A
democracia cria uma discórdia que não existiria em uma sociedade livre.
Indivíduos não se importam se o sujeito que lhes vende uma xícara de café em
uma padaria é judeu, católico, protestante, muçulmano, ateu, branco, preto,
solteiro, casado, gay, hétero, velho, jovem, nativo, imigrante, alcoólatra,
abstêmio ou qualquer outra coisa. Nada disso importa no curso de sua
interatividade diária com as pessoas. Por meio do comércio e da
cooperação, cada pessoa ajuda as outras a alcançar suas aspirações. Se
alguém diferente de você se muda para a sua vizinhança, você fará o seu melhor
para lidar bem com ele. Seja na igreja, no shopping, na academia ou até
mesmo casualmente nas ruas, nós sempre nos esforçamos para encontrar maneiras
de sermos civis e prestativos.
Agora, coloque estas
mesmas pessoas na arena política e elas imediatamente se tornam inimigas.
Por quê? A política não é cooperativa, como o mercado; ela é
exploradora. O sistema é configurado para ameaçar a identidade e as
opções dos outros. Todo mundo deve batalhar para impor as suas
preferências. Consequentemente, coalizões se formam, bem como alianças
espúrias e momentâneas, que constantemente se alteram. Este é o mundo
imoral em que o estado — por meio da máquina eleitoral — nos joga. Nele,
torcemos para que o nosso cara vença e desejamos a morte política do oponente.
O jogo democrático
confunde as pessoas em relação ao real inimigo. O estado é a instituição
que gera e vive à custa destas divisões. No entanto, as pessoas são
distraídas deste fato por causa do endeusamento do sistema. Os negros
culpam os brancos, os homens culpam as mulheres, os héteros culpam os gays, os
pobres culpam os ricos e assim vai, em um infinito número de combinações
possíveis.
Embora quase todos os
países democráticos sofram com governos inchados, excesso de regulamentação,
altos impostos e uma enorme dívida pública, poucas pessoas consegeum vislumbrar
a relação causal entre estes problemas e o próprio sistema democrático.
Para a maioria, a solução para estes problemas é mais democracia, e não menos.
Muitos ainda acreditam
que democracia corresponde a prosperidade, igualdade, justiça, união e
liberdade. Mas não há nenhuma evidência de nada disso. A democracia se apóia em
três princípios fundamentais: você tem o direito de votar, você tem o direito
de concorrer a um cargo público, e a maioria decide. E só. Em
nenhum lugar está escrito, por exemplo, que a democracia garante o direito à
liberdade de expressão, um direito que muitas pessoas associam à democracia.
Nem há qualquer explicação lógica que mostre por que a democracia tende a
gerar prosperidade.
As pessoas simplesmente
aceitam como verdade absoluta o senso comum que diz que a democracia gera todas
estas benesses. A verdade, no entanto, é exatamente oposta a este senso
comum. Os próprios princípios da democracia dão origem a processos que
conduzem a sociedade para o oposto da liberdade e da prosperidade.
Os processos mais
importantes são os seguintes.
1) Comportamento
imediatista
Como
Hans-Hermann Hoppe explicou em seu livro Democracia, o deus que falhou — a democracia inevitavelmente
gera uma preferência temporal alta — isto é, leva a um comportamento
imediatista, míope, visando apenas ao curto prazo — tanto entre os governantes
como entre os cidadãos. Dado que os políticos democraticamente eleitos
ficarão apenas temporariamente no cargo, e eles não são os proprietários dos
recursos à sua disposição, eles serão acometidos de um irrefreável incentivo
para gastar dinheiro público em projetos que os tornem populares,
desconsiderando as consequências futuras de tal ato. Os problemas que
eles criam ao longo do caminho, como o forte aumento da dívida pública, serão
deixados para que seus sucessores resolvam. Uma sociedade democrática é
como um carro alugado — ou pior: um carro que é não propriedade de ninguém e
utilizado por todos. Ela rapidamente se destrói.
2) Conflito social e
parasitismo
Democracia é um sistema
em que as pessoas votam naqueles políticos que elas creem que irão favorecê-las
com benesses e privilégios, de modo que a conta seja entregue a outras pessoas.
A democracia, portanto, inerentemente faz com que haja um imediato
conflito grupal: os agricultores contra os moradores urbanos, os idosos contra
os jovens, os imigrantes contra os residentes, empregadores contra empregados
etc. Isso gera um comportamento parasitário e tensões sociais.
Este é o resultado do
princípio democrático que preconiza que todas as decisões importantes devem
estar sujeitas à vontade da maioria, ou seja, devem ser decididas pelo estado,
o que transforma todos os indivíduos em meras engrenagens de um sistema
político coletivista. Em uma sociedade livre, baseada em direitos individuais,
indivíduos com diferentes visões e objetivos não se tornam potenciais inimigos
mútuos. Eles podem colaborar entre si, comercializar uns com os outros,
ou simplesmente se isolar e não se intrometer na vida de ninguém — mas eles
certamente não terão meios coercivos com os quais obrigar outros cidadãos a
satisfazer seus próprios fins.
A democracia cria uma
discórdia que não existiria em uma sociedade livre. Indivíduos não se
importam se o sujeito que lhes vende uma xícara de café em uma padaria é judeu,
católico, protestante, muçulmano, ateu, branco, preto, solteiro, casado, gay,
hétero, velho, jovem, nativo, imigrante, alcoólatra, abstêmio ou qualquer outra
coisa. Nada disso importa no curso de sua interatividade diária com as
pessoas. Por meio do comércio e da cooperação, cada pessoa ajuda as
outras a alcançar suas aspirações. Se alguém diferente de você se muda
para a sua vizinhança, você fará o seu melhor para lidar bem com ele.
