sexta-feira, 17 de outubro de 2014

POLÍTICA E PSICOLOGIA AMERICANA

Somos incapazes de admitir que estamos sob ataque. 


A percepção da verdade sobre o ambiente real, especialmente um entendimento da personalidade humana e seus valores, deixa de ser uma virtude durante os chamados tempos “felizes”; os céticos ponderados são considerados intrometidos [...]. Isso, por sua vez, leva a um empobrecimento do conhecimento psicológico, da capacidade de diferenciar as propriedades da natureza e da personalidade humana, e da habilidade para moldar criativamente as mentes. O culto ao poder, então, suplanta aqueles valores mentais tão essenciais à manutenção da lei e da ordem por meios pacíficos. O enriquecimento ou a involução de uma nação em relação à sua visão de mundo psicológica pode ser considerado um indicador de quão bom ou ruim será o seu futuro.
Andrew M. Lobaczewski, em 'Ponerologia: Psicopatas no poder'.

A política americana trata-se das mentiras que contamos a nós mesmos enquanto nação. Geralmente, nossos políticos não nos oferecem um menu de soluções, mas sim um menu de auto-enganos. Eles nos dizem o quão inovadores somos, o quão poderosos somos e quão poderosa nossa união é. Que estamos morrendo enquanto sociedade é algo que eles não nos dizem; porquanto, a instituição familiar está morrendo, e tanto a paternidade quanto a maternidade estão sob ataque; e o mais frio dos monstros — o Estado — está assumindo o controle de tudo e de todos. Chamaram isso de esperança e mudança [hope and change]. Mas em todo lugar, como diz o poema, a “cerimônia da inocência está afogada” [ceremony of innocence is drowned].

Em outros ensaios eu sugeri que o conservadorismo havia se tornado ofício para agentes funerários políticos cujo trabalho é fazer que o defunto pareça mais bonito do que era quando estava vivo. Enquanto isso, o liberalismo [NT.: a esquerda americana] participa de uma aventura neurótica — um nada em busca do nada, uma fraqueza incapaz de condenação ou de um resistente anseio por ordem e autoridade, visto que não possui qualquer um desses. É essa fraqueza que melhor caracteriza nosso estado interior; em termos políticos é como se fosse um vazio da alma que se dá por meio de uma compaixão fabricada para uma humanidade sofredora. É uma fraude do começo ao fim. E aqueles que acreditam nela são tanto perpetradores quanto vítimas.

Em recente entrevista que fiz com Lew Moore, o ex-gerente de campanha de Ron Paul, podemos entrever um sistema político em crise através dos olhos de um profissional esperançoso, embora preocupado. Embora devamos evitar exageros, nossa trajetória política definitivamente possui uma semelhança com as nações e estados fracassados do passado. “Há uma escassez de crianças”, escreveu o historiador grego Políbio no século II a.C. “As bibliotecas estão como caixões, permanentemente fechadas”, escreveu Amiano Marcelino no século IV d.C. A família se degenera, o verdadeiro ensino entra em declínio e dá lugar ao falso.

Vemos que hoje a família está com problemas e que a taxa de natalidade está em queda. Quanto a nossa cultura intelectual, considere o estado das nossas universidades. Não achamos uma instituição buscando a verdade na mesma intensidade em que estão propagando o politicamente correto. O que se vê aí é um limitado culto de pessoas que, odiando a si mesmas, acabam se tornando agitadores, marxistas, ambientalistas e inimigos secretos da sociedade e criadores de políticas que visam promover seus amigos (e, por conseguinte, suas visões distorcidas). Evidentemente há pessoas normais trabalhando nas universidades, mas elas não fazem mais parte da paisagem. Na maior parte dos campi há uma tendência para influências subversivas. Thomas Sowell os descreveu como pessoas que “não necessitam consultar a história ou qualquer outro processo de validação além do consenso dos seus pares intelectuais, que por sua vez seguem a mesma disposição ao discutir questões intelectuais”.

