terça-feira, 18 de abril de 2017

MUDANÇA DE CLIMA


É a presença de dois discursos absurdos, um de cada lado, que torna quase impossível haver políticas sérias de redução de poluição sem redução da qualidade de vida

O clima está mudando, e não sei se posso esperar que as águas de março fechem o verão. Só o que sei é que está mudando, como aliás sempre esteve; clima não é coisa fixa, e o Saara já foi floresta. Quando eu era mais novo dizia-se que viria uma era glacial em breve. O terrorismo era grande. Depois mudaram para aquecimento global, para minha tristeza; por questão de gosto particular eu me sinto muito melhor numa era glacial, confortavelmente fresquinho, em vez de suando em bicas num verão permanente.

A mania atual é declarar, com uma certeza que não se tem para com a previsão do tempo para dali a dois dias, que a mudança climática – seja ela para mais frio ou mais quente, ou para outras direções inimaginadas até agora – é causada pelo homem. Aí é que eu traço uma linha. Confesso que não consigo nem acreditar que o homem consiga causar uma mudança climática, nem que consiga impedi-la. Também acho absurda a poluição, também acho completamente sem sentido que as pessoas peguem o carro para ir até a esquina, mas daí a dizer que a mudança de clima, cujo sentido ainda nem se sabe com certeza, é certamente decorrente disso, ou dos flatos das vacas, ou do que seja, requer-se uma firmeza de fé que eu não tenho.

Não consigo nem acreditar que o homem consiga causar uma mudança climática, nem que consiga impedi-la veja também

Ainda há, e são perigosos por razões evidentes, resquícios dos mesmos desenvolvimentistas do século passado que nos deram os rios coloridos que pegavam fogo e outros absurdos de poluição. Ainda há quem ache, economicistamente, que, se alguém tem dinheiro para ir de carro à esquina, é seu direito fazê-lo. Aqui no Brasil são poucos, e em geral apenas repetem alguns elementos do discurso de seus mestres na direita americana sem prestar-lhe muita atenção.

Mas temos aqui muitos seguidores do ecologismo radical da esquerda americana, que prega não apenas que a mudança climática ora em curso é antropogênica, como que ela tem de ser revertida, como se isso fosse possível, pela redução drástica e súbita da poluição por carbono. Ora, as árvores não estão de acordo; é do carbono presente no ar que elas se alimentam. Já o que alimenta o ecologismo mais radical é um anti-humanismo, que percebe a presença do homem no mundo como uma praga a eliminar ou, ao menos, a diminuir brutalmente. Para justificar o injustificável qualquer desculpa serve, inclusive a mudança climática.

É a presença de dois discursos absurdos, um de cada lado, que torna quase impossível haver políticas sérias de redução de poluição sem redução da qualidade de vida. A pluma de poluição das capitais brasileiras alcança centenas de quilômetros campo adentro, dependendo de onde sopra o vento, e esta não é uma situação tolerável. Mas tampouco devemos voltar à idade da pedra lascada. No meio é que está a virtude.
Por : Carlos Ramalhete  Do site: http://www.gazetadopovo.com.br

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