Seja na igreja, no shopping, na academia ou até mesmo casualmente nas ruas, nós
sempre nos esforçamos para encontrar maneiras de sermos civis e prestativos.
Agora, coloque estas
mesmas pessoas na arena política e elas imediatamente se tornam inimigas.
Por quê? A política não é cooperativa, como o mercado; ela é
exploradora. O sistema é configurado para ameaçar a identidade e as
opções dos outros. Todo mundo deve batalhar para impor as suas
preferências. Consequentemente, coalizões se formam, bem como alianças
espúrias e momentâneas, que constantemente se alteram. Este é o mundo
imoral em que o estado — por meio da máquina eleitoral — nos joga. Nele,
torcemos para que o nosso cara vença e desejamos a morte política do oponente.
O jogo democrático
confunde as pessoas em relação ao real inimigo. O estado é a instituição
que gera e vive à custa destas divisões. No entanto, as pessoas são
distraídas deste fato por causa do endeusamento do sistema. Os negros
culpam os brancos, os homens culpam as mulheres, os héteros culpam os gays, os
pobres culpam os ricos e assim vai, em um infinito número de combinações
possíveis.
O resultado final é a
destruição dos cidadãos, e uma vida próspera para a elite política.
3) Intromissão
Embora muitas pessoas
associem democracia a liberdade, o fato é que nenhuma liberdade está segura em
uma democracia. Se a maioria (ou, muitas vezes, alguns pequenos grupos
influentes) quiser, ela poderá intervir em qualquer tipo de ação, transação ou
relacionamento voluntários — e é isso que ela faz. Ela proíbe as pessoas
de beber álcool em determinadas circunstâncias, de queimar bandeiras, de se
manifestar contra as guerras, de assistir a determinados filmes, de
"discriminar" e assim por diante. Os governos democráticos
continuamente intervêm em transações voluntárias entre vendedores e compradores,
empregadores e empregados, professores e alunos, médicos e pacientes,
inquilinos e proprietários, prestadores de serviços e clientes etc. Eles
também se intrometem nas escolhas pessoais: a sua escolha de fumar, de usar
drogas, de se envolver em profissões específicas (para as quais você não possui
uma "licença"), de "discriminar" (isto é, de escolher com
quem você quer se associar), de criar produtos específicos (para os quais
existe uma 'patente', isto é, um monopólio do governo) etc. Não há
limites para esta intromissão. A pouca liberdade que ainda temos nas
sociedades ocidentais não se deve à democracia, mas sim à nossa tradição de
amor à liberdade.
4) Coletivismo e
passividade
Nos tempos
pré-democráticos, a tendência era a de os governados não confiarem nos governantes,
e cada novo imposto criado era visto como uma violação à liberdade.
Porém, atualmente, as decisões democráticas são vistas como
fundamentalmente legítimas, pois, de acordo com o senso comum, tais decisões
foram supostamente tomadas pelas próprias pessoas.
Durante as eras
monárquicas, poucos nutriam a esperança de chegar ao poder; consequentemente, a
maioria suspeitava de todos aqueles que estavam no poder. Já a
democracia, por outro lado, permite, ao menos na teoria, que todos possam
chegar ao poder. Isto faz com que as pessoas acreditem que elas devam se
submeter à regra da maioria. Elas podem não concordar com leis e regulamentos
específicos, mas elas sentem que devem cumpri-los. Mas, naturalmente,
elas tentarão eleger um partido específico que crie leis que as beneficiem e
que faça com que o dinheiro distribuído pela máquina estatal flua na direção
delas. Foi assim os gastos estatais cresceram, na maioria dos países
democráticos, de cerca de 10% do PIB antes da Primeira Guerra Mundial para os
quase 50% atuais. É também por isso que temos tantas leis atualmente, de
modo que podemos dizer com total segurança que há uma lei específica para
absolutamente tudo que existe.
Gasto público, % PIB [veja
o gráfico para o Brasil no final do artigo]
5) Corrupção e abuso
Embora a governança da
maioria seja suficientemente ruim por si só, a realidade de uma democracia é
muito mais sórdida. Dado que o governo eleito tem poder virtualmente
ilimitado e controla praticamente todos os recursos da sociedade, todos os
tipos de grupos de interesses e lobistas irão trabalhar nos bastidores para
influenciar o governo a criar e modificar leis para seu proveito próprio.
Um exemplo óbvio são os bancos e os interesses financeiros que, em
conjunto com o governo, criaram um sistema de papel-moeda o qual eles controlam
e manipulam para seu próprio benefício.
Mas há também vários
outros interesses poderosos que utilizam o sistema para proveito próprio e em
detrimento do resto do povo: sindicatos, ONGs, empresas farmacêuticas,
produtores rurais, empresas telefônicas, aéreas, de comunicação etc. Os
cidadãos comuns não podem fazer quase nada à respeito. Eles geralmente
não têm os meios ou o tempo para descobrir e entender o que está acontecendo. Tudo o
que podem fazer é votar de vez em quando, mas eles não têm como responsabilizar
seus governantes ??por suas ações.
Portanto, as nossas
mazelas econômicas e sociais não decorrem do manjado fato que "os
políticos errados estão no poder". É o próprio sistema democrático
quem causa os problemas. O que realmente deve ser feito é mudar o sistema
para que ele se torne menos democrático, e não mais. E a
forma mais importante e eficaz de fazer isso é retirando poderes do governo e
descentralizando ao máximo todos os processos de tomada de decisão.
Gastos das três esferas
do estado brasileiro em porcentagem do PIB. Note a disparada a partir de
1985, justamente quando a democracia se consolidou (Fontes: IBGE e Heritage Foundation).
Tradução de Victor Maia