É de fato uma loucura quando as pessoas gastam boa parte do seu dinheiro para que suas crianças sejam doutrinadas pelos inimigos do próprio sistema capitalista que antes de tudo possibilitou esse tipo de ensinamento. Andrew Lobaczewski argumenta em seu livro ‘Ponerologia: Psicopatas no poder’ que estamos no meio de um ciclo de histeria cujo cumprimento compreende uma crescente imoralidade e cegueira psicológica que necessariamente culminam na seleção de maus líderes políticos e no ensinamento de ideias ruins nas universidades. Sob um próspero regime, “fatores subconscientes” acabam por vir à tona enquanto decaímos através de pensamentos prazerosos. A eliminação inconsciente dos dados inconvenientes acaba por se tornar rotina. Esse é o resultado de um estado histérico que se enraíza quando a paz e a prosperidade tornam os homens suaves. Como explica Lobaczewski, “os processos de geração do mal são intensificados em todas as escalas sociais, [...] até que tudo se converta em épocas “ruins” (de fato é o que estamos vendo).

Assim, a vitória e a prosperidade engendrada por Cipião, levou Roma até as depredações de Júlio César. A paz e a prosperidade do império de Augusto levaram aos crimes de Calígula e Nero. Os prósperos reinos de Antonino Pio e Marco Aurélio levaram à degenerescência de Cômodo e à sombria tirania de Alexandre Severo. Vemos aí períodos de um estoicismo iluminado alternando com períodos de hedonismo tirânico. Tal ideia não deveria ser estranha a nós. Estamos vivendo nela.

Durante o último século, a grande praga do comunismo infectou o mundo: fez-se contagiante pela prosperidade das classes governantes e pela impensada arrogância das pessoas que veem apenas oportunidade e se abstêm de ver o perigo. A ideia otimista de que as pessoas são “boas” foi refutada por várias vezes. O absurdo impudente que se passa como discurso político ainda não foi corrigido porque nossa prosperidade sobreviveu. O experimento socialista da ordem do dia, entretanto, deve resultar em uma terrível calamidade. A União das Repúblicas Socialistas Soviéticas foi o erro mais longo da história e custou dezenas de milhões de vidas. A China comunista não é diferente. Não obstante, a esquerda americana ainda sonha em “poder para o povo” e em sanar as desigualdades econômicas; segue-se então que um terrível derramamento de sangue eventualmente ocorrerá (seja por meio de uma traição do país arquitetada por forças socialistas externas ou internas — ou mesmo uma combinação dos dois).

Nos países em que já se tentou o socialismo pleno, foi possível experimentar um tipo de lavagem cerebral parecido com o que se exerce nas faculdades hoje. Pessoas de pensamento reto foram exterminadas em vários lugares que estiveram sob o jugo comunista. Aqui na América, conforme aproximamos cada vez mais de um Estado de tipo comunista, acabamos por nos encontrar em uma posição intermediária. Algumas carreiras têm chegado ao fim, não porque essas pessoas sejam comunistas, mas sim porque elas são anticomunistas. Uma guerra virtual pelo controle das nossas instituições está sendo travada, e o lado patriota está perdendo pouco a pouco. Mas nossa vida está boa, as prateleiras estão cheias e assim ninguém se preocupou em tomar uma ação efetiva. Enquanto nossa prosperidade continuar, faremos pouco caso da sorrateira fronteira vermelha. Faremos vistas grossas para a destruição da paternidade e da maternidade. Faremos vistas grossas para o fim da família e para a corrupção das igrejas. Faremos vistas grossas para a socialização do sistema de saúde. Faremos vistas grossas para os comunistas na universidade. Faremos vistas grossas para os comunistas no Congresso, na Casa Branca e no Judiciário. Se estamos vivendo bem, por que causar rebuliço?

É o hedonismo que nos tornou estúpidos e perversos. E enquanto não sofrermos o cataclismo total, ninguém irá querer saber de verdadeiras soluções. A Europa sofreu foi destruída e teve perdas maciças durante a última guerra mundial, com centenas de cidades em ruínas e milhões de civis mortos. O nazismo (ou nacional-socialismo) foi o culpado. Isso foi muito bom, mas a culpa não se estendeu longe o bastante, então agora teremos de sofrer outra Guerra Mundial por causa do socialismo internacional. O regime comunista chinês já está se preparando para a guerra, e o presidente daquele país disse para seus generais ficarem de prontidão. Do artigo citado:

Xi Jinping ordena que o Exército da Libertação Nacional (ELN) esteja pronto para a batalha. A mídia estatal usa duras palavras como ‘inabalável’, ‘inflexível’ e ‘intransigente’. Um acadêmico da área de defesa alerta que a nação se prepara para a Terceira Guerra Mundial. Um major-general da ativa do ELN faz pouco do Japão e diz que pode ‘ensinar uma lição’ a eles com um terço das suas forças.

