o Fake News.

Por isso a Quarta Classe precisa tanto controlar a imprensa, as faculdades, os artistas, as novelas, etc.

E eles até vendem o peixe que Marilena Chauí ou Leandro Karnal são da Primeira Classe.

Como a Quarta Classe tem um Q.I. de 105 em média, e portanto superior a 55% da população, enganando as três classes que mais precisam de conhecimento, eles ganham todas as eleições e controlam o governo eternamente.

E aí surgem os nossos problemas.

A Quarta Classe é suficientemente inteligente para enganar o povo, mas não o suficiente para governar um país, vide Dilma ou Eduardo Suplicy.

A Quarta Classe não quer que metade da população aprenda com a metade mais inteligente do Brasil, e sim com ela.

O objetivo da Quarta Classe é manter a metade da população na ignorância, por isso o ensino Estatizado será sempre de péssima qualidade.

A Quarta Classe prefere ensinar Português a Ciências.

Prefere ser eleita para a Academia de Letras do que a Academia de Ciências, vide FHC.

A Quarta Classe prefere ensinar Economia a Administração.

Prefere ensinar História da Idade Média a Contabilidade.

Prefere Estudos do Gênero a Finanças Pessoais, Filosofia ao Ensino Profissional.

É a Quarta Classe que dissemina o ódio, “a luta de classes” para impedir que os mais necessitados leiam sobre o progresso de quem a faz.

Boa parte da minha vida como escritor, colunista na Veja, foi transmitir conhecimentos das primeiras classes, para as classes mais necessitadas.

Contornando assim essa censura ferrenha da Quarta Classe.

Eu até sou conhecido por escrever coisas complexas de forma simples, mas isso foi sempre de propósito dado o meu objetivo.

Se você faz parte das três primeiras ou das três últimas Classes, tem um inimigo comum.

Essa Quarta Classe que domina a imprensa, as universidades, os Ministérios da Educação, tudo com o objetivo de manter a população mais ignorante do que eles.

Precisamos fazer uma nova Revolução, a luta contra essa barreira de ignorância imposta pela Quarta Classe.

“Inteligentes do mundo uni-vos. Vocês só terão as mentiras da Quarta Classe a perder.”
Por: Stephen Kanitz  Do site: http://blog.kanitz.com.br


segunda-feira, 8 de maio de 2017

APRENDA A OBSERVAR


Hoje nossos alunos são proibidos de observar o mundo, trancafiados que ficam numa sala de aula, estrategicamente colocada bem longe do dia-a-dia e da realidade.

Nossas escolas nos obrigam a estudar mais os livros de antigamente do que a realidade que nos cerca.

Observar, para muitos professores, significa ler o que os grandes intelectuais do passado observaram – gente como Rousseau, Platão ou Keynes.

Só que esses grandes pensadores seriam os primeiros a dizer “esqueçam tudo o que escrevi”, se estivessem vivos.

Na época não existia internet nem computadores, o mundo era totalmente diferente.

Eles ficariam chocados se soubessem que nossos alunos são impedidos de observar o mundo que os cerca e obrigados a ler teoria escrita 200 ou 2.000 anos atrás – o que leva os jovens de hoje a se sentir alienados, confusos e sem respostas coerentes para explicar a realidade.

Não que eu seja contra livros, muito pelo contrário.

Sou a favor de observar primeiro, ler depois.

Os livros, se forem bons, confirmarão o que você já suspeitava.

Ou colocarão tudo em ordem, de forma esclarecedora.

Existem livros antigos maravilhosos, com fatos que não podem ser esquecidos, mas precisam ser dosados com o aprendizado da observação.

Ensinar a observar deveria ser a tarefa número 1 da educação.

Quase metade das grandes descobertas científicas surgiu não da lógica, do raciocínio ou do uso de teoria, mas da simples observação, auxiliada talvez por novos instrumentos, como o telescópio, o microscópio, o tomógrafo, ou pelo uso de novos algoritmos matemáticos.

Se você tem dificuldade de raciocínio, talvez seja porque não aprendeu a observar direito, e seu problema nada tem a ver com sua cabeça.

Ensinar a observar não é fácil.

Primeiro você precisa eliminar os preconceitos, ou pré-conceitos, que são a carga de atitudes e visões incorretas que alguns nos ensinam e nos impedem de enxergar o verdadeiro mundo.

Há tanta coisa que é escrita hoje simplesmente para defender os interesses do autor ou grupo que dissemina essa ideia, o que é assustador. Se você quer ter uma visão independente, aprenda correndo a observar você mesmo.

Sou formado em contabilidade e administração.

A contabilidade me ensinou a observar primeiro e opinar (muito) depois.

Ensinou-me o rigor da observação, da necessidade de dados corretamente contabilizados, e também a medir resultados, a recusar achismos e opiniões pessoais.

Aprendi ainda estatística e probabilidade, o método científico de chegar a conclusões, e finalmente que nunca teremos certeza de nada. Mas aprendi muito tarde, tudo isso me deveria ter sido ensinado bem antes da faculdade.

Se eu fosse ministro da Educação, criaria um curso obrigatório de técnicas de observação, quanto mais cedo na escala educacional, melhor.

Incentivaria os alunos a estudar menos e a observar mais, e de forma correta. Um curso que apresentasse várias técnicas e treinasse os alunos a observar o mundo de diversas formas. O curso teria diariamente exercícios de observação, como:

1. Pegue uma cadeira de rodas, vá à escola com ela por uma semana e sinta como é a vida de um deficiente físico no Brasil.

2. Coloque uma venda nos olhos e vivencie o mundo como os cegos o vivenciam.

3. Escolha um vereador qualquer e observe o que ele faz ao longo de uma semana de trabalho. Observe quanto ele ganha por tudo o que faz ou não faz.

Quantas vezes não participamos de uma reunião e alguém diz “vamos parar de discutir”, no sentido de pensar e tentar “ver” o problema de outro ângulo?

Quantas vezes a gente simplesmente não “enxerga” a questão?

Se você realmente quiser ter ideias novas, ser criativo, ser inovador e ter uma opinião independente, aprimore primeiro os seus sentidos. Você estará no caminho certo para começar a pensar.
Revista Veja, 4 de agosto de 2004, página 18 
Por: Stephen kanitz Do site: http://blog.kanitz.com.br

quinta-feira, 4 de maio de 2017

UMA FILOSOFIA DA MENTIRA

O dinheiro acumulado sempre leva o seu dono à conclusão de que a melhor política é a covardia. A verdade é que o acúmulo tende a tornar você uma formiga contida em seu formigueiro


Se no futuro existir um medidor de mentiras, o início do século 21 ganhará o prêmio de era da mentira.

Uma filosofia da mentira é algo necessário para qualquer dossiê de temas urgentes. Sabe-se que a mentira foi duramente condenada pelo filósofo Immanuel Kant no século 18. Para ele, se ninguém mentisse, o mundo seria mais ético e mais “transparente”. Se vivesse hoje, acreditaria, provavelmente, na gestão ética dos indivíduos através de uma espécie de sistema universal de compliance.

Contra essa ideia de um mundo perfeito da transparência, o russo Dostoiévski, no século 19, visitando feiras de ciência da Europa ocidental, já percebia a morte da privacidade pelas mãos de um “palácio de cristal” onde a vida seria um fato “claro e distinto”.

No Brasil, nosso maior filósofo da moral, Nelson Rodrigues, em pleno século 20, clamava “mintam, mintam por misericórdia!”. Nelson pensava que, sem a mentira, a vida em sociedade seria impossível. A mentira, nesse caso, era uma forma de doçura para com as fraquezas humanas. Aquele tipo de mentira misericordiosa que sustenta jantares em família, amizades, longos relacionamentos, silêncios honrosos em nome de um morto ou a piedade diante de uma feia.

Mas há formas de mentira que precisam ser mais analisadas por nossa vã filosofia. Refiro-me à mentira a serviço do marketing moral. Esse tipo de mentira visa vender a ideia de que somos uma época mais avançada em costumes, afetos e comportamentos. Se formos à tradição filosófica, veremos que a mentira contemporânea se encaixa no tipo de mentira que se chama mentiras da vaidade. Vejamos três casos.

A vaidade ferida, normalmente, se transforma em sua irmã ainda mais miserável, a inveja. A falsa afirmação do marketing moral de que todas as pessoas são iguais (uma corruptela da ideia justa de que todos devem ser iguais perante a lei, mentira essa evidente, na verdade) gera, no convívio interno a instituições, a mentira travestida de normas burocráticas.

Alguém sob forte inveja pode, facilmente, querer destruir a fonte de sua humilhação cotidiana (por exemplo, destruir alguém muito melhor do que você profissionalmente) lançando sobre essa fonte (uma pessoa, na maioria dos casos) um conjunto de normas que visa inviabilizar a vida dessa pessoa.

Se indagado acerca da causa desse conjunto de normas burocráticas asfixiantes, o mentiroso no exercício de sua função burocrática dirá que apenas exerce sua função, aplicando as normas.

Como muitas normas burocráticas visam mesmo à destruição da espontaneidade e criatividade, e riscos inerentes às duas, em nome da mediocridade segura, o mentiroso burocrático estará seguro no exercício de sua função. Não prestamos a devida atenção ao fato que a mediocridade é a forma mais segura de viver que existe.

Fala-se muito em “pensar fora da caixa”, mas, na verdade, nunca o mundo corporativo investiu mais no seu contrário: as pessoas devem ser cada vez mais medíocres e respeitadoras dos limites dessa caixa.

O dinheiro acumulado sempre leva o seu dono à conclusão de que a melhor política é a covardia. Apesar de se falar o contrário disso, a verdade é que o acúmulo tende a tornar você uma formiga contida em seu formigueiro.

Falar em “pensar fora da caixa” é para o pensamento da “gestão de ideias” o que a punheta é para o sexo: uma atividade segura, sem riscos de engravidar alguém. Quando o risco de perda é muito alto, a melhor política é a mediocridade que paga pouco, mas sempre paga.

As relações entre homens e mulheres nunca foram tão ruins como hoje. O desinteresse pelo sexo é seu maior sintoma. Sexo suja, implica em riscos e precisa de um “outro” para ser realizado.

Aliás, uma das maiores mentiras contemporâneas é a masturbação ética ao redor da “alteridade”(o tal do “outro”). Fala-se muito dele, mas o eliminamos à nossa volta. Outros na África são mais seguros do que em casa. A ideia de que as pessoas evoluíram nos afetos é, talvez, a maior de todas as mentiras contemporâneas. Suspeito, na verdade, que “involuímos”. Somos uns retardados do afeto.
Por: Luiz Felipe Pondé, escritor, filósofo e ensaísta, é doutor em Filosofia pela USP e professor do Departamento de Teologia da PUC-SP e da Faculdade de Comunicação da Faap. Do site: http://www.gazetadopovo.com.br

terça-feira, 2 de maio de 2017

A MORTE DO OCIDENTE

A busca frenética do prazer sensível, em detrimento da própria razão e da ordem natural da sociedade, indica que estamos num alto grau de decadência


O clássico de ficção científica Um Cântico para Leibowitz acompanha uma ordem religiosa fictícia desde pouco após um apocalipse nuclear (o livro é de 1960) a milênios depois, passando por todos os períodos de reconstrução, auge e decadência de uma sociedade. Na época do lançamento, as cenas da sociedade futura tremendamente decadente em que as pessoas buscavam voluntariamente a eutanásia causaram espécie. Já na vida real, estamos quase lá. Esta semana, o bravo governo guatemalteco conseguiu expulsar de suas águas um barco pertencente a uma organização abortista que se dedica a matar bebês mundo afora.

A morte não é uma libertação. Nem a própria, como na eutanásia buscada pelos personagens do livro, nem a de outrem, como a do filho que as mães que procuram o barco assassino querem eliminar.

É nosso dever preservar as riquezas do Ocidente para que ele renasça veja também

Nossa sociedade, decadente até a medula, dedica-se aos prazeres como se o mundo fosse acabar amanhã, num frenesi que só faz aumentar no carnaval, enquanto foge das responsabilidades o quanto puder. No carnaval, distribuem-se aos bêbados camisinhas e lubrificantes genitais às mancheias, enquanto uma barraquinha perdida lá no meio conduz testes de HIV e se surpreende com a quantidade de casos positivos. Em muitas cidades do Brasil, andar sozinha no carnaval sem ser agarrada e beijada à força é quase impossível para uma moça sozinha.

Esta busca frenética do prazer sensível, em detrimento da própria razão e da ordem natural da sociedade, indica que estamos num alto grau de decadência. A busca voluntária da morte de modo social é a próxima etapa. É o que já vemos com os movimentos pró-aborto, e em breve veremos com movimentos pela eutanásia e suicídio assistido. A Holanda, onde um amigo meu dizia que o capeta faz test-drive, já está matando tantos idosos que se tornou comum entre os cidadãos mais velhos buscar tratamento médico na Alemanha, para evitar ser morto pelos médicos.

Não há o que se possa fazer para reverter o processo de decadência; só o que se pode é esperar que o que virá seja melhor, e que nossos filhos e netos consigam erigir alguma coisa decente sobre as ruínas da nossa civilização. Para isso, é fundamental que ajamos sempre tendo em vista o bem comum e, especialmente, o bem das futuras gerações. Devemos, cada um de nós, procurar preservar uma parcela do grandioso construto que foi um dia a civilização ocidental, para que isso possa ser resgatado daqui a algumas gerações. Aqui no Brasil estamos na periferia, nos subúrbios desta civilização. Exatamente por isso, sua decadência aqui não tem um alcance tão forte; temos feministas gritando pelo aborto, mas ele continua praticamente proibido. É nosso dever preservar as riquezas do Ocidente para que ele renasça. Por: Carlos Ramalhete  carlosgazeta@hsjonline.com 

[02/03/2017]  Publicado na Gazeta do povo

domingo, 30 de abril de 2017

MACACOS COM MELHORES SMARTPHONES NUNCA DEIXARÃO DE SER MACACOS

Vou contar uma história: a princesa do Reino Unido foi sequestrada. O criminoso, em vídeo divulgado pelo Youtube, fez as suas exigências. Não queria dinheiro. Não queria a libertação de prisioneiros. Não queria o fim das hostilidades em algum lugar do Oriente Médio.


Ele apenas exigiu que o premiê britânico fosse transportado até o centro de Londres para ter sexo com um porco em frente das câmeras. Caso contrário, bye bye princesa.

O premiê ficou atônito com a exigência. Intolerável. Impensável. A população apoiou o premiê e ficou tão atônita quanto ele. Sexo com miss Piggy? Melhor chamar a polícia.

O premiê chamou a polícia. A polícia tentou capturar o bandido em tempo útil. Sem sucesso. O bandido, como medida de retaliação, enviou um dedo cortado da princesa.

Horror no reino! O povo, que apoiava o premiê, começou a criticá-lo. Novas pesquisas mostravam que a maioria da população já apoiava o "rendez-vous" suíno. O que é mais importante: a vida da princesa ou a dignidade de um premiê?

A rainha telefonou para Downing Street. Não exigiu nada –explicitamente. Apenas pediu que tudo fosse feito –tudo?– para salvar a princesa.

Os assessores do premiê concordaram. "Tudo" significa tudo. Será assim tão degradante fazer sexo com um porco para salvar a linhagem real?

Essa pergunta não nasceu da minha cabeça doente. Ela inaugura "Black Mirror", uma das séries mais perturbadoras dos últimos anos. Não é uma história de folhetim, dividida em episódios, como as séries habituais. Cada episódio é um pequeno filme sobre o futuro humano e tecnológico.

Atenção às palavras: "humano" e "tecnológico". Que o mesmo é dizer: que tipo de vida teremos nós com as alterações promovidas pela tecnologia?

O caso do porco –uma óbvia evocação de um rumor sobre o comportamento de David Cameron quando era estudante em Oxford– é apenas um exemplo: hoje, a política "moderna" já se faz ao ritmo das exigências da turba. A tirania das enquetes; as discussões no "bas-fond" das redes sociais; a promoção da "vox populi" pela mídia tradicional –os bárbaros mandam.

O líder, em rigor, já não lidera; ele é liderado pelas massas. E, se assim é, haverá ainda lugar para conceitos arcaicos como "dignidade", "independência intelectual" ou "coragem" para ser impopular?

"Black Mirror" é feito dessas perguntas. E de outras, que já podemos intuir em 2017. Devemos ter direito ao esquecimento e à privacidade das nossas memórias? Ou será preferível ter acesso permanente ao passado –acesso visual, detalhado, partilhável, como se a existência fosse um filme facilmente rebobinável?

E a morte? Sim, nenhuma civilização temeu tanto a morte como a nossa. Mas será desejável que os nossos mortos possam ser "ressuscitados" pela tecnologia em simulacros de voz e corpo que nos poupam as dores do luto?

E se um dia a forma como somos avaliados no Facebook transbordar para a vida cotidiana? Até onde estaremos dispostos a ir para receber mais "likes" e subir na hierarquia social?

Todas essas demandas convidam a uma reflexão inversa. Um político que é escravo da opinião popular pode facilmente transformar-se em simples marionete dos piores instintos da maioria.

O esquecimento e a privacidade são a última barreira que nos protege da destruição e da autodestruição.

O luto não é apenas feito de dor e sofrimento; é uma pausa necessária para reencontrar sentido e reconciliação depois do naufrágio.

E a obrigação de sermos permanentemente alegres e felizes para subir na hierarquia dos "likes" é uma forma de tortura. Não por excluir a infelicidade (isso é impossível); mas apenas a expressão pública dessa infelicidade. Como acontece em regimes totalitários.

A maior proeza de "Black Mirror" está na forma como mostra duas realidades contrastantes, que os fanáticos da tecnologia são incapazes de vislumbrar: de um lado, a fluidez amoral da criação tecnológica; do outro, a permanência da natureza humana.

Podemos imaginar um mundo de mil possibilidades técnicas; mas o "software" de que somos feitos –sentimentos primitivos como o medo, a inveja, o ciúme, a vergonha– não se altera com uma simples mudança de cenário.

Macacos com melhores smartphones nunca deixarão de ser macacos. Apenas se tornam mais patéticos ou mais perigosos. 
Por: João Pereira Coutinho Publicado originalmente na Folha de SP

sexta-feira, 28 de abril de 2017

O OCIDENTE DEIXOU DE FAZER FILHOS PORQUE O SEXO FOI VENCIDO PELO TÉDIO

Mudar de casa é uma roleta-russa. Sei disso. Mudei agora. Na primeira noite, havia farra no apartamento do lado. Tolerei: tapei os ouvidos com material apropriado e consegui as minhas dez horas de sono, sem as quais sou um figurante da série "The Walking Dead". E mordo também.


Na noite seguinte, quando entrei no leito, a farra recomeçava. Meditei. Sem sucesso.

Na escuridão do quarto, com os olhos fixos no teto, afinei os ouvidos e tentei escutar. Risos. Gritos. Gemidos. Objetos no chão.

Bati na parede —uma, duas, três vezes. Nada. Levantei-me, caminhei até a porta do vizinho e, quando me preparava para arrombá-la, escutei uma frase que me paralisou: —Vai, Messi!

Duas hipóteses: Lionel Messi era meu vizinho e eu não sabia; ou, então, Messi já fazia parte das fantasias privadas do casal. Encostei os ouvidos à porta e tentei resolver o mistério. Não havia mistério. Os meus vizinhos jogavam PlayStation.

Regressei à cama com a tristeza do mundo sobre os ombros. Deitei-me na cama. Risos. Gritos. Gemidos. Objetos no chão. Adormeci de cansaço.

A manhã chegou. Alguém abria a porta do lado. Abri a minha. O vizinho, ensonado e tísico, cumprimentou-me com o vigor de um condenado. Apresentei-me. Ele apresentou-se: estudante universitário. Aproveitei o momento para comunicar as minhas dores: o barulho a horas impróprias, sobretudo para quem precisava de trabalhar cedo.

Ele corou como uma criança e prometeu "se controlar". A culpa era do vício, dos jogos, dos amigos, até das amigas (o horror, o horror!). Riu, envergonhado. Ri, derrotado. Disse-lhe um "prazer em conhecer, meu filho" e depois me fechei em casa com uma pergunta angustiada: que se passa com a mocidade?

A ciência ajuda: um estudo publicado no "Archives of Sexual Behaviour" defende, após extensivo levantamento, que os jovens adultos americanos (os "millennials" e os "iGen", ou seja, nascidos nas décadas de 1980 e 1990) não têm grande interesse por sexo.

O caso agrava-se quando comparamos as novas gerações com os seus pais, nascidos nas décadas de 1960 e 1970. Os pais, pelos padrões atuais, eram simplesmente uns devassos. Pior: 15% dos jovens entre os 20 e os 24 anos poderiam perfeitamente legar as partes íntimas à ciência e arriscar uma carreira no canto lírico.

Antigamente, todo mundo ria com a frase clássica: "No sex please, we're British". Hoje, todo mundo é britânico. Millôr Fernandes, um sábio, escreveu que o melhor afrodisíaco era a abstinência prolongada. Eis um dos raros casos em que Millôr foi otimista —e falhou.

O melhor afrodisíaco é a abstinência forçada. Se o sexo só começou em 1963, como escreveu o poeta Philip Larkin, isso explica o entusiasmo do pessoal dos "sixties" e dos "seventies" pelas flores e pelas abelhas. Houve excessos. Mas são excessos comparáveis ao enfartamento de um etíope depois de abusar da maminha (a carne, não a dita).

Ah, que saudades do meu avô quando ele recordava a primeira vez que viu os joelhos de uma mulher. "Os joelhos!", dizia ele, com lágrimas de saudade e gratidão. Depois de casar, vieram dez filhos.

Hoje, o Ocidente está em crise demográfica. As razões são conhecidas: dos métodos contraceptivos à precariedade laboral, que adia a maternidade (e a paternidade) para depois dos 40, não há reposição geracional.

Mas eu sempre desconfiei que a causa é mais profunda: o Ocidente deixou de fazer filhos porque o sexo foi vencido pelo tédio. Antes da revolução sexual, os avós sonhavam com joelhos. Depois da revolução, os pais atiraram-se às carnes (as ditas, não as do rodízio). Quando os filhos chegaram, o sexo tornou-se tão onipresente —no cinema, na TV, na internet— que o mistério e o tesão se perderam pelo caminho.

Pelo contrário: a produção continua vigorosa no mundo muçulmano. O próprio presidente Erdoğan, para se vingar da Europa (e da Holanda), aconselhou os imigrantes turcos a fazerem, pelo menos, cinco filhos por família. Coisa fácil para quem ainda cultiva o segredo dos joelhos e das maminhas.

A minha proposta para salvar a civilização ocidental?

O uso de véu e burca entre quatro paredes. Para que os jovens celibatários abandonem o PlayStation e procurem novamente outro tipo de jogos e botões
Por: João Pereira Coutinho Publicado originalmente na Folha de SP.

quinta-feira, 27 de abril de 2017

O FEMINISMO ESTÁ MORTO

Feministas sabem armar manifestações em países onde a lei as protege, mas são inócuas contra homens que esquartejam dissidentes e matam quem difamar o nome de seu profeta


O ser humano tem uma capacidade ímpar de exagerar a dose de seus remédios – na ânsia de consertar o que acredita estar errado, acaba criando uma situação igualmente ruim em termos quantitativos, mudando apenas a qualidade do problema. De uma perspectiva histórica, as aplicações exageradas de tais remédios assemelham-se a um movimento pendular: parte-se de uma situação inicial, com o pêndulo em sua posição mais alta de um dos lados; o pêndulo começa a perder altura e a ganhar energia cinética, acelerando para a posição mais baixa; ao passar pelo ponto mais baixo, que seria o de equilíbrio, o pêndulo está com tanta velocidade que não consegue parar; finalmente, ele termina o movimento no lado oposto, quase na mesma altura de onde iniciou.

O feminismo é um exemplo claro da ocorrência de um pêndulo histórico. Quando o movimento teve início, as pautas eram genuínas e as reivindicações eram justas e necessárias. As mulheres queriam respeito e direitos equivalentes aos dos homens, e assim o pêndulo começou a descer. Na virada do século, já não havia praticamente nenhuma restrição de liberdades ou direitos que se aplicasse às mulheres na maioria das nações ocidentais democráticas. O pêndulo chegara ao ponto mais baixo, o ponto de equilíbrio. Coloque-se um pêndulo estaticamente nesse ponto, e ele não se moverá para nenhum lado sem a aplicação de uma força externa. Não foi o caso, no entanto. O feminismo não só vinha com uma energia prévia, como também recebeu impulso adicional de uma situação política até então inédita: governos de esquerda espalhados pela grande maioria dessas mesmas nações onde o feminismo já havia atingido seus objetivos. O pêndulo passou reto e voltou a subir, e nessa subida ele trouxe ao mundo o feminismo radical.

O feminismo radical não é apenas o contrário do machismo radical (se é que isso existe). O feminismo radical é a elevação do machismo à décima potência. Se os machistas queriam suas mulheres “com a barriga no fogão”, as feministas radicais querem todos os homens sete palmos abaixo da superfície. O mundo que elas idealizam é um mundo sem homens, onde a ciência tenha resolvido a questão da reprodução e elas possam viver livres para sempre da opressão dos terríveis e maldosos machos de sua espécie. Ao leitor que nunca se aprofundou no assunto, pode parecer que estou contando uma piada ou que estou citando um trecho de alguma ficção distópica, mas essas pessoas realmente existem. Não são incomuns os relatos de feministas radicais que abortam seus filhos quando descobrem que são meninos ou que declaram ódio incondicional a todo e qualquer homem do planeta.

Se queremos algum futuro civilizado, machismo e feminismo devem morrer juntos, de braços dados veja também

Mas – e sempre há um mas – o feminismo contemporâneo não sabe fazer contas e tem uma péssima capacidade de análise factual. Embriagadas com direitos e liberdades garantidos por leis que somente os países ocidentais e de tradição judaico-cristã conseguiram desenvolver, essas feministas não conseguem nem sequer olhar ao seu redor e realizar a mais simples das operações matemáticas: quando somamos as populações dos países onde as mulheres têm menos direitos hoje que a mulher ocidental média da década de 1950, chegamos à conclusão de que o feminismo existe em menos da metade do mundo: somente na parte que não inclui os países muçulmanos, a China e a Índia.

Aliás, a menção aos muçulmanos é uma ótima deixa para explicar o título deste artigo. O mundo de hoje assiste à expansão rápida do islamismo no mundo ocidental, e o islamismo é intrinsecamente antifeminista. Ouso afirmar que o islamismo é a nêmesis do feminismo, tamanha é sua oposição a tudo o que as feministas têm como mais precioso. Sendo assim, tomemos dois possíveis desfechos históricos para comprovar esse óbito hipotético.

Desfecho 1: o feminismo radical avança em todo o mundo ocidental, vencendo sua “luta contra o patriarcado”. Mesmo não eliminando os homens por completo, consegue emasculá-los e transformá-los em meros acessórios sociais. Uma sociedade dessas, quando atacada e confrontada pela força do radicalismo islâmico, desaparecerá quase sem luta. Feministas são muito competentes quando o assunto é armar manifestações públicas em países onde a lei as protege e em fazer discursos inflamados para plateias cheias de artistas corroídos pelas culpas do mundo politicamente correto, mas são praticamente inócuas contra homens capazes de queimar crianças vivas, explodir aviões, esquartejar dissidentes e matar qualquer um que ouse difamar o nome de seu profeta. Resumindo, esse desfecho leva ao fim do feminismo e, portanto, o feminismo está morto.

Desfecho 2: o feminismo radical desaparece e o feminismo “original” desvanesce em meio à situação atual de igualdade de respeito e direitos, impedindo a deterioração da virilidade masculina na sociedade como um todo, condição extremamente necessária em tempos de guerra. Uma sociedade dessas, quando atacada e confrontada pela força do radicalismo islâmico, terá como se defender e contra-atacar, podendo até mesmo levar as conquistas feministas a lugares onde hoje elas não existem. Resumindo, esse desfecho só acontece com o fim do feminismo e, portanto, o feminismo está morto.

A síntese disso tudo é simples: o feminismo já fez o que precisava ter feito. As nações ocidentais atingiram um nível de civilidade e igualdade irreversíveis, desde que mantidas as bases legais e morais mesmas que permitiram às mulheres lutar por essa igualdade. Solapar a base judaico-cristã do ocidente, destruir a estrutura familiar tradicional e subverter os valores que nos trouxeram aonde estamos hoje resultará tão somente no enfraquecimento das únicas defesas que temos contra os radicalismos políticos e religiosos que atentam contra nossas liberdades. Se queremos algum futuro civilizado, machismo e feminismo devem morrer juntos, de braços dados. A alternativa é preencher uma ficha de membresia na mesquita mais próxima. 

colunagp@flavioquintela.com  [09/02/2017]  Hugo Harada/Gazeta do Povo


terça-feira, 25 de abril de 2017

VOCÊ TEM PROBLEMAS DE DINHEIRO OU PREOCUPAÇÕES COM O DINHEIRO?

Uma pergunta: você tem problemas de dinheiro ou preocupações com dinheiro? Não são a mesma coisa.


"Problemas" são coisas reais, tangíveis, quotidianas, que lidam com as contas - a bancária e as que precisam de ser pagas. "Preocupações" são outra história: ansiedades, confusões ou desejos que só existem nas nossas cabeças.

Eis a tese do filósofo John Armstrong em pequeno e delicioso tratado moral: "Como se preocupar menos com dinheiro" (Objetiva). Subscrevo cada capítulo e, sem falsas modéstias, já pratico há muito algumas das lições.

Mas voltemos ao início: você tem problemas ou preocupações com o vil metal? Se são problemas, lamento, nada a fazer: a questão é mesmo matemática. É preciso pagar o aluguel, as despesas da casa, a educação dos filhos. E ainda a alimentação, a roupa, o transporte, os remédios. O básico do básico, a que poucos escapam.

Claro: você pode decidir viver como o Gandhi e vestir como ele. Nesse caso, a nossa conversa termina aqui. Para os restantes, as dificuldades da vida permanecem.
Divulgação 

Capa do livro "Como se Preocupar Menos com Dinheiro", de John Armstrong

Mas Armstrong não escreve o livro para enfrentar essas necessidades básicas - e implacáveis. Ele sobe um degrau para falar das "preocupações" com o dinheiro, ou seja, sobre aquilo que acontece depois das necessidades básicas estarem satisfeitas.

Sim, pagamos o aluguel da casa. Mas queremos uma casa maior, ou melhor. Sim, temos roupa no corpo e comida na mesa. Mas queremos aquela grife e aquele jantar no melhor restaurante da cidade. Que fazer?

John Armstrong não é um puritano nem um asceta. O dinheiro é importante - tão importante que nem as relações amorosas escapam a ele. Quem acredita no mito de "um amor e uma cabana" nunca conheceu verdadeiramente um amor (nem uma cabana). Como Jane Austen ensinou há mais de 200 anos, não são apenas as qualidades pessoais que sustentam uma relação. Dinheiro no bolso também é uma ajuda preciosa.

O ponto de Armstrong, porém, é outro: falar de dinheiro não é falar de dinheiro. É analisar antes aquilo de que precisamos para termos uma "vida boa" no sentido aristotélico do termo. Atenção: disse "precisamos", o que é diferente de "querermos".

Quando queremos algo, obedecemos a um desejo - e os desejos são infindos por definição.

Quando precisamos de algo para "florescer" (uma vez mais, Aristóteles é o nome), as nossas necessidades de dinheiro estão intimamente ligadas ao tipo de pessoa que queremos realmente ser. O desejo expande; o florescimento pessoal restringe. Só depois de sabermos quem somos é possível perguntar de quanto dinheiro precisamos. E, às vezes, a quantia é menor do que se imagina.

Penso na minha vida. Houve excessos e desperdícios. Mas esses excessos e desperdícios foram alimentados por caprichos, vaidades, inseguranças - e por um desconhecimento profundo sobre a vida que eu realmente procurava. Direi mais: os excessos e os desperdícios eram inversamente proporcionais à ignorância sobre mim próprio. Quanto menos sabia, mais gastava.

Hoje, cometo loucuras como qualquer pessoa racional. Mas são esporádicas como tempestades tropicais. Depois de pagar as fatais contas do mês, noto que há um padrão nos gastos - e até nas poupanças. Para viver a minha vida, não preciso de um automóvel de luxo. Não preciso de uma casa majestosa. Não preciso de roupas de grife (aliás, na moda só há uma regra: qualquer trapo que tenha um símbolo distintivo deve ser cuidadosamente evitado).

Mas preciso dos meus livros, dos meus filmes, da minha música. Preciso de horas vazias, vagarosas, ociosas. E preciso de partilhar as alegrias (e as tristezas) com a família e os amigos onde houver boa mesa - o que é diferente de uma mesa cara.

Oscar Wilde dizia que era uma pessoa fácil de contentar: só gostava do que era bom. Eu também. E quando temos a noção de que o tempo é limitado e a nossa personalidade não é elástica, até aquilo que é bom começa a ficar mais barato.
Por: João pereira Coutinho  Publicado originalmente na Folha de SP.

segunda-feira, 24 de abril de 2017

PENSAMENTO POLITICAMENTE CORRETO É A RELIGIÃO DOS ÓRFÃOS DE MOSCOU

As crianças estão sensíveis. Todos sabemos disso. As semanas passam e as notícias repetem-se: algures, numa universidade qualquer, um pequeno grupo de selvagens impediu um debate, uma palestra, uma mera conversa porque o tema é "sensível" e pode incomodar os estudantes.


