QUANDO TUDO O QUE SE ESCREVE TIVER SE DESFEITO EM FARRAPOS, QUANDO ATÉ MESMO OS MELHORES TIVEREM SE TORNADO APENAS VERBETES DE ENCICLOPÉDIA JAMAIS CONSULTADA, AS PALAVRAS DE UM PENSADOR AINDA ESTARÃO VIVAS PARA MOSTRAR, SOBRE RUÍNAS DOS TEMPOS, A PERENIDADE DO ESPÍRITO HUMANO.
domingo, 15 de abril de 2012
Partido da corrupção
Partido da corrupção - EDITORIAL FOLHA DE SP
FOLHA DE SP - 14/04/12
Acima de conveniências partidárias, elucidação do caso Cachoeira e julgamento do mensalão são de interesse crucial para toda a sociedade
Foram tão variados e tentaculares os contatos de Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, com o mundo político que a CPI em torno de seu nome parece ao mesmo tempo ser conveniente para muitos e explosiva para outros tantos.
Sem dúvida, o PT investiu na possibilidade de contribuir para a desagregação de um já combalido partido oposicionista, o DEM, que com o caso Cachoeira foi atingido em uma de suas figuras mais destacadas, o senador Demóstenes Torres, já desfiliado. No PSDB, é o governador Marconi Perillo, de Goiás, quem mais se aproxima de ser colhido no caudal das investigações.
Conviria aos petistas, ainda, lançar uma cortina de fumaça sobre o julgamento do mensalão no STF, previsto para os próximos meses.
A fumaça, todavia, já intoxica personagens do próprio PT, como o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, e um assessor do Planalto, Olavo Noleto.
Na Itália, país que acumula vasta experiência histórica com a corrupção e seu combate, conhece-se sob o nome de "partito trasversale" o tipo de agrupamento que, como tudo indica ser o caso do esquema Cachoeira, transita com seu poder de influência por todos os setores políticos, da esquerda à direita.
Transversais, com efeito, foram as atividades do lobista Marcos Valério. Sua fluência no PSDB mineiro precedeu de alguns anos a que demonstrou, com ainda maior audácia, no caso do mensalão.
Oposicionistas e petistas, para nada falar do PMDB, entidade transversal por excelência, têm desse modo motivos para se ocupar, e para se preocupar, com a CPI do caso Cachoeira.
Pouco importa quem sai ganhando ou perdendo com as investigações. A corrupção, como demonstra o noticiário de todos os dias, não discrimina nenhum dos principais partidos brasileiros. Inquirir, revelar, aprofundar os seus meandros interessa a todo cidadão que paga impostos no Brasil.
No cálculo político dos envolvidos, a CPI do caso Cachoeira e o julgamento do mensalão podem certamente servir a conveniências opostas. É o mesmo raciocínio que faz com que, a cada escândalo revelado pela imprensa, os acusados se digam vítimas de preconceitos ideológicos e partidários.
Uma figura de relevo no PT celebrou a CPI como uma oportunidade para desmascarar os autores da "farsa do mensalão". É de outra farsa, entretanto, que se trata: a farsa das supostas vítimas, seja a que partido pertençam, e dos moralistas de tribuna, só ativos quando distantes do poder.
Foram petistas, foram demistas, foram tucanos -estão em toda parte. Que do seu conflito não resulte, como tantas vezes, a mera acomodação, mas o detalhamento da verdade e a punição dos envolvidos. Aspiração que não é de nenhum partido -mas, sim, de toda a sociedade brasileira.