Ao mesmo tempo, a Rússia pretende posicionar armasnucleares táticas na recém anexada Crimeia. Assim, a Rússia não apenas toma o território de um vizinho, mas sela a conquista com o inquebrável selo nuclear. Diz-se que essa movimentação de armas nucleares é uma violação do acordo de 1997 entra a Rússia e a OTAN. Ainda assim, o governo americano continuará a falar de desarmamento nuclear. E os Estados Unidos continuarão a enfraquecer suas forças. Com efeito, esse ainda é o plano.

“A sabedoria predominante, que quase nunca é sábia, diz que o exército não terá problemas com corte de pessoal, pois já se passou por isso antes”, escreve o General aposentado do Exército em um artigo publicado pelo DefenseOne. “Isso está errado. Na qualidade de quem serviu como Chefe de Gabinete do Exército durante a era de cortes pós-Guerra Fria, eu posso dizer, inequivocamente, que desta vez será pior”. A seguir, o Gen. Gordon observou: “estamos testemunhando uma confluência de eventos que criaram riscos de defesa e segurança que devem ser reconhecidos e abordados”.

Mas eles não serão, pois o inimigo está intra-muros.

Os danos causados por nossos inimigos no 11 de setembro foram suficientes para os propósitos de correção intelectual e moral. Por alguns dias ou semanas, nossa psique coletiva começou a entrever o perigo ao qual corríamos, mas depois voltamos a ser relapsos e hedonistas, e o shopping center ganhou um novo significado na nossa vida. Como observou Lobaczewski, “a América [...] tem alcançado o ponto mais baixo pela primeira vez em sua curta história. [...] O sentimentalismo dominante nas esferas individual, coletiva e política, assim como a seleção subconsciente e a substituição das informações no raciocínio, estão [...] direcionando para um egoísmo individual e da nação como um todo.”

Esse egoísmo também pode ser chamado de “narcisismo”. Como argumentou Jean Twenge em Generation Me, os Estados Unidos tornaram-se mais narcisistas após 1964. Vários fatores contribuíram para isso, mas é seguro dizer que a prosperidade americana é uma causa central. O narcisista produzido a partir dessa prosperidade foi descrito em uma das histórias de Agatha Christie como envolto em uma armadura quase impenetrável. Era tão impenetrável que várias flechas simplesmente ricocheteavam. E um homem envolto de tal armadura pode não saber que ele está sob ataque, ela explicou. Ele pode estar lento demais para ver, para ouvir e para perceber um inimigo perigoso. Boa parte da nossa condição pode ser descrita assim. A cultura narcisista americana acredita ser invulnerável. Somos incapazes de admitir que estamos sob ataque. Sobre esse estado de coisas, o narcisista mestre Sam Vaknin explicou: “A ironia é que os narcisistas, que se consideram conhecedores do mundo, perspicazes, entendidos, hábeis, eruditos e astutos, são na verdade mais ingênuos que a maioria das pessoas medianas. Isso acontece porque o narcisista é um impostor; ele mesmo é uma falsidade, sua vida é uma confabulação e seu senso de realidade faltante. Narcisistas vivem num mundo próprio de fantasia em que eles são o centro do universo, são admirados, temidos, reverenciados e respeitados por sua onipotência e onisciência”.

Ah, como caem os gigantes!

O regime americano de shopping center não está em apuros porque os ricos exploram os pobres. Ele está em apuros porque o hedonismo corrente produz uma rede ainda mais vasta de falsificações que causam efeitos sociais patológicos. Que a comunidade de inteligência americana em geral fracassou, é coisa que ainda não se entendeu; que o sistema bancário em geral fracassou, é coisa que ainda não se entendeu; que o sistema político está em vias de um fracasso generalizado, é coisa que ainda não se entendeu. Na minha entrevista com Lew Moore, ex gerente de campanha de Ron Paul, tivemos um vislumbre desse fracasso (se soubermos como olhar). No atual sistema político, as questões e os problemas mais importantes devem ser evitados e a verdade não deve — e não pode — ser dita.
Por: Jefrrey NyquistPOR  Tradução: Leonildo Trombela Junior 



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