quinta-feira, 2 de agosto de 2012

BATMAN RESSURGE


Fui ver o filme novo do Batman ontem. Gostei muito. Não só pelos efeitos especiais, mas pela mensagem. Sim, não foge àquele padrão americanófilo maniqueísta, de luta entre o bem e o mal. Sim, há algo de pulsão de morte nessa mania de destruir NY (Gothan é claramente NY) nas telas dos cinemas. Sim, há a visão redentora de que sempre se derrota as forças malignas no final.

Mas não é só isso. Batman é um símbolo da boa luta, uma idéia que persiste, apesar dos pesares, do niilismo que se espalha, do medo que o terrorismo produz nas pessoas, da angústia da falta de sentido no mundo e no mal. O Batman usa máscara pois não é um indivíduo, um messias salvador, e sim esta crença de que vale a pena fazer a coisa certa, resistir e lutar, ainda que a luta nunca tenha fim, uma vitória definitiva.

O Batman pode ser um garoto que compra briga com vândalos que espancavam um mendigo desconhecido na rua. Pode ser um homem que se joga nos trilhos de um trem para salvar uma estranha. O Batman é aquele que aceita o fardo de sacrificar alguns prazeres hedonistas se for por uma causa nobre. Batman tem senso de dever cívico. Sim, ele é a esperança. Resta saber quem consegue viver sem ela...

Bane, o novo vilão, é o mal em pessoa, ou seja, a completa ausência de empatia pelo próximo. Quando o caos anárquico se instala em Gothan City, a turba dá vazão a seus instintos mais destrutivos. A pilhagem começa, mostrando o perigo da crença na luta de classes, que jamais serve para construir algo bom, e sim para destruir o que existe. Os tribunais do povo são instaurados, como no Terror de Robespierre, com sentenças sumárias decididas pelo novo ditador. Sem o império da lei, a ordem dá lugar à tirania.

Como um dos heróis diz no filme, não adianta esperar ajuda de fora. É de dentro da cidade que terá de vir a força para resistir e virar o jogo. E não é sempre assim? Aqueles que esperam uma salvação exógena estão fadados ao fracasso. Os americanos conseguiram reconstruir sua cidade, retomar suas vidas, ainda que a “terra da liberdade” esteja com menos liberdade atualmente. Os fundamentalistas islâmicos, os comunistas, os nazistas, os niilistas, todos os antiamericanos continuam com suas metas patológicas de transformar NY em cinzas, mas a cidade resiste.

Há quem veja nas gigantescas torres arquitetônicas o símbolo da arrogância, da hubrisamericana, um convite ao ataque terrorista. Balela. É como culpar o rico em sua Ferrari pelo assalto que sofre. O sucesso, nos Estados Unidos, sempre foi admirado, em parte porque era fruto da meritocracia, de um modelo de livre concorrência onde um “self-made man” podia ir longe apenas com seu talento e esforço. Isso está mudando, mas não por culpa do sucesso, e sim dos invejosos igualitários, que enxergam no sucesso alheio um alvo a ser destruído.

Parte da explicação é que o modelo deixou de ser livre, e cada vez mais se parece com o capitalismo de compadres do resto do mundo, onde as conexões com o governo valem mais que o mérito pessoal. A saída não é acusar as torres, o sucesso, a riqueza, e sim apontar as falhas do novo modelo e resgatar o antigo. De nada adiantará culpar NY pelo terrorismo de que é alvo. A culpa é dos que não toleram o sucesso e a liberdade dos outros.

Infelizmente, estes sempre existirão, alienados e preparados para colocar em ações suas forças destrutivas. E por isso NY vai sempre precisar de Batman. Não um super-herói que, como um messias salvador, derrota sozinho as forças do mal. E sim como a idéia que persiste, não em todos, claro, ou nem mesmo na maioria; mas em alguns, em uma minoria que aceita o fardo, que abraça a luta porque é a coisa certa a fazer, ainda que isso possa significar enorme sacrifício pessoal. Estes fazem a diferença. Estes mantêm a chama da liberdade acesa.

Como disse Virgílio em Eneida: Tu ne cede malis sed contra audentior ito (não ceda ao mal, mas lute mais bravamente contra ele). Por: Rodrigo Constantino


Nenhum comentário: