quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

CAVEAT EMPTOR




“Mais regras e mais letras miúdas não farão muito para impedir o próximo Bernie Madoff”, diz Henriques. O mundo das regulamentações é um mundo de ilusões – a promessa de proteção sem a realidade.


No livro The Wizard of Lies: Bernie Madoff and the Death of Trust escrito por Diana K. Henriques, conhecemos a história de um corretor de ações e conselheiro financeiro que cometeu a maior fraude financeira na história dos EUA. Próximo ao fim do livro de Henriques, na página 341, ela escreve: “Com a habilidade de desbaratar até os mais sofisticados investidores institucionais, Bernie Madoff revelou o quão diabolicamente difícil as coisas são para as regras protegerem o público no século XXI.”

O sistema de mercado é baseado na confiança. Como tal, sempre será vulnerável ao abuso dessa mesma confiança. Não se pode ter mercado, não se pode ter investimento – não se pode ter capitalismo – sem confiança. Na verdade, não se pode ter confiança sem o inevitável abuso dela. Não se engane. O mundo é um lugar perigoso e há pessoas ruins nele. Não importa o quão cuidadosamente protejamos nossas apostas, no final sempre se dependerá da confiança.

Uma das ilusões criadas pela regulamentação governamental é a de que as regras podem, de algum modo, “tornar” os investimentos mais confiáveis. “Se a história de Madoff não prova nada mais,” escreve Henriques, “ela prova que as regras estão no mundo dos sonhos, um mundo que é muito diferente do mundo dos sonhos em que vivem os investidores.”

Segundo Henriques, as boas regulamentações “acreditam no ceticismo” enquanto “a maioria dos investidores almeja simplicidade”. As boas regulamentações acreditam nas “letras miúdas do contrato” enquanto os investidores “jamais leem as letras miúdas – jamais”. De acordo com Henriques, em Washington todos estão se concentrando nas regulamentações e nas letras miúdas. No mundo real, ou o investidor confia no investimento ou ele não confia. Todas as letras miúdas do mundo e todas as regras do rei não podem te proteger.

O regime de divulgação integral do investimento gerou muitas letras miúdas e muitas regulamentações. Diz Henriques que as regras de proteção não valem a pena porque elas não “refletem o modo pelo qual os investidores atuais tomam suas decisões”. Década após década os americanos desfrutaram de proteção e prosperidade. Esse desfrute esteve estabelecido há tanto tempo que a proteção parecia assegurada. Supomos que nossos investimentos estão seguros, que nosso fundo de pensão está seguro, que o governo assegura tudo e que aqueles que aplicam as regras têm poderes sobre-humanos. 

Nossas suposições estão erradas e são baseadas na duradoura prosperidade americana. Estivemos seguros por décadas e os investimentos foram lucrativos. Não é sempre essa a regra na história. Como explicou o economista Vilfredo Pareto, uma moeda romana investida a 4% ao ano por volta da época de Cristo valeria hoje mais do que o peso da Terra em ouro. Portanto, como qualquer um pode ver, a história não foi segura para os investidores. Para impedir que essa moeda romana se elevasse a um absurdo valor, houve muita pirataria e muitos saques ao longo dos séculos. O número de pessoas confiáveis é contrabalanceado por trapaceiros e criminosos. O erro no caso de Madoff, segundo Henriques, foi o erro dos investidores “até pedirem letras miúdas, mas não lê-las”. 

O senso comum não nos diz para não colocar seu dinheiro em algo que você não pode entender? Uma alta taxa de retorno não significa alto risco? E quanto a colocar todos os seus ovos em uma cesta? Conforme Henriques explica:“ eles não perceberam que ninguém deveria ter em mãos todo o dinheiro das pessoas simplesmente porque eles confiavam nele ou porque alguém que eles admiravam confiava nele.” E mesmo assim, completa Henriques, “no entanto, isso é o que milhões de pessoas fazem. Não consultamos as letras miúdas para decidir se podemos confiar em alguém. Consultamos nossos amigos, parentes e colegas de trabalho... e, em última análise, nossos instintos.

Mas qual é o QI dos seus instintos?

“Mais regras e mais letras miúdas não farão muito para impedir o próximo Bernie Madoff”, diz Henriques. O mundo das regulamentações é um mundo de ilusões – a promessa de proteção sem a realidade. Pois na realidade, todos somos responsáveis por nós mesmos, pois não há substitutos para ler para nós, pensar ou fazer análises cuidadosas em nosso favor. A questão da confiança está aí para que cada investidor lide com ela. É uma questão que requer inteligência, sabedoria, esforço e juízo. POR JEFFREY NYQUIS

Nota do tradutor:
O título faz referência a uma expressão latina cuja tradução é “cuidado, comprador”. Nesse termo fica implícito que a responsabilidade é do comprador – e não do vendedor – de descobrir se há algo de errado com o que ele está comprando.

Tradução: Leonildo Trombela Júnior


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