As nossas universidades não são universidades –centros de aprendizagem, ou seja, de alguma violência intelectual para abrir cabeças usualmente fechadas. São estufas de sensibilidade e ressentimento. Como explicar isso?

Jonathan Haidt, professor da Universidade de Nova York, concedeu uma entrevista ao "The Wall Street Journal" que deveria ser distribuída por aí. Confrontado com o "iliberalismo dos campus", o professor Haidt defende os estudantes. A maioria é pacífica, diz ele. A maioria quer aprender. A maioria não tem problemas com ideias heterodoxas.

O problema, acrescenta, é a minoria: uma minoria intolerante e agressiva que –atenção, atenção– se comporta como as antigas seitas religiosas.
Angelo Abu/Folhapress 


Para esses crentes, as universidades devem ser "espaços sagrados" onde as "vítimas", ou as supostas "vítimas" (negros, gays, mulheres etc.), são deuses reverenciais. Quando alguém ameaça alterar a ordem divina, chovem críticas, ameaças, vidros quebrados. E coquetéis Molotov. Como se chegou até aqui?

Jonathan Haidt tem razão quando fala do gradual desaparecimento de vozes conservadoras na academia, um eufemismo para designar a falta de pluralismo no ensino das humanidades. E tem muitíssima razão quando afirma que a esquerda radical é onipresente, defendendo um conceito de "igualdade" que é uma paródia do conceito original.

"Igualdade", hoje, não significa "igualdade de oportunidades" mas "igualdade de resultados". Se esses resultados não aparecem, a culpa é de um "racismo sistêmico" (ou, melhor ainda, de um "preconceito inconsciente") que deve ser combatido por palavras, atos –e silêncios.

"Preconceito inconsciente": qual a diferença entre essa aberração e as possessões demoníacas que eram curadas pela força das chamas? Não responda. A pergunta é retórica.

Uma pergunta, porém, que não é retórica é tentar saber como foi que a esquerda radical se tornou tão "religiosa", no sentido bastardo da palavra.

Jonathan Haidt não responde. Com a devida vênia, respondo eu: porque os extremismos políticos sempre foram religiosos. O escritor francês Raymond Aron, em livro que a Três Estrelas já publicou ("O Ópio dos Intelectuais"), dedicou ao tema algumas linhas sublimes.

Defendia Aron que os fenômenos totalitários do século 20, em especial o comunismo e o nazismo, eram "religiões seculares". Elas nasceram com o declínio e a destruição da fé tradicional, procurando mimetizar alguns dos seus traços fundamentais.

Ambas são ideologias que prometem um "reino de salvação" –seja o reino do proletariado ou o reino da raça ariana. E ambas congregam os "fiéis" para espectáculos públicos de adoração carismática.

Todos sabemos como as "religiões seculares" terminaram: não com a salvação terrena, mas com cadáveres terrenos. O nazismo consumiu-se nas chamas de 1945. O comunismo sobreviveu a 1945 e só foi esmagado pelo Muro em 1989. Cuba ou a Coreia do Norte são apenas piadas de mau gosto.

Só que os homens, "animais religiosos" por definição, não aguentam o vazio espiritual que vem com a queda das utopias. E não é por acaso que o chamado "pensamento politicamente correto", na sua versão atual, se tenha espalhado pela "intelligentsia" acadêmica ou midiática nos últimos 25 anos.

Os órfãos de Moscou não sobrevivem sem uma fé. E uma fé não sobrevive sem santos e pecadores. Os santos são as minorias várias que ocupam hoje o lugar do antigo proletariado. Os pecadores são todos aqueles que sofrem de "preconceito inconsciente", uma nova versão da "falsa consciência" que Marx e Lênin deixaram aos seus herdeiros.

Muitas universidades, sobretudo no mundo anglo-saxônico (as restantes são apenas cópias do produto original), tornaram-se o último bastião dos derrotados. Incapazes de implantar "cá fora" os seus projetos de dominação social e econômica, resta aos intelectuais viciados no ópio das ideologias manipular o que se passa "lá dentro": jovens com cabeças simplórias que são apenas marionetes de uma história que os transcende.
Por: João pereira Coutinho  Publicado originalmente na Folha de SP.

domingo, 23 de abril de 2017

O DESASTRE DE NÃO IMAGINAR O DESASTRE

O Facebook é o faroeste. Não falo das mensagens ou dos comentários que exibem uma violência e uma selvajaria inauditas. Isso, digamos, é quase brincadeira de crianças. Falo do resto: espancamentos, violações, suicídios, homicídios —tudo transmitido ao vivo para milhares de seres humanos.


O último caso foi protagonizado por Steve Stephens. Escrevo "protagonizado" porque existe uma dimensão quase cinematográfica no horror. Steve, como um vilão de filme, aproximou-se de Robert Godwin, 74, e abateu-o depois de uns segundos de suspense. Depois, para cumprir o roteiro, filmou-se em meditações profundas sobre a vida.

Sabemos agora que, perseguido pela polícia, o criminoso suicidou-se. É incompreensível que não tenha filmado o último ato da sua narrativa. Acredito que seria um sucesso de bilheteria.

Perante esta sombria realidade, a pergunta é básica: como foi que Mark Zuckerberg e sua tribo não previram, sequer imaginaram, que o Facebook seria "sequestrado" por psicopatas vários para promoverem, como estrelas de Hollywood, os seus atos macabros?

A pergunta é formulada por Steve Coll na "New Yorker" mas o autor não consegue encontrar uma resposta. Todos os dias, o Facebook tem 1,2 bilhões de utilizadores. Mark Zuckerberg pode prometer maior vigilância. Mas haverá sempre alguém que terá no Facebook Live o seu palco, ou o seu açougue.

O problema, em suma, está na existência do próprio Facebook Live, uma evidência que nunca passou pela cabeça do adolescente Zuckerberg.

E não passou pela cabeça por razões que um filósofo inglês explica muito bem. O nome é Roger Scruton e o livro —pessoalmente, o melhor livro dele— intitula-se "As vantagens do pessimismo e o perigo da falsa esperança" (É Realizações, 208 págs.).

O objetivo de Scruton é analisar a mente otimista. Cautela: Scruton nada tem contra o otimismo. Sem um mínimo de esperança —na vida, nos outros, em nós— a existência seria um vale de lágrimas insuportável.

O perigo, para Scruton, está no "otimismo inescrupuloso" que se baseia em várias falácias intelectuais. E a primeira delas, que importa relembrar agora, é designada por "the best case fallacy", algo que podemos traduzir livremente por "falácia do melhor resultado".

Para o "otimista inescrupuloso", as suas escolhas em condições de incerteza nunca são escolhas de resultado incerto. Pelo contrário: para o "otimista inescrupuloso", só existe um resultado possível - o melhor, o ideal, o perfeito.

O "otimista inescrupuloso" é muito parecido com alguém viciado no jogo. E existe uma ideia "romântica", escreve Scruton, de que o jogador é alguém que assume o risco e, apesar disso, aposta na mesma.

