sábado, 12 de janeiro de 2013

A LEI DA DEMANDA

A lei da demanda é um princípio simples, mas com consequências profundas e um poder explanatório inacreditável. Ela é tão simples que pode ser explicada em um haiku: 


Quando o preço dos tomates sobe, as pessoas comem menos tomates. Quando o preço dos tomates cai, as pessoas comem mais tomates. E o que vale para o mercado de tomates, também vale para outros mercados. A lei da demanda pode ser aplicada ao mercado de bens como os tomates, ou ao mercado de serviços como o paisagismo ou o reparo de automóveis. 

Ela também pode ser aplicada a mais fatores além dos bens e serviços que compramos. Nós podemos pensar em “demanda” para todos os tipos de coisas, como demanda por velocidade ou conforto enquanto dirigimos. Quando fica mais arriscado dirigir em alta velocidade, menos pessoas fazem isso. Quando dirigir em alta velocidade fica mais seguro, mais pessoas fazem isso. 

Analise outro fator que recentemente despertou muita controvérsia: a demanda por comunicação conveniente. Com a difusão de telefones celulares (principalmente dos smart phones), a comunicação via email, mensagens de texto, Facebook, Twitter e outros aplicativos nunca esteve tão fácil. O canto da sereia dos emails, da internet e das mensagens de texto pode ser bem poderoso, até mesmo para pessoas que estejam dirigindo. 

Vejamos como a lei da demanda nos ajuda a explicar porque as pessoas mandam mensagens enquanto dirigem, e depois falaremos da teoria implícita por trás das leis que proíbem essa prática. 

Primeiro, analisemos algo chamado o Efeito Peltzman, que recebeu esse nome em homenagem ao economista Sam Peltzman, que estudou os hábitos dos motoristas antes e depois da implementação das leis que obrigam o uso do cinto de segurança. O uso obrigatório do cinto de segurança deu mais segurança ao motorista e fez o ato de dirigir ser menos arriscado. Dessa maneira, reduziu o “preço” da direção imprudente. 

De fato, Peltzman constatou que os motoristas se arriscavam mais depois que as leis sobre o cinto de segurança foram implementadas. No livro The Armchair Economist, Steven Landsburg resumiu bem as descobertas de Peltzman: houve mais acidentes, mas menos fatalidades. Quem mais sofreu com a mudança foram os pedestres, cujas mortes aumentaram. 

Não é necessário que todo mundo responda dessa maneira para que a lei da demanda seja aplicável ou útil. É provável que existam muitas pessoas que não modificaram os seus hábitos ao volante por estarem usando o cinto de segurança, da mesma forma que existem pessoas que não consomem mais cervejas quando o preço delas cai. Mas só porque é um abstêmio que não beberá mais cerveja caso o preço caia, isso não quer dizer ninguém mais irá fazê-lo. Da mesma maneira, é mais provável que alguém mande uma mensagem de texto ou dê uma olhada no Facebook caso essa pessoa esteja dirigindo um carro mais seguro. 

As autoridades reconhecem que as pessoas respondem às mudanças dos custos e benefícios de seus atos. A proibição do envio de mensagens de texto ao volante – como a que existe no estado americano do Alabama – são tentativas de aumentar o preço de uma ação imprudente e, dessa maneira, reduzir o número de pessoas que a praticam. Mas ainda precisamos observar como essas proibições irão afetar a segurança em geral, já que os recursos para colocá-la em prática precisarão vir de algum lugar. Os policiais que fiscalizarão o envio de mensagens de texto não estarão solucionando crimes. 

Ignorando a demanda 

Às vezes, as políticas governamentais ignoram totalmente a lei da demanda. Pense, por exemplo, no salário mínimo. Quando o governo estabelece um preço mínimo para o trabalho, os empregadores reduzem a quantidade de trabalho que demandariam e procuram alternativas. Alguns deles podem decidir reduzir as contratações. Outros podem cortar as horas trabalhadas (e de acordo com a lei da oferta, com um salário maior, os trabalhadores desejariam trabalhar mais horas), ou então podem simplesmente substituir o trabalho por capital (como os caixas automáticosem supermercados). 

Outros efeitos podem ser difíceis de serem vistos e os efeitos do salário mínimo podem não aparecer em uma situação de alto desemprego. As empresas que costumavam oferecer treinamento remunerado podem deixar de fazê-lo. Outras empresas que costumavam oferecer uniformes podem passar a fazer os funcionários pagarem por eles. E assim por diante. Em resposta aos preços mais altos, as empresas reduzem a quantidade de trabalho que demandam. 

Os governos também impõem controles sobre os preços de outras coisas, como o aluguel de apartamentos. Após desastres naturais, leis nebulosas contra a “manipulação dos preços” podem ser postas em prática para limitar a capacidade dos comerciantes de aumentar os preços durante situações de emergência. Em períodos assim, as pessoas precisam de mais gelo, lanternas, pilhas, madeira, pão, leite e gasolina — a qualquer preço. Se os preços puderem subir, as pessoas receberão o sinal de que precisam pensar bem antes de comprar qualquer coisa. Em resposta ao controle dos preços, as empresas não estarão dispostas a fornecer mais gelo, lanternas, pilhas e o resto dos produtos ao mercado. As pessoas ainda pagam mais caro por alguns bens que estão em falta. Eles podem não pagar muito mais em dinheiro, mas acabarão “pagando” ao ficar em longas filas. 

A lei da demanda é uma das ideias mais importantes das ciências sociais. É um princípio simples, com uma ampla variedade de aplicações. Ele nos ajuda a compreender os mercados através de bens como os tomates, serviços como os dos encanadores ou dos paisagistas, e mesmo coisas que não são tão “econômicas” assim, como a justiça e os riscos. Ela é também a lei que ignoramos em nosso próprio risco: ao formularem políticas que não levam em conta a lei da demanda, os políticos costumam utilizar “curas” políticas, como as leis de salário mínimo e o controle de preços, acabam sendo piores do que os problemas que desejam solucionar. 
Por: Art Carden Publicado originalmente na revista The Freeman

Nenhum comentário: