domingo, 12 de abril de 2015

O FASCISMO E MARXISMO CULTURAL

Como visto na aula anterior, Marx já havia identificado uma problemática cultural na alienação do proletariado, ao dizer que a religião é o ópio do povo.

Como visto na aula anterior, Marx já havia identificado uma problemática cultural na alienação do proletariado, ao dizer que a religião é o ópio do povo. Isso foi analisado de forma mais sistemática por Antonio Gramsci, que vivenciou toda a crise teórica do comunismo após a I Guerra.Esta crise do marxismo gerou 2 filhos: o fascismo e o marxismo cultural, cada um deles com uma proposta bastante clara para chegar aos seus objetivos de dominação.

O fascismo, que também é um filho bastardo do comunismo, foi o caminho encontrado por Mussolini e Hitler para implantar a revolução em suas nações. Ambos queriam a mesma coisa que Lênin e Stálin, ou seja, uma sociedade sem mercado livre, “justa”, com “igualdade” e um estado forte, obtido através de uma ditadura totalitária. Achavam que a ideologia de classe não era um chamariz atraente o suficiente para fomentar a revolução marxista. Hitler e Mussolini perceberam, na I Guerra, um sentimento patriótico que levou o povo a lutar, a defender os “interesses burgueses” e criaram o fascismo: enquanto o marketing de Stálin falava do proletariado, do trabalhador, da lógica de classes, Hitler e Mussolini falavam dos sentimentos nacionais, de raça, ou seja, dos princípios norteadores do fascismo.

Por outro lado Antonio Gramsci, grande propugnador do marxismo cultural, colocou como projeto para a implantação do socialismo e do marxismo a destruição lenta e gradativa da cultura ocidental. A esse processo Gramsci chamou de “modificação do senso comum”. Para que houvesse o predomínio da mentalidade marxista, não havia a necessidade de uma grande estrutura que sustentasse o saber. Bastava apenas uma ideologia convincente, numa espécie de jogo de marketing. Para o marxismo, sem sombra de dúvida, não existe a verdade, mas um jogo de marketing[1].

Como visto, tanto o fascismo como o marxismo cultural faziam basicamente as mesmas coisas com a simples diferença de usar uma propaganda diferente para alcançar os mesmos objetivos. A mentalidade revolucionária funciona assim, “metamorfoseando” seu marketing de acordo com a época. Por exemplo, Stálin pretendia implantar o socialismo através de uma sociedade ateia, marcada pela perseguição à Igreja; os novos marxistas perceberam que perseguir a Igreja é algo sempre danoso ao ideal revolucionário, pois quanto mais cristãos são mortos, mais mártires são criados e mais forte fica o cristianismo. Com o passar do tempo perceberam que o caminho mais seguro para mudar a mentalidade do mundo é o de entrar na Igreja e mudá-la, desde dentro[2].

Os marxistas sabem que a Igreja é sustentada por uma lógica burguesa, que tem “apego” ao certo e ao errado, ao moral e ao imoral e usarão isso contra ela. Eles não têm uma opinião clara sobre qualquer tema: quando algo ajuda a revolução, são favoráveis; quando atrapalha, abominam[3].

Exatamente por isso, o marxismo tem um sistema racional versátil, revolucionário e dialético. Gramsci já alertava para a não existência do bem ou do mal, tendo como um de seus inspiradores a figura de Maquiavel, ao dizer que tudo aquilo que Maquiavel fez a favor do Príncipe, precisava ser feito a favor do partido comunista. Existe aquilo que é oportuno, aquilo que ajuda ou não a revolução. Tudo o que existe de realidade racional é fruto de uma criação humana. Não existe verdade, que determine um agir.

Isso é bastante coerente da parte dos marxistas, pois só haveria uma ordem a ser seguida no agir se houvesse um intelecto criador. Como são ateus, defendem que o intelecto criador não existe e, portanto, não há ordem a ser seguida ou verdade que determine o agir humano.

Só para esclarecer esta ideia, dizer que a ordem que existe no mundo não é obra de um Criador não foi mérito dos marxistas. Por incrível que pareça, a visão tradicional de que a ordem que existe no mundo é criacional, racional foi combatida por obra de um cristão piedoso chamado Immanuel Kant.

Para Kant, o mundo em si, os objetos, o númeno[4], o que está fora da mente humana é irracional, caótico. O que realmente existe é desconhecido, pois o homem só tem acesso a um fenômeno, que é compreensível ao intelecto graças às categorias mentais que condicionam (e possibilitam) o pensamento. Na Crítica da Razão Pura, por exemplo, Kant mostra que a ordem da física newtoniana não está no númeno, na coisa em si e também não foi colocada nas coisas pelo Criador. Na verdade, a ordem foi imposta à realidade pelo intelecto. A física de Newton funciona não porque o mundo é assim, mas porque a mente humana a fez assim. Kant, assim, é um grande exemplo de paralaxe cognitiva[5].Resumindo, para Kant a realidade é absolutamente caótica e irracional. Quem cria a racionalidade é o intelecto humano.

O marxista também pensa dessa forma, não por concordar com o pensamento kantiano, mas por afirmar que a ordem imposta ao mundo irracional é a que traduz o interesse de uma classe, especificamente, o da classe burguesa. Segundo o marxismo, existe uma superestrutura (baseada na religião judaico-cristã, na filosofia grega e no direito romano) que justifica o status quo, a situação opressora na qual a sociedade se encontra. Esta superestrutura cria uma cultura que busca defender seus interesses de classe. As pessoas, inoculadas por esta cultura, passam também a defender os interesses da classe burguesa.

Concluindo, é necessário entender que os agentes da luta cultural possuem visões de mundo diferentes. Assim, para que a revolução cultural aconteça é necessário incutir na cabeça dos cristãos a ideia de que o cristão não odeia nada, de que ele deve defender a paz custe o que custar.A Igreja, à medida que vai assimilando as ideias revolucionárias, passa a ser uma sociedade igualitária e que, por engenharia social, quer implantar, neste mundo, uma terra sem males[6]. Os marxistas sabem que sem transformação da religião numa força socialista, a revolução não irá acontecer.
Por: Padre Paulo Ricardo  Do site: https://padrepauloricardo.org/

Referências

Existe uma coisa muito importante que é sempre preciso ter diante dos olhos: para se compreender bem o pensamento marxista, é necessário ter a certeza de que a verdade não existe. Enquanto houver fixação na verdade, na lógica, não será possível compreender ou ser um bom marxista. O marxista vê o mundo a partir da irracionalidade. E isso é uma demonstração de certa coerência, pois, já que, segundo a sua filosofia, Deus não existe, tudo o que existe é irracional.

A Igreja Católica tradicional é uma instituição hierárquica, com uma economia (ação) sacramental que tem por finalidade última levar o homem para o céu. Para destruí-la, é necessário transformá-la numa sociedade igualitária, sem uma economia sacramental, transformando tudo numa engenharia social, buscando imanentizar a escatologia. O céu foi trazido para este mundo pelos marxistas.

Por exemplo, os homossexuais: na Rússia são abominados, pois atrapalham na implantação da mentalidade do homo sovieticus, homem forte, que possibilita a revolução; no Ocidente, são essenciais, pois são usados como meio para destruir a ética judaico-cristã.

Segundo o dicionário Michaelis: substantivo masculino (do grego νοούμενoν, noûmenon) Filos 1 A coisa em si, por oposição ao fenômeno ou às coisas tais como aparecem e são conhecidas.2 Fato concebido pela consciência, mas não confirmado pela experiência. 3 Objeto cuja existência é abstrata e problemática.

A paralaxe (do grego παράλλαξις, alteração) cognitiva é o deslocamento, na obra de um pensador, entre o eixo da especulação teórica e o da experiência concreta que ele tem da realidade. Tal conceito é apresentado pelo filósofo Olavo de Carvalho, tanto em seus escritos (cf. http://www.olavodecarvalho.org/semana/040710globo.htm) como em seu programa Trueoutspeak (cf. trecho do programa do dia 19 de fevereiro de 2007 postado no youtube: http://www.youtube.com/watch?v=EjaTyPbVxog). Exatamente por isso, o pensamento kantiano é inconciliável com a mensagem cristã.

Quando o papa João Paulo II se encontrou com o padre Ernesto Cardenal, ministro de um governo comunista, repreendeu veementemente o padre diante das câmeras de todo o mundo. O padre defendia a existência de duas igrejas: uma popular e outra romana, da hierarquia. A romana propaga a ideologia do magistério, com uma superestrutura imperialista e opressora. A outra igreja, do padre Ernesto Cardenal, seria uma igreja popular, que, na verdade não existe, mas é simplesmente instrumento de implantação da ideologia partidária.

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