Antes fosse. O viciado não acomoda o risco no seu cálculo; ele entra no jogo com a certeza de que vai ganhar. Perder não é um resultado "natural"; é um surpresa cósmica que nunca lhe ocorreu "a priori".

Foi esse tipo de mentalidade que presidiu aos maiores horrores do século 20. É indiferente falarmos de Lênin, Stálin, Hitler ou Mao. Todos eles lançaram-se no abismo da utopia porque, logicamente, nunca imaginaram que o abismo seria mesmo um abismo. Nas suas cabeças estreitas e criminosas, o resultado final seria perfeito. Melhor ainda: só poderia ser perfeito.

Dizer que não foi perfeito é um arrepiante eufemismo. Mas enganam-se os que pensam que o "otimismo inescrupuloso" e a falácia do melhor resultado ficaram sepultadas no século 20. Hoje, em diferentes latitudes, "otimistas inescrupulosos" continuam a resistir a qualquer "imaginação do desastre", para usar a famosa expressão do escritor Henry James.

Mark Zuckerberg é apenas um deles: basta escutá-lo ou lê-lo para vermos como o mundo de Zuckerberg é composto por fadas e duendes, em danças alegres, sob as cores do arco-íris. Nesse mundo, não há espaço para a natureza humana tal como ela é: generosa e criativa, sim, mas também narcísica, cruel, patológica. Para usarmos a palavra proibida da pós-modernidade, no mundo de Zuckerberg não há espaço para o Mal.

Mal? Na mesma semana em que o homicida de Cleveland deslumbrava o auditório, Zuckerberg anunciava que o Facebook terá direito a "realidade aumentada". Em breve, qualquer um poderá adicionar efeitos especiais às suas imagens. Como nos filmes de Hollywood.

De fato, é só mesmo o que faltava: tornar o sangue real das vítimas mais vermelho e os gritos mais musicais Por: João pereira Coutinho  Publicado originalmente na Folha de SP

A PREVIDÊNCIA FOI DEFICITÁRIA DESDE O COMEÇO


A Previdência Foi Deficitária Desde o Primeiro Dia

Fico abismado com a ignorância desses professores que saem a campo dizendo que não há deficit na Previdência.

E dos jornalistas que os entrevistam.

A Previdência começou deficitária desde o primeiro ano de vida.

A lei Eloy Chaves de 1923 concedeu de imediato aposentadorias a todos que tivessem 50 anos de idade, justamente os velhos que nada haviam contribuído.

“Art. 12. Aposentadoria ao empregado ou operário que tenha prestado, pelo menos, 30 anos de serviço e tenha 50 anos de idade.”

Daí o deficit inicial da Previdência, por incluir quem não havia contribuído um único centavo.

Deficit que somente foi se agravando ano após ano.

No ano seguinte, milhares de velhos que haviam contribuído somente um ano também se aposentaram com salários integrais.

E assim por diante, até chegarmos ao deficit atual de R$ 560 bilhões por ano.

Deficit previsível desde 1923.

Deficit escondido por todos os nossos Ministros da Fazenda.

Deficit que somarão um total R$ 15 trilhões nos próximos 30 anos, por baixo.

E tem imbecil que ainda acha que os aposentados atuais não têm um problema.

O de provavelmente morrerem de fome porque essa dívida é impagável, e portanto não será paga.

Em vez de nossas contribuições serem investidas por 30 anos, para que tivéssemos recursos financeiros para arcar com essa previsível obrigação no futuro, nossos Ministros da Fazenda as usaram para “cobrir o deficit”.

Em vez de investir em empresas e debêntures de longo prazo.

Por isso nossos juros são estratosféricos.

Suas contribuições foram literalmente roubadas por todos os nossos Ministros da Fazenda do Brasil, como forma de financiar o deficit que eles até hoje dizem que não existe.

Pena que nunca estudaram, nem nossos intelectuais, a Administração Responsável Das Nações. Por: Stephen Kanitz Do site: blog.kanitz.com.br 

sábado, 22 de abril de 2017

VAMOS RESOLVER "DA MANEIRA INGLESA"

Participei ontem de uma pequena reunião em Londres no Legatum Institute, reconhecido mundialmente pela publicação anual do The Legatum Prosperity Index, em que a atração principal foi uma palestra de sir Roger Scruton. Inesquecível. 


Scruton é pessoalmente o que se espera de um conservador inglês: ironia que beira o cinismo, humor sofisticado, um leve pedantismo e mais cultura, inteligência e bom senso do que em quase todos os departamentos de humanas das universidades atuais somados. É uma lenda viva e não conheço um único livro dele que não mereça ser lido. 

O tema do encontro foi “Que Instituições Importam e Como Restaurar a Confiança Nelas?”, parte da série “Transformação Cultural” promovida pelo instituto. Na platéia, representantes da nobreza britânica lado a lado com alguns universitários, jornalistas, professores e até um brasileiro, um rapaz de Natal (RN) que mora na Califórnia e que se apresentou antes do início da palestra como alguém que escolheu cursar filosofia por causa da estrela principal da noite. 

Logo na abertura, ele já fez uma ironia sobre o Legatum Institute ser um think tank conservador: “é bom estar falando num evento de direita, ao menos aqui a divergência de opiniões é permitida e tolerada”. Ele diz que vivemos sob “censura” e que é um dos principais problemas a serem combatidos hoje. Triste realidade. 

Scruton presenteou o grupo com sua habitual sabedoria e seu olhar atento e original sobre as questões mais importantes do momento, especialmente aqui na Inglaterra. Para o filósofo, os atuais problemas que a sociedade britânica enfrenta hoje devem ser resolvidas “do jeito britânico”, com bom senso e liberdade de expressão, confrontado idéias até se chegar a uma decisão. 

Ele está particularmente incomodado com a maneira como a Inglaterra e o Ocidente são comparados com modelos utópicos de sociedade supostamente perfeitas e não com a realidade atual do mundo. A acusação de “islamobofia”, o “xingamento da moda”, despreza a realidade sobre a quantidade de imigrantes muçulmanos foram recebidos recentemente no país e do esforço britânico em acomodar essas pessoas da melhor maneira possível. Ouvi estas palavras num momento em que Londres tem um prefeito muçulmano. 

Um pequeno resumo do que foi dito por um dos maiores intelectuais do mundo. 

1. “Prosperidade” como medida de tudo 

Scruton conta que David Cameron, ex-primeiro-ministro que convocou o plebiscito sobre o Brexit, só conseguia discutir o assunto em termos econômicos, sempre trazendo “especialistas” para ameaçar os eleitores com os piores cenários caso optassem pela saída na União Européia. Para sua surpresa e indignação, qualquer outra discussão política fora da economia parece ter sido varrido para fora do mapa e só interessaria entender o que dá mais dinheiro e o que não dá. 

Scruton lembra que parte do que é viver numa democracia é estar sob um governo de adversários políticos, de um governo que parte do eleitorado votou contra. Como construir uma sociedade em que não há nada mais que una a população além do dinheiro? Se um país é apenas um aglomerado de indivíduos sem qualquer ligação, sem o “nós”, o que é capaz de fazer com que tenham laços de compromissos sociais e confiança mútua nas instituições e na própria nação? 

2. Patriotismo x Nacionalismo 

Para o filósofo, a idéia de que toda a explicação sobre as causas da Segunda Guerra serem atualmente atribuídas ao “nacionalismo” e que a maneira de evitar guerras é abolir as nações é simplesmente absurda. O sentimento abjeto de superioridade racial dos nazistas não pode ser usada para manchar o nome do bom e velho patriotismo, do apreço pela história do país e das suas tradições. 

3. O “direito comum” (Common Law) 

Boa parte da palestra foi investida na explicação das bases do “direito comum” ou common law, tradição inglesa baseada na resolução de conflitos pessoais e locais que vai, aos poucos, sendo incorporada ao arcabouço legal do país. Este é um dos temas recorrentes de Scruton e pode ser visto em vários de seus livros, com destaque para o fundamental Pensadores da Nova Esquerda

Quando a lei é entendida como uma consolidação do que emerge naturalmente na sociedade ao longo das gerações e não como uma canetada arbitrária de legisladores e juízes, ela é o reflexo direto da sabedoria acumulada por um povo e está em total harmonia com ele, formando os alicerces para que governados possam consentir com os poderes dos governantes e suas decisões. 

Scruton evidentemente se orgulha de falar pelo país que criou a idéia de monarcas que respondem às leis e por elas podem ser até destituídos de suas coroas. O império é das leis (naturais) e não dos homens e seus humores. 

4. Proibir e Permitir 

A idéia central de um sistema baseado no direito comum é que tudo é permitido até que haja uma lei proibindo especificamente, o que é um fenômeno raríssimo num mundo em que tudo é proibido até que o governo permite. A sociedade dos alvarás, carimbos, permissões e autorizações restritas não é o que o Reino Unido entende por um sistema legal democrático e saudável. 

Scruton alfinetou a esquerda britânica e seu braço político, o Partido Trabalhista, por querer adotar o sistema nada britânico de colocar o governo como supremo decididor de tudo, até quem pode ou não fazer filantropia. Ele diz que na Alemanha você precisa de permissão da polícia até para se mudar e que isso é tudo menos a maneira como ingleses vivem e construíram sua sociedade. 

5. “Islamofobia” 

Scruton evidentemente rejeita os rótulos jogados pela esquerda para a sociedade ocidental e inglesa, os que “dizem que tudo que é britânico é racista”. O filósofo é enfático ao lembrar do esforço genuíno da sociedade britânica em acomodar os muçulmanos da “melhor maneira possível” e que quem acusa a Inglaterra de “islamofóbica” não costuma discutir a “cristofobia” em países islâmicos, preferindo falar de modelos utópicos de sociedade e não do mundo real. “Que tal dar uma olhada em como os países vizinhos estão lidando com a situação? Será que a Inglaterra está mesmo atrás deles em termos de tolerância e aceitação?” 

Neste momento, Scruton volta ao sistema legal britânico, “uma lei de homens e não um revelação divina”. Ele lembra que “lei de homens pode ser mudada, pode ser adaptada para melhor acomodar as demandas sociais com o tempo, pode ser questionada e melhorada, o que é impossível com leis entendidas como divinas”. Scruton sugere que leis como a da Sharia são incompatíveis com uma sociedade secular como a britânica e este assunto precisa ser enfrentado com urgência e com coragem. 

6. Muçulmanos radicais na Inglaterra 

Outro ponto levantado foi a simpatia de parte da comunidade muçulmana britânica com os jihadistas e com o ISIS. Scruton disse que isto deve ser resolvido “da maneira inglesa”, com debates francos e abertos sobre o assunto com “estes jovens que precisam dizer o que pensam e entender se a Inglaterra é o melhor lugar para eles”. 

Scruton acredita que é preciso um debate público e aberto, sem medos ou censura, sobre o tema. Se alguém acha que quem não é muçulmano merece ser morto, que tem sentimentos destrutivos em relação a quem não tem a mesma fé, precisa ser confrontado intelectualmente e, eventualmente, ser avaliado sob a ótica de sua aceitação sobre o arcabouço legal e social da sociedade britânica. 

7. Pessimismo 

Scruton se diz um “pessimista”, dizendo que evidentemente os pessimistas são os que podem estar sempre se surpreendendo positivamente, como ele mesmo em relação ao resultado do Brexit. Ele é o autor do ótimo As Vantagens do Pessimismo, um dos meus preferidos dele. 

8. Cristianismo e política 

Ao ser perguntado sobre as bases cristãs da sociedade ocidental e de como deveriam ser resgatadas para sua sobrevivência, Scruton deu uma resposta que passeou entre o sarcasmo e o cinismo. Ele se assumiu como cristão e que reconhece as evidentes contribuições cristãs para as bases culturais e civilizacionais da Inglaterra, mas que o iluminismo teria conseguido separar igreja e estado numa maneira que ele considera fundamental para o ordenamento social e jurídico do país atualmente. 

Scruton foi sarcástico ao elogiar a igreja anglicana dizendo que ela “acabou por diluir com o tempo e se tornar irrelevante” em assuntos de estado, o que para ele é o ideal. Em tempos de Papa Francisco, não é uma postura incomum entre conservadores. Ao ouvir uma citação de T. S. Eliot sobre o assunto, Scruton tira um sarro do poeta dizendo que ele não era exatamente um pensador político “muito ágil”, tirando risos da platéia. 

9. Aprender com a experiência soviética 

O filósofo faz uma leitura curiosa sobre como a experiência soviética pode ensinar lições sobre como seduzir os jovens em relação ao conservadorismo. Para ele, como qualquer autor de direita era proibido na URSS, ler e discutir estas idéias era um “ato revolucionário, rebelde”, o que é naturalmente atrativo para jovens. É um ponto que o analista americano Bill Whittle sempre repete. 

10. A pergunta “de esquerda” 

Quando chegou o momento das perguntas e respostas, uma senhora aparentemente esquerdista disse que ele estava sendo condescendente demais com os britânicos e que a sociedade é cheia de problemas. Ele respondeu que é claro que a sociedade é imperfeita e deve sempre melhorar, mas “com quem estamos sendo comparados?” É o argumento definitivo. 

Na minha conversa particular com ele, quando fui apresentado ao filósofo por Nick Chance, ele ironizou dizendo que sempre recebe emails de brasileiros dizendo “por favor, venha aqui e nos salve”. Ele disse que já está em conversações para ir ao Brasil. 

Sua visita nunca foi tão necessária como agora.
Publicado originalmente em http://www.gazetadopovo.com.br